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ANGELI | SETEMBRO, 2006

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com o cartunista mais sujo do Brasil sobre seu desprezo pelo rock brasileiro, o ódio pelos políticos, o dia em que fez xixi em frente à delegacia e a morte da Ré Bordosa


Por muito pouco, o criador de tipos imundos como Bob Cuspe e Os Skrotinhos não virou desenhista de mônicas e cebolinhas. Arnaldo Angeli Filho tinha 14 anos e estava num beco aparentemente sem saída. Fora expulso do colégio e largara o emprego de office-boy. A família italiana, de classe média baixa, pressionava para que o menino que não nasceu para o estudo, conforme definição do avô, arrumasse um serviço. Foi quando um tio, ciente dos dotes gráficos do sobrinho, acessou um peixão nos estúdios de Maurício de Sousa. Bastava que ele desenhasse boas cópias da Mônica e do Bidu e o emprego de ilustrador seria seu. Angeli entrou em pânico. Varou a noite rabiscando dentuças medonhas e fiapos de cabelos tortos. No dia seguinte, foi reprovado. Saiu aliviado. Não queria contaminar seu desenho sujo com traços meigos.


Angeli sempre teve atração pelo lado underground da vida. Seus ídolos de infância eram Ziraldo, Henfil, Jaguar e Millôr — a turma do Pasquim. Aos 14 anos, conseguiu publicar seu primeiro desenho no espaço de cartas dos leitores. Era obcecado por integrar o time do jornal carioca. Sem dinheiro, pegava o ônibus de São Paulo até o Rio e dormia na rua. Às vezes, o sacrifício compensava, como no dia em que foi recebido por Henfil e viu Millôr olhar — com "cara de nada", lembra — um desenho seu. Ter os olhos do ídolo pousados sobre seus rabiscos deixou Angeli eufórico. O mesmo Millôr que, há bem pouco tempo. disse que Angeli é "anagrama perfeito de genial".


A obsessão pelo Pasquim desapareceu quando virou chargista da Folha de S.Paulo, em 1973. Ironicamente, foi uma jornalista do Estado de São Paulo que o recomendou a Claudio Abramo, então todo-poderoso da Folha. Abramo contratou Angeli e o menino com alma de roqueiro virou chargista de política em plena ditadura militar. Tinha 17 anos.


Mas foi como criador de tipos urbanos que Angeli definiu o rumo de sua carreira. Em 1983, lançou a revista Chiclete com Banana com histórias de seus personagens, como a antológica Ré Bordosa, seu maior sucesso e, também, seu principal desafeto entre as crias — tanto que não teve pudores em matá-la em 1987.


Angeli completou 50 anos no último dia 31 de agosto, mas nem de longe parece um homem de meia-idade. A despeito dos cabelos e barba brancos, ainda é um roqueiro acima de todas as coisas. No seu aparelho de som, ouve de Rolling Stones a White Stripes. O Angeli versão 2006 é um homem caseiro, pai de dois filhos (Sofia, 19, e Pedro, 25), que gosta de comer minúsculos pães de queijo e ler as poesias escritas pela terceira mulher, Carol, uma arquiteta nascida nos anos 80, época em que o cartunista era um junkie que virava noites à base de cocaína e Sonrisal em pó — este, involuntariamente.


Ultimamente Angeli tem sido mais chargista do que cartunista. Anda mais encantado pelas análises políticas do que por seus personagens louquinhos das tiras de jornal. Ainda assim, não hesitou em emprestar a dupla de hippies Wood & Stock ao diretor Otto Guerra, que os transformou em desenho animado no filme Wood e Stock: Sexo, Orégano e Rock and Roll, com estréia no cinema prevista para outubro.


Para entrevistar Angeli, PLAYBOY escalou a repórter Adriana Negreiros, que conversou com o chargista em seu apartamento com desenhos na parede, no bairro de Higienópolis, em São Paulo. "Eu fumo muito. E falo também. Pode preparar fitas", avisou o chargista, na primeira sessão da entrevista — de fato foram oito fitas gravadas e inúmeros tocos de cigarro repousados no cinzeiro. Angeli conversa tanto que perde o fio da meada. "Por que eu estava contando isso?", pergunta-se, a todo momento. Mas fala devagar, escolhendo as palavras certas. E ri bastante — sempre com os olhos apertados —, mesmo quando os assuntos são espinhosos. Na segunda sessão, Angeli queixou-se de que havia falado muito de política dois dias antes e sugeriu que se iniciasse a nova rodada por um assunto mais instigante. Sua vida louca, por exemplo. O pedido foi uma ordem.


PLAYBOY — Você já fumou orégano, como seus personagens Wood & Stock?


ANGELI — Não [risos]. Mas já fumei coisas absurdas, como haxixe com mato. Porque, para dar combustão, é preciso misturar o haxixe com outro fumo. Na hora eu não tinha cigarro e coloquei um mato seco. Ardeu a garganta, ardeu o olho, ardeu tudo.


PLAYBOY — Então de onde surgiu essa idéia?


ANGELI — O Wood e o Stock são dois velhos hippies que perderam o ponto e não sabem mais onde vende maconha. Só que querem continuar hippies e fumam qualquer coisa. Mas conheço gente que diz já ter fumado orégano. Eu já entrei em situações horríveis, como comprar Sonrisal amassado como se fosse cocaína. Congestionou toda narina que eu cheirei. E olha que eu paguei caro.


PLAYBOY — Quem te aprontou essa?


ANGELI — Um jornalista. E sabia que era Sonrisal. Outra vez eu comprei um pacotinho, cheirei e descobri que era xilocaína pura. Começou a adormecer o peito, o rosto, me deu um pavor! Até eu descobrir que aquilo era xilocaína, achei que estava tendo um ataque do coração. Estava sozinho em casa, tentei gritar e não consegui. É uma situação que na hora você acha que é legal, é história. Mas eu não gostaria de passar por isso de novo, de gastar dinheiro com cocaína. Não tenho mais idade pra isso.


PLAYBOY — Você bebe?


ANGELI — Whisky. Sete ou oito doses, mas isso acontece tão raramente que essas doses representam algo dos deuses. Antes, eu bebia diariamente, para baixar a ansiedade provocada pela cocaína. Tinha uma garrafinha no bolso. Era um personagem.


PLAYBOY — Você contou que uma vez, no supermercado, foi abordado por um cliente, surpreso por ter encontrado o Angeli em ambiente tão prosaico. Por que a reação?


ANGELI — Tem gente que acha que eu lambo o chão. Isso acontece porque meu trabalho é ligado ao lado sujo da vida. As pessoas confundem o criador com o personagem. Pelo que sei, o autor de Jack, o Estripador não saía por aí estripando mulheres. Eu escolho personagens outsiders. Então passo a impressão de que não saio com meus filhos para passear, de que não sou carinhoso. Posso ter tido aventuras malucas, mas não sou o pior junkie que existe. Já li em um blog: "Pô, fui passear no shopping e encontrei o Angeli". Ora, como se eu não pudesse fazer compras.


PLAYBOY — Mas tem alguma coisa sua nos seus personagens?


ANGELI — Tudo [risos]. Muitas das histórias são autobiográficas e outras são de coisas que eu gostaria de fazer e, por algum bom senso, evito. Tem uma tira da Ré Bordosa em que ela está de pé, num banheiro masculino, fazendo xixi no mijador. Aí o cara do lado olha estranho e ela fala: "Depois das cinco da manhã, faço coisas que até Deus duvida". Isso aconteceu no bar Riviera, em São Paulo. Mas eu não fiquei muito louco, não saí arrastando a língua no chão e nem falei: "É isso aí, agora vamos fazer xixi nesse banheiro todo". Eu olhei com sobriedade e pensei: isso dá uma história.


PLAYBOY — Você matou a Ré Bordosa há quase 20 anos, mas quando surge uma mulher louquinha alguém fala: é a Ré Bordosa. Como você explica essa popularidade?


ANGELI — Talvez porque ela tenha morrido no auge, como a Janis Joplin e o Jimi Hendrix. Eu me pergunto: será que o Jimi Hendrix seria tão genial hoje em dia? Talvez ele virasse um bunda-mole que faz música pra rádio. E talvez a Ré Bordosa virasse uma personagem chata. Mas não sei explicar, ainda mais porque ela foi criada de uma maneira desleixada. Eu havia tido uma noite de viração — eram os anos 80 — e minha mulher na época, a Márcia de Aguiar, falou: "Ih, você tá de rebordosa, hein?". Essa era uma expressão que a gente usava bastante. Está no dicionário.


PLAYBOY — Foi dai que surgiu o nome?


ANGELI — Foi, o nome é da Márcia. Eu tinha que mandar a tira para o jornal até as oito da manhã. Eu estava imprestável e falei: "não vou conseguir desenhar uma tira com começo, meio e fim. Vou desenhar uma pessoa de rebordosa". A Márcia falou: "Ah, divide e bota aí o nome de Ré Bordosa. Pode ser Renata, Regina, e Bordosa parece sobrenome, como Barbosa". Daí eu desenhei a personagem na banheira, conversando ao telefone e perguntando: "o que eu fiz ontem à noite?". A pessoa responde que ela bebeu muito, subiu na mesa do bar, tirou a roupa e dançou. Aí ela afunda na banheira e a água transborda. No outro dia, logo de manhã, uma amiga me telefonou e perguntou: "pô, quem foi que te contou essa história?".


PLAYBOY — Subir na mesa e dançar é o comportamento padrão das mulheres bêbadas...


ANGELI — Eu não sabia. Aí fui pra redação, um jornalista disse: "p* personagem"! E eu não acreditava nela, mas tanta gente elogiou que eu resolvi seguir na tira. Desenvolvi o personagem, mas comecei a me cansar porque percebi que a Ré Bordosa, por mais que estivesse me dando projeção, me limitava. Eu não me empenhava tanto, porque só a cara dela já fazia rir. Comecei a pensar no Schulz, que fazia o Snoopy. O cara ficou 50 anos no mesmo personagem.


PLAYBOY — Além do cansaço, o que motiva você a matar um personagem?


ANGELI — Nem sempre eu mato. O Bob Cuspe eu abandonei, porque se não ia virar moda, né? Mata a Ré Bordosa, mata a mãe, mata o pai, mata todo mundo. Eu crio um personagem que representa um momento. Veio a aids, todo mundo tendo que usar camisinha. Pensei: "A Ré Bordosa não vai dar certo nesse mundo". Aí comecei a pensar na morte dela. As pessoas davam opiniões: "Ah, mata de overdose". Mas aí eu ia dizer que droga mata. Ou: "Mata de aids". Aí eu ia falar que sexo é impossível. Foi quando li sobre pessoas que se casam com amigos para se proteger. Eu achei isso uma atitude muito reacionária. Então a Ré Bordosa acabou se casando com um amigo, o garçom do bar que ela freqüentava. Começou a comer bombons, a engordar, ver novela, e explode na hora em que o marido fala sobre ter um filho. Foi a morte pelo tédio. Ela contraiu o vírus Tedius matrimonious.


PLAYBOY — Vira e mexe você desenha o fantasma da Ré Bordosa, como em uma novela para o portal UOL e no filme do Wood & Stock. Não é uma forma enviesada de mantê-la viva, ainda que morta?


ANGELI — Eu poderia passar a vida desenhando a Ré Bordosa morta, o que não deixa de ter um charme. No caso do filme, me falaram: "Tem que pôr a Ré Bordosa. É o personagem mais famoso que você tem". Eu disse: "Só se ela for um zumbi". Ela morre apanhando do marido. Aí vai pro IML com aquele cartãozinho no pé. Lá tem um funcionário, um negão funkeiro com o cabelo tingido de loiro. No fim do expediente, ele destampa uma garrafinha de bebida e faz o barulho — pow! Nessa hora, o pezinho dela mexe. Ela levanta e participa do filme todo.


PLAYBOY — A escolha da Rita Lee como dubladora da Ré Bordosa foi pessoal?


ANGELI — Foi. Eu e ela temos admiração mútua. A Rita diz que eu desenhei a vida dela. Ela fala: "A Ré Bordosa sou eu".


PLAYBOY — Ela e milhões de outras mulheres.


ANGELI — Ela merece. Mas, de fato, acontecia de mulheres chegarem e se apresentarem como a Ré Bordosa. E eu detesto mulher bêbada. Acho que perde o charme. Quando uma mulher vem falar isso, é porque já tomou uns gorós.


PLAYBOY — Qual é a vida útil dos personagens de hoje, como o Wood & Stock?


ANGELI — Wood & Stock não morrem. A cultura hippie está encalacrada na evolução da sociedade desde a década de 70. Mas o meu trabalho de tira está em segundo plano. O que me encanta agora é a charge.


PLAYBOY — Numa de suas colunas em Veja, o colunista Diogo Mainardi disse que, desde O Pasquim, todos os cartunistas fazem humor a favor. Você concorda?


ANGELI — Eu acho que o Mainardi não lê a Folha de S.Paulo. E se lê, não vê a charge. Eu não faço humor a favor. Sou contra todos os governos. Acho que o papel do humorista é apontar os defeitos de fabricação. Posso até achar que uma atitude do governo está certa, mas no geral todos os governos se equiparam.


PLAYBOY — O Lula e o FHC foram tratados da mesma forma pelos chargistas?


ANGELI — Eu peguei muito no pé do Fernando Henrique. Ele devia ficar irritado, até porque é meu vizinho. Eu costumo dizer que, se fizesse um esforço com o pescoço, via a dona Ruth trocando de roupa [risos]. Brinquei muito com o ego dele. Só que a mudança de governo veio numa época em que eu decidi não mais desenhar a caricatura dos políticos.


PLAYBOY — Por quê?


ANGELI — Não gosto de me relacionar com políticos. É uma coisa que alguns humoristas adoram: "Ah, eu fui almoçar com fulano de tal e ele me falou: 'oh, não faça mais isso comigo!'". Isso pra mim é a morte! O cidadão comum não tá nem aí pra saber como é a cara do secretário de Defesa dos Assuntos Extraordinários. Então acabei deixando de desenhar o Lula muitas vezes porque ele não precisava estar na piada. Até porque meu desenho, quando eu uso caricatura, fica brega.


PLAYBOY — O fato de muitos humoristas terem sido contemporâneos de Lula no auge da luta operária e em prol da abertura política não compromete a forma como o presidente é retratado?


ANGELI — Pode ser. Eu já vi charges com avaliações sobre o governo bem condescendentes. Tem gente que rapidamente se coloca ao lado dele. Não acho que ele seja de esquerda. Agora ele é um cara de centro. O Lula se transformou em esquerda na porrada. As greves do final dos anos 70 o empurraram pra isso. Vejo pelo comportamento. Se o cara tem uma visão anacrônica em relação a isso, na política não vai ser diferente. Muitos anos atrás, quando ainda era um ícone da luta operária, o Lula deu uma entrevista num programa de auditório do Osmar Santos. Antes da entrevista, uma banda se apresentou. Acho que era o RPM. Aí o Osmar Santos perguntou: "O que você acha desse pessoal de brinquinho?". Ele respondeu: "Eu não tenho nada a ver com a opção sexual das pessoas". Pra mim, já colocou o pé no cocô.


PLAYBOY — O que você acha do Alckmin?


ANGELI — Eu odeio o Alckmin. Pra mim, é um gerentão, um cara que podia dirigir uma rede de supermercados ou uma farmácia. Tem esse discurso de choque de gestão, de choque de gerenciamento. Ah, então vá administrar o Ceasa. Isso não é um discurso político. E sem posição política você não monta um governo. Também não gosto dessa coisa católica dele, essa ligação com o Opus Dei.


PLAYBOY — Certa vez, você foi apresentado ao ex-prefeito paulistano Paulo Maluf por um amigo que sabia de sua alma antimalufista. Como foi essa experiência?


ANGELI — Era o aniversário de 70 anos da Folha. O lugar estava cheio de personalidades políticas. Aí entrou o Maluf, e esse amigo gritou: "Seu Maluf, eu quero lhe apresentar o Angeli". Eu não acreditei. Nessas horas, não sei o que falar. Porque não vou fazer o papel do mal-educado. Mas não posso dizer "ô, muito prazer".


PLAYBOY — E o que você disse?


ANGELI — "Eu já fiz muita charge com o senhor". Com um olhar irônico, sabe? Só que ele estava concorrendo pra governador de São Paulo e respondeu: "Vai fazendo, meu filho". E isso segurando a minha mão, aquela mão suada, um cheiro de perfume, aquela camisa que o pano se mexe e ela brilha, sabe? Odeio essa gente.


PLAYBOY — Noutra ocasião, você se encontrou com outro desafeto, o ex-presidente José Sarney. Como foi?


ANGELI — Eu estava em Brasília e encontrei o senador Eduardo Suplicy. De repente ele abre uma porta e me vejo dentro do gabinete do Sarney. Aí o Suplicy falou: "Sarney, esse é o Angeli". Eu disse minha frase de sempre: "Já fiz muita charge com o senhor". E ele: "Eu sei, mas você é o melhor". Pensei: "Meu Deus, minha vida está indo por água abaixo". Quero que esse bosta n'água me odeie.


PLAYBOY — Você foi condecorado pelo governo Lula com a honra ao mérito cultural. Hoje, você aceitaria essa comenda?


ANGELI — Não. Já pensei até em devolver. Mas fiquei com preguiça. Só aceitei porque foi antes de estourarem os escândalos e me senti em boa companhia — tinha cantoras ceguinhas de coco, índios, grandes arquitetos. Mas essa comenda queima na minha mão. Fica ali encostadinha e eu não dou valor nenhum a ela.


PLAYBOY — Você passou quase dez anos dedicado aos personagens das tiras, afastado da charge política. Por quê?


ANGELI — Uma vez, eu estava procurando uma cara do Delfim Netto para ilustrar uma coluna de humor e achei uma foto dele com uma charge do Chico Caruso emoldurada. Por que um cara emoldura uma charge que lhe é critica? Ou foi porque a charge não funcionou ou ele é mais inteligente do que o cartunista e reverteu a situação em seu favor. É o preso emoldurando a própria sentença. Quando olhei aquilo, comecei a analisar minhas charges e pensei: porra, estão parecendo bonequinhos engraçadinhos. Não dava pra desenvolver uma opinião numa situação de ditadura. Porque a minha tentativa é derrubar o governo. É lógico que o cara não vai cair com a minha charge, mas gosto de pensar que vou conseguir. O Henfil tinha, aquela idéia: "Eu sou a mão do povo que desenha". Nunca concordei com isso. É muito heroísmo e não tenho talento para ser herói. Mas ele botava o dedo na ferida.


PLAYBOY — Por falar em Henfil, vocês tinham diferenças. Quais eram?


ANGELI — O Henfil tinha uma ligação com os franciscanos. É uma doutrina. E humor não pode se aliar a uma doutrina. Eu, o cartunista Nilson Azevedo, o Henfil e o Laerte tínhamos um grupo. A gente trabalhava para sindicatos, inclusive o do Lula. E o Henfil aliava o trabalho dele a uma tendência política. Eu sempre achei isso estranho, porque acho que o humor tem que ser anárquico.


PLAYBOY — Daí o desentendimento?


ANGELI — Eu comecei a ter problemas com o Henfil. O Glauco morava na casa dele, estava apaixonado por uma menina, era muito jovem e gostava de queimar um baseado lá. O Henfil achava um absurdo. E dizia: "Pô, o cara fica aí brincando e o Brasil caindo". Aí tinha a música "O Bêbado e o Equilibrista", que falava do irmão do Henfil. A gente estava trabalhando e de repente começava a tocar a música no rádio. Ele falava: "Pára! Vamos ouvir essa maravilha". Só que ele fez tanto isso que a música começou a me enjoar, a me dar náuseas. Hoje eu até que gosto dela.


PLAYBOY — Como a amizade acabou?


ANGELI — Um dia eu falei: "Olha, eu não gosto dessa música. É uma marcha meio militaresca e essa coisa de a gente ter de ficar parado, escutando, é muito chata. Eu não gosto de hinos". A partir daí, ele começou a me excluir. Falou mal de mim. Eu já estava desbundando pros meus personagens. O Henfil estava radicalizando e eu, doido pra soltar a franga.


PLAYBOY — Você publicou seu primeiro trabalho no Pasquim e se inspirava na obra do Henfil, Ziraldo e Millôr. Como foi o início da sua carreira?


ANGELI — Na escola, eu fazia cópias dos desenhos do Pasquim nos cadernos de música. O professor era um militar que compunha hinos e um dia me pediu pra ver a lição. Eu apresentei o caderno e ele ficou horrorizado. Me deu um esporro. Eu era muito tímido e fui diminuindo na cadeira, fui virando um fiapo de gente. Aí peitei o cara. Já tinha repetido a quinta série quatro vezes. Já tinha fumado meu primeiro baseado. Poucos dias antes, havia sido suspenso por chamar a professora de português de vesga. Já estava me influenciando pelo rock, era cabeludo. Fui expulso do colégio e pra mim foi um alívio. Eu queria ser cartunista.


PLAYBOY — Como foi a aproximação com a turma do Pasquim?


ANGELI — Eu ia muito ao Rio para tentar publicar lá. Ia sem ter onde dormir. Eu tinha um amigo de infância, o Toninho Mendes, que colecionava gibis comigo e que viria a lançar a revista Chiclete com Banana. Fomos juntos para o Rio, para a casa do Ziraldo. A gente queria mostrar uns desenhos. Chegamos lá e a Vilma, mulher do Ziraldo, fez uma batida de laranja com pinga. O Ziraldo estava na prancheta dele fazendo um cartaz de cinema num papel enorme. A gente foi bebendo, bebendo e os dois ficamos num porre horrível.


PLAYBOY — Aí fizeram besteira.


ANGELI — Eu derrubei a jarra de batida em cima do desenho do Ziraldo. Ele falava: "É esboço, é esboço", e passava o pano. Eu fiquei com a maior vergonha. Ele percebeu que não dava mais para ficar no estúdio e disse: "Vamos ver um jogo de vôlei na televisão". Aí a gente sentou na sala, tudo girando. Resolvemos ir embora. A gente errou de porta, foi um vexame. A casa dele é na lagoa Rodrigo de Freitas. Saímos de lá, tinha um gramado perto. Deitamos na grama e dormimos a noite inteira.


PLAYBOY — Você tinha obsessão por publicar no Pasquim?


ANGELI — Era a obsessão de todo mundo. Mas quando achei um lugarzinho pra publicar, comecei a apagar essa idéia. Comecei a ver que era legal ser paulistano. O humor paulistano é diferente do carioca. É mais direto, mais sério. O carioca belisca a bunda do alvo e o paulista acerta.


PLAYBOY — Você pensava em ser baterista de rock. Por que não deu certo?


ANGELI — Sempre me peguei com o início do rock. Não Elvis Presley, mas Beatles pra cima. Comecei a perceber que aquilo não era só música, mas um estilo de vida. Achava que tinha que tocar. Meu avô era músico de baile de Carnaval e tentou me ensinar um violão. Mas eu tinha ansiedade. E meu avô ficava ali [cantarola] "Lampião de gás, lampião de gás...". E eu pensava: "Eu quero tocar que nem o Jimi Hendrix". Não tive paciência e desisti. Mas descobri que posso fazer rock desenhando.


PLAYBOY — O rock é a sua trilha sonora?


ANGELI — É. Mas eu também escuto jazz. Gosto de música latina, mas não essas próximas do axé. Guarânia, por exemplo, que é a música da fronteira Brasil, Uruguai e Paraguai. É brega, com aquelas harpas, mas eu acho lindo. Não gosto muito do rock brasileiro, mas gosto do Lobão, que tem na música o que eu tenho no desenho. Escuto coisas absurdas, como um cara de violão dos anos 40 chamado Django Reinhardt. Meu aparelho de som é engraçado. Às vezes tem um rock moderníssimo, outras vezes tem um disco só de ensaios do Astor Piazzolla. Mas, se eu for traduzir a minha vida em música, vou pegar os grandes clássicos do rock, bandas que hoje são sessentonas. Durante muito tempo, os Rolling Stones foram meus ídolos.


PLAYBOY — Que tal o Mick Jagger hoje?


ANGELI — Eu o acho um grande cantor. Gosto muito do último CD deles. Mas acho que a alma dos Stones está no Keith Richards. Ele é o grande junkie, o cara mais despojado, o que não entrou pro jet set. O Mick Jagger tentou ser mais jovem do que é, não quis perder a postura do gostosinho.


PLAYBOY — Qual foi a última novidade de música brasileira que te impressionou?


ANGELI — Chico Science. Ele é o supra-sumo do que eu gosto de música pop brasileira, com influência do rock e do hip hop. Ele nunca deixou de ser uma continuação do Jackson do Pandeiro, mas quase chegava no metal pesado em alguns momentos.


PLAYBOY — Você andou falando mal do Djavan, do Gonzaguinha...


ANGELI — Odeio tudo isso. Eu não gosto de mela-cueca, sabe? Tem essa coisa de "eu compreendo o mundo, eu compreendo as mulheres, o amor. O Gonzaguinha eu sempre achei um porre. Eu já estive em mesas de bar próximas às dele, ali pelos anos 70. Eu o vi fazer uma coisa que odeio. Ele estava conversando com uma pessoa na mesa e o garçom perguntou: "Mais uma cerveja?". E ele respondeu: "Você não vê que eu estou conversando?". Eu odeio isso. Ele cantava com uma mãozinha assim [desmunheca o pulso]. Aí olhava para a câmera com sabedoria desleixada e cantava: "Exploooode coração!". Odeio.


PLAYBOY — E o Djavan?


ANGELI — Eu não entendo a poesia dele. Às vezes ele faz umas junções poéticas que não existem, tipo "um oceano dentro de mim!". Mas eu não acho que sejam o mal da humanidade. Podem existir, mas eu não escuto.


PLAYBOY — Você consegue acompanhar o surgimento das novas bandas de rock?


ANGELI — É cíclico. Tem épocas que eu abandono, não quero saber de nada do que está saindo. Mas tem momentos em que eu sinto uma necessidade extrema de saber o que está acontecendo. Eu gosto de música eletrônica, principalmente quando mistura com sons que os seres humanos tiram de instrumentos. Gosto de bandas que utilizam chavões dos anos 70, mas os recriam, como o White Stripes.


PLAYBOY — E qual é a sua opinião sobre esse culto atual aos anos 80?


ANGELI — A década revolucionária foi a de 60, que manteve o fôlego até os anos 70. Na década de 80, a respiração começou a ficar curta. Isso tirando o punk, que foi o último movimento ligado à música com atitude. Não é como esses popzinhos em que o cara fala da namoradinha, do carro. Isso o Roberto Carlos já fazia anos antes, e melhor. Os anos 80 não têm personalidade. Resgataram a discoteca e cultuaram os brinquedos: "Ah, o Falcon! Ah, o Playmobil!". Não sei se isso é cultura ou lixo.


PLAYBOY — Tem alguma banda pop brasileira que você goste, hoje?


ANGELI — Eu não agüento essas coisas de Jota Quest. Nos anos 70, as bandas eram formadas em cima de algo que não existia. Não existia espaço em rádio, uma indústria que bancasse isso. Hoje em dia é muito fácil um produtor falar: "Ah, pega esse menino bonitinho, aquele outro ali, mais aquele". E faz sucesso. Esses caras acabam estourando, vendem milhões de discos, mas não têm alma. Mas nem todos são assim. O cara do White Stripes consegue articular um discurso. Mas não agüento mais essa coisa de porcelana, fabricadinha.


PLAYBOY — O que falta?


ANGELI — Autenticidade. Se você pensar no visual, em algum momento a música está perdendo. O rock sempre foi descompromissado. Às vezes é inconseqüente, e isso tá muito ligado à coisa adolescente do rock.


PLAYBOY — Num de seus momentos de inconseqüência juvenil, você foi preso e, depois de solto, fez xixi no poste em frente à delegacia. Como foi isso?


ANGELI — [Risos]. Eu tinha por volta de 21 anos. Havia uma hora em que a bebida me deixava petulante e agressivo. Eu e um grupo de amigos, todos bêbados, estávamos descendo a Consolação [rua do Centro de São Paulo] e começamos a quebrar um orelhão. Até que eu levantei a mão e uma outra mão segurou a minha. Era um policial. Pra mim, o orelhão era do Estado, um símbolo da ditadura.


PLAYBOY — Vocês foram parar na delegacia?


ANGELI — Sim. Passamos a noite sentados do lado de uma prostituta e ficamos amigos dela. A moça falava: "Vim dizer que o cara me comeu e não quis pagar". Ficharam a gente e soltaram. A gente saiu falando: "Obrigado, seu delegado!". Quando saímos, começamos a urinar num poste. Escutamos abrirem a porta e corremos. Era correndo e urinando.


PLAYBOY — Você não ficou atrás das grades.


ANGELI — Não, fiquei uma outra vez. Eram dois cartunistas e o Toninho Mendes. A gente tinha fumado um baseado na casa de um deles. Eu tinha 17 anos e saímos de carro, fumando e bebendo. Passamos perto de um carro da polícia e nesse momento colocamos meio corpo pra fora e cantamos uma música pros policiais. Não olhamos mais pra trás. Algumas quadras depois, resolvemos entrar num posto de gasolina. O policial apareceu e falou: "Estávamos seguindo vocês, seus moleques".


PLAYBOY — Aí já era.


ANGELI — Quando via polícia, tentei esconder a maconha. Começaram a procurar dentro do carro, mas não acharam. Eles ficaram nervosos e bateram na gente. Tiraram a nossa roupa, deram coronhadas. Os outros dois cartunistas eram maiores de idade e foram para a delegacia. Eu e o Toninho fomos para o Juizado de Menores. Ele teve que lavar uma latrina e eu deitei no xadrez e dormi. O carcereiro ficou com dó da gente, deu um pão com café e resolveu nos soltar, ou iam raspar a nossa cabeça.


PLAYBOY — Você não parecia ser um adolescente muito tranqüilo. Que outras travessuras você aprontou nessa época?


ANGELI — Eu e uns amigos da Casa Verde [bairro da zona norte de São Paulo, onde nasceu Angeli] resolvemos alugar uma casa no Brooklin [zona sul paulistana] e montar uma comunidade hippie. Nós éramos muito visados no nosso bairro: cabeludos, usávamos uns casacos de couro com franjinhas. A gente conhecia muita gente dos shows de rock e éramos ligados ao poeta Roberto Piva, da geração beatnik de São Paulo. Tinha ainda o [cantor e compositor] Jorge Mautner e o [dramaturgo] Antonio Bivar. Mas eram todos moleques. Começamos a convidar pessoas para a comunidade e tinha um grupo de desenhistas que adorava criar viagens com ácido.


PLAYBOY — Era uma comunidade hippie do tipo "paz e amor"?


ANGELI — Não, era meio maldosa, tinha um lado punk. Falávamos mal desses caras que desenhavam e viajavam. A gente dizia: "Isso é coisa de bundão, vamos dar um baile nesses caras". Convidamos os sujeitos pra comer, jogamos três ácidos dentro da garrafa de café e servimos. Chegou um momento em que não se sabia mais o que estava acontecendo naquela casa. Começaram a pintar paredes, tiraram a roupa e não conseguiam sair lá de dentro. Diziam: "Tô com medo da rua".


PLAYBOY — Rolavam umas sacanagens nessa casa? Eram tempos de sexo livre...


ANGELI — Nossa! Enchemos a casa de prostitutas. Elas dormiam lá. cozinhavam pra gente, faziam tudo. Não que a gente pagasse, elas iam porque adoravam cabeludos feito nós [risos]. A gente acendia velas, colocava música, ficava uma roda e três tirando a roupa e tal.


PLAYBOY — Surubas?


ANGELI — Não, mas tinha ménage à trois. Um dos caras da comunidade era bem sério e estava rolando uma reunião no andar de baixo pra desfazer a casa porque ela estava muito visada. Enquanto isso, eu e um amigo estávamos no quarto, com uma menina. Só que tínhamos cansado de sexo e estávamos mais na brincadeira. A menina nua, a gente mexendo nela, fazendo brincadeirinhas. Esse cara subiu e disse: "Nós estamos discutindo um problema sério e vocês fazendo algazarra!". Eu e meu amigo descemos e ele ficou lá. Quando voltamos, ele estava com a menina! Isso com a mulher dele lá embaixo...


PLAYBOY — Que fim levou a casa?


ANGELI — Antes de fechar, a gente editou lá um jornal chamado Patatá. Tem quem o considere o primeiro jornal alternativo de São Paulo. O editor responsável teve que ir ao DOPS responder por uma charge minha, que era o mapa do Brasil com uma tarja em cima. Mas a turma começou a brigar. Separamos os espaços. Facção tal só podia ficar na parte de cima e facção tal na parte de baixo. Aí um tomava um ácido e queria pintar o espaço do outro. Chegou uma hora em que não dava mais. Nos anos 70, eu tomei muito ácido. Mas entrei nos anos 80 querendo me afastar disso. Eu não queria mais tomar coisas que me tirassem do chão.


PLAYBOY — E foi aí que surgiu a cocaína.


ANGELI — A maldita. Cheguei a pegar dinheiro de aluguel inteiro, com filho pequeno e casa pra sustentar, e comprar pó. Comecei a virar uma caricatura, dessas que a gente vê em filmes de drogados. Mas nunca perdi o senso crítico. Certa vez, eu estava cheirando havia várias noites, dormindo muito pouco, e estourou uma veia no meu nariz. Começou a sangrar. Eu simplesmente tampei essa narina com a mão e cheirei com a outra. Aí o sangue começou a escorrer pelo meu braço. Quando me vi no espelho, me achei muito feio.


PLAYBOY — Você já disse que seu trabalho decaiu na época da cocaína. Mas também foi o auge da revista Chiclete com Banana, não?


ANGELI — É, mas eu teria feito um trabalho muito melhor sem ela. Os personagens poderiam ter sido mais profundos. Eu trabalhava rápido, queria me livrar logo porque tinha alguém no bar me esperando com cocaína. Hoje em dia, eu não quero acabar logo. Quero lamber a cria, criar detalhes.


PLAYBOY — Em que momento você percebeu que era hora de parar?


ANGELI — Meu filho era pequeno e um dia ele acordou a toda querendo ir brincar na pracinha. Eu estava virado havia três noites, me sentia péssimo, era uma caveira ambulante. E mesmo assim eu o levei à praça. O suor escorria pelo meu rosto, eu estava debilitado e tinha que carregar uma criança, subir morrinho, pagar sorvete. Eu olhei aquilo e pensei: "Não tenho condições de criar meu filho assim". Ele me fez dar um basta. E foi fácil parar, por incrível que pareça. Não tive grandes crises de abstinência.


PLAYBOY — Numa entrevista à revista Época você assumiu que fumava maconha. Teve problemas com isso?


ANGELI — Sofri três processos por apologia ao uso das drogas. A Sofia, minha filha, teve problemas na escola. Uma professora falou assim: "Quer dizer, Sofia, que seu pai é usuário de drogas?". Eu estou processando a revista. Eu disse para a repórter que só falaria se fosse para dar a minha posição política, e não apenas falar que era usuário. Mas não, pegaram a minha cara e botaram na capa: "Eu fumo maconha". Isso é muito taxativo. O cara passa na banca e fala: "Pô, o Angeli é o maior maconheiro".


PLAYBOY — Você ainda fuma maconha?


ANGELI — Não posso falar, porque não quero alimentar esse processo. Mas eu sou a favor da descriminalização de todas as drogas. Não vamos acabar com o crime organizado se não acabarmos com o poder da moeda dos traficantes. Mas temos que explicar para a população que isso não é bom para todo mundo. Eu acho isso de "beba com moderação" do álcool pouco. As pessoas se transformam com o álcool, batem nos filhos. Nunca vi alguém fumar um baseado e levantar a mão contra alguém.


PLAYBOY — Nas tiras, você desenha religiosos em situações sacanas. Você é ateu?


ANGELI — Agnóstico, talvez. Tenho aversão à religião. Meu personagem Rhalah Rikota foi uma homenagem ao Glauco. Ele se ligou em Rajneesh, um cara que no final dos anos 70 ficou famoso. O Glauco sempre teve tendência a cair nesses buracos. Eu falei: "Pô, você fica tendo gurus". Ele me respondeu: "Rajneesh não é guru". Daí surgiu a primeira tira do Rhalah Rikota: um bando de discípulos, o Rhalah no meio e todo mundo falando: "guru, guru". Ele diz: "Nãããão. Eu não sou um guru". Aí todo mundo: "antiguru, antiguru".


PLAYBOY — Como foi sua primeira vez?


ANGELI — Foi com a Maria dos Cachorros, que tinha esse apelido porque vários cães andavam atrás dela. Eu sabia que ela tinha transado com o Arnaldo, um xará meu que mais tarde encontrei na porta de um hotel em São Paulo como travesti. Comecei a conversar, até que ela me convidou pra ver o álbum de fotos dos cachorros. Ela morava com uma avó doente, que ficava numa cama. Comecei a tentar coisas, passar a mão no braço, e ela fingia que não era com ela. Avancei e transamos.


PLAYBOY — Foi bom pra você?


ANGELI — Confuso. Eu perguntei: "Você está gostando?". E ela: "Mas não tá acontecendo nada...". Eu ainda estava no meio das pernas dela.


PLAYBOY — Pergunta delicada: o Laerte é o gay da tira Los 3 Amigos?


ANGELI — Isso não é um problema pra ele. O que posso dizer é que ele é o maior cartunista e humorista brasileiro. Não sei se ele ia aceitar, mas, se eu fosse gay, casava com ele.


POR ADRIANA NEGREIROS

FOTOS CACALO KFOURI


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