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DÉBORA FALABELLA | AGOSTO, 2006



A PROTAGONISTA DA NOVELA SINHÁ MOÇA FALA SOBRE A CHATICE DE SER CELEBRIDADE, QUANDO FICOU NUA SOB A MIRA DE UM REVÓLVER E REVELA SEU LADO DE MENINA MÁ.


POR: ADRIANA NEGREIROS FOTO: EDUARDO MONTEIRO





1. Você tem consciência de que esse seu jeitinho doce atiça os homens? Não. Existem muitas mulheres que chamam a atenção pelo corpo bonito. Mas existem outras formas de ver as coisas. Para algumas mulheres, o que interessa nos homens não é o sujeito que tem o estereótipo da beleza, do corpo forte. Para mim, não é isso o que conta.


2. Existe uma pressão para que você bote silicone e vire gostosona? Não, porque nesse mercado de televisão, é bom ter tipos diferentes. É horrível falar isso, mas tem gente para todos os gostos – a gostosona, a bonita e alta, a baixa, a normal.


3. Qual foi a coisa mais malvada que a dona desse rostinho de anjo já fez? As pessoas não imaginam, mas às vezes meu sangue italiano esquenta. Gosto de discutir, sou meio turrona. Se alguém fala no cinema, eu não agüento. Qualquer barulhinho me incomoda muito. Se me colocam numa sala de cinema cheia de adolescentes que querem fazer outra coisa, e não ver o filme, fico extremamente irritada. É muito pior, porque me manifesto e acabo levando uma vaia, alguém me xinga. É uma situação um pouco chata.


4. Que outra situação deixa você louca? O trânsito do Rio de Janeiro me dá aflição. Você liga a seta pra passar pra outra faixa e a pessoa não deixa, acha que você está ofendendo porque quer passar à frente.


5. Você já encheu a cara? Já enchi a cara no Carnaval. Hoje em dia é diferente. Como boa mineira, consigo me controlar. Fico na cervejinha, no vinho. Antes, eu chorava quando ficava de porre. Mas não fazia nada de absurdo. Todo adolescente dá um pouco de trabalho aos pais, mas perto dos outros, eu era até comportada. Dei um pouco mais de trabalho em relação a namoro. Comecei a beijar na boca aos 12 anos. Minha mãe descobriu e não gostou.


6. Sua mãe proibiu você de escutar Raimundos. Como você driblou essa proibição? Foi logo que a banda surgiu. Eu estava na minha fase de adolescente rebelde. As letras dos Raimundos tinham uns palavrões, umas coisas indecentes. Nada que deixe a dever aos funks de hoje. Era até mais leve. Mas minha mãe leu as letras e ficou horrorizada. Aí confiscou meu CD, mas eu tinha gravado e continuei escutando.


7. Quando você e seu marido [o músico Eduardo Hipólito] se conheceram, ele não sabia que você era atriz de novela. Isso não deixou você aborrecida? Eu achei maravilhoso. Acho irritante quando escuto casos de pessoas que trabalham na televisão e se sentem insultadas porque o médico e o professor de ioga não as reconheceram. Isso é ridículo. Não é todo mundo que assiste televisão. Ninguém tem obrigação de saber quem é a pessoa da novela. Os atores não podem achar que tudo gira em torno disso. Sei que a indústria da televisão é grande e muitas pessoas acompanham a programação, mas existe quem esteja ligado em outros universos. Acho mais bacana esse tipo de gente, que não se importa com o fato de eu fazer novela. Prefiro chegar a um lugar e ser tratada como todo mundo.


8. Os atores da televisão são usualmente reverenciados como moradores do Olimpo, espécies de deuses. Você diz que não se sente assim. Por quê? Eu morava em Belo Horizonte e não tinha contato com essas coisas. Tinha meus ídolos na adolescência, mas não era como algumas pessoas que chegam perto de mim e me tratam como se eu não fosse desse mundo. É chato. Eu gosto de fazer coisas que todo mundo faz, como ficar em casa, receber uns amigos, ficar no computador.


9. Você faz serviços domésticos? Ah, faço demais. Normal, né? Só agora contratei uma pessoa para ir arrumar a casa todos os dias. Mas faço tudo. Gosto de ir ao supermercado, lavo louça. Só não passo roupa muito bem. E, como meu marido cozinha, deixo essa tarefa para ele.


10. Como é a sua relação com os paparazzi? Eu sempre vejo as pessoas sendo fotografadas e conheço gente que deixou de ir à praia por causa disso. Porque você bota um biquíni e já se sente exposta. Aí vem um fotógrafo e faz uma foto da sua bunda. Eu não vou à praia, sabendo que essas pessoas vão me fotografar, porque já sou envergonhada. No Rio tem essa coisa da beleza, da academia. Eu fui pro Nordeste e me senti muito mais à vontade. Lá as pessoas não estão tão preocupadas com a forma física.


11. Envergonhada assim, como se sente sabendo que, ao digitar seu nome no Google imagens, uma das primeiras fotos que aparece é você de biquíni? Aquela foi uma das primeiras fotos que fiz, para uma revista, no início da carreira. Eu estava na minha primeira novela. No começo, a gente não imagina o que vai sair. Mas eu aprendi. Me disseram que ia aparecer só até aqui [toca na barriga, acima da cintura] e saiu uma foto enorme, de biquíni. Nunca mais faço isso.


12. No filme Dois Perdidos numa Noite Suja, você faz uma cena em que aparece nua, com um revólver apontado na sua direção. Para uma moça tímida, foi difícil tirar a roupa? O que facilitou naquela cena foi o fato de que eu deveria me sentir acuada e frágil. Então estar nua me ajudou nessa composição. Mas é claro que a cena é desconfortável, não fico tão à vontade nua como se estivesse vestida.


13. Quando você vai posar nua? Não pretendo. É preciso ter muito desprendimento. Uma coisa é você estar numa cena em que a nudez é necessária. Outra é estar nua para uma revista. Tem pessoas que interpretam um personagem, mas comigo isso não funciona.


14. Você é casada com um roqueiro. Onde está o seu lado de garota rock’n’roll? Eu gosto bastante de rock. Curto Strokes, Queen of the Stone Age, Ramones, Rolling Stones. Mas show de rock é uma balada que eu tenho uma certa preguiça. Gosto de ver o show, mas não gosto do ambiente. Prefiro ficar em casa.


15. Você já interpretou garotas um tanto masculinizadas. Em que situações o lado homem da sua alma se manifesta? Eu tenho uma porção mais desencanada, às vezes saio de casa sem me arrumar. E tenho um jeito de falar grosso quando estou chateada.


16. Sua personagem na novela das seis, a Sinhá Moça, é bem politizada. Você acompanha a crise no governo Lula? Não sou tão politizada quanto a Sinhá Moça, mas acompanho a crise, embora não saiba do que está acontecendo com profundidade. Bem que deveria, mas isso tudo acaba me irritando. Na época em que a crise estourou, estava viciada na TV Senado. Mas cansei. É muito difícil ver tudo aquilo e depois perceber que nada acontece.


17. Em quem você vai votar pra presidente? E a Sinhá Moça, em quem votaria? Não sei em quem vou votar. Em 2002, eu estava em Nova York e não votei. Mas, se estivesse no Brasil, meu voto teria sido do Lula. Se a Sinhá Moça votasse, acho que ela votaria na Heloísa Helena. Mas não gosto de ficar falando sobre política. São opiniões pessoais e não acho que minha opinião seja importante para ser exposta.


18. Qual é a sua opinião sobre o ministro Gilberto Gil? Gosto mais dele como cantor e compositor. Acho que, como artista, ele produziu coisas mais interessantes. O governo não parece ser o lugar dele.


19. Antes de virar uma atriz famosa, o que você fazia em Belo Horizonte? Cursei dois anos de publicidade. Meu pai sempre trabalhou com isso. Ele era ator, mas não dava pra viver só de teatro. Eu morria de preguiça das conversas sobre publicidade na mesa do almoço. E quando comecei a estudar, me deu mais preguiça ainda. Cheguei a fazer estágio numa agência. Mas não conseguia me entrosar, não conseguia ir pra parte de criação, a parte da arte final era muito chata.


20. Como você conseguiu sair dessa enrascada? Fiz seis meses de Malhação, no Rio, e tranquei a faculdade. Quando voltei, vi que não queria mais fazer aquilo e então me chamaram pra fazer a novela infantil Chiquititas. Fui morar um ano na Argentina. Mas, mesmo tendo morado em Buenos Aires, continuo torcendo contra a seleção de futebol da Argentina.


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