DOSSIÊ DO CLITÓRIS

Reportagem

A ciência garante: o orgasmo da mulher é no clitóris. Não importa se o seu pênis é fino, grosso, pequeno ou grande – dá para encher a gata de prazer!

POR LUIZA SAHD

ILUSTRAÇÕES RAPHAEL GALASSI

Os homens têm motivo para sentir inveja das mulheres: elas têm um órgão no corpo que serve, exclusivamente, para sentir (e muito) prazer. No entanto, poucas vezes o clitóris é explorado. Um estudo da Universidade de Indiana relata que pelo menos 36% das mulheres não chegam ao orgasmo nas relações sexuais, e que cerca de 85% dos homens acreditam que suas parceiras gozam frequentemente – o que não é real.

A falta de conhecimento parece ser a responsável por esses dados. As mulheres sabem pouco sobre o clitóris, sendo assim, não é de se estranhar que muitos homens saibam menos ainda.

“O que geralmente sabemos sobre sexualidade está muito ultrapassado. Vulva, clitóris e vagina são apenas a ponta do iceberg. Raramente encontramos mulheres que já olharam a região íntima no espelho e que saibam identificar o clitóris, muito menos que ele possui extensão para dentro do corpo”, explica Ana Cristina Gehring, fisioterapeuta pélvica e sexóloga.

De acordo com um artigo científico publicado em outubro de 2016 na revista Clinical Anatomy, o tal ponto G localizado na uretra pélvica e o famoso “orgasmo vaginal da mulher madura”, proposto por Freud, não passam de mitos: todos os orgasmos femininos têm ligação com o clitóris, mesmo que por contato indireto (quando o pênis roça a parte interna dele durante a penetração).

A CULPA É DA CIÊNCIA?

Do ponto de vista científico, todo mundo sabe para que serve o gozo masculino: a liberação de espermatozoides é 50% do motivo pelo qual a humanidade continua se perpetuando. Mas você consegue responder sem pesquisar no Google qual a função do clitóris? Talvez seja esse o motivo para ele ter sido mantido na clandestinidade por séculos.

De fato, é quase irrisório o número de pessoas que sabe, por exemplo, que, além daquela pequena “ervilhinha” visível no alto da vulva, o clitóris se estende por mais 8 ou 11 centímetros para dentro do corpo e que ele tem mais de 8 mil terminações nervosas – o dobro de um pênis, o que o torna mais sensível ao toque do que nossa própria língua. Por falar em pênis, a parte mais sensível do órgão feminino também chama glande, é protegida por um prepúcio e precisa de uma ereção completa para chegar ao orgasmo.

Como sempre se acreditou que uma mulher não precisa de orgasmo para engravidar, ciência e sociedade fizeram vista grossa para um dos órgãos mais fascinantes do corpo feminino. No entanto, isso pode estar mudando. Afinal, quando as mulheres têm prazer no sexo, elas querem continuar transando e transam mais, o que facilita a procriação (se for esse o objetivo).

PARA ARRASAR

Pequeno manual para mandar bem na transa.

É simples, mas demanda atenção. Por ser ultrassensível, a glande do clitóris é onde mora o prazer e o desprazer de uma mulher. Quando tocada de forma errada, causa aflição. Calma é a palavra-chave, porque o sexo começa muito antes da penetração.

O ideal é partir de elogios, beijos de língua, troca de massagens e atenção aos toques, ao cheiro e ao momento. Transar não só com os órgãos genitais, mas com o corpo inteiro, é sucesso na certa. Só quando ela estiver totalmente no clima é hora de tocar a vagina. Com a mão, perceba se ela está lubrificada, porque o toque seco causa desconforto. Aproveite a pele que recobre o clitóris como auxiliar para massagear.

A força e velocidade do toque ideal variam bastante de mulher para mulher, mas uma mão suave e firme, fazendo movimentos circulares em velocidade moderada, é a preferência. Quando estiver chegando ao orgasmo, se ela permitir, vá direto sobre o clitóris, com movimentos de cima para baixo. Estudos mostram que a parte superior à esquerda da “ervilhinha” é a área mais sensível. Deixe-a soltar a voz e gemer a sua maneira. A mulher se excita ouvindo a própria voz.

Técnicas ajudam, mas não fazem milagres. Escutar o próprio corpo e perceber o outro é a forma mais fácil de curtir a transa com plenitude. Daí em diante, é com vocês.

ELAS OPINAM. OUVIMOS O QUE AS MULHERES AMAM

E ODEIAM NA CAMA. TOME NOTA:

"SOU PEITUDA E MUITOS HOMENS FALAM DISSO QUANDO COMEÇA A ROLAR O CLIMA, MAS, NA HORA DE TIRAR A ROUPA, ACABAM NEM DANDO ATENÇÃO A ELES E PARTEM DIRETO PARA A PENETRAÇÃO. ADORO QUANDO SAIO COM ALGUÉM QUE DÁ MORDISCADAS, BELISCA E EXPLORA REALMENTE O MEU CORPO. TANTO PEITO PARA NADA, PÔXA?"M.C.S., ECONOMISTA, 31 ANOS

"TENHO A SENSAÇÃO DE QUE OS CARAS CONSEGUEM GOZAR SEMPRE, DE UM JEITO OU DE OUTRO. POR CAUSA DISSO, BOA PARTE DOS HOMENS COM QUEM JÁ TRANSEI ACABARAM ATUANDO NUM ESQUEMA MEIO 'COELHINHO', SEM VARIAR POSIÇÕES. É MUITO BOM QUANDO O SEXO É MAIS DINÂMICO E A GENTE CONSEGUE EXPLORAR ALGO NOVO, MAS NEM SEMPRE ROLA" M. G., SECRETÁRIA, 28 ANOS

"TENHO NOÇÃO DE QUE ALGUMAS MULHERES CURTEM TOMAR UNS TAPINHAS, MAS SERÁ QUE SÃO TODAS? É QUASE UNANIMIDADE ACONTECER DE O PARCEIRO METER A MÃO NA MINHA BUNDA OU PUXAR CABELO SEM NEM QUESTIONAR SE É A MINHA. CONSENTIMENTO MANDOU BEIJOS. AH, E GOSTO DE PROPORCIONAR FIO TERRA PARA O HOMEM, MAS SEMPRE PERGUNTO ANTES. NEM TODO MUNDO É IGUAL, NO FIM DAS CONTAS" D.L., VIDEOMAKER, 37 ANOS

AMIGOS DO PEITO

Vamos aproveitar, minha gente

O clitóris é maravilhoso mesmo, não há dúvidas. Mas há muito mais o que explorar. As áreas erógenas do corpo das mulheres são muitas, e o legal é descobrir sem pressa. Bons exemplos disso são os seios, que estão diretamente relacionados à vagina. Uma das primeiras respostas à excitação sexual é quando os mamilos ficam eretos, já reparou? Acontece também no seu corpo.

A manipulação gostosa dos seios nas mulheres provoca a liberação de ocitocina, conhecida como o hormônio do amor. Esse toque desencadeia reações orgânicas que estimulam as contrações vaginais e melhoram a circulação local, facilitando a congestão do quase meio litro de sangue que a vagina precisa na preparação para o orgasmo.

Lembrando sempre que os seios delas são tão sensíveis à pressão quanto os seus estimados testículos, portanto, seja amigo do peito no sexo.

COM VOCÊS, O CLITÓRIS

A pequena parte visível do órgão não tem mais do que 3 centímetros em média, mas varia de mulher para mulher, sem afetar o prazer que cada uma sente. A pele que recobre a glande, chamada prepúcio, é o que protege as 8 mil terminações nervosas da alta sensibilidade e auxilia a massagear o clitóris, diminuindo o atrito do contato direto com a mão, a língua, o pênis etc.

Se a garota se sente segura, com o parceiro e o ambiente, ela fica mais ofegante, ruborizada, os seios ficam eretos e a mágica se inicia. Cerca de 450 ml de sangue chegam à vagina (o homem precisa de 80 ml) e ocorre a ereção dos corpos cavernosos do clitóris, ocasionando sua ereção, o que a deixa preparada para o orgasmo.

Tamanha diferença no volume de sangue necessário para ter uma ereção completa é o pulo do gato: já que os homens precisam de apenas 80 ml de sangue para ficar de pau duríssimo (até 130 ml em caras muito bem-dotados), eles conseguem pular as preliminares tranquilamente. Menos sangue, menor necessidade de estimulação. É nessa hora que elas ficam a ver navios: já que as garotas precisam de mais sangue na região para ficarem devidamente excitadas, o organismo requer mais tempo e mais estímulos.

Sendo assim, o corpo da mulher tem uma curva de excitação mais lenta, e isso significa que elas precisam de cerca de 20 minutos de preliminares para estar com muita vontade de serem penetradas. Vale lembrar que preliminar não é ir diretamente à vagina ou cair com fúria diretamente para o sexo oral, e sim contornar esses pontos. Em poucas palavras: homem é fogão a gás; mulher é fogão a lenha.

De acordo com Gehring, aliás, muitas mulheres preferem não receber o sexo oral por vergonha da própria vagina. “Por incrível que pareça, aquele maldito pensamento de que vagina tem gosto de bacalhau ou que uma vagina que não seja rosinha como as das revistas não é digna de ser exibida ainda prevalece”, lamenta a terapeuta.

Para fortalecer a confiança da parceira, elogios são sempre bem-vindos. Com ela se sentindo poderosa e recebendo uma masturbação adequada, vocês se soltam e têm mais prazer juntos. E a gente sabe que, noves fora, assim como o amor, o sexo oral é importante, porra.

SEM ESTRESSE

Sobre essa conexão

Ela está nervosa? Talvez seja mais o caso de pescar do que de transar. Trocadilhos à parte, o cansaço mental aumenta a produção de catecolaminas, que causam contração vascular e reduzem o fluxo sanguíneo para clitóris e áreas erógenas. O resultado disso é baixa excitação clitoriana e chances menores de orgasmo. Nesse caso, é importante ver se ela está realmente a fim de transar ou prefere ficar só no namoro. Essa é, também, uma forma de fortalecer os laços emocionais entre vocês – e que, no futuro, proporciona mais conexão na cama.

FALE COM ELA

Todas as mulheres possuem uma rede neural relativamente igual, mas há uma pequena diferença nos nervos que levam à sensibilidade que pode gerar diferentes sensações de uma mulher para outra. Algumas são mais sensíveis no clitóris, outras na parte interna da vagina e outras no ânus. Como os tabus são inegáveis, as meninas não costumam ser ensinadas e estimuladas para o autoconhecimento e, portanto, nem todas se masturbam internamente. Por causa do fator social, essas áreas do corpo feminino podem ficar adormecidas, e a mulherada acaba não descobrindo o máximo do prazer.

É inegável que essa descoberta muitas vezes tem que ser feita em privacidade. A mulher que não chega ao orgasmo sozinha, na sua intimidade, raramente vai conseguir atingir o orgasmo pela estimulação do parceiro, mas o apoio do cara é um passo a mais para romper com a vergonha, a culpa e o sentimento de perversão. Elas podem, sim, experimentar o melhor orgasmo da vida com o estímulo oral no clitóris simultâneo com toque anal, mas algumas vão sentir dor e medo.

Outra diferença grande na resposta sexual da mulher é o período refratário: homens atingem o orgasmo e precisam de um tempo para se recompor. Já as mulheres ficam suscetíveis a orgasmos múltiplos se você continuar com o estímulo correto. Algumas relatam grande sensibilidade no clitóris após o orgasmo. Por isso, a conversa é fundamental para saber se ela deseja continuar. Se a resposta for sim, ela poderá gozar muitas vezes.

SOBRE A PEPEKA

Bom para você e melhor para ela

A técnica do pompoarismo, não por acaso, é milenar. Nasceu na Índia, virou tradição na Tailândia e ganhou o mundo porque faz a alegria de homens e mulheres. Usar pesinhos ou bolas específicas para exercitar os músculos vaginais é uma forma de autoconhecimento para elas e de manutenção da saúde do assoalho pélvico feminino.

Com músculos vaginais mais fortes, uma mulher consegue bem mais do que estimular o pênis do parceiro sem usar as mãos: os exercícios facilitam o represamento do sangue na região perineal durante a excitação. Além disso, em praticantes de pompoarismo, a lubrificação é ejetada mais facilmente das glândulas que rodeiam os pontos erógenos e a sensação de prazer fica muito, mas muito maior.

A técnica é tão abrangente que pode até auxiliar o tratamento de incontinência urinária e facilitar a expulsão do bebê durante um parto normal. Por essas e outras, um bom papo para engatar com ela em momentos quentes é a possibilidade de um presente envolvendo um curso de pompoarismo. Quem ama cuida!

Publicado em janeiro/fevereiro de 2017, ed. 493. Editora PBB Entertainment, São Paulo - SP.