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EMANUELLE ARAÚJO | FEVEREIRO, 1999



A nova cantora da Banda Eva fala de Carnaval e

de comparações com Ivete Sangalo


POR MIGUEL ICASSATTI

FOTOS NANA MORAES


"Eu acho que tô com febre de 40 / Eu tô sentindo arrepio / O termômetro quase arrebenta / Minha temperatura subiu / Eu tô com fogo que nem bombeiro apaga." É assim, quente e fogosa como o contagiante refrão da música 40 Graus, que a cantora Emanuelle Araújo está, neste exato momento, fazendo a contagem regressiva para estrear à frente da Banda Eva, na apoteose do Carnaval de Porto Seguro.


Bela — com seus 1,70 metro de altura e 57 quilos, aos 22 anos — e com uma voz saborosamente gingada pelo sotaque que só as baianas têm, esta morenaça de Salvador nasceu sob o signo de câncer, mas diz que é quase leonina. "Tenho a sensibilidade do canceriano e a garra dos nativos de leão", descreve-se Emanuelle. Filha do comerciante Manuel Araújo e da professora de Letras Noélia Borges, separados, e irmã do economista recém-formado André, ela começou a carreira precocemente, aos 10 anos, quando participou de um teste feito no colégio para entrar na companhia teatral Interarte, que apresenta espetáculos divulgando a cultura baiana. Com esse trabalho, Emanuelle conheceu a França, a Argentina e o Uruguai.


Até agora, a carreira lhe deu o apartamento no bairro de Itaigara, em Salvador, onde mora com a filha, Bruna, de 5 anos, e o cãozinho poodle Alam Bique, presente do atual namorado, o ator Lucci Ferreira. Apaixonada pela natureza e pela ciência, Emanuelle abandonou o curso de Biologia no final do segundo ano, convencida de que não iria jamais trabalhar na área. Voltou à faculdade por um semestre, no início do ano passado, para cursar Artes Cênicas, mas trancou matrícula para se dedicar aos fãs da Banda Eva.


Nesta entrevista concedida ao repórter Miguel Icassatti em um restaurante no bairro dos Jardins, em São Paulo, numa escala entre compromissos no Rio de Janeiro (onde fez a sessão de fotos), Belo Horizonte e Salvador, Emanuelle Araújo fala da expectativa de entrar para a Banda Eva, de comparações com Ivete Sangalo e do suingue que os foliões ainda vão esperar um Carnaval inteirinho para ver.





1. Encarar o trio elétrico da Banda Eva vai ser uma prova de fogo? Acho que vai ser ótimo, porque o trio possibilita uma grande interação com o público. Vai me passar uma energia tão grande, sabe? Ver as pessoas me acompanhando, o trio andando e aquela gente toda seguindo... É fantástico! Será um grande ponto a favor para a minha energia estar lá em cima.


2. O que você vai fazer no Carnaval até a hora de subir no trio elétrico? Bom, este ainda é o Carnaval com Ivete Sangalo. A minha estréia é na sexta-feira pós-Carnaval. Antes disso, vou estar assistindo, admirando e esquentando as turbinas para o que vem depois. Mas que vou estar no bolo, vou.


3. Você já participou dos carnavais fora de época? Estive no último Recifolia [micareta de Recife], dando uma canja no trio Jammil e Uma Noites [banda de axé music]. São maravilhosos [os carnavais fora de época]. Todo mundo cantar música baiana é muito bonito. O povo se acaba no Carnaval da Bahia e é a lembrança desse Carnaval que ajuda a levar o pessoal para o Recifolia, o Fortal [micareta de Fortaleza] e outros.


4. Há um momento no show da Banda Eva em que a Ivete Sangalo brinca com o público, estimulando a galera a "ficar", dar beijo na boca de quem estiver do lado. Você vai fazer algo parecido? É uma coisa natural, da personalidade da Ivete. Acho que vou ter uma relação próxima com o público, porque isso é meu: sou faladeira, gosto muito de conversar e dizer o que estou sentindo para as pessoas. Então, de repente, pode fluir algo parecido, espontâneo, porque essas coisas só valem a pena se forem naturais.


5. E como você vai reagir às comparações com ela? Sinto uma curiosidade enorme para saber o que as pessoas falam. Não vou ignorar [as comparações]. Sei que vou ter que levantar a manga da camisa e trabalhar muito. Mas não querendo mostrar nada a ninguém, simplesmente fazendo o meu trabalho bem-feito. A partir daí, acredito que algumas pessoas vão gostar, outras talvez não, mas quem sabe lá na frente gostem. Acredito no processo natural das coisas.


6. E você se dá bem com a Ivete? É amiga dela? Ah, sim, a gente se encontra algumas vezes, mas não somos amigas. A gente se fala. É superbacana. Quando a gente se encontra é em aeroporto, na academia. Só fala: "E aí, como vai, tá legal?" E troca palavras de boa sorte.


7. A axé music tem várias musas, como Daniela Mercury e as meninas do É o Tchan! Qual é o seu tempero que nenhuma delas tem? Eu tenho a marca do teatro bem forte em mim, por ter trabalhado com isso muito tempo. Vou unir as duas coisas [música e teatro], mas não quero fazer shows coreográficos porque não cabe. Axé o que é? É cantar e botar o povão para cantar com você, a galera com as mãos pra cima. É a minha praia. De repente, pode trazer um molho só meu.


8. Dá para ser fiel, nessa vida de artista que você leva, com viagens e muitos compromissos? Sou por natureza uma pessoa extremamente fiel, porque sou muito intensa em tudo aquilo que vivo, entende? Mas não é aquela fidelidade careta, que diz: "Acho que a relação tem que ser fiel e pronto!" Não tenho tempo para ficar dispersa e, quando estou com alguém, estou sempre pensando nele. Isso me faz viver de corpo e alma as minhas relações, que foram pouquíssimas. Eu me casei com o meu primeiro namorado. Depois do casamento tive um namoro e, mais tarde, apareceu o meu atual namorado. A fidelidade não é uma dificuldade, um desafio. É uma coisa natural da minha personalidade.


9. Você gosta de "ficar" logo no primeiro encontro? Não. Até a minha adolescência, nunca fui de ficar. Nas festas, as minhas amigas se armavam — como se diz em Salvador — e eu ficava a noite inteira conversando com um cara. Não rolava nada. Não via motivo para dar um beijo na boca só por dar. Beijo na boca é uma coisa muito especial. Não é qualquer boca que você tem que beijar. Tem que ser com quem a gente esteja realmente a fim. E isso me fez selecionar bem as bocas que beijei [risos].


10. Você se lembra do seu primeiro beijo? [Sorrindo.] Sim, foi com um namoradinho, na Ilha [de Itaparica]. A gente passava o verão todo naquela paquera e tal. Eu tinha 13 anos e ele, 18. Aí rolou. Eu era muito comportadinha. Como sempre fui muito alegre, extrovertida, entrona, as pessoas achavam que eu era namoradeira. Mas não. Minha personalidade nunca batia com esse outro lado. Foi só aí que comecei a namorar.


11. Como foi a sua primeira vez? Foi com o meu primeiro namorado, o meu marido, e foi maravilhoso. Apesar de muito jovens, a nossa relação era de muito amor. Eu tinha 16 anos. Nós namoramos um ano e pouco. Foi supernatural, partiu dos dois. O que mais senti foi aquela necessidade de me entregar por completo e ele também. Então, quando aconteceu, o que sentimos foi aquela coisa romântica, de descoberta: "Puxa, que bom! A gente agora se conhece completamente".


12. Tem gente que gosta de ter um canto especial para curtir alguns sentimentos. Você tem um cantinho assim? Eu gosto muito de ouvir música na minha cama, no meu quarto. A minha cama é a minha grande companheira. Ela é grande, de casal, e gosto de ouvir os meus amigos de dor-de-cotovelo. [Ri.] Eu adoro a Marisa Monte — acompanho tudo dela, entrevistas, shows — e o Ed Mota, que pra mim é the best.


13. Como foi sua reação quando começou a encontrar pessoas famosas? Eu me lembro que na Expo CD [evento do mercado de discos], no Rio de Janeiro, estava com o meu empresário e aí o Ed Mota apareceu. Cara! Fui correndo, voando, para cima dele. E aí o Jorginho [Jorge Sampaio, o empresário] falou: "Espere aí, Emanuelle, eu vou lá chamá-lo para apresentar você". Mas ele demorou e o Ed Mota foi embora. Fiquei puta da vida! Nossa! Queria tanto falar com ele, pegar na mão dele e dizer: "Bicho, eu acho você bom pra cacete, adoro o seu trabalho!"


14. O que é insuportável num homem? Tem uma coisa que percebi, apesar de ter tido poucos relacionamentos, que é inerente ao homem: ele é sempre mais racional, mais frio. Então, tem horas que você diz assim: "Olha meu amor, que lindo o vestido que eu comprei!" E o cara ali, na dele. [Faz expressão de desencantada.] Acho que os homens são práticos e tenho procurado aprender com eles. Isso já me incomodou e já me fez sofrer. Hoje em dia estou me resolvendo com isso.


15. Você recebe muitas cantadas? [Irritada.] Na verdade, acho uma grosseria. É péssimo. O que eu encaro como cantada? Quando uma pessoa força a barra e vem logo para cima da gente. Se alguém quiser agradar, tem de se aproximar devagar, passar perto de você para ser notado.


16. Como você cuida do seu corpo e da sua pele? Tenho as minhas vaidades e procuro manter isso, mas não quero ser uma escrava da beleza. Estou malhando para agüentar o pique. Faço musculação e trabalho aeróbico sempre. Quando viajo, meu personal trainer passa uma série de exercícios para mim. Faço dietas evitando frituras, gordura. E procuro hidratar a pele. Tenho os cuidados básicos. Um creme aqui e outro ali. Gosto de andar arrumadinha. Tem dias em que saio de casa impecável.


17. Você se acha sensual? Não sei. Muitas pessoas me dizem que transmito sensualidade, mas acho que isso talvez seja da minha personalidade, que é forte. Mas a sensualidade também é inerente ao baiano. A gente dança, remexe, rebola e isso dá uma conotação sensual. Mas não me acho uma mulher fatal [risos].


18. Qual a parte do seu corpo de que você mais gosta? [Pensativa.] Hmmm... Sabe que eu não sei? Todo mundo fala que os meus olhos são muito expressivos, que eu consigo passar muita coisa com os olhos. Eu gosto de ouvir isso. E concordo com isso.


19. Você acha mesmo que as pessoas só olham para os seus olhos? Nãããão! Eu tenho certeza de que não [risos]. Sei que os homens dão valor ao nosso corpo... Mas ninguém nunca parou para me dizer nada. Pelo menos ninguém com quem eu tivesse intimidade.


20. Muita gente bonita fica famosa e depois reclama de assédio. E você, acha legal estar ficando famosa? Não sei. Eu acho que sou simpática... [Pensativa.] Entenda. Eu acho que sou bonita, sim, mas é mais pelo fato de ser cuidadosa com as pessoas. Mas é legal ser famosa, sim, ter mais dinheiro e realizar mais sonhos e os sonhos das pessoas de quem se gosta. Ser famosa e bem-sucedida no trabalho permite realizar esses sonhos, mas não quero deixar de ser eu mesma. Até me assusto quando alguém fala para mim: "Ah, Emanuelle, você vai mudar". As pessoas já vêem isso como uma marca. Puxa! Eu respondo que não, porque isso não vai me fazer feliz.


PRODUÇÃO BEBEL MORAES E CRISTINA FRANÇA

CABELO E MAQUIAGEM EDILSON FERREIRA


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