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CAMILA PITANGA | AGOSTO, 1994



A deliciosa atriz, revelação da Globo, fala de virgindade

e do "azedinho doce" da pitanga


POR MARCO ANTÔNIO LOPES

FOTO NANA MORAES


A carioca Camila Pitanga não gosta de ser chamada só de modelo. Contratada da Ford Models e da Rede Globo, ela prefere que a tratem como atriz. Não é arrogância. "Comecei trabalhando no teatro e na televisão, só depois é que fui fazer fotos, desfiles, essas coisas", explica. "Faço tudo isso com prazer, mas minha profissão é atriz." Ela tem razão. Com 17 anos de idade e pouco mais de dois de carreira — de atriz —, Camila desponta como uma das principais revelações da TV brasileira. Morena, 1,72 metro, voz rouca, ela é certamente uma deliciosa revelação, e não apenas de TV.


A filha do ator e vereador do PT carioca Antônio Pitanga e da bailarina Vera Lúcia Manhães não começou exatamente representando. Seu primeiro trabalho foi uma rápida aparição no filme Quilombo, de Cacá Diegues, ao lado do pai, aos 7 anos. Depois, Camila, cujo sobrenome verdadeiro é Manhães Sampaio — "O Pitanga vem do meu pai, que ganhou o apelido na época do Cinema Novo" —, fez comerciais de TV e participou do Clube da Criança, da TV Manchete, quando o programa era comandado pela apresentadora Angélica, hoje no SBT. "Eu era clubete", lembra Camila, "uma daquelas meninas que ajudavam a Angélica."


Em seguida, resolveu fazer teatro. Participou de duas peças, até ser chamada para a minissérie Sex Appeal, da Rede Globo, em 1993. Este ano, a glória: ganhou mais um papel na TV, desta vez no horário nobre, na novela Fera Ferida. Enquanto isso, engatinhava na carreira de modelo, desfilando pela agência Ford. Mas nessa carreira, ela avisa, só vai mesmo "engatinhar". "Não me vejo trabalhando o tempo todo como modelo", revela. Sucesso no vídeo e em algumas passarelas — incluindo aí um desfile no bar Torre de Babel, no Rio, em que ela apareceu vestindo um apertado shortinho e cobrindo os seios com as mãos —, Camila recebeu no começo de 1994 o consagrado título de "musa do verão".


Além de atriz e "esporadicamente" modelo, ela é estudante. Está no 2º colegial, no colégio Bahiense, na Barra, Zona Sul do Rio. Mora numa casa do bairro do Leme, também na Zona Sul, com o pai, o irmão e a deputada federal do PT Benedita da Silva, que se casou com Antônio Pitanga. Este ano Camila vota pela primeira vez — petista como o pai, seu candidato é, claro, Luiz Inácio Lula da Silva. Em 1995, deve prestar vestibular para teatro, cinema ou publicidade. "Mas hoje meu sonho é outro", anuncia.


"Quero montar uma peça de teatro baseada em poemas eróticos de Carlos Drummond de Andrade." Vestida com calça e camiseta decotada branca, a "musa" recebeu o repórter Marco Antônio Lopes numa chuvosa tarde carioca. Camila, bem-humorada, fala rápido, quase comendo as palavras, e gesticula bastante, às vezes tocando carinhosamente no interlocutor. É tão inquieta que em alguns momentos da conversa quase caiu do sofá onde estava sentada. Uma simpatia.





1. Glória Pires disse uma vez que modelos não podem trabalhar como atrizes. O que você acha disso? Entendo o que ela quis dizer: não é por ser bonito que se pode trabalhar na TV; é preciso também ter talento. Há uma geração nova de atores na televisão, e nela as modelos estão ganhando espaço. Mas quem consegue entrar só pelo visual acaba não ficando. Essas pessoas — não digo quem são, porque sou muito nova para julgar o trabalho dos outros — não vão seguir carreira na TV.


2. Você sempre sonhou ser atriz? Sempre estive nesse meio de teatro, TV e cinema, por causa de meu pai. Achava que as pessoas eram muito felizes nisso, que ninguém tinha problema. Via todo o mundo dando gargalhada, parecendo estar de bem com a vida o tempo todo. Lógico que não é sempre assim, mas esse meio é muito mais aberto, liberal. Todos têm seus problemas — grana, cansaço, tensão, essas coisas. Não é um conto de fadas. Agora, para entrar nessa área, trabalhei bastante. Não se pode ficar esperando que as coisas aconteçam.


3. Como foi sua estréia no vídeo? Foi na gravação de Sex Appeal. Fiquei muito nervosa. Na hora, dei umas três respiradas e... fui. Para me concentrar, sempre respiro fundo. Além disso, faço alongamento. Respiro devagar e dou uma enrolada [flexiona a perna contra o corpo] — ai, peraí que vou cair desse sofá... [risos]. A primeira cena de Fera Ferida foi pior. O diretor era o Marcos Paulo. Estava tão nervosa que metralhei o texto. Mas o Marcos foi um amor comigo e disse: "Fala devagar, relaxa." O [José] Wilker me deu depois um bom conselho: "Sente prazer, Camila. Você tem que se divertir atuando, não tem que sofrer."

4. Seu pai é coruja como dizem? Não, de modo algum: Todo o mundo tem uma imagem dele de coruja, chato. Mas eu fico batendo na tecla porque ele [enfática] não é. Quando saio com ele, é porque eu quero companhia — afinal, ele é também meu amigo. Mas não é meu guarda-costas, como pensam. Meu pai é coruja só com meu trabalho — para ele, tudo está maravilhoso, nunca põe defeito. Poderia me dar mais informações, me criticar, mas nada. [Faz cara de brava.] Tenho uma raiva disso... [risos].


5. Chica Xavier [a Inácia de Renascer, novela das 8 da Globo que terminou em novembro de 1993] disse que está cansada de ser "atriz negra" — quer ser apenas atriz. Com você também é assim? Não, mas o rótulo de "atriz negra" é chato, incomoda. Se me chamarem só, de atriz é maravilhoso; só de negra, também. A Chica Xavier tem razão. Você não fala "ator careca", "ator magro" — por que, então, "ator negro"? Daqui a pouco vai ter prêmio de "melhor ator negro"...


6. Com o sucesso da novela, já reconhecem você na rua? Ah, só tem elogio, as pessoas curtiram o personagem de Fera Ferida. Na rua, falavam: "E aí, Terezinha, casou e nem me convidou..." [Risos.] Às vezes, me sinto mal com essa coisa de me reconhecerem. Numa boate, por exemplo, ficam me olhando, não dá nem para descontrair.


7. Muitas cantadas? Muitas... Eu respeito, porque as pessoas me vêem na TV e criam uma expectativa. Quando tentam avançar o sinal, procuro ser educada; no máximo falo grosso ou peço socorro a alguém. Acontece muito, também, de eu não saber se estão me paquerando ou me olhando só por causa da novela. Pior é quando você encontra uma pessoa e fica na dúvida se é alguém que você não vê há muito tempo ou um fã. Aí, eu penso [põe a mão no queixo e fala baixo]: "Será que é amiga do meu pai, será que eu conheço?..." Falo: "Oi, tudo bem?" E a pessoa: "Você não está lembrada de mim?" Muito chato, né?


8. Você está sem namorado? Já teve muitos? Estou sem namorado. E, com 16 anos, não dá pra ter namorado muita gente. Eu trabalho bastante, não tenho tempo para sair, ver pessoas. Meu "recorde" de namoro é cinco meses. Ainda não pintou alguém que desse certo. Mas falar de homem ideal é complicado. Gosto dos que saibam dançar, que sejam charmosos e que tenham uma boca bonita [ri].


9. Que tal ser considerada "a musa do verão"? No verão sempre elegem alguém como musa. Quando aconteceu comigo, adorei, lógico [rindo]. É legal, pra cima, amacia o ego. Mas não é o mais importante para a minha vida.


10. Qual a parte do seu corpo de que você mais gosta? E no do homem? Gosto mais da minha cintura e da minha boca. Que mais? Ahnnn... Falando em boca, não uso batom. Você nunca vai me ver de batom, a não ser que eu vá a um maquiador, para fazer TV ou teatro. Nos homens, gosto da região lombar [rindo]... Das costas...


11. Numa entrevista você ficou irritada quando perguntaram sobre virgindade... Não, mentira! Acontece o seguinte: quer falar de sexo, pergunte a uma sexóloga. [Irritada.] Um ator não tem que se expor sobre essas coisas. Não acho que seja construtivo contar como eu transo, o barulho ou o jeitinho que faço. Posso falar o que eu penso a respeito da virgindade — aliás, nunca tive problema em falar sobre isso. Mas o que penso da minha virgindade só diz respeito a mim.


12. Você concorda com a atriz Lizandra Souto, que disse que vai manter a virgindade até o casamento? Se você pergunta desse jeito, pode iniciar uma polêmica entre mim e a Lizandra Souto, o que não quero. Respeito a opinião dela. Na educação que ela teve, é uma coisa importante. Mas, para mim, tanto faz perder a virgindade antes ou depois do casamento. O mais importante é que seja feito gostoso, e de uma forma que você não se arrependa.


13. Saiu numa entrevista que você era virgem. Já uma outra reportagem dizia que não. Que tal esclarecer isso? [Brava.] Não, não tem que esclarecer. Isso é o mesmo que perguntar qual o barulho que se faz no amor. É um assunto da minha intimidade, não dá para ficar falando em público.


14. Tudo bem, tudo bem. E seu primeiro beijo, como foi? Primeiro beijo? [Aliviada.] Tive três "primeiros beijos". Um foi de inocência, devia ter uns 7 anos. Cheguei perto de um menino do colégio e dei um beijo nele. Na verdade, foi só um encontro de lábios. Mas adorei. O outro "primeiro beijo" foi horroroso, numa brincadeira do tipo "salada mista". Sabe como é? "Salada mista" é o beijão, não sei o quê é o "estalinho". Resolvi brincar por causa de um garoto de que gostava. Eu tinha uns 9 anos. Quando ele me beijou, fiquei de olho aberto, a-pa-vo-ra-da — e o menino metendo a língua na minha boca. Depois, saí correndo, chorando. Meu "primeiro beijo" legal foi no cinema, bem anti-romântico, assistindo Cemitério Maldito. Aquela coisa... Ele veio me tocando, pegando na minha mão, até dar o beijo. Estava com uns 12 anos. Esse, sim, foi um beijo de verdade. Me senti o máximo [ri].


15. E os beijos na gravação, deixam você "o máximo"? Nas primeiras vezes em que beijei na Fera Ferida, me senti constrangida, mais porque não conhecia o Norton [Nascimento]. Antes da novela não tive o menor contato com ele. Gravamos três cenas, acho, e já era o beijo. Na hora, estranhei bastante, e até resisti um pouco. Depois, rolou normalmente.


16. Como é esse beijo de gravação? Você tem alguma técnica especial? Tem gente que beija aqui [aponta para baixo dos lábios], tem gente que só toca nos lábios, e tem gente que bota a língua... Tem quem não bota a língua... Eu toco meus lábios com os do Norton, mexo... ah, não sei explicar... [risos].


17. Dá para pintar um clima numa gravação? Impossível não é. Pode acontecer se você quiser, se tiver tesão pelo cara... Mas comigo nunca aconteceu.


18. Você desfilou uma vez só de calção e com as mãos sobre os seios. Como foi isso? Foi com total naturalidade, que mais pintou para o público foi a expectativa, tipo "ah, ela vai tirar a mão" — e acho que isso causou frisson. Para me divertir ainda mais, mexia com os caras que estavam assistindo. Entrava no clima, encarava as pessoas... [levanta, anda como se estivesse desfilando]. Parava, olhava pra elas, fazia mil caras e bocas, como se fosse um personagem. Todo o mundo adorou.


19. Para terminar, duas curiosidades. A primeira é a seguinte: o que você veste para dormir? Eu gosto de dormir à vontade. Dá pra definir o que é à vontade? E bem à vontade mesmo [ri].


20. A outra: você gosta de piranga? Ah, gosto. Não é a minha fruta predileta, só uma das que gosto mais. É um azedinho doce maravilhoso...


PRODUÇÃO THEREZA DUARTE


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