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ANGÉLICA | AGOSTO, 1998

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com a lourinha que virou louraça sobre amor,

sexo, dinheiro, televisão, rivais, revoltas e, ufa!, excesso de trabalho.


Chamar Angélica Ksyvickis pura e simplesmente de lourinha é, hoje em dia, no mínimo uma conjunção de injustiça com desinformação. Há pelo menos uma trinca de excepcionais motivos para tratá-la, digamos, como uma louraça. Primeiro: ela não é mais aquela garotinha projetada para a fama aos 5 anos, num concurso de beleza infantil do extinto programa Buzina do Chacrinha. Há muita se transformou numa belíssima mulher, que, prestes a completar 25 anos, sabe exatamente o que quer, inclusive dos homens. Segundo: Angélica é quem, assina os cheques referentes a suas contas, bem como as de muitas outras pessoas, incluindo-se nesse rol as despesas da família. Terceiro: o invejável faturamento de 1,1 milhão de reais mensais é mais do que suficiente para acabar com qualquer diminutivo. Nascida no dia 30 de novembro de 1973, em Santo André, na região do ABC paulista, a filha caçula do metalúrgico Francisco Ksyvickis e da dona de casa Angelina, herdeira de traços russos e poloneses, Angélica já passou tanto tempo diante das câmeras que pode ter esquecido como se soletra a palavra anonimato. Reconhecida em cada esquina do país, ela recolhe 40% de seus rendimentos de exatamente 400 diferentes produtos licenciados com a sua marca — o que envolve coisas com seu nome, seu rosto e até com sua famosa pinta na coxa esquerda, de 2,5 centímetros de largura e 5 centímetros de comprimento. Outro quinhão, de cerca de 200.000 reais mensais, vem de anúncios publicitários. Uma gorda fatia de 300.000 reais é composta pelo salário pago pela Rede Globo. E o restante da bolada se compõe dos lucros dos onze discos que ela já lançou e de suas aparições em público para platéias de até 50.000 pessoas a cada show.

O nome Angélica e sua logomarca — um A ladeado por asinhas de anjo já venderam pelo menos 3,5 milhões de vidrinhos de esmalte, 1,2 milhão de sandalinhas de plástico e mais de 10 milhões de prosaicos pacotes de cereais para café da manhã, além de bonecas, cosméticos, roupas, joguinhos, mochilas e computadores. No ano passado, a empresa Angélica Produções e Participações contabilizou um faturamento bruto de 75 milhões de reais. Sua principal concorrente, Xuxa Meneghel, embolsou no mesmo período cerca de 15 milhões de reais com o mesmo tipo de atividade comercial, o que deixa Angélica folgada no topo do pódio de licenciamento dos artistas brasileiros. Só que ela aproveita essa folga para trabalhar mais de doze horas por dia, seis dias por semana.


E vem mais trabalho por aí. A Globo Filmes, a mais recente empresa fundada pelas Organizações Globo, decidiu tê-la como a estrela de seu primeiro longa-metragem. Dirigido por Daniel Filho e com roteiro assinado por Carlos Lombardi, mais conhecido como autor de novelas, Nas Ondas da Angélica (título provisório) é uma história aventuresca sobre televisão que começa a ser filmada ainda em agosto e deve estrear em dezembro em centenas de cinemas de todo o país.

Angélica já se considera uma veterana na carreira de atriz — depois de participar de Os Heróis Trapalhões, Os Trapalhões na Terra dos Monstros e Uma Escola Atrapalhada, três filmes produzidos pelo comediante Renato Aragão —, mas diz que se sente mais à vontade como apresentadora do programa Angel Mix, que alcança a média diária de 12 pontos no Ibope no horário das 8 às 12 horas. "Gosto de ser eu mesma", diz a também estrela da mininovela Caça-Talentos, uma espécie de seriado recheado de efeitos especiais no qual seus longos cabelos lisos são cacheados para que interprete uma irreverente fada contemporânea.

Sua paixão, porém, sempre foi cantar. Seus discos vendem em torno de 150.000 cópias por ano, mas o sucesso "Vou de Táxi" (carro-chefe de seu segundo álbum, lançado em 1987) alcançou a marca monumental de 1 milhão de exemplares vendidos. Nada mal para quem foi aplaudida em público pela primeira vez de boquinha fechada, aos 2 anos de idade, ao ser eleita a criança mais bonita num concurso do Clube de Campo Havaí, um reduto da classe média, à beira da Represa de Guarapiranga, em São Paulo, no ano de 1975.

No topo de uma carreira de sucessos que começou com um programa infantil na TV Manchete (por sete anos), ganhou reforço no SBT (com mais três anos) e chegou à Rede Globo (em 1996), Angélica recorda-se de ter passado somente por um trauma sério na vida, há vinte anos: o dia em que a casa da família foi invadida por assaltantes, o pai ficou ferido gravemente por dois tiros e sua única irmã, Márcia (onze anos mais velha), teve o cano de um revólver enfiado na boca. Curiosamente, foi exatamente para fazê-la esquecer do episódio que a mãe, Angelina, decidiu inscrevê-la no concurso de beleza do Velho Guerreiro. Angélica passou a perna em 2.000 concorrentes de todo o Brasil, estrelou em seguida dezenas de campanhas publicitárias, quando ainda mal sabia escrever o próprio nome, e, aos 12 anos, em abril de 1986, tornou-se apresentadora de televisão.

Não saiu mais de cena — nem pretende. Angélica tem contrato assinado com a Rede Globo até o ano 2001 e planos de manter-se como apresentadora bem além dessa data. Admirada não apenas por crianças e adolescentes que imitam seu jeito de vestir e de falar, mas também por rapazes e gente mais grandinha que admira também outros de seus predicados, ela quer seguir uma carreira ainda mais fulgurante e acalenta o desejo de investir num programa para adultos. "Sem abandonar o público infantil", ela faz questão de acrescentar.

Como cresceu em público, Angélica nem sempre conseguiu manter sua vida privada longe das luzes da própria TV ou das colunas de fofocas da imprensa. Mas seu melhor momento de mulher adulta acontece agora, quando ela mesma conta, por exemplo, como terminou um relacionamento de sete anos e meio com o apresentador César Filho, seu primeiro grande amor em todos os sentidos, mas não eterno. Oficialmente sem namorado, Angélica descreve uma amizade "em preto e branco com bolinhas coloridas" com o dublê de ator e cantor Maurício Mattar, assume que sentiu uma paixão passageira pelo garotão televisivo Márcio Garcia e que está com o coração aberto a novas experiências.

Para tratar desses e de assuntos ainda mais íntimos da vida da louraça Angélica, PLAYBOY destacou sua colaboradora no Rio de Janeiro Dalila Magarian, que conta um pouco dos bastidores das conversas: "Entrevistar Angélica era um duplo desafio. Primeiro, seria preciso conseguir uma data na qual ela pudesse ceder várias horas de uma agenda absurdamente repleta. Segundo, porque ela sempre teve a imagem de uma garota cercada pelo excesso de proteção familiar, de opiniões ingénuas e história pessoal muito conhecida. Mas o que aconteceu foi o contrário. Deparei-me com uma mulher adulta, que sabe muito bem o que quer. Angélica não se recusou a falar sobre assunto nenhum, à exceção de seu faturamento (nesse caso, atendendo a uma cláusula de seu contrato com a Rede Globo). Mas permitiu que seus assessores o fizessem. Também não se esquivou de revelar suas ideias e experiências sobre sexo, falar da sua primeira vez, dos rompimentos e de homens mais velhos.

"Marcar o dia da entrevista foi bem mais complicado. Acabamos nos encontrando em duas diferentes ocasiões, com um longo intervalo entre as duas conversas, que renderam oito horas de gravação. A primeira sessão aconteceu nos bastidores do Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, onde Angélica grava o seu Angel Mix. Ela estava cansada, mas em nenhum momento demonstrou mau humor. Acompanhada da irmã, a publicitária Márcia Marta, diretora artística da empresa Angélica Produções e Participações, ela precisou interromper a conversa uma vez, para tratar de negócios com seu empresário, Marcos Saraiva, e se informar sobre novos produtos a ser licenciados.

"Nosso segundo encontro foi nuns sábado de sol, numa cobertura tríplex na Barra da Tijuca com 1.000 metros quadrados de área e irrestrita vista para o Mar. Ela tinha se mudado para lá fazia semanas. Avaliado em 1,2 milhão de reais, o apartamento passou por uma reforma de nove meses para receber a moradora e consumiu 500.000 reais no projeto de decoração assinado pelo arquiteto João Armentano. Fui conduzida a uma espaçosa sala íntima com sofás confortáveis e um imenso telão para projeção de filmes, dando saída para o terraço com piscina e para a sala de ginástica.

"Angélica surgiu vinte minutos depois, vestindo uma blusa de alcinhas que marcava o desenho dos seios e uma calça justa. Produzida com uma maquiagem leve, ela estava preocupada com as fotos da entrevista. 'Você quer que eu use roupa de outra cor ou penteie os cabelos de um jeito diferente?', perguntou à fotógrafa, sem esconder a vaidade. Depois, durante as respostas, não esconderia também as outras características de sua personalidade e as histórias de sua vida — nem mesmo a de ter se arrependido de um detalhe nada negligenciável de seu passado. 'Eu deveria ter namorado muito mais', concluiu a certa altura. Mas isso, todos sabemos, ela ainda tem muito tempo pela frente para fazer. Aos candidatos ao posto, ela dá várias dicas nesta entrevista."


PLAYBOY — Como é o seu tipo de homem ideal?

ANGÉLICA — [Risos.] Hoje em dia não ligo mais para a beleza. Beleza não põe mesa [rindo]. Quero que seja uma pessoa dedicada, carinhosa, que admire o que eu faço e que também trabalhe muito, para não reclamar do meu ritmo de trabalho.

PLAYBOY — Nenhuma pista sobre o tipo físico?

ANGÉLICA — Gosto de homens morenos, já deu para perceber, né? E de homens fortes, não muito magros. Só abro exceção para um louro, o Brad Pitt [risos] . É louro, mas tem traços agressivos, cara de homem.

PLAYBOY — Os homens preferem as louras ou as morenas?

ANGÉLICA — Acho que os homens preferem todas as mulheres [rindo]. O raça! [Risos.] Eu tenho muitos amigos que adoram morenas. A loura tem uma coisa com homem, com mulher, com criança, que é a coisa da fada, da princesa, dos personagens purinhos, bonitinhos. E vivemos num país tropical, onde ser loura é o diferente. Vou para o exterior e sou confundida com trombadinha! [Risos.]


PLAYBOY — Você usa alguma tintura no cabelo?

ANGÉLICA — Não, nunca, mas se usasse falaria. Evito usar muita coisa no cabelo para não estragá-lo.


PLAYBOY — Qual é o ator dos seus sonhos?

ANGÉLICA — Brad Pitt! [Risos.] Meu sonho é fazer uma entrevista com Brad Pitt, fazer um filme com Brad Pitt, conhecer o Brad Pitt!

PLAYBOY — Tudo bem, mas o que você acha, por exemplo, do Leonardo DiCaprio?

ANGÉLICA — [Sem entusiasmo.] É, legal. Mas não chega aos pés do Brad Pitt [Risos.]

PLAYBOY — Quer dizer, então, que homens muito jovens não têm chance com você?

ANGÉLICA — Realmente gosto de homens mais velhos [rindo]. Tem muito garoto por aí com uma cabeça ótima. Mas convivo com pessoas bem mais velhas, sou muito madura para minha idade. Então perco um pouco a paciência quando não rola um diálogo. Gosto dos garotos também, me divirto com eles, mas para manter um relacionamento sério prefiro os homens mais velhos. Não veeeeelhos [rindo]. Mas nunca mais novos. A idade que me atrai é, digamos, uns cinco anos a mais do que eu. Dá menos dor de cabeça. Porque homem em si já é muito confuso! [Risos.]

PLAYBOY — O que você não suporta num homem?

ANGÉLICA — Machismo. Esse tipo que pensa que pode tudo e você não pode nada. Acho que homem tem que chorar, ter a sua própria fragilidade. Claro que não se pode deixar a mulher muito masculinizada nem o homem muito feminino. Mas homens e mulheres precisam se aproximar. O homem tem que ajudar no serviço de casa porque a mulher ajuda na rua. Acho que a mulher tem que tomar muito cuidado nessa ânsia de querer ser igual ao homem para não perder a feminilidade.

PLAYBOY — O que você espera de um relacionamento?

ANGÉLICA — Espero estar apaixonada. Para eu namorar, a pessoa tem que ser realmente um companheiro, que possa estar do meu lado, dividir as coisas, até como era um pouco com o César [Filho], que era muito legal nesse lado. Mas que também haja paixão, admiração. É muito importante admirar alguém que me admire também como profissional e como pessoa. Que me olhe e veja que sou legal. Eu me considero muito parecida com isso que todo mundo comenta e vê. Mas há uma magia, e na vida real eu faço o que todo mundo faz. Então, quero uma pessoa que me conheça na intimidade e continue me admirando ou passe a me admirar ainda mais. E espero um dia ter um marido, ter filhos, casar também.


PLAYBOY — Algum tarólogo ou astrólogo já previu quando você irá se casar?

ANGÉLICA — Ih, cada um fala uma coisa! E a data já bateu umas duas ou três vezes. Dizem que vou me casar e ter um filho com 27 anos. E garantem que será um menino, e depois terei mais dois filhos.

PLAYBOY — E o que mais?


ANGÉLICA — Que vou ficar viúva! [Rápida.] lh, não publica isso, senão ninguém vai querer casar comigo! [Rindo.]

PLAYBOY — Você é ciumenta?


ANGÉLICA — Sou, mas não é posse. É ciúme mesmo. Mas nunca armei barraco. Sou muito discreta e tinhosa. Me dou valor. Não dou o braço a torcer. Às vezes é um pouco de insegurança. Estou sempre muito rodeada de gente, quero as pessoas todas para mim... Mas é tudo controlável.


PLAYBOY — O que você acha ruim no casamento?

ANGÉLICA — A invasão de individualidade. Esse é o principal motivo das separações. É preciso dar espaço para o outro respirar. Apesar de ser ciumenta, vou tentar evitar esse tipo de coisa..

PLAYBOY — E o que faz um casamento dar certo?

ANGÉLICA — O companheirismo. Hoje em dia os casais estão muito moderninhos. Essa história de casamento aberto, por exemplo. Acho melhor, então, não ter casamento. Como alguém consegue ser feliz sabendo que o marido está com outra? Tem gente que aceita. Mas, para mim, isso é falta de amor próprio. Tenho até medo de falar, porque sou muito nova, ainda posso passar por tanta coisa... Vai que me apaixono perdidamente por alguém e começo a abrir mão de tudo. Vou deixar o futuro acontecer.


PLAYBOY — É verdade que você pretende ter filhos até os 29 anos, como saiu publicado numa revista?


ANGÉLICA — Perguntaram o que faltava para eu me sentir realizada. Claro que aos 24 anos falta muita coisa para me achar realizada [risos]. Daí, o que falta para qualquer mulher? Ué, quero me casar e ter filho. Mas não é para agora. Estou curtindo esse momento sozinha. Mas vai chegar a hora em que vou querer curtir um filho, um marido... E a repórter pegou essa história e antecipou as coisas, para comparar com a Xuxa, e isso me irritou. Quem vê diz: "lh, olha a Angélica imitando a Xuxa, querendo ficar grávida". E não é assim. Isso a gente não programa. Pode ser que, quando eu tiver 28, queira ter um filho só com 32.

PLAYBOY — Você é a favor ou contra o aborto?

ANGÉLICA — É complicado. Sou a favor da vida. Não sou a favor da morte. E sou a favor de um certo controle de natalidade. Acho que deveria existir controle, para essa mulherada parar de fazer filho. Mas daí vem a questão da educação. Tem muita adolescente grávida; tem muita criança que nasce sem pai. A televisão também tem uma participação muito grande, tem que falar mais sobre isso, deixar um pouco de lado o falso moralismo e procurar ver mais a realidade. Tem muita criança abandonada. E eu sou muito a favor de adoção.

PLAYBOY — Você já pensou em adotar uma criança?

ANGÉLICA — Já, aos 14 anos. Minha mãe perguntou se era para ela cuidar, claro [risos]. Eu não adotaria uma criança sem primeiro arrumar um marido para isso. Não vou ser louca de adotar uma criança sem pai, porque seria egoísmo da minha parte. Por mais que eu pretendesse ajudar, não estaria dando uma boa estrutura para o meu filho.


PLAYBOY — E, nessa difícil caminhada para encontrar um amor, você já beijou alguém na mesma noite em que conheceu?

ANGÉLICA — Beijar?! Não. Na noite seguinte, mas nunca na primeira [risos]. Esse negócio de ficar eu acho bobeira. Você não sabe nem o nome da pessoa e fica só para beijar na boca? Agora, depende do ficar... Se fosse o Brad Pitt [risos]... Eu sei toda a vida dele, todo o passado dele! [Risos.] Beijo na boca é um negócio muito íntimo, tem que conhecer a pessoa.

PLAYBOY — Você fica excitada vendo uma cena erótica no cinema, com o Brad Pitt, por exemplo?

ANGÉLICA — Humm... Acho que sim [risos]. Não precisa nem ser com o Brad Pitt. Se for bonitinho... Depende do momento.

PLAYBOY — Você se considera sensual? Qual a parte do seu corpo de que você mais gosta?

ANGÉLICA — As vezes me acho uma mulamba, outras vezes me sinto sensual... Gosto do meu cabelo... e da minha boca. Gosto do meu sorriso. É o que mais chama a atenção em mim, a boca e o sorriso.

PLAYBOY — Você já se apaixonou por alguém que nunca soube do seu amor?

ANGÉLICA — Fui apaixonada por um professor de matemática. Mas ele nunca ficou sabendo. Vai descobrir agora! E eu era péssima em matemática! Mas nunca fui dessas de amor platônico. Se gostava, eu ia atrás. Nunca achei essa que mulher não pode tomar a iniciativa. Se gosta da pessoa, tem que demonstrar isso de alguma forma, correr e ir à luta. Claro que tem que fazer um charminho de vez em quando. Como o homem também faz. Hoje em dia eu não teria paciência para ter um amor platônico. Se eu estiver gostando de alguém, ele saberá [risos].

PLAYBOY — Você já foi paquerada por outra mulher?

ANGÉLICA — Não, mas soube de mulheres que ficaram a fim de mim, pessoas do meio, até.

PLAYBOY — Do meio? Opa! Quem?


ANGÉLICA — Ah, pessoas da produção, gente a sim, ninguém conhecido. Mas nunca alguém que tenha me deixado constrangida ou que precisasse dar um fora. Nunca me deixaram em má situação. Acabava até levando na brincadeira. Mas acho complicado. É um assunto meio novo ainda para mim. As primeiras vezes em que vi duas mulheres juntas fiquei meio assustada.


PLAYBOY — Atualmente você fica à vontade ao ver um casal gay?


ANGÉLICA — Fico numa boa, porque tenho alguns amigos homossexuais. Eles me tratam bem, gostam de mim. Tenho vários fãs homossexuais. São alegres, de bom astral e fiéis. Quando gostam, brigam por você, idolatram, são mais sinceros. Talvez por terem assumido uma postura diferente na vida, têm mais coragem.


PLAYBOY — Você conseguiria se imaginar numa relação homossexual?


ANGÉLICA — [Rindo, pede para a empregada, Selma, servir um pedaço de bolo, torna um pouco de água e, finalmente, responde:] Complicado, difícil dizer! Digo hoje que não. Não é preconceito, mas gosto mesmo é daquela coisa certinha. Ficaria meio tímida.


PLAYBOY — Tem algum tipo de cantada que deixa você constrangida?


ANGÉLICA — Aquelas coisas tipo baixaria, chamando de gostosa, bunduda, disso eu não gosto. Prefiro as mais carinhosas, quando um homem a trata por querida, essas coisas. Se partir para a baixaria, faço cara feia na hora.

PLAYBOY — Você já passou por alguma situação desse tipo?

ANGÉLICA — Já, na saída de um show em Londrina [no Paraná]. Quando estava passando por um cordão de isolamento, senti uma mão no meu seio. Pensei que fosse uma criança. Quando olhei, vi que era a mão de um dos policiais [pausa]... Subi a escada do ônibus tentando esquecer o assunto, mas me subiu o sangue... Não teve jeito: desci à procura do infeliz e vi que ele estava olhando para a minha cara. Não tive dúvidas: dei uma joelhada no saco dele. Teve até um minuto de silêncio no meio da multidão. Todo mundo ficou passado. Faz uns quatro anos.

PLAYBOY — Pelo visto você não leva desaforos para casa, certo?

ANGÉLICA — Nunca me arrependi de nada do que fiz. Sempre teve um por quê. E, se não teve, terá um dia. Me arrependo de não ter continuado a estudar balé clássico e de não estudar línguas. E me arrependo de não ter namorado um pouco mais durante a minha adolescência. Me dediquei muito ao trabalho. Isso também foi importante, mas eu poderia ter feito mais amigos. Adolescência a gente só passa uma vez na vida.

PLAYBOY — Você experimentou algum tipo de droga, como tantos outros artistas?

ANGÉLICA — Nunca tive curiosidade nem para o cigarro comum. Eu vejo, conheço pessoas que usam, mas nunca tive vontade de experimentar. Tenho consciência de que é uma coisa ruim.

PLAYBOY — Você convive bem com o fato de ser uma pessoa famosa?


ANGÉLICA — Muito bem! [Risos.] Tive a sorte de começar cedo e sempre tive noção do que isso era e nunca me deslumbrei. A cada dia surgem pessoas e talentos novos. Hoje eu não conseguiria viver sem ser amada, adorada, pelas pessoas. Quer dizer, conseguiria, mas ficaria difícil. Precisaria me readaptar a uma situação assim. Conheço os meus limites, os lugares aonde posso ir, onde posso conviver. Não fico triste por não poder ir a um shopping aos sábados à tarde. Vou às terças, às quartas. Sei que terei que dar autógrafos, vou com essa consciência. Uma coisa é verdadeira: as pessoas mudam mais com você por causa da fama do que você com elas.


PLAYBOY — Como assim?

ANGÉLICA — Os amigos às vezes se deslumbram, a família se deslumbra. Muitas vezes o artista é uma coisa e a família do artista é outra. Não é esse o meu caso, graças a Deus.

PLAYBOY — Já que você falou da sua carreira, como acha que será seu programa com o passar do tempo?


ANGÉLICA — Quero paralelamente ter um outro programa, para adultos. Acho que vai chegar a hora em que eu mesma vou perceber que não tenho mais nada a fazer para as crianças e elas estarão em outra. Mas não gosto de pensar nisso.

PLAYBOY — A Globo daria um programa adulto para você?

ANGÉLICA — A Globo me ouve muito e quer me cultivar como apresentadora. Em todas as reuniões percebo que estão investindo numa apresentadora para o futuro. É o que eu quero também.

PLAYBOY — Você gosta de assistir ao seu programa na TV?

ANGÉLICA — Gosto de ver às vezes. Estou fazendo a mesma coisa há onze anos e tenho medo de que se torne mecânica. Gravo algumas fitas. Gostava de ver quando me apresentava em outras emissoras, cantando.

PLAYBOY — O que você acha dos programas infanto-juvenis da concorrência?

ANGÉLICA — Quanto mais programas tiver, melhor para todo mundo. Quem sai ganhando é o público, que pode escolher o que assistir. Nunca tive problemas com as outras apresentadoras. Já fui ao programa da Eliana [no SBT], ao programa da Xuxa. Cada uma tem o seu espaço. Acho o programa da Xuxa o máximo. Ela tem todo o mérito por tudo o que representa. Ela tem muito carisma, dedicou a vida dela a isso. As pessoas se perguntam se ela realmente gosta de criança... Não sei, ela demonstra que sim. Ela tem orfanato, tem creche, sei que ela liga para as crianças, conversa, tem carinho. Eu admiro a Xuxa pra caramba.

PLAYBOY — Você assiste ao programa dela?

ANGÉLICA — Teve uma época em que me comparavam muito com a Xuxa. Então deixei de assistir, por medo de fazer alguma coisa igual. Eu tinha só 12 anos, era uma fã, e tinha receio de pegar alguma coisa dela. Depois falei: "Dane-se. Eu sou eu, tenho meu jeito; ela tem o dela". E voltei a assistir. Agora estou trabalhando muito. Não tenho tempo. Quando dá, vejo a Xuxa e outros programas.


PLAYBOY — É verdadeira a história de que a Xuxa ou seus assessores atrapalharam a sua ida para a Globo?


ANGÉLICA — Fofoca de televisão a gente que tem, vai ter sempre. Essa é uma história que várias pessoas me contaram na época, mas ninguém provou nada. Ainda me dizem que nas outras vezes em que eu fui convidada ela não gostou. Mas não acredito. Primeiro: porque ela não precisa disso. Segundo: porque ela sempre teve um espaço lá dentro. As pessoas a respeitam muito. Para mim, não é verdade.

PLAYBOY — Mas você chegou a ficar chateada?

ANGÉLICA — Ficava chateada, sim. Era uma fã. E pensava o que euzinha poderia atrapalhar. A Xuxa é um ídolo. É tão maior do que isso! Mas algumas pessoas me fizeram ver que era só veneno. Eu ia ao programa dela, cantar, e ela me tratava superbem. Depois que vim para a Globo perdemos contato, por vários motivos. Quando lancei meu disco ela estava de férias. E quando a convidei para ir ao meu programa era justamente o início da gravidez dela.

PLAYBOY — Vocês não têm se falado nem por telefone?

ANGÉLICA — A gente se falava muito antes de eu ir para o SBT. Eu ia à casa dela, ela ia à minha. Depois deu uma esfriada, e nunca mais a gente se falou. Mas isso não quer dizer que exista alguma coisa. Criou-se muita polêmica, mas nunca teve motivo para isso.

PLAYBOY — O que você achou da gravidez da Xuxa? Ela tinha anunciado que engravidaria mesmo que tivesse de recorrer a uma inseminação artificial.

ANGÉLICA — Uau! [Risos.] Acho que ela já fez tanta coisa na vida, já trabalhou tanto, já provou tanta coisa, que tem todo o direito de fazer o que quiser. Se ela quer ter filho, tem mais é que ter mesmo. Ela já cuidou do filho de tanta gente! Está certo que ela é uma pessoa pública, tem que se preocupar com a influência sobre o público, mas está num estágio em que tem de pensar naquilo que vai realizá-la. Não critico nenhuma atitude, mesmo que ela tivesse feito uma inseminação ou que ela tivesse adotado uma criança.

PLAYBOY — O que você acha da empresária da Xuxa, Marlene Mattos?


ANGÉLICA — Ela é uma profissional até, digamos, diferente, exemplar mesmo, diferente de tudo. É difícil alguém ter do lado uma profissional como ela. A Xuxa teve muita sorte. A Marlene é uma pessoa que respira a Xuxa o tempo todo. É de impressionar. Alguém que vive a sua vida, é mesmo de assombrar.

PLAYBOY — Você gostaria de ter uma Marlene Mattos só para você?


ANGÉLICA — Não. O meu jeito é diferente. Ela e a Xuxa se entendem muito bem. Comigo não daria certo. Eu gosto de diálogo, gosto que entendam minha opinião, meu ponto de vista, gosto de respeitar o espaço das pessoas e que respeitem o meu. Até acho que profissionalmente a gente precisa ser comandada, levar bronca, para não sair da razão e ficar só na emoção. A vida da gente é puro glamour. É gente paparicando o tempo todo, dá uma enlouquecida mesmo. Mas não sei se gostaria de ter alguém o tempo todo coordenando meus passos. Talvez fosse bom para se livrar de um pouco dos problemas. Quanto mais delega, mais se alivia. Mas eu não gosto.

PLAYBOY — O que você acha da Eliana?

ANGÉLICA — Eu a acho muito gracinha. Sempre foi legal comigo também. A gente trabalhou um tempo junto no SBT. Ela é supermeiguinha. Trabalha para um público específico e se dedica a ele. As outras apresentadoras trabalham para um público geral. Ela está voltada para crianças de zero a 5 anos. Gosto do trabalho dela.


PLAYBOY — De que outros programas infantis você gosta?

ANGÉLICA — Gosto muito dos programas da [Rede] Cultura. Como não há um compromisso com o comercial, com o Ibope, a audiência, eles podem fazer aquilo. A gente, não. Por mais que se faça um programa educativo, que se tente fazer, existe um compromisso comercial. Eles [a Cultura] só têm esse compromisso de educar, sem compromisso com mais nada. Acho isso muito legal.

PLAYBOY — O que você acha da sensualidade em alguns programas infantis?

ANGÉLICA — Eu comecei num formato de programa que já existia, no caso o que a Xuxa apresentava. Ela era uma pessoa mais adulta, mais sensual, e quando comecei era uma criança, tinha 12 anos, usava blusinha, shortinho, coisas que criança usa e gosta de usar. E o público acompanhou todo um processo na minha vida, a minha adolescência, a entrada na fase adulta. E essa minha sensualidade acaba aparecendo. Mas, como o público acompanha essas transformações, o primeiro beijo, o primeiro namorado, é uma sensualidade que existe naturalmente, que nunca forcei para ter. Tenho carisma com criança. [Angélica interrompe o assunto e convida a repórter para almoçar. Uma mesa está pronta na varanda, com vários tipos de salada, comprados num restaurante da vizinhança. Angélica serve-se com calma, come pouco e concorda em continuar a entrevista durante o almoço.]


PLAYBOY — A que programa você deixaria seu filho assistir?

ANGÉLICA — [Risos.] O que ele quisesse! Lógico que eu ia [pausa]... Bem, não sei. Essa história de dizer antes o que se vai fazer não funciona. Quando se tem um filho muda tudo. Mas procuraria influenciá-lo para assistir programas mais saudáveis. Não quero para os filhos dos outros o que não irei querer para o meu. Acho que o meu programa é bom [risos]. Mas eu procuraria fazê-lo assistir a Cultura [risos].

PLAYBOY — E qual programa você não deixaria que ele assistisse deleito nenhum?

ANGÉLICA — Esses programas com muita cena de sexo, que despertassem alguma coisa que ainda não tivesse sido naturalmente despertada nele. Tem muita coisa em filme, em novela, e criança hoje em dia não dorme antes das 10. Nunca digo "que porcaria, tirem isso da televisão". Mas dentro da minha casa eu tentaria não deixar que ele visse aquilo. A censura a gente faz dentro de casa. Eu não iria deixar meu filho ver certas coisas antes da hora.

PLAYBOY — Do que você acha que as crianças mais gostam em seu programa?

ANGÉLICA — Acho que elas gostam da alegria, do pique. E gostam de ter um modelo para elas. A criança se inspira muito no seu ídolo. Então elas gostam das roupas que estou usando, gostam muito do meu jeito. O público brasileiro é muito carente. E a criança gosta muito de carinho, de ter alguém que fale pra ela, que se preocupe com ela, que mande um beijo. Já faço parte da história delas.

PLAYBOY — E os mais velhos, gostam do seu programa?

ANGÉLICA — Eles ligam pra assistir também A gente tem entrevistas, tem música no programa, tem jogos.


PLAYBOY — Por que acabou o quadro de dúvidas sobre sexo do seu programa?

ANGÉLICA — Era um assunto muito polêmico. Tinha muito pai e muita mãe que escrevia elogiando, mas existia também gente que não aceitava muito bem o quadro. E não é só adolescente que assiste ao programa. Eu falei: "Peraí, tem muita criança de 5 anos que desperta para uma coisa para a qual não está pronta". Apareciam meninas de 12 anos perguntando o que é ereção. Ela [a sexóloga Rosely Sayão] explicava de uma forma bonitinha, mas a menina de 5 anos ouvia também. Daí virou um absurdo. É o tipo de assunto que deve ser tratado na escola, na aula de educação sexual.

PLAYBOY — Você recebeu aulas de educação sexual?

ANGÉLICA — No colegial, quando me mudei para o Rio. Tinha mais ou menos 12 anos quando comecei a ter [essas aulas] no ginásio, mas ainda era uma coisa cheia de tabus. Começou num ano, depois não teve mais. Era uma coisa que ainda dava um certo medo nas pessoas, não era muito esclarecedor.

PLAYBOY — E como o assunto era tratado dentro da sua casa?


ANGÉLICA — Como na maioria das casas. Nunca foi uma coisa muito aberta. Tenho uma irmã onze anos mais velha que tinha uma cabeça mais aberta e foi ela quem conversou comigo sobre essas coisas, não o meu pai e a minha mãe. Eles sempre foram conservadores e, como todos os pais tinham certa vergonha de falar no assunto. Tive a sorte de ter uma irmã mais velha.

PLAYBOY — Quando você realmente se interessou pelo assunto?


ANGÉLICA — [Pausa.] Ah, acho que foi meio natural, no colégio. Uma coisa de conversar com as amigas da escola, de comprar revistinhas que falavam do assunto [pausa]... Mas o primeiro beijo na boca... Todas as minhas amigas já tinham beijado na boca. Eu falei: "Ah, vou beijar na boca também".

PLAYBOY — E como foi?

ANGÉLICA — Eu achava o menino lindinho, bonitinho. Daí falei: "Vou beijar esse aí na boca". Eu tinha quase 15 anos. Demorou para cair a ficha! [Risos.] Mas depois que caiu... [risos].

PLAYBOY — Então conte: como foi o primeiro beijo para valer?


ANGÉLICA — E, o primeiro foi horrível, insuportável. Pensei: "Como as pessoas podem fazer isso?" Depois eu gostei [risos]. Agora eu adoro [mais risos]. O primeiro beijo gostoso foi com um namoradinho de escola, um ano depois daquele primeiro, dos 15 para os 16 anos. Aí, com 16 anos, comecei a namorar o César [Filho], um namoro mais sério.

PLAYBOY — A sua primeira vez foi com o César Filho?

ANGÉLICA — Foi. E foi muito tranquilo. A gente já namorava havia dois, quase três anos. Quando aconteceu já tínhamos uma intimidade louca, éramos superamigos. Ele tem experiência, é treze anos mais velho do que eu. Sempre foi uma pessoa preocupada, sabia que estava namorando uma menina inexperiente [risos]. Então, foi tudo legal, foi tudo muito bom, não foi ruim como o beijo [risos]. Havia cumplicidade, não teve vergonha. Foi legal, com a pessoa certa.

PLAYBOY — Mas foi como a história do beijo? Você decidiu que não queria mais ser virgem?

ANGÉLICA — Não, não teve isso. A gente já vinha falando muito sobre o assunto. Era como se estivesse falando com uma amiga minha. Ele me conhecia muito. Até mais do que os meus pais. Eu contava essas coisas para ele. Não foi precipitado. Nós decidimos juntos.

PLAYBOY — E como aconteceu?


ANGÉLICA — Nós planejamos viajar, meu pai e minha mãe também, só que meus pais não queriam ir para o mesmo lugar. Sempre viajávamos junto com meus pais, mas naquele ano foi diferente. Meu pai e minha mãe fingiram que não estavam percebendo nada [risos]. Pai e mãe sempre fazem essa linha [risos]. Eles foram para Cancun e nós para Los Angeles. Esse deve ter sido o momento mais difícil da vida dos meus pais, mas eles seguraram. Aí veio a minha irmã, falando, aconselhando... Com certeza foi a minha mãe quem mandou [risos]. Mas eu já sabia de tudo, já tinha ido para o médico; então quando aconteceu foi uma coisa muito legal, bem tranquila.

PLAYBOY — Quanto tempo durou o namoro com César Filho?


ANGÉLICA — Ele diz que foram oito para nove anos, mas na verdade foram sete para oito anos.

PLAYBOY — Como aconteceu o rompimento?

ANGÉLICA — Eu fiquei muito mal, porque eu tinha por ele amizade, carinho, companheirismo, era quase um casamento. A gente era muito apegado, mas não existia mais a paixão. Comecei a namorá-lo muito nova. Senti que eu não queria me casar com ele, que ele não era o homem com quem eu desejava me casar. E ele já queria se casar, ter filhos. Eu me sentia mal de não dar a ele uma expectativa, de não ter um futuro para ele. Eu havia perdido a vontade. Passei um ano ou mais tentando entender por que eu havia deixado de gostar dele assim... Descobri que eu havia amadurecido e estava vendo as coisas de modo diferente. Foi uma fase em que eu também estava vindo para o Rio. Precisava resolver a minha vida profissional e a minha vida afetiva. Era um tudo ou nada. Vim para a Rede Globo. Todo mundo dizia que não iria dar certo; que eu estava me arriscando, e eu naquele medo de que não desse certo. Ficou tudo misturado...


PLAYBOY — Vocês ainda se falam ou ficaram afastados? ANGÉLICA — Ficamos afastados. Eu gostaria que continuássemos amigos, que continuássemos nos telefonando, continuasse tudo. Só que ele não quis. Era um direito dele. E um mês depois eu estava namorando [o ator Márcio Garcia]. Até tentei esconder isso, mas não deu. E era por causa dele [César], porque eu achava que ele não iria segurar muito bem essa história. Não deu para esconder, claro. Esconder um homem de um metro e noventa [risos] é meio difícil! [Risos.]

PLAYBOY — O César terminou por causa do Márcio Garcia?

ANGÉLICA — Não, são coisas diferentes. Eu já o conhecia do programa do Faustão. Foi ele quem me levou até o palco quando o Faustão anunciou a minha contratação pela Rede Globo.

PLAYBOY — O namoro começou ali?


ANGÉLICA — Não, a gente apenas se conheceu. E depois só nos encontrávamos nos corredores da Globo. Foi durante a novelinha [Caça-Talentos] que ficamos mais amigos. Acabou saindo numa revista que ele tinha feito massagem no meu pé durante as gravações, mas nunca teve isso. E essa notícia saiu na mesma semana em que eu estava terminando o namoro com o César. Daí o Márcio me ligou, pediu desculpas, disse que não tinha falado nada, eu também disse que não. Foram desculpas de um lado, desculpas do outro [risos]. E, aí, duas semanas depois, começamos a namorar.

PLAYBOY — Você ficou insegura por começar um novo namoro depois de anos com um homem só?


ANGÉLICA — Não, eu sempre fui meio doidinha pra essas coisas [risos]. Só me preocupava muito essa história do César. Eu não queria machucá-lo. E pensei: "Estou com 24 anos, preciso viver um pouco". Todo mundo me dizia para aproveitar mais a vida e eu respondia que estava tudo certo, que eu já tinha uma pessoa que me amava, que me adorava. Quando a ficha caiu foi aquilo: "Eu tenho que viver mais, tenho que namorar, tenho que conhecer muita gente ainda.

PLAYBOY — Do que você sentia falta nessa relação?

ANGÉLICA — Sentia falta de sentir aquele friozinho na barriga, quer dizer, já tinha sentido, mas fazia tanto tempo, foi aos 16 anos...


PLAYBOY — Você ficou apaixonada pelo Márcio Garcia?


ANGÉLICA — Acho que foi uma em­polgação. Um pouco de paixão, pela situação toda, por ter terminado uma coisa de muito tempo. Mas também não foi assim uma paixãozona. Foi uma coisa nova para ele, e uma coisa nova para mim. Eu nunca tinha na­morado alguém do jeito dele e o Márcio vinha de uma estrutura dife­rente. Então foi uma coisa muito for­te, mas, como todas as coisas fortes, acabou rápido também.


PLAYBOY — Houve alguma interfe­rência dos boatos que diziam que o Márcio queria se promover à sua custa?


ANGÉLICA — Nunca liguei para es­ses boatos. Aliás, eu não ligo. Claro que vou procurar namorar uma pes­soa que goste realmente de mim. Mas, se ela vai se promover, se vai aparecer numa revista comigo, sorte dela, problema dela [risos], porque vai chegar uma hora em que vai pre­cisar mostrar o talento dela também. E daí não adianta estar ao lado da Angélica, da Xuxa, de quem for. O que atrapalhou foram duas coisas. Primei­ro: eu trabalhar muito e ele não segu­rar isso direito. Segundo: o tipo de vi­da a que eu estou acostumada, com jornal dizendo coisas que não são verdadeiras, ou que têm até um fundi­nho de verdade [risos]. Estou acostu­mada a sair com seguranças, a ir para um restaurante e vir gente pedir au­tógrafo. E acho que ele se assustou um pouco com isso. Não era a reali­dade dele. E me incomodava o fato de ele não se acostumar com isso. É a minha forma de vida. Tenho cons­ciência de que a minha vida é dife­rente e a pessoa que se aproximar de mim vai se espantar um pouco. Por isso, procuro ser o mais natural possí­vel, para que a pessoa se espante com o que vê em volta. Não comigo.


PLAYBOY — Que tipo de coisa você faz para parecer normal?


ANGÉLICA — Eu me esforço para ir ao cinema, sair sem a companhia dos seguranças, para que as pessoas que estão comigo não se sintam in­comodadas. Não é todo mundo que tem que se acostumar com isso. É anormal, mas também não dá pra morrer. Convivo muito bem com is­so. Daí, quando a pessoa passa a não enxergar [meu esforço], eu me irrito mesmo.


PLAYBOY — Então foi você quem tomou a iniciativa de se afastar do Márcio Garcia?


ANGÉLICA — Foi uma coisa dos dois. Cheguei de viagem, vi um mon­te de coisas no jornal e falei: "Isso não está dando certo, estou passando por um monte de coisas que não sou...". Eu confiava muito nele. A gente sempre teve também um relacionamento muito aberto. Mas eu es­tava passando por chifruda, [diziam] que ele estaria saindo com outras ga­rotas na minha ausência, e também a minha família estava se sentindo mal com isso. Então propus de a gente ficar amigo. E ficamos. Ainda nos falamos de vez em quando, sem mais nenhuma empolgação ou paixão [risos].

PLAYBOY — já que falamos em namorados, e o Maurício Mattar?

ANGÉLICA — Eu também o conheço há muito tempo. E é diferente dessa outra situação. Ele é uma pessoa que eu admiro muito, já participou do meu disco, viajamos para fazer shows, essas coisas. Sempre tive amizades masculinas e todos [esses amigos] foram muito legais. E com o Maurício também aconteceu isso. A gente se conheceu, se falava direto pelo telefone, e todo mundo ficou comentando. Daí ele se separou, a gente conversou muito sobre o assunto, mas sem nada acontecer, entendeu?

PLAYBOY — Segundo algumas entrevistas, ele parece que ficaria feliz se tivesse algo mais. E você?

ANGÉLICA — Olha, ele tem uma separação recente, tem três filhos, cada um com uma mulher e tal, mas está numa fase da vida muito diferente. Tem que resolver um pouco mais a cabeça dele quanto ao relacionamento com a ex-mulher. Primeiro precisa resolver essa situação dele, para que a gente possa, quem sabe, ter alguma coisa. A gente conversa muito. A gente se gosta. É linda a amizade que a gente tem, mas nada muito importante para que eu diga que é um namoro.

PLAYBOY — Mas é uma amizade, então, colorida?

ANGÉLICA — [Risos.] O que é uma amizade colorida? [Mais risos.]


PLAYBOY — Com beijos, abraços, com sexo, por exemplo.

ANGÉLICA — [Ri e fica pensativa.] É uma amizade especial. Em preto e branco, com umas bolinhas coloridas [risos]. Pode um dia ser uma coisa importante. Mas, por enquanto, não está dando para ser, pela situação de vida dele. Não por mim. Eu, que tenho 24 anos, posso namorar quem eu quiser... Ele tem toda uma situação de família mais preocupante. E para mim é complicado comprar um problema, comprar uma história dessa, assim. Seria difícil.


PLAYBOY — Sua vida, também na parte afetiva, está muito ligada ao mundo da televisão, como se vê. Para você, qual é a diferença entre trabalhar na Rede Globo, no SBT ou na Manchete?

ANGÉLICA — lhhh, isso é muito louco! Na Manchete eu era menina, comecei na casa. Seu Adolpho [Bloch, controlador da Rede Manchete, falecido em 1995] me pegava no colo. Existia uma estrutura mais familiar. No SBT comecei a ver como era uma coisa mais profissional. Não que a Manchete não fosse, mas me tratavam como filha. Então eu tinha uma família na Manchete, e no SBT eu tinha amigos, colegas de trabalho. Quando vim para a Globo era profissional total. Quando saí do SBT fui deixando pessoas que viraram amigas. Teve muita gente que trabalhou comigo na Manchete e, no último dia de gravação no SBT, todos os funcionários ficaram enfileirados, chorando, para me ver sair. Eu passando no meio, do faxineiro até o diretor. Cheguei até a ligar para a Rede Globo dizendo que não ia mais. Daí conversei melhor com meu empresário, com o pessoal da Globo, e todo mundo dizia que eu estava levando para o lado do coração. Mas fiquei mal, engordei na época, foi difícil.

PLAYBOY — Sílvio Santos tentou impedir que você saísse?

ANGÉLICA — [Risos.] De várias formas! [Risos.] É o estilo dele mesmo. Eu o admiro muito. Ele é uma personalidade brasileira. É um grande animador, um grande empresário, um grande profissional, mas ele é também uma grande figura humana. E, por ser artista, fala a mesma linguagem na hora de conversar. Ele me disse: "Vai, vai. É um sonho seu ir para a Globo? Então vá, mas você vai voltar [risos] ". Achei bom, porque ficou uma porta aberta.

PLAYBOY — Ele propôs um aumento de salário?

ANGÉLICA — Ele não fez leilão, não. É evidente que ele queria me dar uma estrutura melhor. Perguntou o que eu teria na Globo. Eu contei, e ele disse: "Tudo bem, eu dou". Mas daí eu falei: "Não, Silvio, acho que está na hora de eu ir mesmo".


PLAYBOY — Você ficou muito indecisa?

ANGÉLICA — Era a terceira vez que a Globo me chamava [as outras propostas aconteceram em 1990 e em 1993]. Na primeira vez eu renovei com a Manchete, não achava que fosse a hora. Na segunda, tive uma proposta do SBT e outra da Globo. A Globo me dava um musical e uma novela. O SBT me dava um infantil e um musical. Fui para o SBT. Na terceira vez, em 1996, pensei: "É a hora". Me ligaram, eu estava fazendo ginástica, feliz da vida com o SBT, todo mundo me respeitando pra caramba. Meu contrato estava para acabar em dois meses, então fui falar com eles. Avisei o Luciano [Callegari] que estava indo conversar com a Globo. Deixo as portas abertas em todas as emissoras, converso sempre com o pessoal da Manchete, do SBT. Mas estou feliz na Globo.


PLAYBOY — É verdade que você precisou entrar na Justiça para receber salários em atraso na Manchete?


ANGÉLICA — Não, eu não entrei na Justiça. Muita gente ficou sem receber. Foi na época da venda da emissora, de 1992 para 1993. Fiquei seis meses sem receber; foi até pouco [tempo], perto de outras pessoas, mas depois a gente se acertou. Tenho carinho pelas pessoas, fiquei sete anos lá, não processaria de jeito nenhum. Seria a mesma coisa que processar uma irmã.

PLAYBOY — Já que você falou em irmã, qual é mesmo o trabalho dela?


ANGÉLICA — Ela é produtora artística da Angélica Produções e Participações. Não é contratada da Globo. Independentemente de ser minha irmã, ela é muito profissional. Mas tem o almoço de domingo, daí ela é irmã.

PLAYBOY — Tem gente que saiu do SBT e veio com você para a Globo?


ANGÉLICA — Tem a minha cabeleireira [Suzana Lindoso], o meu coreógrafo [Caio Nunes], o meu figurinista [Jorge Barcellos], o meu diretor [Marcelo Zambelli], as Angels [suas assistentes de palco], os bailarinos, duas produtoras...

PLAYBOY — Como é o seu relacionamento com as Angels?

ANGÉLICA — Já tive muitas Angels, a Giovanna Antonelli [atriz da novela Corpo Dourado, de Rede Globo], uma que virou médica, outra que virou advogada. Essa turma da antiga são minhas amigas. A gente convivia mais, as idades eram parecidas. Daí elas foram saindo, mas até hoje elas são as minhas amigas. As que estão agora [no grupo] têm uma diferença maior de idade, moram em São Paulo, vêm para o Rio só para gravar. Eu banco a irmã mais velha, são meninas que estou vendo crescer. A Juliana [Silveira] agora faz novela [Era uma Vez...], então eu ligo para os autores, para os diretores, para saber como ela está indo, eu me interesso.

PLAYBOY — Você sente falta de alguém para fazer confidências?


ANGÉLICA — Já senti mais falta. De dois anos para cá comecei a tentar estruturar melhor a minha vida pessoal porque antes eu só pensava no profissional e esquecia um pouco dos amigos. Comecei a ver que não é só importante, como também é fundamental para que o trabalho flua de uma forma melhor. Tenho as pessoas de que eu gosto, a minha família, as pessoas que trabalham para mim. De um ano para cá comecei a fazer análise também.

PLAYBOY — Por quê?

ANGÉLICA — Convivo com muitas personalidades diferentes, com muitas opiniões diferentes. Cada um começa a achar o que é melhor para você. Se você não tomar cuidado, passa a não saber o que é melhor. Achei o máximo fazer análise, mas faz dois meses que eu não vou [risos].

PLAYBOY — Quantas sessões por semana você fazia?

ANGÉLICA — Duas. Mas o analista precisou fazer análise por causa dos meus horários [risos] . Ele é um bom ouvinte [risos]. Como todo analista, que ouve muito, tira o máximo de mim, mas não dá opinião. Ele faz com que eu entenda. E já segurou muita onda minha. Foi no momento certo.

PLAYBOY — Que tipo de onda?


ANGÉLICA — Mais essa coisa da família, de trabalhar com a família. Família, trabalho, trabalho, família. E é uma coisa que, se você não souber lidar, fica complicada.

PLAYBOY — Isso tem alguma relação com o fato de você estar morando sozinha agora?

ANGÉLICA — Não. Essa ideia já tem mais ou menos um ano. Quando vim paro o Rio eu morei num flat, depois de três anos morando em São Paulo por causa do SBT. Então eu já estava sozinha, só que num hotel é como se não fosse.

PLAYBOY — Você prefere morar no Rio ou em São Paulo?

ANGÉLICA — Sou uma paulista que adora o Rio de Janeiro. Quando vim para o Rio aos 12 anos, era um sonho morar aqui. perto da praia, de gente bonita. Eu queria morar aqui de todo jeito. Mas quando ia para São Paulo era uma tristeza, tinha vontade de ficar lá. Sei que pelo menos até o ano 2001 vou ficar no Rio, por causa do meu contrato com a Globo.


PLAYBOY — O que seus pais acharam da ideia de morar sozinha numa casa, para valer?

ANGÉLICA — Não gostaram muito no começo. Mas conversando a gente acabou chegando à conclusão de que eles também acabavam perdendo um pouco a liberdade, por mais que me dessem liberdade. Acabavam tendo que dar satisfação para mim, e eu para eles, o tempo todo. [Se continuasse morando com eles], invadiria demais a vida deles e eles, sem querer, iriam invadir a minha.

PLAYBOY — Qual foi o primeiro impacto dessa mudança?

ANGÉLICA — De início não fiquei muito à vontade. Me senti sozinha demais. Chegava tarde, dava um eco na casa vazia. Mas agora estou fazendo um leilão entre os meus dez cachorros [vira-latas e das raças sharrei, beagle, cocker e labrador] para decidir qual vem pra cá [risos] . Isso vai dar movimento [risos]. Depois das duas primeiras semanas, comecei a curtir. Passo o dia inteiro rodeada de muita gente, e quando isso acontece você acaba não tendo as suas ideias, o seu centro.

PLAYBOY — Você consegue descansar dessa rotina pesada? Quantas horas você dorme por noite?

ANGÉLICA — Tenho o sono leve. Para ficar bem tenho que dormir umas sete horas. Mas, se durmo quatro, tudo bem. Só não pode acontecer a semana toda. Aí a pilha acaba.


PLAYBOY — O que você veste para dormir?

ANGÉLICA — Adoro pijaminhas de flanela. No calor, uso baby-doll de seda. No calorão mesmo, só calcinha. Não gosto de ar-condicionado, mesmo no calor. Tenho alergia.


PLAYBOY — Você é feliz com a sua vida atual?

ANGÉLICA — Sou. Não posso reclamar. Tenho hoje mais do que nunca imaginei que pudesse alcançar. Meu maior desejo é que as coisas continuem dando certo na minha vida.


PLAYBOY — Que tipo de coisa deixa você revoltada?

ANGÉLICA — O descaso com a educação no país. Isso me revolta. A educação é a base de tudo, da saúde, da felicidade. Até pra ter saúde tem que ter educação.

PLAYBOY — Você teve vontade de cursar uma faculdade?

ANGÉLICA — Quando estava terminando o segundo grau, achava que conseguiria conciliar. Pretendia fazer Publicidade e Propaganda, produzir comerciais, achava isso o máximo. Mas não vai sobrar tempo para fazer.

PLAYBOY — Qual é o seu partido político?

ANGÉLICA — Não voto no partido, voto na pessoa.

PLAYBOY — Qual é o seu candidato a presidente?

ANGÉLICA — Gosto muito do Fernando Henrique Cardoso, mas não gosto de falar sobre política porque acaba influenciando as pessoas. É como a virgindade. Cada um acha uma coisa, mas na verdade você é que tem que achar, você é que tem que fazer aquilo que quiser para não se arrepender depois. Eu digo para uma criança: "Levante-se e dance". E a criança obedece. Imagine se falar sobre política.

PLAYBOY — Você já foi gravar o programa tendo que disfarçar alguma tristeza?

ANGÉLICA — Já, algumas vezes. Quando o meu pai estava doente, na época do SBT. Eu saía da gravação e ia para o hospital. Ele ficou dois meses fazendo exames e ninguém sabia o que era. Achavam que era câncer. Foi horrível, emagreci uns 7 quilos. E várias vezes por briguinhas com namorado, por ciúme. Mas passa logo. É só entrar no palco. Os diretores dizem que quando estou nervosa faço tudo melhor. Meus olhos ficam verdes, meu cabelo fica ouriçado.

PLAYBOY — Como foi sua estréia na televisão?

ANGÉLICA — Eu tinha 4 anos, ganhei um concurso de beleza infantil, mas era muito tímida, quietinha. Daí o pessoal começou a me chamar para fazer comercial. Minha mãe não queria por causa da escola, mas eu chorava, fazia greve de fome. A condição era não repetir de ano. Eu estudava feito uma maluca. A gente saía lá de São Bernardo do campo [no ABC paulista], levava marmita no carro, e ficava o dia todo. Era assim até os meus 11 anos. Tinha aula particular por causa da escola. Meu primeiro comercial foi para as balas Juquinha, o primeiro desfile foi para a grife de moda infantil Caramelo. Aí eu fiz uma participação em novela [Avenida Paulista, da Globo]. Eu era a filha do Walmor Chagas [risos], fazia o papel da Bruna Lombardi quando era pequena [risos].

PLAYBOY — E como aconteceu a carreira de apresentadora?


ANGÉLICA — Era uma coisa que eu não esperava, porque sonhava ser cantora. Tinha uns 9 para 10 anos quando conheci o empresário do grupo Balão Mágico, o Paulo Ricardo, que decidiu montar um grupo com o pessoal da minha agência de modelos. Ele pediu para descansar a minha imagem como modelo e passei quase dois anos me preparando, fazendo aulas de canto, usei até aparelho nos dentes nessa época. Mas as gravadoras não se interessaram. Já havia muitos grupos infantis, não havia razão para mais um. Então fomos até a Manchete para cantar no programa da [então cantora mirim] Simony [A Nave da Fantasia]. Quando o [diretor] Maurício [Schermann] me viu nos corredores pensou em mim para um teste, já que a Simony estava saindo [da emissora].

PLAYBOY — E como foi?


ANGÉLICA — Eu tremia muito. Parei na frente da câmera, o diretor era o Paulo Figueiredo, que me mandava chorar, rir, contar piada. Foi o pior teste da vida de uma pessoa [risos]. Mas passei e comecei a apresentar o programa no dia 17 de abril de 1986. Durou três meses e eles me botaram para fazer o Shock, que era um programa de clipes musicais. Me produziram para parecer mais velha, eu lia o teleprompter sentada, apresentando bandas inglesas e não entendia nada do que estava dizendo [risos]. Dois meses depois fui para o Clube da Criança, junto com o [ator] Ferrugem. Quando ele saiu eu continuei. Depois de um ano e meio estreou o programa Milk Shake.

PLAYBOY — Você gosta de atuar como atriz?

ANGÉLICA — Quando vim para a Globo, o Boni falou assim: "Você ainda vai fazer uma novela aqui com a gente, porque eu a acho uma grande atriz". Eu respondi para ele: "Não vou, não. Vim para a Globo ser apresentadora, para cantar, para divulgar o meu disco [risos]". Ele acabou me enrolando, porque Caça-Talentos não deixa de ser uma novela. Só que é uma novela dentro do programa, uma delícia de fazer, uma paixão.

PLAYBOY — Você interfere na produção dos seus programas?


ANGÉLICA — No início de Caça-Talentos eu participava de todas as reuniões, mas depois da equipe formada passei a não participar mais.


PLAYBOY — Você opina na escolha dos atores que vão contracenar com você?

ANGÉLICA — No especial de Natal, pedi o Lima Duarte. Quando tem a participação de um gato eu opino também [risos] . Eles dizem: "Ninguém melhor do que você para entender disso!"

PLAYBOY — Diga o nome de algum desses gatos que você escolheu.


ANGELICA — [Risos.] Ah, deixa eu pensar o menos chato de falar [risos]. O Thierry Figueira, o Márcio [Garcia] também, mas não foi com segundas intenções [risos]. Foi porque ele é bom pra fazer vários personagens. É bonito... Meu sonho é que a Regina Duarte faça uma participação especial. Ela é uma das minhas atrizes favoritas.

PLAYBOY — Seu grande sucesso como cantora é ainda "Vou de Táxi"?


ANGÉLICA — A primeira música que eu gravei profissionalmente foi no disco do Dominó, pela Sony, com Afonso, uma música chamada "As Palavras". Depois de um ano lancei "Vou de Táxi". Faz onze anos, mas acho que eu um dia estarei velhinha e o pessoal ainda vai se lembrar da música. Outro táxi sei que não vai ter. É difícil. Esse disco ainda vende.


PLAYBOY — Você gosta de se ouvir cantando?

ANGÉLICA — Gosto da minha voz quando fica mais grave. Mas as gravadoras sempre me botaram pra cantar lá no alto, então no disco novo eu quero mudar isso. Sempre tive a voz grave. Quando eu acordo fica até grossa [ela imita como é] e eu gosto. Ouço meus discos na época do lançamento, ponho no carro e fico ouvindo. De tanto fazer impostação de voz, um belo dia fiquei rouca e não me lembrava mais qual era o meu timbre de voz. Foi aos 18 anos, antes de ir para o SBT.

PLAYBOY — Quanto você ganha gravando discos?

ANGÉLICA — Tem uma porcentagem por disco vendido, acho que é 5%. O mais interessante não é a venda, mas a consequência. Se toca bastante nas rádios você faz mais shows e a música fica na boca das pessoas. Gosto de ter esse contato com o público e de ver as pessoas cantando.


PLAYBOY — Você prefere os shows ao vivo ou os programas de televisão?


ANGÉLICA — O show é mais mágico, não tem aquela coisa de parar toda hora. No show tem o improviso, é mais gostoso de fazer.

PLAYBOY — Quantos shows você faz por mês?

ANGÉLICA — Geralmente dois ou três por final de semana, mas só depois do lançamento do disco.


PLAYBOY — Falando de trabalho, você se lembra qual foi o seu primeiro salário?

ANGÉLICA — Era pouco. Mas no segundo ano eu já ganhava mais do que o meu pai. O primeiro carro que minha mãe comprou para ela foi com o dinheiro dos comerciais. Depois, na Manchete, ela comprou um apartamento para mim. Meus pais sempre investiram em imóveis, punham tudo no meu nome, sempre se preocuparam em fazer poupança.

PLAYBOY — Você também é poupadora ou gosta de gastar?

ANGÉLICA — Sou do tipo que, quando gooosto, eu compro. Mas com limite. Pergunto o preço antes. Atualmente dou mais valor ao dinheiro que ganho.

PLAYBOY — E quanto você ganha, afinal?

ANGÉLICA — No quê? Na televisão? Não sei direito. Pelo tanto que eu trabalho, ganho muito pouco [rindo]. Estou brincando, claro. Ganho bem, mas trabalho bem. E trabalho há muito tempo. Nunca tive tempo de usufruir aquilo que ganho. Estou começando agora. E mesmo assim estou forçando a barra para isso acontecer. O que tenho feito é tirar um ou dois meses de férias no final do ano. Faço isso há cinco anos e viajo. É a única coisa que faço por mim. Depois passo o resto do ano trabalhando.


PLAYBOY — Você volta lotada de malas?

ANGÉLICA — Fiz uma viagem de sessenta dias e ia despachando as malas de todos os lugares. Só ia chegando mala [risos]. Gosto muito de comprar roupas, maquiagem, e estou gostando muito de joias. Apesar de usar só um tipo de perfume, acho os frascos e as embalagens bonitas e compro. E adoro dar presentes.

PLAYBOY — Qual o modelo do seu carro?

ANGÉLICA — Tenho dois. Um Mercedes e uma van Caravan [Clnysler] A van é muito legal, tem televisão, videocassete, geladeira, fiz uma casa dentro dela [risos]. Também gosto do Mercedes, mas às vezes é meio esnobe [risos].

PLAYBOY — Você dirige?


ANGÉLICA — Muito mal, não aconselho ninguém a andar comigo [risos]. Odeio dirigir, não tenho o menor saco com trânsito. Sou de xingar. Acho o trabalho de motorista o mais santo que existe.

PLAYBOY — Ao contratar shows, você faz alguma exigência especial?

ANGÉLICA — Não tem essas loucuras de exigir não sei quantas toalhas, champanhes. Só peço um camarim no palco para a troca de roupas e um avião ou helicóptero, porque só chego no dia do show. Era muito desgastante ficar trancada dentro de um hotel. Já conheci dezenas de hotéis e nem sabia como eram as cidades.


PLAYBOY — O que acontece quando você chega?

ANGÉLICA — Todo o pessoal dos fã-clubes quer me ver, porque é o único momento em que a gente tem um contato. Fazem caravanas, o pessoal fica gritando...

PLAYBOY — Já houve alguém mais ousado na tentativa de se aproximar?


ANGÉLICA — Já. Num hotel baixinho, eu me despedi da sacada e fui dormir. Mas quando olho pela janela tem cinco meninas fazendo uma pirâmide para chegar à janela. Fiquei com medo de que elas caíssem. Uma vez num hotel em Maceió, cheguei no quarto, entrei no banheiro, peguei uma revista e, quando olhei pela cortina da banheira, percebi que havia alguém dentro do boxe. Fiquei quieta, pensando o que fazer naquela situação de revista na mão [risos]. Saí de fininho, chamei o segurança, e quando abrimos a cortina era uma criança com a mãe [risos]. Ela subornou a camareira para conseguir a chave e ficou lá, ouvindo o meu lindo xixi....Uma outra vez o segurança abriu o guarda-roupa e tinha um cara dentro. Levaram o cara embora. Era só um fã.

PLAYBOY — Você já sentiu medo desse tipo de invasão?

ANGÉLICA — Quando eu era mais nova não entendia isso muito bem. Não entendia o fato de não poder dormir. Chegava do show, tomava banho e tinha que receber noventa crianças dentro do meu quarto. Queria tratar todo mundo bem e aquilo foi me desgastando, não queria mais ficar em hotel. Mas sempre tive a consciência de que era o meu trabalho. Uma vez bateram na porta às 3 horas da manhã, eu estava dormindo, mas atendi assim mesmo, beijei a criança, essas coisas. Não tinha privacidade.

PLAYBOY — Teve algum caso mais grave?

ANGÉLICA — Em Manaus sofri uma infecção intestinal e tinha um show para fazer à noite, numa praça, para 150.000 pessoas. Todo mundo ficou sabendo que eu ia antes para o hospital. Quando cheguei, já tinha umas 500 pessoas lá fora. Tomei soro numa mão e dava autógrafo para o médico com a outra. Fiz o show e não pude voltar para o hotel, porque tinha umas 2.000 pessoas me esperando. Fui para a casa do prefeito de Manaus, que me deu o quarto dele pra dormir, depois peguei um avião e fiquei internada.


PLAYBOY — Além desse assédio, como o público interfere na sua vida?


ANGÉLICA — O público gosta de você. Se fica doente escreve, manda santinho, reza, dá conselhos. Sempre prestei atenção no público, procuro não falar muitas gírias, me policio nas entrevistas, porque você tem uma influência grande sobre as crianças, os adolescentes.

PLAYBOY — Você já se disfarçou alguma vez para escapar do assédio dos fãs?


ANGÉLICA — Já me disfarcei uma vez para ir a uma feira de artesanato, mas me descobriram. Morri de vergonha, foi um mico. Outra vez viajei para a Disney, em julho, e só tinha brasileiro. Usei uma peruca, mas não adiantou. Eu queria tirar uma foto com o Tico e o Teco, chegou uma menininha e ofereceu para eu passar na frente dela. Aceitei, e a fila toda quis fotografar comigo! [Risos.] Passei a tarde toda fazendo foto! Daí no dia seguinte botei outra peruca e quase morri de calor.

PLAYBOY — Seus fãs lhe dão muitos presentes. Qual o mais original que você já recebeu?

ANGÉLICA — Anjinhos. Comecei a ganhar muitos anjos por causa do meu nome e passei a colecionar. Tenho 300 anjinhos aqui em casa. Tem outras coisas marcantes. O meu A, por exemplo, aquele que eu uso no microfone e no logotipo, surgiu de uma fã que me deu um brinco assim [mostra um brinco com a letra A ladeada de asinhas]. Também recebo roupas usadas, de gente que embrulha com o maior carinho quando não tem outra coisa para me dar. Esta semana ganhei de uma criança de 5 anos uma agenda de 1987 [risos]. Às vezes ganho presentes mais sofisticados.

PLAYBOY — De que tipo?


ANGÉLICA — Joias. Já ganhei várias, joias caras, anel de brilhante, de fãs adultos.

PLAYBOY — Foi de algum fã apaixonado por você?

ANGÉLICA — Agora parou. Mas havia muitos assim, mandavam cartas com pedidos de casamento, de namoro. Nesses dias apareceu uma pessoa telefonando para o escritório dizendo que eu tinha que assumir o casamento com ele, caso contrário ele iria se matar, uma coisa maluca. Fico meio constrangida, porque as pessoas se apaixonam de verdade. E meio chato, claro.

PLAYBOY — Você gosta muito de bichos de pelúcia. E da sua própria boneca, você gosta?

ANGÉLICA — Minha boneca é um sonho realizado. Sempre quis ter uma boneca. A primeira foi feita pela [indústria de brinquedos] Estrela, quando eu ainda trabalhava na Manchete. Na época do SBT foi feita pela Baby Brinks. Era um bonecão, grandão, vendeu à beça. Depois todo usado saiu lançando. Agora a gente está lançando a Fashion Doll, que é uma boneca que troca de roupa, anda e canta.

PLAYBOY — Quanto custa a boneca da Angélica?

ANGÉLICA — [Hesitante.] Acho que custa 80 reais. Varia de 75 a 80 reais.

PLAYBOY — Você não acha um pouco alto?

ANGÉLICA — É. Acho muito cara para todo mundo ter. Por isso a gente está lançando a menorzinha, que vai custar 45, 50 reais, e aí vai dar para ter.


PLAYBOY — Suas bonecas também têm a sua pinta na coxa. Você já teve complexo por causa dela?

ANGELICA — Na escola os meninos diziam que tinha uma barata andando na minha perna. Era um trauma para mim ter que esconder a pinta com maquiagem durante as fotos. O dermatologista disse que eu só poderia operar quando fizesse 14 anos. Então fui para a televisão, a pinta virou marca e passei ame orgulhar dela. Tomo o maior cuidado, passo filtro solar, creme [rindo]. [Ter a pinta] é charmoso pra caramba! Recebi cartas de crianças que choravam por causa de pintas no rosto e agora gostam por causa da minha. Lancei até uma pinta adesiva para o carnaval, é divertido.

PLAYBOY — Sua pinta virou um fetiche para alguns homens?


ANGÉLICA — [Risos.] Acho que sim... Quando as pessoas não vêem a minha pinta acham que não me viram. Reclamam: "Que pena, ela está de calça comprida!" E eu adoro calça comprida! [Rindo.] Meu decorador me viu usando saia ontem, e ele nunca tinha me visto de saia. E falou: "Nossa, estou emocionado! [Risos.] Ver a Angélica e não ver a pinta é a mesma coisa de ir a Paris e não ver a torre Eiffel". [Risos.]


POR DALILA MAGARIAN

FOTOS SILVANA MARQUES


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