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ANTONIO TABET | NOVEMBRO, 2015



O "Kibe Loco", membro do Porta dos Fundos e vice-presidente

de comunicação do Flamengo, fala sobre Fluminense, assédio,

humor, Deus e bebida


POR JARDEL SEBBA

FOTO JORGE BISPO





1. Você assumiu como vice-presidente de comunicação do Flamengo. Pesou o fato de alguns jogadores, como o Márcio Araújo, serem uma piada? O Márcio Araújo, hoje, está jogando bem, é um dos melhores do meio-campo do Flamengo. Como torcedor eu já o citei, já xinguei muita gente, inclusive mães de árbitros que nem conheço, a senhorinha de 70, 80 anos lá no interior de Minas. Mas o Márcio Araújo, ainda bem, queimou a minha língua.


2. Estar numa instituição que tem uma dívida impagável atrapalha os trabalho? Para você saber: a divida do Flamengo é pagável. E está sendo paga na gestão atual. Dividas existem em todos os clubes, e o Flamengo está pagando a dele. Só o fato de o [presidente] Eduardo Bandeira de Mello ter mudado prioridades para pagar as dividas fez com que o clube ficasse mais respeitado no mercado e conseguisse captar mais dinheiro. Ou seja, é um circulo virtuoso. O Flamengo é um clube que, se fizer o dever de casa direitinho, vai poder comprar Messi daqui a três anos. Mas na falta de grana é que entra a criatividade.


3. Quais foram os maiores problemas que você encontrou na comunicação do clube? As redes sociais do Flamengo eram uma temeridade. A produção de vídeo era muito aquém do que a gente vê por ai. E ainda existe uma cultura do clube se levar muito a sério publicamente, e futebol é diversão. Então o Twitter do Flamengo ficou mais divertido. Quando ganha de um adversário tradicional, brinca com isso, sem desrespeitar ou cantar vitória antes. No Brasil o futebol é religião, a religião é política e a política é futebol. Como futebol é religião, Se você canta vitória antes do tempo e dá errado, vira quase uma superstição, tem que ter esse cuidado. Mas é um cuidado até a página três. E o Flamengo tinha esse cuidado até a página 30.


4. Clubes como o Flamengo trabalham com a crença de que torcida ganha jogo. Adianta a torcida gritar se o Pará não acerta um cruzamento? A torcida é o maior património do Flamengo. Se o Flamengo não tivesse a torcida que tem, tão seria o clube que é. Torcida ganha jogo, sim, já vi isso acontecer. Tem uma charge maravilhosa do Henfil com um jogador do Flamengo magrinho contra um adversário grande. A torcida começa a gritar "Mengo, Mengo, Mengo", o cara vai crescendo e engole o outro. E você tem visto os últimos jogos? O Pará está acertando...


5. Botafogo, Fluminense ou Vasco, quem mais o irritou até hoje? O Fluminense. Porque é o anti-Flamengo. Flamengo é o povão, Fluminense é a falsa aristocracia; Flamengo é o que os adversários chamavam de urubu, com conotação racista, eles são o pó-de-arroz. Oposto do oposto, sabe?


6. Inclusive eles gostam de dizer que o único hino de um clube que cita outro é o do Flamengo... Mas há uma deturpação nisso. Primeiro que o hino oficial do Flamengo não é esse. Nesse hino popular do clube, o verso é "consagrado no gramado, sempre amado, mais cotado nos Fla-Flus, é o ai-Jesus". Eles preferem entender que "nos Fla-Flus é o ai-Jesus", como se fosse uma preocupação. Não, é: "O mais cotado nos Fla-Flus, é o ai-Jesus. Naquela época, "é o ai-Jesus" significava "é o fodão". Então o que ele diz é: o mais cotado nos Fla-Flus, é o fodão".

7. Como foi ser o único adolescente na zona sul carioca nos anos 1990 que não fumou um baseado? Não fumei baseado e não bebi na adolescência. Comecei a beber socialmente no fim da faculdade. Eu não gostava, um negócio de paladar mesmo. Depois, no fim da faculdade, comecei a beber e melhorar meu paladar.


8. Com 18 anos você ia para a noite. todo mundo bebendo, não ficava meio deslocado? Não, eu conseguia me divertir sem beber. Talvez isso tenha atrapalhado um pouco para conseguir uma ou outra abordagem em cima de uma menina. Mas nunca senti falta. Já me entorpeci sem querer. Minha mãe é endócrino, e uma vez peguei um remédio para emagrecer tarja preta sem ela saber. Viajei para Porto Alegre, estava começando a beber e não sabia que não podia misturar com o remédio. Foi uma noite tão boa que pensei: "Não posso repetir isso nunca mais!" [Risos.] Fiz um circuito de boates de Porto Alegre e parecia uma micareta...


9. Depois que começou a aparecer, ficou mais bonito? Fiquei mais gostoso do que bonito. O assédio aumentou, de homens e de mulheres.


10. Qual é mais agressivo? O dos homens é sempre agressivo, mas algumas abordagens das mulheres também são bem diretas.


11. No Porta dos Fundos, João Vicente é o galã, Porchat é o engraçadão, Gregório é o charmoso de esquerda. Fica mais difícil chamar a atenção das mulheres? Não, porque eu sou o homem. [Risos.] Eu sou o hétero, o lenhador. Mas o João Vicente não é galã. O João é feio, ele só é alto.

12. A Letícia Lima fez uma foto para o Insiders ano passado. Que mulher do Porta você quer ver em PLAYBOY? Eu preferiria ver a Thati Lopes, que entrou no lugar da Letícia. Já estive com as duas no camarim, e vou te falar que a Thati... Ela fez um vídeo de biquíni com o pessoal do Porta e isso foi assunto durante um mês.

13. Já pintaram convites para participar de eventos estranhos? Uma vez fui chamado para o lançamento de um bloco de Carnaval de um clube de swing. Fui, mas não rolou sacanagem, era só o evento de lançamento. E já me chamaram para ser DJ de uma festa bear, do público gay. Porque no Porta tem galãs dos gays também — eu, o João, o Totoro. Mas eu não fui. Nenhum preconceito, mas achei que eu seria propaganda enganosa...


14. Você estudou em colégio de padre e de freira. É católico? Fui criado numa família católica, mas não vou à igreja. Não acredito na Igreja, mas acredito em Deus. Sou o único do Porta que acredita em Deus. A gente faz muita brincadeira com religião, e sempre me coloco no papel da pessoa que dá uma importância àquilo que os outros não dão. Mas se Deus é perdão, é amor, como ensinam na escola, Ele não vai se importar com um grupo de comediantes fazendo piada sobre o que Ele fez ou falou.


15. Não tem sacrilégio? Não. O meu Deus acha aquilo muito legal, quem não gosta são os homens.


16. Sempre citam Monty Python como influência. Nenhum humorista brasileiro foi influenciado por Carlos Alberto de Nóbrega? Outro dia encontrei o Carlos Alberto e falei para ele que poucas coisas me fazem rir na TV aberta, e entre elas estão os quadros do Paulinho Gogó e do Matheus Ceará na Praça. Aquilo é muito melhor do que os programas de "novo humor" na TV aberta, que você olha e sente vergonha alheia.


17. Tipo o novo Zorra? O novo Zorra eu não vi. Mas Tomara que Caia, por exemplo. O elenco é bom, mas aquilo é um equívoco, uma tentativa de fazer um novo que não funciona.


18. Qual é o limite do humor? O bom senso. Adoro o politicamente correto, acho importante proteger minorias. Por exemplo, na minha turma do Colégio Santo Inácio só tinha um preto, e todo mundo fazia piada com ele, era aceito naquela época. Acho excelente que uma criança hoje pense duas vezes antes de fazer piada com alguém de outra cor, raça ou religião. Eu não gosto é da patrulha, porque a patrulha não quer proteger o outro, ela só quer ter o poder de dizer o que é certo ou errado.


19. Você sentiu vergonha quando criou a Dança do Quadrado? Pensei: "Isso é tão ruim, tão ruim, que é bom". Fiz porque sabia que ia virar sucesso. Uma música que era hit de um resort para distrair turista, um clipe feito com câmera parada num estúdio com um anão, um gordo, um magricela dançando de collants, e virou hit no Brasil. Foi o single mais tocado em países na América Central, e o clipe ganhou um VMB. Eu tenho um VMB e a Sandy não tem!


20. Você perdeu 28 quilos depois de cortar frituras e doces, e começar a fazer exercícios e comer alfarroba. O próximo passo é arrumar um namorado? Não, o próximo passo é arrumar uma camisinha maior, porque só nessa perda de barriga meu pau aumentou uns 7 centímetros na visão periférica... [Risos.]


PRODUÇÃO EXECUTIVA BEATRIZ LIRANÇO

ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA FÁBIO BISPO


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