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CAROLINA DIECKMANN | DEZEMBRO, 1996



A nova sensação da TV fala de clima entre os atores

e cenas de ciúme na vida real


POR GORETTE TENÓRIO NUNES

FOTOS VALÉRIO TRABANCO


Carolina Dieckmann fez 18 anos em setembro e tratou logo de realizar um sonho: entrou numa laja de automóveis e saiu de lá proprietária de um Citroën 1996. "Fui logo dizendo: 'Quero preto, banco de couro, som, isso e aquilo... '" Além de decidida, a jovem atriz da Rede Globo começa a mostrar sua face mais madura com a explosão de sensualidade de seu mais recente personagem, a Renata da novela Vira-Lata, que foi ao ar até setembro. Ali, Carolina viveu uma jovem de sua idade precocemente amadurecida.


Também precoce, a lourinha sofreu um pouco nos primeiros tempos de escola até descobrir que sua dificuldade de adaptação se devia ao fato de ter o QI acima do das crianças de sua idade. Continuou estudando até o primeiro ano do segundo grau e dividia seu tempo entre a escola e as brincadeiras favoritas: jogar futebol, andar de skate, descer de carrinho de rolimã as ladeiras de Santa Teresa, bairro tradicional do Rio de Janeiro em que mora até hoje. Mais precisamente, Carolina mora no mesmo lugar desde os 2 anos de idade — e o momento da entrevista em que toca nesse assunto é o único em que demonstra tristeza. Ela descreve o que sentiu ao chegar ao casarão da família, num fim de tarde de 1991, e ver tudo destruído por um incêndio: "Eu nem chorei", relembra. "Sabe quando falta um pouco o ar? Não tenho fotos da minha infância, não sobrou nada."


O incêndio, que começou num aparelho de ar condicionado e levou as lembranças físicas da infância de "Carol", acabou sendo o responsável pela estabilidade que a atriz diz ter em família hoje. Na ocasião, seus pais, Roberto Dieckmann, engenheiro naval, e Maira, securitária, estavam em processo de separação — que ocorreu, mas de maneira pouco convencional. Para evitar mais sofrimento para os filhos — Carolina, Bernardo, atualmente com 21 anos, e os gêmeos Frederico e Edgar, 16 —, o casal resolveu reconstruir o casarão e continuar morando ali, dividindo os espaços harmoniosamente.


"Eu moro com meu pai", diz a estrela, divertida, ao conduzir a editora especial de PLAYBOY Goretti Tenório Nunes ao andar superior da casa. Carolina não pára de falar, de mexer as mãos e de rir. Tinha acabado de sair do banho, vestia um jeans marrom e uma camiseta curta vermelha. Os cabelos despenteados foram secando no decorrer da conversa e se ajeitando em torno de seu belo rosto. A atriz atribui sua pouca altura — 1,62 metro — à prática de ginástica olímpica por nove anos, mas já não se preocupa com isso e vai mantendo os seus 52 quilos sem muitos sacrifícios. Até porque o esporte lhe deu um corpo que é dos mais elogiados entre a nova geração global.


Carolina começou a carreira em 1992, aos 14 anos, como modelo, até ser chamada para a minissérie Sex Appeal, da Globo. Depois protagonizou Tropicaliente, Malhação e Vira-Lata. Além disso, fez quatro peças de teatro. Agora quer descanso. Quando termina a entrevista, ela prende o cabelo num coque displicente e está pronta para ir ao cinema. É possível que aproveite o tempo para sua "terapia", que é como ela define a mania de falar sozinha enquanto dirige, com um gravador ao lado registrando suas histórias.





1. É possível rolar clima entre os atores durante as gravações? Ah, muito possível, muito provável. Porque estão as duas pessoas ali, se beijando todo dia. Eu, por exemplo, não consigo. Mas pessoas que estão mais à vontade... fazendo cena de nu e transa... é fácil rolar clima.


2. A que você atribui as insinuações de que teria tido um caso com o ator Marcelo Novaes durante a novela Vira-Lata? Atribuo à dificuldade de entenderem como aquilo foi tão verdadeiro. A química era perfeita. A química no ar, não que eu fosse amicíssima dele. E acho que a Letícia [Spiller, atriz e mulher de Marcelo Novaes] sentiu o que eu sentiria. O sucesso do Marcelo e de outra menina com o mesmo tipo físico, loura, olhos claros... As cenas quentes pra caramba. É de dar ciúme mesmo. Mas li matérias com o Marcelo falando que eu era muito criança e a Letícia dizendo que eu era só uma menininha, imagina se ela ia se incomodar comigo... Se eles falaram isso foi uma coisa completamente agressiva.


3. E você já brigou por causa de ciúme? Muito! Uma vez uma fã estava dando um beijo no Victor [o ator Victor Hugo, seu namorado até recentemente]. No meio do shopping, comecei [bate palma e grita]: "Lindo, estou gravando, pode fazer uma cena de amor, querida!" Ele ficou puto comigo.


4. O assédio masculino aumentou depois de Vira-Lata? Recebo cartas de homens de 40 anos desde que fiz a Açucena [Em Tropicaliente, tinha 14 anos e fazia o papel de uma garotinha ingênua e linda] . Ela foi muito mais sex-symbol. Era mato, roupas transparentes, ingenuidade... E teve uma vez que uma menina me deu um cachorro. Ela era "sapatão" e fez isso só para criar um vínculo comigo. Ficava na porta de casa, olhava estranho, mandava cartas de magia negra. Um dia meu pai disse para ela sumir senão ele ia chamar a polícia. O cachorro morreu eletrocutado um mês depois, mordeu uma tomada.


5. Você só namora ou é também de ficar? Ficar não me atrai nem um pouco. Se estou apaixonada, estou mesmo. Acho até que amei quando tinha 8 anos. Namorei uns quatro anos o Rafael, o mais cobiçado da turma na escola. O namoro era andar de mãos dadas, jogar futebol no mesmo time. Ou ficava assistindo ao jogo e quando ele se machucava eu ia cuidar, botar gelo.

6. Foi com ele o primeiro beijo? Foi. Na terceira série a gente deu um estalinho que foi um frisson, aquela coisa [fala baixinho, apertando as bochechas]: "Beijei primeiro, a turma vai fofocar". Eu perguntava: "Mãe, dá sapinho?" O primeiro beijo pra valer também foi com ele, no cinema. Ele me pegou de surpresa. Fiquei meio assim... depois dei outro. Foram dois de uma vez. No dia seguinte, mais um...


7. E a primeira transa? Houve uma preparação para ela? Não, não. No período em que gravamos Sex Appeal em São Paulo, eu e o Victor estávamos sozinhos uma noite num quarto de hotel e aí a gente inventou que ia beber Cuba Libre. E não bebo nada, nem sabia o que era. Minha primeira vez foi meio que alcoolizada, altinha [ri]. A gente começou brincando, guerra de travesseiro... Aí, beija daqui, beija dali... tirei a blusa, nem sei o que fiz. Senti meio que um frio, uma vontade... E acordei nua do lado dele. A segunda vez é que foi... [se encolhe] ... e agora, como é que faz? Estávamos os dois lúcidos, né?


8. Você tem algum ritual antes da transa? Não. Eu tinha sempre umas calcinhas de bichinho. Meu namorado olhava e dizia: "Tá linda!" E uma vez fui a um motel para dar uma brincada naquelas coisas malucas de motel. Mas não achei graça, não. No meu quarto azul-bebê, com meus ursinhos de pelúcia, é mais lindo. Minha mãe sempre falava: "É melhor que você faça em casa do que indo para um motel. Você tem seu quarto, sua liberdade".


9. É difícil dividir a cama com você? É engraçado. Eu dormia muito quieta quando estava com meu namorado. Agora que estou sozinha, me espalho na cama inteira. Acordo com a cabeça no lugar onde estava o pé. Acho que é do inconsciente.


10. Qual o tipo de homem que você acha sensual? Olho muito o jeito, a maneira de andar, de olhar... Um cara sensual usa uma calça jeans meio apertada, aquela bundinha aparecendo, e camiseta branca. Esse é o cara lindo.



11. O que foi preciso deixar de lado por causa da fama? Adorava andar de bonde aqui em Santa Teresa. Só era legal porque podia conversar, falar alto e ninguém prestava atenção. Outra coisa: há pouco tempo, quando fui pra Disney, achei que ninguém ia me conhecer e botei unha postiça, pintei uma parte do cabelo com mercurocromo. Pra enlouquecer mesmo! Mas a primeira pessoa que pediu autógrafo tive que tirar a unha, porque era deste tamanho [risos].


12. Você já quis ser paquita? Olha como sou pretensiosa [ri]: eu sonhava em ser uma Xuxa, não paquita. Meus sonhos eram mais altos. Quando brincava, eu era a Xuxa sempre, senão não tinha por que brincar.


13. Como foi que você descobriu que tinha um QI mais alto do que o das crianças de sua idade? Eu tinha uns 5, 6 anos. As pessoas estavam aprendendo a somar e eu já sabia multiplicar. Comecei a entrar em conflito. Na primeira série até repeti de ano, porque não fazia as provas, discutia com a professora... Até que decidiram fazer um teste de QI e viram que eu não tinha paciência de esperar as pessoas aprenderem. Descobrir isso me acalmou um pouco.


14. Além de ser a mais inteligente, era também a mais bonita da classe? Não. Mas os garotos todos eram apaixonados por mim. Eu era meninona. Cresci num ambiente masculino, muito verdadeiro. Garoto fala palavrão, discute, toma banho junto. Até os 10 anos eu ia à praia só de calcinha. Achava ridículo as meninas com lacinhos, sutiã maior que o peito. Fui criada como uma menina normal, que não é a mais bonita. Meu pai até tomou um susto quando virei modelo.


15. E quando você decidiu que ia ser artista? Estava jogando futebol com meus irmãos numa praia, queimada, descascando, e aí um cara passou por lá e falou para eu procurar a agência [Ford]. Meus irmãos riram da minha cara e disseram [afina a voz e fala como se estivesse gritando]: "Não vai, não. Você é muito feia". Mas fui, participei de uma seleção para um trabalho superimportante, passei, ganhei uma fortuna, fiz um book lindo e fiquei uns meses trabalhando bastante. Até que decidi fazer um teste para seleção na TV e fui chamada para Sex Appeal. Quando vi a minissérie no ar, achei que estava pagando o maior mico, me achei péssima atriz.


16. Você é vaidosa? Não. Eu me sinto às vezes até um pouco relaxada, porque a imagem é fundamental na minha carreira. Aí, penso: "Carol, cuida um pouquinho da pele, pra não ficar com espinha". Mas aí vejo uma panela de brigadeiro e... Uau! Me entrego de corpo e alma.


17. Você fica muito tensa no seu trabalho? A estréia no teatro [com Banana Split] foi tensa, mas a história é hilária. O elenco era quase todo de gente acostumada a fazer teatro. Cinco minutos antes de entrar em cena, começaram a falar: "Tomara que você quebre a perna". Comecei a chorar, chamei o diretor [imita voz chorosa]: "Eles estão falando pra eu quebrar a perna, me mandando ir à merda. Porra, não quero mais fazer, não vou mais estrear". A cara borrada, as pessoas esperando e eu aos prantos [ri muito]. Aí o diretor me explicou que era só uma maneira de desejar sorte.


18. Alguma de suas cenas já foi levada para aquele quadro de erros de gravação do programa Vídeo Show? Já, várias. Teve uma de Malhação em que eu estava comendo uma salada de frutas. Quando acabasse tinha que jogar a colher. Só que joguei na ponta do potinho e a salada foi toda na minha cara [risos]. E também já caí num desfile de moda: entrei na passarela, as pessoas aplaudindo, um sucesso. Estava com um salto plataforma deste tamanho e a passarela estava molhada. Escorreguei, saí correndo, rindo. As pessoas acharam bonitinho.


19. Você já ganha bastante dinheiro? Acho que tem altos e baixos nesta profissão. Mas não tenho medo, não. Se um dia precisar ser empregada doméstica pra sobreviver, vou ser. Se precisar vender roupa em loja... A vida é isso, a vida é muito louca, não tem que ter preconceito.


20. Quando você vai posar para a gente? Eu acho que PLAYBOY é bonita, tem fotos de qualidade. Vai ter um momento em que vou achar legal. A hora de fazer vai existir — e, se for pra fazer, quero que seja o mais bonito possível.


PRODUÇÃO ROGÉRIO CECCASSI ASSISTENTE SYLVIA RADOVAN

CABELO E MAQUIAGEM SIDNEY PAULA


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