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MAITÊ PROENÇA | FEVEREIRO, 1987


A tão esperada nudez

Uma super estrela numa superprodução da PLAYBOY


FOTOS J.R. DURAN


Maitê, em tupi-guarani significa “coisa feia”. Ao batizar uma criança com esse nome, os antigos indígenas planejavam afastar os maus espíritos que, afinal, não iam se aproximar de uma coisa feia. Da nossa Maitê, "coisa linda", o Brasil inteiro queria chegar perto. Em fevereiro de 1987, PLAYBOY concretizou esse sonho e, finalmente, pudemos tê-la em nossas mãos, avassaladora, nua.


Maitê Proença Gallo despontou para a careira artística pelas mãos do dramaturgo Antunes Filho e, em 1979, estreou na televisão na novela Dinheiro Vivo, exibida pela TV Tupi. Logo despertou o interesse da poderosa Rede Globo e ingressou na emissora carioca já em 1980. O auge da sua popularidade se deu em 1986 quando interpretou a cortesã Dona Beija, na novela de mesmo nome exibida pela TV Manchete, e se consagrou como uma das mais belas e desejadas atrizes do Brasil, exibindo seu talento e escandalizando o país que, pela primeira vez via, em horário nobre, sua nudez em memoráveis banhos de cachoeira ou mesmo desfilando nua pelas ruas de Araxá (MG) em um cavalo branco, enlouquecendo os homens dentro e fora das telas. 


As chamadas da novela diziam que "Nunca uma mulher foi tão desejada". Pode-se dizer que essa máxima também se aplicaria à redação da PLAYBOY: Maitê foi muito desejada. Foram exatos dez convites, prontamente recusados, antes da atriz finalmente assinar com a revista, em outubro de 1986, pelo espetacular cachê de 2 milhões de cruzados (1 milhão de reais, em valores atualizados).



O tão sonhado "Sim" de Maitê veio acompanhado de exigências dignas de uma estrela em um ensaio com ares de superprodução hollywoodiana. Para começar, suas fotos seriam reunidas, pela primeira vez na história da revista, em um suplemento especial de 74 páginas, com detalhes da vida da garota de Campinas que virou a paixão nacional, trazendo ao leitor um pouco de sua infância, carreira artística, festas, badalações, intimidade, sua veia política, além de um apanhado das capas de revista já estreladas por Maitê em sua meteórica trajetória, tudo isso emoldurado por um texto produzido por sua grande amiga, a escritora e jornalista Belisa Ribeiro.



As fotos, claro, são um capítulo à parte. Toda a produção do ensaio foi concebida com a participação ativa da própria Maitê, em conjunto com o diretor de arte de Carlos Grassetti e coordenação da editora especial Dulce Helena Pickersgill.



Finalmente, no início de dezembro de 1986, uma equipe formada por doze profissionais, entre fotógrafos, assistentes, produtores, editores e seguranças, capitaneada pelo mestre J.R. Duran, rumou para um antigo galpão abandonado, pertencente ao Grupo Pão de Açúcar, no Bairro do Brooklin, em São Paulo, locação das fotos. Ali, em meio às paredes e telhados em ruínas, ferros retorcidos e vidraças quebradas, tudo devidamente oculto por metros e metros de lona, foi montado o cenário onde Maitê revelaria sua majestosa e inesquecível nudez.



Mesmo tendo um roteiro acertado com a equipe da PLAYBOY do que desejava imprimir ao seu ensaio, Maitê fez questão de levar ao galpão livros de grandes nomes da fotografia internacional, como Helmutt Newton, Guy Bourdin, Richard Avedon, Irving Penn e Martin Parr. A cada intervalo das sessões, folheava páginas e fazia sugestões ao fotógrafo. Uma dessas propostas foi trazer um automóvel Nash modelo 1949, que editora Dulce Pickersgill levou três dias para encontrar.



O antigo automóvel foi utilizado na primeira parte do ensaio, com um clima de cinema noir da década de 40, mostrando uma bela mulher seduzindo e sendo fotografada por seu parceiro (papel ‘interpretado’ por André Schiliró, assistente de fotografia de Duran, usando chapéu panamá e um longo casa cotrenchcoat). Maitê se debruça no automóvel usando pérolas, vestido e luvas pretas, por longas quatro páginas antes de, finalmente, livrar-se do figurino e deslumbrar a todos com sua beleza impactante.



A segunda parte do ensaio mostra uma Maitê mais solta, leve, sorridente, vestindo as roupas usadas por André Schiliró, um contraste entre a leveza e a suavidade do seu corpo e o pesado figurino masculino. Os cliques continuam a todo vapor e, já no segundo dia de ensaio, com a qualidade do material captado, a produção já poderia considerar os trabalhos praticamente encerrados.



Mas eis que aparece uma ‘pedreira’ no caminho da equipe. Aqui no Brasil, costumamos usar essa expressão para definir um problema de difícil elucidação, mas, nesse caso, também significaria uma pedreira de verdade!



No meio do ensaio, Maitê lança a ideia: “Que tal se usássemos uma pedra?” E lá se foi a incansável Dulce em busca de uma pedra de tonalidade rosa de tamanho e formato adequados onde Maitê pudesse deitar. Dois dias de busca e a experiente editora de fotografia encontrou a pedra exata, um bloco de granito pesando duas toneladas, na pedreira do então presidente do Corinthians, Vicente Matheus, falecido em 1997, que prontamente a emprestou.


Um guincho foi contratado para buscar a rocha na Rodovia Presidente Dutra e levá-la até o Brooklin, numa distância de 185 quilômetros, quase três horas de viagem, e depois devolver a gigantesca pedra ao local de origem. Essa excentricidade de Maitê rendeu momentos de rara delicadeza, mostrando a beleza de uma mulher nua, quente, desejada e a frieza de uma pedra bruta, mas igualmente bela.


Ensaio concluído, chegou o momento de Duran ver o resultado dos cliques, uma bela combinação de filtros em preto e branco, azulados e em cores. E veio o susto: ao revelar os filmes, o fotógrafo põe as mãos na cabeça e diz, com seu sotaque espanhol carregado:




"Fiquei tão fascinado pelos seios de Maitê que esqueci completamente de fotografar outras partes do corpo dela! Só fiz uma única foto do bumbum! Mas, para alívio de todos, as fotos foram aprovadas sem ressalvas e não foi necessário que se refizesse a enlouquecedora produção.



O resultado de tanto trabalho foi o recorde absoluto da revista até então: 800 mil exemplares impressos. A tiragem recorde e inédita, aliás, obrigou a revista a substituir, naquela edição, a lombada quadrada pela lombada canoa, com grampos, cujo processo de montagem é mais rápido.



Mais que um sucesso de tiragem, o ensaio rendeu a maior vendagem da revista desde que começou a ser publicada no Brasil, em 1975, de exatos 691 mil exemplares vendidos. Maitê ostentou o título de recordista por quase dez anos até ser ultrapassada por Adriane Galisteu, em agosto de 1995. 



Como bem escreveu o Editor Especial da PLAYBOY, Carlos Costa, na apresentação do encarte, a edição de fevereiro de 1987 deveria ser guardada com carinho. E assim ela está. Nas estantes, nos corações, nas lembranças de cada leitor que Maitê encantou com seu corpo, seu sorriso, seu belo par de olhos verdes. Ah, Maitê... Coisa linda!



COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO DULCE PICKERSGILL PRODUÇÃO KIKI ROMERO

E LENA CARDOSO CABELOS CARLÃO MAQUIAGEM DANTON ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA ANDRÉ SCHILIRÓ

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