CLÁUDIA OHANA | JANEIRO, 1985

Cláudia Ohana é uma atriz nascida no berço do cinema. Sua mãe, Nazareth, foi uma das primeiras mulheres a trabalhar na montagem de filmes no Brasil e levava a filha pequena para os sets de filmagem. O universo da Sétima Arte encheu os olhos curiosos daquela menina, ao mesmo tempo em que ela descobria uma nova paixão, a música. Enquanto dedilhava o violão, a agora adolescente dava os primeiros passos como atriz de cinema. Com a morte prematura da mãe, Cláudia adotaria o sobrenome artístico ‘Ohana’, do havaiano, que significa ‘família’.

Logo depois, em 1981, ela deixaria o Brasil para rodar na Itália o filme Miracoli e Peccatidi Santa Tieta D’Agreste (Milagres e Pecados de Santa Tieta do Agreste), baseado na obra de Jorge Amado (1912-2001). O filme seria protagonizado pela diva do cinema italiano, Sophia Loren, e Cláudia interpretaria o papel-título na fase jovem (curiosamente, o mesmo papel que ela encarnaria na novela da Globo, oito anos depois, em 1989). Após algumas cenas rodadas na Bahia, Sophia foi presa pela polícia italiana por sonegação de impostos e o filme foi cancelado. Claudia viu frustrados seus planos de ser reconhecida no cinema. Ledo engano.

Em 1982, veio a consagração: Cláudia Ohana finalmente estrearia no cinema internacional, com o filme Erêndira, co-produzido pelo México, Alemanha e Portugal, com roteiro do vencedor do Nobel de Literatura, o colombiano Gabriel García Marquez (1927-2014) e dirigido por Ruy Guerra (com quem Ohana se casaria no mesmo ano e se tornaria pai da sua única filha, Dandara). O sucesso avassalador de Erêndira projetou Claudia no cenário internacional. Durante a coletiva de lançamento da película, em Nova York, Cláudia foi convidada para posar nua nas páginas da PLAYBOY americana. A ideia da revista era apresentar aos leitores a nudez de duas estrelas do cinema brasileiro que estavam conquistando os americanos e assim, nasceu a matéria ‘The Girls from Brazil’ (As Garotas do Brasil), protagonizada por Cláudia e Sonia Braga, que já provocava frisson entre os gringos com o filme ‘O Beijo da Mulher Aranha’. A presença de Sonia, aliás, foi um dos motivos para Cláudia Ohana aceitar o ensaio.

As fotos foram produzidas pelo fotógrafo Richard Fegley (1936-2001), um dos mais renomados da história da revista, (é dele a icônica capa da modelo negra Darine Stern sentada na cadeira em formato de coelho) durante cinco horas, em um apartamento em Manhattan. O calor do verão novaiorquino se confundia com o fogo tropical que parecia brotar do corpo da jovem atriz brasileira, do alto dos seus 22 anos de idade. Pelo ensaio, publicado nos Estados Unidos em outubro de 1984, Cláudia recebeu irrisórios 5 mil dólares (ou cerca de 1.200 reais, em valores atualizados) e, pelo contrato assinado, a PLAYBOY poderia ceder o material a qualquer uma das edições internacionais da revista espalhadas pelo mundo, sem que a atriz recebesse um centavo sequer.

A essa altura, Cláudia já se tornara uma estrela popular no Brasil, participando de filmes de grande visibilidade e estreando nas novelas da Globo. Seu sucesso a colocou na mira da PLAYBOY em terras tupiniquins e o então diretor de redação, Mario Escobar de Andrade (1944-1991), conseguiu com a matriz o direito de republicação do ensaio. E foi assim que a PLAYBOY Brasil estamparia Cláudia Ohana na capa de janeiro de 1985. Depois de provocar os americanos, chegava a hora das impactantes fotos escandalizar os brasileiros.

Apesar de o ensaio ser assinado por Richard Fegley, a foto de capa é de autoria de JR Duran. A chamada de capa, aliás, já adiantava o que estava por vir: A beleza selvagem de Cláudia Ohana. As fotos são divididas em três momentos distintos; na primeira parte, Cláudia aparece com apenas um pedaço de tecido de linho rústico amarelo amarrado em seu corpo, refastelando-se no chão da sala, encharcado de água. Seu corpo igualmente molhado passeia pelos móveis barrocos, cadeiras, piano. A seguir, Ohana aparece usando uma blusa de lurex prateada e um imenso chapéu preto, ladeada por uma mesa repleta de sofisticadas pratarias e uma taça de vinho.

Selvagem é a palavra. Grandes olhos amendoados, boca convidativa, corpo mignon, seios quase adolescentes e, claro, pelos pubianos em profusão. Selvagens pelos pubianos. Na última parte do ensaio, saem a mulher rústica, vestida de retalhos, e a dama sofisticada. Agora, a mulher natural, sem adornos, totalmente nua, na intimidade do banho, o sexo tomado pela água e espuma que escorrem pelo corpo. E não se falava em outra coisa...

Não era a sua primeira vez nas páginas nacionais da PLAYBOY – Cláudia foi o recheio da edição de agosto de 1984, com fotos de Richard Schoeder para a revista francesa LUI (novembro de 1983) – e nem foi a última, ela estaria novamente na Revista do Coelho em novembro de 2008 (seu único ensaio originalmente brasileiro), sem contar a capa da PLAYBOY italiana de março de 1985, em fotos do badalado italiano Angelo Frontoni, produzidas quando Cláudia morou na Itália para as filmagens de Tieta (num lance inédito, a revista Status adquiriu os direitos de publicação do ensaio no Brasil diretamente com o fotógrafo, trazendo a nudez de Cláudia Ohana em julho de 1983, bem antes da PLAYBOY), mas certamente aquela foi a sua mais inesquecível passagem pela revista.

Na história da PLAYBOY no Brasil, poucas edições têm o poder de atravessar gerações e permanecer no imaginário popular. Por mais de três décadas, a edição de janeiro de 1985 vem conseguindo esse feito. Apesar da falta de depilação íntima ser regra nos anos 70 e 80, Cláudia Ohana virou sinônimo de pelos pubianos fartos. De uma coisa, podemos ter certeza: os anos passam e não há quem fique indiferente a eles.