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ANDREA GUERRA | MAIO, 1998


Miami Beach tem como uma das características notórias os excessos. O palco do trabalho com Andrea Guerra: um hotel que tinha tudo o que se possa imaginar, menos discrição. O Eden Roc Hotel onde fotografamos não constitui exceção. Um colossal complexo, com visual exuberante e sem qualquer preocupação com a discrição, pelo contrário, dispunha de todo tipo de instalações e de suítes especiais com terraço. Uma delas Ariani Carneiro, a incansável coordenadora de todos os ensaios da revista, alugou para clicar Andrea.


Como em geral ocorria na revista, parte das fotos eram externas, parte em ambientes internos. Raramente, em meus cinco anos como diretor de PLAYBOY, publicamos todo um ensaio de capa realizado só em ambientes internos ou em estúdio. Os trabalhos, mesmo produzidos em locações, em geral procuravam incorporar à beleza feminina também os elementos da natureza — a luz do sol, a cor do mar e da vegetação, rios e cachoeiras quando era o caso, a exuberância de tons de diferentes flores e até de frutas. Na área externa do hotel Bob Wolfenson realizou com a estrela debruçada sobre a amurada da suíte do hotel ou contemplando o azul esplêndido do mar de Miami Beach.


Um dos traços do grande fotógrafo Bob Wolfenson: estabelecer um contraste entre o ato banal, rotineiro, da estrela na foto — um simples telefonema — e o inusitado fato de estar nua, e impecavelmente penteada e maquiada. Como se fosse para sair, no rumo de alguma situação elegante. Como os demais fotógrafos que trabalhavam com nossa equipe, Bob também selecionava as fotos que lhe pareciam melhores e a ordem em que considerava poderiam sair na revista — ou seja, como deveria ou poderia ser o ensaio. O diretor de Arte, Carlos Grassetti, a editora de Fotografia, Ariani Carneiro, e eu em geral concordávamos com a maior parte das propostas dos fotógrafos, com uma mudança aqui, um acréscimo ali. Raramente havia modificações drásticas entre o que o profissional propunha e o que nós, da equipe da revista, achávamos que deveria ser. Típico de Bob, a página dupla exibia, de um lado, a nudez telefônica de Andrea Guerra e, de outro, um close de seu perfeito derrière.



Bob Wolfenson, como outros fotógrafos que colaboraram intensamente com PLAYBOY, mesmo diante da nudez exuberante de muitas das estrelas que fotografou nunca deixava de se preocupar com um detalhe fundamental: o olhar da mulher. Afinal, sensualidade não é apenas a nudez. Debruçados sobre a mesa de luz da Redação, o diretor de Arte, a editora de Fotografia, o fotógrafo que produziu o ensaio e eu não poucas vezes descartamos fotos aparentemente muito sensuais nas quais as formas e a posição do corpo da estrela não encontravam correspondência no olhar. Se ausente, se inexpressivo ou, pior ainda, se sugerisse tristeza, derrubava a foto. O olhar sedutor e magnético de Andreia Guerra confere mais calor à foto. Ela está “encarando”, desafiadora, o leitor. Isto é fundamental.


Ah, o que não fazíamos para tentar fazer de PLAYBOY imbatível. A responsabilidade pelos gastos editoriais — cachês de estrelas, cachê dos fotógrafos, despesas de viagens para a feitura de ensaios — cabia a mim, e olhando para trás confesso que, vez por outra, posso ter exagerado.


É certo que Andrea Guerra, revelada pela revista alguns anos antes, era em 1998 uma bela garota, tinha feito trabalhos na Globo — inclusive na novela Malhação — e  gozava do reconhecimento dos leitores. Será, porém, que era mesmo o caso de fazermos o ensaio de capa com ela para maio daquele ano justamente na suíte preferida de Madonna no hotel Eden Roc, de Miami Beach?



O trabalho na suíte preferida de Madonna resultou numa bela capa (e num belo ensaio).



Vestindo lingerie, sandálias brancas de salto, o porte ressaltado por joias, Andrea Guerra seria a capa da edição de maio de 1998 de PLAYBOY primorosamente fotografada em Miami Beach por Bob Wolfenson, com editoria especial de Ariani Carneiro e produção da repórter Florise Oliveira uma edição engrandecida por uma das melhores entrevistas que o ex-craque Tostão concedeu na vida, por uma reportagem exclusiva sobre um crime de morte dentro do caso dos Anões do Orçamento e, entre outras atrações, um roteiro top de linha para quem pretendesse viajar para assistir a Copa do Mundo da França daquele ano, trabalho do esplêndido editor especial Nirlando Beirão. Pelo bem da causa, Nirlando sujeitou-se a passar quase duas semanas na França, com base em Paris — uma das várias viagens a trabalho que fez à Europa, sempre com brilho. Uma edição rica, como se vê.


Por Ricardo Setti. Advogado e jornalista, foi diretor de redação da PLAYBOY entre 1994 a 1999. Este texto foi publicado originalmente em seu site pessoal.
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1 Comment


leonardojoseraimundo
Nov 25, 2023

Andrea Guerra foi excelente nas fotos. A melhor foto de Andrea foi a 1a., em que ela se deita no sofá totalmente nua. Eu amo a bunda feminina.

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