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DÉBORA BLOCH | ABRIL, 1983


Com o sucesso, ela se sente invadida e perseguida. Mesmo contra sua vontade virou um símbolo sexual. Confessa que acha sexo ótimo, porém exige fidelidade


POR IVO CARDOSO

FOTO FREDERICO MENDES


Ela não é exatamente uma gatinha, aquele tipo de garota com o rostinho que se esperava e o corpo sonhado. Com o seu jeito natural, Débora Bloch, a "filha" de Irene Ravache na novela Sol de Verão, deu também, ao lado da sua "mãe", uma contribuição para a mudança de padrões estéticos. E, de repente, a menina que alguns achavam meio desajeitada começou a ser cercada por pedidos de autógrafos nos restaurantes e até a receber telefonemas de madrugada. Sempre gente desconhecida, que queria, ouvir a sua voz. Quase adolescente e símbolo sexual.


Para Débora Bloch a vida vem correndo como uma novela: aos 19 anos, com uma beleza que foge aos padrões, ela conquistou o seu lugar com muito trabalho e o talento que ninguém lhe nega. Como é que ela recebe a fama? Como se sente cobiçada por tanta gente? Estes são alguns dos temas que Débora expõe ao editor Ivo Cardozo.


Mineira de Belo Horizonte, filha do ator Jonas Bloch (com quem vive, junto com uma irmã, no bairro do Jardim Botânico), Débora mudou-se para o Rio aos seis anos. Começou a estudar teatro aos 14, e sua melhor oportunidade ocorreu quando foi escolhida para substituir Lucélia Santos em Rasga Coração, em fevereiro de 1980. Depois trabalhou numa peça infantil com o grupo Manhas e Manias e na novela Jogo da Vida, até que foi escolhida para interpretar a namorada do surdo-mudo Abel em Sol de Verão.


Admiradora de Lula e do PT, Débora, que quer voltar a fazer teatro, namora há algum tempo o ator Carlos Eduardo Lago, mas por enquanto não pensa em casamento e filhos.





1. Como fica sua cabeça, ao virar estrela de televisão, em tempo relativamente curto? Eu não me sinto uma estrela. Mas muitas coisas mudaram à minha volta. Eu me sinto invadida, me sinto cobrada. Agora mesmo li na Amiga uma notinha dizendo que sou antipática, que eu devia aprender com meu pai a ser simpática com a imprensa. Já estou acostumada com as abobrinhas que essas revistas escrevem, mas é duro ler isso quando às vezes, depois de uma semana de trabalho, você deixa de ir à praia ou de namorar para dar uma entrevista. Não sou estrela, porque a minha vida é a de uma pessoa que trabalha muito, que faz muita aula, que tem muito para aprender. A minha vida não é só a Globo. Para mim é importante fazer teatro, fazer outros trabalhos, como o cinema, que é uma coisa que eu nunca fiz, mas tenho vontade de fazer.


2. O fato de seu pai ser ator teve muita influência para você ser atriz? Eu sempre tive isso presente na minha vida, porque tinha um artista na minha casa. Sempre fui superdedicada às aulas de teatro no colégio, às aulas de dança, à expressão corporal. Mas você não determina: "Agora vou ser atriz". Você vai à luta, e eu fui à luta. Foi em função disso que me chamaram para um teste em Rasga Coração. Meu pai nunca influiu, apenas me deu a maior força para eu fazer os cursos que quis fazer. Mas nunca pensei em ser Regina Duarte ou qualquer outra estrela da televisão.


3. Como você se sentiu em Sol de Verão, uma atriz semi-estreante em televisão, trabalhando ao lado de nomes consagrados como Irene Ravache e Isabel Ribeiro? Eu achei um barato, né? Primeiro, porque não vejo elas como estrelas. Quando soube que a Irene ia ser minha mãe na novela fui vê-la no teatro, em São Paulo. Ela estava fazendo Filhos do Silêncio, era um trabalho belíssimo. A Irene é um barato de pessoa, fiquei superamiga dela. Sempre tive contato com artistas desde pequena por causa do meu pai, para mim eles não são mitos, não. São pessoas normais, que têm mais experiência do que eu, e por isso aprendo com eles.


4. Você tem batalhado muito para um dia chegar a ser a número 1 da Globo? Eu quero é fazer bem o meu trabalho. Acho que ser a número 1, ou número 2, são conseqüências. Prefiro me concentrar no meu trabalho. Se ele for bom, tudo bem.


5. Há pessoas que acham que agora você virou um símbolo sexual, um símbolo sexual com ares adolescentes... Eu, símbolo sexual? Quem falou? [Risos] Não acho isso, não, até porque o meu visual é completamente fora dos padrões de beleza. O meu tom de pele não é o tom de pele do sol de verão, o meu cabelo e o meu rosto são fora dos padrões. Nunca transei isso de símbolo sexual. Por exemplo: nunca me sentei de modo diferente da minha maneira natural de sentar. Eu não sou uma pessoa sexy, tá? Isso não significa que eu não tenha a minha sensualidade, mas símbolo sexual não sou e nunca vou querer ser.


6. Você tem alguma coisa contra alguém ser símbolo sexual? Não tenho absolutamente nada contra. Mas esse não é o meu barato. Eu acho a Sônia Braga um barato, o trabalho dela é lindo, mas deve ser muito difícil ser um símbolo sexual. A gente vive num país que é superdifícil para a mulher, um país supermachista. Sem ser símbolo sexual as pessoas já te olham de um jeito que incomoda, os homens dizem coisas que não quero ouvir quando passo na rua. Tipo "gostosa" ou "eu vou chupar você"... Imagina sendo símbolo sexual. Quando vou à praia, quando tiro a camiseta, todo mundo quer ver como é a Clarinha da novela, se ela tem um corpo assim ou assado. Acho isso um saco, uma bobagem. Cada pessoa é bonita da sua maneira, é sensual da sua maneira. Não quero ser símbolo sexual, não.


7. Você acha que as pessoas de sua geração transam sexo melhor do que as de gerações anteriores? As coisas evoluem, né? Acho que tem coisas que antigamente eram feitas só por trás do pano, e agora são feitas na frente do pano. Por exemplo: as mulheres da minha geração não têm a carga de repressão que tinham as mulheres de geração da minha mãe. Acho que a minha geração é menos culpada quanto ao sexo. Graças a Deus! As pessoas são mais soltas, começaram a usar mais o corpo. Antes o corpo era uma coisa fechada, uma coisa coberta.


8. Falando de seu caso em particular: você transa sexo sem grilos? Eu transo. Sexo é uma coisa ótima! [Risos]


9. Para as pessoas de gerações mais velhas, a questão da fidelidade sempre foi um ponto delicado nas relações afetivas. E para você? Aí eu acho que a coisa não muda muito, sabe? A infidelidade não é uma coisa nova. Antes também se transava a infidelidade, só que por trás do pano. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma regra contra a fidelidade. Acho tão careta dizer que "fidelidade não está com nada" quanto dizer que fidelidade tem que existir em todos os casamentos. Cada relação é diferente da outra, não tem muita regra para essas coisas, não.


"Eu toparia ficar nua no teatro ou no cinema, mas nu legal mesmo é tomar banho de cachoeira"

10. Você aceitaria que seu namorado fosse infiel? Isso é superdelicado. Eu e meu namorado não temos uma relação em que cada um transa com quem quiser e tudo bem. Se fosse de outra maneira, seria com direitos iguais para as duas partes. Só que não é isso que eu quero. Acho mais gostoso, mais tranqüilo, transar assim como transamos. Agora, isso não significa uma regra dentro do estatuto do nosso namoro. Aliás, o estatuto não existe. Mas eu não transo bem essas relações abertas, não. Ver meu namorado com outra menina me daria um ciúme horrível. Eu não tenho essa tranqüilidade mas acho ótimo quem tenha.


11. Você disse numa entrevista que não gosta de falar de seu namoro. Por quê? Porque o meu namoro não interessa a ninguém. Quando você está precisando saber do namoro dos outros deve ser porque o seu não está lá muito legal.


12. Você votou em quem nas últimas eleições? Votei no PT, porque era a única coisa realmente nova no meio desse bolo todo. O PT acabou não ganhando droga nenhuma, mas é o partido que está ligado com a coisa do sonho. Os outros partidos têm muito vício, muita teoria viciada. É preciso ter pessoas que sonham com alguma coisa.


13. Drogas. Você acha que elas têm sido uma curtição ou um perigo para a sua geração? Acho que o problema não é a droga, é a pessoa. A droga ser boa ou ruim não está na droga em si, mas na pessoa que transa. Tem pessoas que transam drogas muito bem, e outras que transam muito mal.


14. Você já pensou em se analisar? Claro! Talvez comece a fazer brevemente. Tem umas coisas em mim que quero trabalhar, com uma pessoa que não esteja envolvida comigo. Acho legal a gente se buscar, querer conhecer o centro.


15. Você quer ter filhos? Ah, eu quero. Não agora, mas um dia eu quero. Não sei quantos, mas quero ter. Mas sinto que agora não é o momento para ser mãe.


16. Como é que você imagina que vai estar daqui a dez anos? Não tenho a menor idéia. Tinha uma época em que eu pensava muito nisso, sobre como seria o futuro. Agora não penso mais.


17. Você teria grilos para tirar a roupa no cinema ou no teatro? Se o personagem tivesse a ver, não teria nenhum grilo. Tenho grilo é de tirar a roupa a troco de nada. Posar para PLAYBOY, por exemplo.


18. Era o que ia perguntar. Você posaria nua para revistas? Vocês mesmos da PLAYBOY já me chamaram milhares de vezes e eu recusei. O meu barato com o nu não tem nada a ver com estar na revista. Principalmente porque não tenho vontade de ficar na frente de uma câmara, nua e fazendo pose. Eu não teria grilo no teatro ou no cinema porque aí é uma coisa que serve a uma idéia, que serve a uma coisa diferente. O nu legal para mim é tomar .banho de cachoeira, é você ficar na sua.


19. Falando a seu respeito, Irene Ravache declarou... "Ela tem uma sensualidade incomum nas meninas de sua idade". O que é que você acha disso? A Irene é louca! [Risos] Eu não acho incomum, não. Tem tantas meninas da minha idade hipersensuais... Para falar a verdade, eu não me acho nada incomum. Acho que sou igual às outras.


20. Em termos de sensualidade, como você se compararia com a Irene? Ah, é completamente diferente. A idade dela é outra. A sensualidade dela é a de uma mulher da idade dela, a minha é a de uma menina da minha idade. É difícil eu falar com os olhos do telespectador, não sei como é que as pessoas vêem a gente. Nós até temos traços parecidos, mas a gente é superdiferente. Eu gosto muito dela, tenho paixão pela Irene, como atriz e como pessoa. Acho ela superbonita, supersensual. O que mais posso dizer?



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١ تعليق واحد


Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
١٦ أبريل

Logo depois ela apareceria nua em ''Bete Balanço'',filme que retrata muito bem a geração-oitentista.

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