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FAUSTO SILVA | FEVEREIRO, 1987



Todo o deboche e humor do apresentador do programa

mais irreverente da televisão brasileira, num papo sobre o seu sucesso, política, censura e mulheres


POR MÁRIO CHIMANOVITCH

FOTOS BOB WOLFENSON


Pessoalmente, Fausto Silva (34 anos) é como aparece na televisão: enorme (1 metro e 88), gordo (115 quilos, em processo de redução), desbocado, irreverente e gozador, sempre disposto a encarar qualquer situação com uma certa dose de humor e pilantragem.


E esse é também o segredo do sucesso do programa Perdidos na Noite, como ele mesmo explica: "Tudo é descontração e deboche, bem do jeito que o povão gosta, sem injunções comerciais". Com um público cativo em âmbito nacional, todo sábado à noite, a partir das 10 horas, Fausto Silva ameaça superar, depois de dez meses de apresentações na TV Bandeirantes, o Bolinha, que é o líder de audiência da emissora: ambos já estão empatados com médias de 7 a 8 pontos, medidos pelo Ibope, o que equivale a 1 milhão e 300 mil espectadores todo sábado, só no Estado de São Paulo.


Para falar sobre seu trabalho, seus planos, mulheres e fãs (que muitas vezes o surpreendem, enviando bilhetinhos "com sacanagem e tudo mais"), o Faustão, como é chamado pelo seu público, recebeu o repórter Mário Chimanovitch, em seu elegante apartamento num flat service da região dos Jardins, em São Paulo. E, como não podia deixar de ser, não faltaram piadas e palavrões na conversa com Fausto, esse ex-repórter esportivo do jornal O Estado de S.Paulo e da rádio Excelsior de São Paulo, onde também fez sucesso com o seu programa Balancê.





1. Depois de dez meses na TV Bandeirantes, com mais recursos técnicos, o programa perdeu em improvisação? Ao contrário. Ele está mais bagunçado e anárquico, como o brasileiro gosta. É verdade que ganhou mais recursos técnicos, mas eles ajudam a dar mais descontração ainda ao programa. Aliás, a descontração é a minha obsessão. E embora todo mundo em TV tenha o vício de copiar a Globo — o que acontece também na Bandeirantes —, procuro evitar isso no meu programa.


2. No momento em que Perdidos na Noite desperta o interesse de grandes anunciantes, essa "avacalhação natural" não chega a ser um obstáculo? Só aceito fazer merchandising no estilo do programa. Meu contrato com a Bandeirantes estipula que posso recusar um cliente que não se adapte ao programa. E eu bolo os anúncios de acordo com o espírito do programa. Assim, não há como dar bolo.


3. Dá para recusar um grande patrocinador, se ele acha que não pega bem você falar pentelho, babaca no programa? Esse problema não existe. Já tive até algumas conversas com a Volks, que manifestou interesse em patrocinar o programa, e veja o que bolei em termos de merchandising: "Meu amigo, quantas vezes você não sai de casa e vê uma mulher bonita... Quando chega na hora "H", acontece como naquele carro: você abre o porta-luvas e tem um escapamento enrustido lá dentro... Assim como na vida você às vezes encontra um travesti, uma peça original é importante para você não ser enganado... Com peças originais Volks, amigo, não tem decepção. Você não come gato por lebre..." O pessoal da Volks adorou e aprovou integralmente a mensagem. Merchandising é um negócio muito sério.


4. Você está ganhando muito dinheiro com o programa? Já deu para comprar uma Mercedes? Estou ganhando uma nota razoável, mas, como diz o doutor Sócrates, ganho mais do que preciso e menos do que mereço. Não quero saber de Mercedes, não. Pra quê? Vou continuar com a minha Caravan, para não chamar muito a atenção da turma do Leão.


5. Você chegou a convidar candidatos a governador como atrações individuais? Por exemplo, o Maluf se apresentando ao piano; o Suplicy ensinando boxe; o Antônio Ermírio explicando como ganhar dinheiro; e o Gabeira dando aula de ikebana? Durante a campanha eleitoral, todos foram convidados. Nossa única exigência: não aceitaríamos perguntas formuladas pelas suas assessorias. Só queríamos que o cara subisse ao palco, desse o seu show, e depois o público faria perguntas. Todos pipocaram, com exceção do Suplicy.


6. Você recebe cartas de amor? Bilhetinho tem muito. Com sacanagem e tudo. Às vezes até me espanto. Sou do tempo em que dar uma rapidinha era tirar uma soneca depois do almoço; molhar o biscoito era enfiar a bolacha no café com leite; e trocar o óleo era substituir o lubrificante do cárter...


7. Mas você tem transado com muita gente? Não tenho do que me queixar. A verdade é que estou me transformando num novo símbolo sexual. O gordo, acredite, tem muito mais sensualidade que o magro. E a explicação é simples: quanto maior a área, maior o atrito, e também o prazer proporcionado.


8. A popularidade já começou a incomodá-lo? A única coisa que me enche o saco é tapa nas costas. Todo mundo gosta de dar tapa nas costas de gordo. Eu fico puto com isso.

9. E a censura continua atrapalhando, mesmo na Nova República? O meu programa é o mais censurado da televisão brasileira. Babaca, mala e pentelho são, no entender da Censura, órgãos sexuais. Eles não entendem que esses termos já estão incorporados ao linguajar popular. Agora, Coroa-Brastel, Sunaman, Brasilinvest, Comind etc. são palavrões liberados. Dizem que pinta baixaria no programa. Ora, baixaria foi o que o Maluf e o Antônio Ermírio fizeram na campanha.


10. O que você acha da Bruna. Lombardi, da Luíza Brunet e da Xuxa? Alguma delas seria o seu ideal de mulher? As três juntas são. Seria a maior suruba da minha vida! [Ri] Que que é isso?! Eu sou do tempo em que sexo grupal era aula de sexo no grupo escolar... A Luíza Brunet é o tesão nacional; a Bruna Lombardi é aquela mulher com quem todos nós temos vontade de casar; e a Xuxa... Bem, a Xuxa já viu a coisa preta, né? Olha, sem brincadeira, todas são mulheres sensacionais.


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