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ADRIANE GALISTEU | AGOSTO, 1995



Nenhuma revista traria a mesma repercussão do primeiro ensaio nu de Adriane Galisteu para a PLAYBOY. Então com 22 anos e ex-namorada de Ayrton Senna, com quem teve uma relação de 405 dias, a modelo virou a "viúva" mais famosa do país quando o piloto morreu, no trágico acidente na prova de Ímola, na Itália, em 1º de maio de 1994.


Meses mais tarde, após uma temporada em Portugal, ela retornou ao Brasil para abraçar a fama. Havia uma enorme demanda de imprensa e de publicidade. Biaggi e Kaká Moraes trabalharam em uma capa com a loira para a Nova, veiculada em julho de 1995. O cabelo, preso com bóbis de velcro, agradou. No fim do trabalho, Galisteu comentou sobre o convite para aparecer na maior publicação masculina do país. Se a negociação vingasse, chamaria os dois para ajudar na produção. Eles não deram muita confiança para a história. Passados três dias, porém, ela estava sentada à bancada do salão Beka para repaginar o visual antes de embarcar para o ensaio, na Ilha de Santorini, na Grécia.


O loiro foi do tom amarelado para o quase branco à la Pamela Anderson. A modelo não aceitou pintar as raízes, que foram suavizadas, mas continuavam escuras. Também não quis cortar a franja. Uma semana depois, todos embarcam, em classe executiva, para a Europa. A equipe ficaria nove dias fotografando desde o nascer do sol até a noite.



O fotógrafo J. R. Duran ficou preocupado quando ele e a equipe de PLAYBOY chegaram à ilha de Santorini, na Grécia. Apesar de ser um consumado globetrotter, sem contar que estava prestes a realizar o 107º ensaio fotográfico para a revista, era sua primeira vez na ilha, e ele não gostava do que via.


A estrada que saía do acanhado aeroporto mostrava uma paisagem pedregosa, desértica, absolutamente destituída de atrativos. E ele carregava a responsabilidade de fotografar para a edição de 20º aniversário da revista – e no mais glamouroso cenário possível – a mulher mais comentada do país na época: Adriane Galisteu, a última namorada do supercampeão de Fórmula-1 e grande ídolo brasileiro Ayrton Senna, morto no ano anterior, 1994.


Havíamos, em PLAYBOY, investido meses de trabalho e uma grande soma em dinheiro para conseguir contratar Adriane. No processo de negociação, seria vital o papel de meu amigo querido, compadre e esplêndido jornalista Nirlando Beirão, com quem tive a honra de contar na redação de PLAYBOY como editor especial. Beirão escrevera, para Adriane, o livro-depoimento No Caminho das Borboletas — Meus 405 Dias ao Lado de Ayrton Senna (Editora Caras, 1994, 300 páginas), grande best-seller daquele ano, e era merecedor da confiança da estrela.



Minha primeira reunião com Adriane se deu no apartamento de Beirão em São Paulo, e com sua presença. Lembro-me de que, depois, como forma de aproximação, dei uma carona a ela até a casa do piloto Rubens Barrichello, de quem se tornara amiga próxima. O cachê finalmente negociado com os advogados de Adriane depois de alaguns meses alcançaram valor inédito até então — não obstante seja difícil fazer contas exatas com as sucessivas trocas de moeda ocorridas no Brasil desde a fundação de PLAYBOY, em 1975, até então.


Por todas as razões, sobretudo pelo pique de celebridade em que estava Adriane, alvo de enorme atenção da mídia, aquela edição estava planejada para ser histórica. Queríamos uma edição luxuosa, de campeões. A entrevista principal, repleta de revelações inéditas, era do campeoníssimo Emerson Fittipaldi. Uma das reportagens contava Pelé funcionando como ministro do Esporte do presidente Fernando Henrique. Outra, narrava os bastidores de um dos hotéis mais suntuosos do mundo, o Plaza Athenée, em Paris. Nada podia dar errado.


Ariani Carneiro, editora de Fotografia da revista e meu braço direito em matéria de contratação, pré-produção e feitura de ensaios, também estava apreensiva. Apesar de que, embora jovem, já tivesse boa experiência em viagens ao exterior — havia realizado trabalhos inclusive no distante e idílico Taiti. (Nos anos seguintes durante nossa gestão na revista, ela faria dezenas de outras viagens para fotografar estrelas, fosse em Aspen, no Colorado, ou em Veneza, Los Angeles ou Istambul, Londres, Roma ou Las Vegas.) “Eu me preocupava com a eventualidade de termos escolhido o lugar errado”, me confessou ela recentemente.



Ariani, como Duran, sabia que meu próprio pescoço estava exposto. O contrato com Adriane, muito acima do que vínhamos pagando a estrelas, havia sido negociado por mim, pessoalmente — fugindo à regra geral segundo a qual as negociações eram iniciadas e no mais das vezes concluídas por Ariani, sempre em contato permanente comigo. Ao valor do contrato se acresciam, ainda, os custos de deslocamento de uma grande equipe para realizar o ensaio no exterior – além de Duran, a editora Ariani Carneiro, a assistente de fotografia de Duran, Sandra Jeha, a produtora Florise Oliveira, o cabeleireiro Marco Antonio de Biaggi e o maquiador Kaká Moraes. No grupo se incluiria também a à época agente de Adriane, Cristina Moreira.



As apreensões de ambos, porém, logo se dissiparam quando atravessaram uma espécie de grande portal do paredão rochoso que parece proteger Santorini, sobra ancestral de um vulcão extinto, que dá acesso à esplêndida baía de águas azul-marinho, emoldurada por escarpas coalhadas de casas brancas brilhando ao sol — nada mais grego, e mais magnífico. As atividades começaram no dia seguinte, e se estenderam por 9 dias. Em seus 15 anos de PLAYBOY, Ariani Carneiro não se recorda de tarefa que demandasse tanto tempo.Tenaz em seu objetivo de obter o máximo de originalidade no ensaio, Duran havia previamente anotado uma série de ideias num caderninho — não, não era um iPad… — que costuma levar consigo.


Peculiares, surpreendentes, essas ideias foram se materializando em fotos: Adriane nua, de sandálias brancas de salto alto, passando roupa ao ar livre. Ou, a céu aberto, banhando-se numa bacia. Estendida, de olhos fechados, sobre a cúpula curva do chalé do hotel em que a equipe se hospedou, o Heliotopos. Passeando sua nudez no convés de um pequeno iate alugado por Ariani. Um close de uma mini-calcinha branca dependurada no varal. Adriane bebendo sensualmente leite de um pires.


Os cliques mostram Galisteu com uma tiara na cabeça, branca ou azul, dependendo da produção da sandália. O objetivo era esconder a raiz e dar à modelo um ar de garota. O ensaio teve cenários como um barco de madeira e dois hotéis, um deles com apenas cinco suítes. Recanto exclusivo e luxuoso, o espetacular Tsitouras ficava debruçado sobre o Mediterrâneo e era o favorito do estilista Gianni Versace. A equipe de PLAYBOY não contou à direção do hotel sobre a realização do ensaio nu. Seus integrantes inventaram que faziam parte do staff de uma publicação de moda.



Os pressupostos dos ensaios de nu são quase sempre os mesmos”, ressalta o fotógrafo. “O diferencial é a sensação de intimidade que as fotos possam produzir”, ensina. Aí, e por isso, Duran viria com a proposta de algo “extremamente íntimo” – inspirado em cena rápida e improvisada de sua vida privada, durante uma viagem –, que se tornaria um marco na história da revista: que tal se ela se deixasse fotografar depilando, com um barbeador de lâminas, o púbis? – Nem pensar! – reagiu Adriane.


Experiente, o fotógrafo jogou a isca: – OK, sem problemas. Então eu deixo essa foto para fazer em outro trabalho, com outra estrela. Ele sabia que ela ficaria ruminando aquilo, e não teve erro. No último dia, Adriane, que já se acostumara ao profissionalismo e ao bom gosto de Duran e se sentia visivelmente mais segura, voltou ao assunto: – Olha, Duran, pensei bem e aquela ideia pode ser legal.


A foto foi feita em uma locação providenciada por Ariani — o espetacular hotel Tisouras, também debruçado sobre o mar. Hotel elegante e badalado, que tinha entre seus freqüentadores um dos papas mundiais da moda, o italiano Gianni Versace. De propósito, Duran criou um quadro inverossímil. Adriane não se pôs a depilar-se no banheiro, mas num cenário inusual – uma saleta ornada com quadros, assentada sobre um sofá de couro branco. Tampouco estava nua, e sim de salto alto, blusa de seda azul, faixa branca nos cabelos louros, um anel de ouro e pedra preciosa no dedo mínimo esquerdo, naturalmente sem roupa íntima, com espuma de barbear sobre o púbis e um barbeador comum na mão direita.


Enquanto Galisteu executava a cena antológica de raspar os pelos pubianos, o cabeleireiro ficava à porta do quarto para ver se aparecia alguém no corredor. Um funcionário aproximou-se sorrateiramente para tentar tirar uma casquinha, mas deu azar: conseguiu apenas observá-la de roupão retocando a maquiagem. O pobre grego deixou de conferir o que 961.791 homens viram ao comprar uma das edições mais famosas da história da publicação.


A foto da “deusa brasileira nua na Grécia”, como dizia a chamada de capa da revista, virou notícia no dia em que a edição veio à luz, atingindo uma venda superior a 1 milhão de exemplares (bancas e assinaturas) e batendo todos os recordes da revista em seus à época 20 anos de existência no Brasil. O colunista Zózimo Barrozo Amaral, que ditava moda e modismos no (infelizmente) extinto Jornal do Brasil, logo a denominou de “raspadinha” – alusão maliciosa aos bilhetes da loteria instantânea, ainda muito em voga naquele 1995.



O tema atiçou uma torrente de manifestações, que incluíram de psicanalistas a programas de fofoca e até mesas-redondas na televisão, do escritor Luis Fernando Verissimo a revistas semanais. Adriane e PLAYBOY não saíam do noticiário. Na festa dos 20 anos da revista, com um show do cantor Bobby Short para 1.200 convidados no Teatro Municipal, em São Paulo, uma multidão que precisou ser contida por um cordão de segurança se aglomerou na porta para ver, aplaudir e saudar aos gritos a estrela, vestida num longo branco. Na Folha de S. Paulo, que tratou do caso várias vezes, o exigente colunista Marcelo Coelho sentenciou, resumindo tudo: “Uma foto antológica”.



A equipe, menos o assistente, que fez a foto, numa das cúpulas redondas do hotel em que se hospedou: da esquerda para a direita, em pé, Duran (de boné), Adriane (com as pernas em torno de Ariani), Marco Antonio e Kaká; embaixo, Cristina, Ariani Carneiro e Florise (Foto Sandra Jeha)



Este texto foi publicado originalmente por Ricardo Setti em seu site pessoal e contém fragmentos da biografia "A Beleza da Vida", do cabeleireiro e maquiador Marco Antônio de Biaggi, publicado em 2017.
24.468 visualizações1 comentário

1 Comment


leonardojoseraimundo
Nov 24, 2023

Adriane Galisteu foi excelente nas fotos. A melhor foto de Adriane foi a 4a., em que ela se abaixa totalmente nua. Eu amo a bunda feminina.

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