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BELL MARQUES | FEVEREIRO, 2014



O EX-LÍDER DO CHICLETE COM BANANA, QUE ESTREIA SOLO DEPOIS DO CARNAVAL, FALA SOBRE A SAÍDA DO GRUPO, BONS VINHOS, POLÍTICOS BAIANOS E A INSPIRAÇÃO PARA VERSOS COMO "ELE NÃO MONTA NA LAMBRETA" E "CARA CARAMBA CARA CARAÔ".


ENTREVISTA JARDEL SEBBA





1. Uma pergunta que ninguém te fez até hoje: por que exatamente você saiu da banda? Todo mundo me fez essa pergunta! [Risos.] Sempre fui o mais verdadeiro que pude na resposta. Eu não estava mais feliz na banda. Busquei minha felicidade e a construção de um projeto no qual eu pudesse ser mais livre, dar vida às minhas ideias e que não me fizesse abdicar dos meus desejos enquanto artista. Não foi nada além disso.


2. Você em carreira solo e a banda (sem você) devem cantar as mesmas canções do repertório do Chiclete com Banana. Não pode dar confusão dois artistas como mesmo repertório? Vocês criaram alguma regra quanto a isso? Não criamos regra alguma. Estamos livres para criar o repertório que quisermos. Grande parte das músicas do Chiclete são minhas, inclusive, e fazem parte da minha carreira, da minha história. Não posso e não vou negar meu passado no Chiclete, banda que eu criei. Não existe maior Chicleteiro do que eu, e muitas dessas músicas estão eternizadas na minha voz. Nada mais normal do que as pessoas quererem continuar ouvindo algumas delas. Agora, lógico que vou colocar músicas novas no repertório, músicas minhas da carreira solo e sucessos de outros artistas.


3. A música do Chiclete com Banana é muito feliz, para cima, positiva. O que você fazia nos dias em que estava deprimido? Tinha de fingir que estava alegre? Em cima do palco, não existe tristeza para mim. Quando subo ali, sem demagogias, viro outra pessoa, esqueço qualquer problema e me divirto também, assim como o público. O palco é meu lugar favorito neste mundo. Amo o que faço, que é tocar e cantar. Sem dúvida, é minha maior alegria. Quando essa energia que tanto amo, quando o frio na barriga desapareceu, decidi que tinha de parar e partir para outra. A partir desse momento, eu sabia que não valia mais a pena e que eu não conseguiria passar para meu público a mensagem que sempre quis, que é de diversão.


4. Antes de casar você aproveitou muito o Carnaval de Salvador, sexualmente falando? Bell já foi pegador? Até que não! [Risos.] No meu primeiro Carnaval na rua, já fiquei de paquera com minha esposa. Deu no que deu!


5. Qual foi o lugar mais remoto, peculiar ou inusitado onde você lembra de ter feito um show? No aniversário do santo de um terreiro de candomblé, na Bahia. Fiz o show com muito orgulho, claro, mas foi inusitado.


6. Qual foi a pior coisa que já aconteceu em cima de um palco? Já passei por muita situação estranha e engraçada, mas talvez a pior tenha sido no interior da Bahia, entre 1984 e 1985, quando fiquei hospedado no segundo andar de um pronto-socorro. Quando voltamos do show para dormir, percebemos que tinha um corpo, um cadáver, no primeiro andar, por onde tínhamos que passar. Dormir foi difícil!


7. Qual foi a história de fã mais engraçada ou estranha que você ouviu ao longo dos anos? Há menos de um ano, um fã me contou que havia feito um seguro para que, quando ele morresse, eu fosse contratado pra fazer um show no enterro. Achei que era mentira, até que encontrei com a família toda do rapaz e eles me confirmaram a história!


8. Uma música de vocês, Fé Brasileira, serviu de trilha-sonora para a campanha de Fernando Collor à presidência no segundo turno da eleição de 1989. Vocês são amigos? Você se arrepende dessa parceria? Não somos amigos, não. Apenas cedemos o direito para ele usar nossa música. Não me arrependo, de forma alguma. Foi uma parceria profissional.


9. Qual Bahia você escolheria como um lugar melhor, a comandada por Antonio Carlos Magalhães em décadas passadas ou a dos últimos anos, comandada pelo PT de Jaques Wagner? Acho que todo governo tem seus erros e acertos. Sem dúvida, muita coisa boa foi feita no passado e muita coisa boa tem sido feita no governo atual. São tempos diferentes e contextos sociopolíticos bem diferentes.


10. Você pensa em se candidatar a alguma coisa no futuro? Para presidente, prefere Dilma, Aécio ou Marina? Nunca pensei em entrar na politica, apesar de achar um universo muito fascinante. Me envolvo muito pouco. Quanto ao meu candidato, não decidi ainda.


11. A banda lançou um vinho, o Chicleteiro, alguns coses atrás. Você realmente costuma bebê-lo? O vinho Chicleteiro já não é mais produzido. Foi um projeto meu quando minha esposa decidiu abrir uma importadora de vinhos, a Ana Import, há nove anos. Mas o vinho é a nossa bebida favorita. Gostamos muito e fazemos muitas sessões de harmonização e degustação entre amigos. Sou um grande apreciador.


12. Quanto foi o mais caro que você já pagou por uma garrafa de vinho? O vinho é uma bebida que não se aprecia pelo preço. Tem muito mais a ver com o momento, com a emoção e, claro, com o que você harmoniza já tomei bons vinhos de vários preços. Os meus preferidos são os franceses e italianos.


13. A música do Chiclete com Banana foi trilha-sonora de muitos romances, especialmente durante os Carnavais. Você já conheceu algum menino batizado como Bell em sua homenagem por ter sido feito ao som de vocês? Conheci, sim. O menino foi batizado não só de Bell, mas de Bell Marques. O Marques sendo nome também.


14. Sendo também Marques, não deu medo de sua esposa achar que você tinha alguma coisa a ver com isso, além da homenagem? [Risos.] De forma alguma! Conhecemos os pais da criança, não só a mãe. Minha esposa estava comigo na hora. Recebemos como uma grande homenagem.


15. Uma das canções mais famosas do Chiclete com Banana é Ele Não Monta na Lambreta. Alguém específico serviu de inspiração para essa letra? Tem muito músico de axé enrustido, que "não monta na lambreta"? [Risos.] A música é uma brincadeira. Nada a ser levado a sério demais! Se existe muito músico enrustido eu não sei, não conheço. Mas, se existe, não é só na axé music, claro. Cada um sabe o que faz na cama e com quem. Não me importa, desde que exista sempre o respeito.


16. Que música as pessoas mais cantam quando encontram você no restaurante ou no supermercado? Cara Caramba, Sou Camaleão.


17. Já teve alguém mais inoportuno, a ponto de você precisar tomar uma atitude para a pessoa parar de cantar? Não, de jeito nenhum! [Risos.] Adoro quando cantam, quando fazem homenagens. Os fãs chegam sempre com muito carinho.


18. Você lembra de quando e como pintou a inspiração para escrever o refrão "Cara Caramba Cara Caraô"? Estava saindo em turnê pela Europa, ia pegar o avião para a Alemanha e estava superatrasado. Entrei no elevador e sempre uso "Caramba" como interjeição. Nesse dia, estava tão nervoso que soltei "Cara Caramba!". Fiquei com a frase na cabeça e, no avião mesmo, com os outros parceiros, fomos escrevendo.


19. Em 2006, Carfinhos Brown reclamou ao então ministro da Cultura Gilberto Gil que o Carnaval de Salvador vivia um "apartheid escroto", fazendo menção à separação entre pipocas e cordas e a divisão entre os que podem pagar para se divertir dentro dos blocos e os que ficam na rua. O Carnaval da Bahia vive um "apartheid escroto"? Eu acho que o Carnaval é mais inclusivo do que excludente. Acredito que seja um dos poucos eventos em que o público, pagando ou não, tem acesso ao mesmo conteúdo e consegue enxergar o artista da mesma forma.


20. Você está com 61 anos de idade. Tem algum momento, em cima do trio elétrico, em que você pensa: "Meu Deus, eu podia estar em casa tomando meu vinho no ar-condicionado, o que tô fazendo aqui pulando no meio dessa multidão"? O prazer do que eu faço supera qualquer coisa. Gosto do meu trabalho e me dedico 100% a ele. A idade influencia muito pouco quando se fala de arte. A sensação de tocar em cima de um trio é indescritível. O vinho e o ar-condicionado a gente deixa pra depois, na hora de recuperar as energias pro dia seguinte. [Risos.]


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