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VALÉRIA MONTEIRO | JANEIRO, 2000


A eterna musa dos telejornais fala de gafes no ar, de paqueras e do beijo que não conseguiu


POR RAQUEL MARÇAL

FOTOS DRAUSIO TÚZZOLO


Valéria Monteiro é capaz de conseguir qualquer coisa apenas disparando um largo sorriso. Foi com essa arma poderosa, calibrada com os olhos cor-de-mel levemente amendoados, que essa morena nascida em Belo Horizonte e criada em Campinas, interior de São Paulo, virou musa da TV ao tornar-se a primeira mulher a apresentar o Fantástico e o Jornal Nacional, da Rede Globo.


"Também fui a primeira apresentadora a rir num telejornal", conta, sorrindo. A carreira ia muito bem quando, em 1993, Valéria deixou o Brasil ao terminar seu tumultuado casamento com o diretor de teledramaturgia da Rede Globo Paulo Ubiratan, morto há dois anos. Mudou-se para Nova York levando a filha, Vitória, hoje com 9 anos, e tentou a carreira de modelo como fizera em 1984, nos tempos de estudante. A televisão, porém, continuava querendo Valéria.


No ano seguinte, estreou como atriz na minissérie Incidente em Antares, brilhando na famosa cena em que sua personagem, mulher casada e impetuosa, arrancava a roupa na frente de um padre. De volta a Nova York (não sem antes protagonizar um ensaio em PLAYBOY, na edição de janeiro de 1994), casou-se novamente e teve uma recaída jornalística como apresentadora do canal a cabo Bloomberg, especializado em notícias econômicas.


Aos 34 anos, Valéria acaba de se despedir do programa feminino A Casa É Sua, da RedeTV!, e finalmente pretende realizar o sonho de ser correspondente estrangeira, pela mesma emissora, na sua Nova York, para onde embarcou depois de receber a repórter Raquel Marçal.




1. É verdade que seu modelo de beleza é a Barbie? Ah, ela é linda! Eu queria ser igual à Barbie [risos]. Alta, peitão e sem quadris.

2. Mas desistiu de ser modelo, não? Não nasci para isso. Tive uma experiência passageira, enquanto fazia faculdade [em 1984] em Campinas. Na época, a moda queria louras, altas, magérrimas, não me encaixei no perfil. Além disso, modelo não fala, não expõe idéias. Na segunda vez que tentei, em 1993 [nos Estados Unidos], também não deu certo porque tinha passado da idade... e adoro comer!

3. Uma reportagem da BBC denunciou agentes que oferecem drogas e sexo às modelos em início de carreira. Aconteceu com você? Isso nunca aconteceu comigo. Falam que tenho cara de séria e afasto esse tipo de coisa. Pode ser que isso seja um dos motivos pelos quais minha carreira de modelo nunca tenha dado certo.

4. Alguma vez você recebeu uma proposta indecente no jornalismo? Insinuações são naturais num país como o nosso, um lugar de sensualidade à flor da pele. Comigo não houve nada que mereça citação. A única coisa que acabou me atrapalhando foi o envolvimento com o pai da minha filha [o diretor de novelas Paulo Ubiratan]. Me apaixonei, e acredito que ele se apaixonou também, mas, no final, a história ficou um pouco ruim para mim.

5. Por que você e Paulo Ubiratan brigaram? Quando conheci o Paulo, era a primeira apresentadora do Fantástico e tinha feito todos os jornais da Globo, menos o Jornal Nacional. Quando decidi ir para os Estados Unidos já não me dava bem com o Paulo e ele não queria que me mudasse. Até compreendo, porque isso colocou uma distância entre ele e a filha. Mas ele foi injusto e tenho um pouco de mágoa. Houve interferência [dele, para que Valéria não fosse correspondente da Globo em Nova York] e isso foi prejudicial para mim.

6. Paulo Ubiratan era mesmo uma pessoa difícil? [Longa pausa.] Estou tentando buscar a melhor memória do pai da minha filha para ela se lembrar dele da melhor maneira. Ela sabe que havia... dificuldades no nosso relacionamento. Mas quero deixar isso para trás. Não quero ficar combatendo opiniões e agressões dos amigos dele. Também gostaria que essas pessoas, [enfática] que não sabiam de nada do que acontecia, ficassem quietas.

7. Você se refere ao ator José de Abreu, que brigou com você? [Indiferente.] Quem é José de Abreu? [Irônica.] Ah, aquele ator de terceira, né? Não conheço muito bem esse José de Abreu...

8. Qual a maior gafe que você cometeu no ar? Foi no começo da minha carreira, no RJ TV, segunda edição. Tinha de falar "Tribunal Regional Eleitoral", gaguejei, não conseguia dizer. Falei: "Calma! Calma que vai sair..." [Risos.] Então, li: "Tri-bu-nal Re-gi-o-nal E-lei-to-ral". Achei super-ótimo, mas minha chefe odiou. Pensei em me demitir, entrei na sala do Alberico [de Souza Cruz, então diretor de jornalismo da Globo, hoje na RedeTV!] e disse que não tinha condição de continuar. Ele me acalmou e mudei de idéia.

9. Por que você ficou tão nervosa no ar? Porque tinha 21 anos, estava fora da minha cidade, longe da minha família e com uma responsabilidade enorme. E havia aquele mito da TV Globo. Caí meio de pára-quedas, ninguém tinha me apresentado.

10. É verdade que seus colegas insinuaram que você não sabia o que estava lendo? Já escreveram coisas horríveis sobre mim. Quando cheguei à Globo, cumprimentava as pessoas e elas não me cumprimentavam de volta. É difícil as pessoas aceitarem que você pode ser bonita, competente e inteligente. Uma vez, vi uma entrevista da Vera Fischer dizendo que beleza abre portas mas, às vezes, é a dos fundos. Você tem que saber como entrar pela porta dos fundos e acabar na porta da frente. Ou como bater o pé para entrar pela porta da frente.


11. Você é capaz de alguma loucura por um homem? Tem uma história engraçada. Em Nova York, pela primeira vez fiz uma tietagem. Estava passando na frente de um restaurante onde acontecia a première de um filme do George Clooney [protagonista da série Plantão Médico e do filme Batman e Robin], que acho lindo, maravilhoso. O [comediante] Jerry Seinfeld achou que me conhecia e começamos a conversar. Jerry entrou, fui atrás dele. Vi o Clooney, agarrei o braço dele e falei: "Nem acredito que estou te vendo aqui! Estou apaixonada! O que eu vou fazer agora?" Peguei pesado! [Risos.] Mas não é meu estilo. Aconteceu porque não o conhecia e, provavelmente, nunca mais vou vê-lo.

"Falei para o George Clooney: 'Estou apaixonada! O que eu vou fazer agora?'"

12. E George Clooney não se aproveitou da situação? Ele me abraçou e foi queridíssimo. Falei que era do Brasil e a gente conversou uma porção de coisas. Foi pouco antes daquele episódio com a Ísis de Oliveira [em 1998, Ísis anunciou que estava namorando o ator, que ele viria passar uma temporada no Rio de Janeiro e ela participaria de um filme dele, em Hollywood. Depois, Ísis teve de reconhecer que nem sequer o conhecia.] Quando cheguei aqui e me disseram que a Ísis estava noiva dele, falei: "Não acredito! Mas ele nem me contou!" [Gargalhadas.]

13. Você tem fantasias? Tenho fantasias eróticas, mas isso não posso abrir. Fantasio com tudo, faz parte da minha vida, senão fica muito chato.

14. Você é muito paquerada? Um pouco. É bom, né? [Pensa.] Não acredito na paquera premeditada, aquela coisa de planejar: "Vou falar isso, depois aquilo". E sou muito boa para pescar uma frase ensaiada!

15. Você paquera muito? Paquero. Às vezes, não dá certo. Há pouco tempo, estava paquerando um moço, ele me levou para um concerto, foi super-romântico. Contei que tinha sonhado que o estava beijando e disse: "A gente não podia dar um beijinho, assim, só para ver?" Ele falou que não queria [risos], que era melhor deixar como estava. Fiquei péssima, mas achei engraçado também.

16. Quem paquera mais, o americano ou o brasileiro? O americano tem um estilo diferente, é menos direto. Conheci meu namorado, Richard [só revela o primeiro nome], num restaurante. Foi a tradicional paquera americana: eu estava com uma amiga e ele veio até a nossa mesa com um amigo. O maître, que me conhecia, já tinha dado minha ficha. Ele perguntou se eu precisava de um agente e me apresentou o amigo, que trabalha em Los Angeles. Eu não sabia quem estava interessado, ele ou o amigo. O amigo ligou várias vezes e um dia falou: "Você sabe aquele cara que apresentou a gente?" Falei: "Poxa, achei que era você que estava me paquerando!" E ele: "Moro em Los Angeles, fica muito longe" [risos].

17. Você prefere a paquera mais contida do americano ou a safadinha do brasileiro? Um meio-termo seria ideal. Com o contido dá aquela vontade, uma expectativa. Mas o safadinho é gostoso e tem o seu lugar também. Agora, a vulgaridade não me dá tesão.

18. Você se apaixona fácil? Queria poder evitar a paixão à primeira vista. Já gostei muito de me apaixonar perdidamente, mas não gosto mais de sentir essa ansiedade que a paixão traz. Acho que tem a ver com maturidade.

19. Você prefere homens maduros, não é? Tive problema para absorver a idéia quando me apaixonei pelo Paulo [dezenove anos mais velho que Valéria]. Muitas barreiras são difíceis de transpor com a diferença de idade. A não ser que essa pessoa seja tão mais amadurecida que compreenda e esteja a fim de fazer de novo todas as coisas que já fez. Meu namorado é quinze anos mais velho do que eu e vejo dificuldades nisso.

20. No sexo, você quer dizer? Um homem maduro tende a saber mais. Não sei se aprende mais sobre as mulheres com o tempo, estou pesquisando. Vai demorar um pouco para eu dar essa resposta...


PRODUÇÃO REGINA HOFFMAN E BETH BRITO



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