ESPELHO, ESPELHO MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS FODA QUE EU?
Tem história que mais parece roteiro de filme. Daqueles bem clichês mesmo, sabe? Com um toque de conto de fadas e uma magia digna de Walt Disney. Com altos, baixos, buracos, curvas, quedas e, sim, o tal final feliz. A história da nossa musa é bem assim, só que sem a parte clichê. Duvida? Então espera para ver!
Era uma vez uma mocinha que saiu do interior de Roraima e que foi descoberta por uma fada madrinha... Em um passe de mágica, passou de baby sitter a modelo internacional. Passou a chamar de casa a Big Apple, e da labuta de quem luta por um lugar ao sol, passou ao glamour de quem encontrou o seu. Foi descoberta como modelo. Hum, total clichê, não? Nesse caso, não.
O roteiro, quase ruim de tão óbvio, não é tão óbvio assim quando a gente acrescenta um pequeno grande detalhe à história: a personagem principal é gorda. Não gordinha, não fofinha, não curvilínea. Gorda. Gorda mesmo, e com muito orgulho. Gorda e responsável pela ascensão do mercado plus size no Brasil. Gorda, modelo internacional, agenciada por uma das maiores agências internacionais do planeta. Gorda que estampa revista de alta-costura e ensaio e capa especial da PLAYBOY. Gorda, maravilhosa e referência. A primeira mulher que representou a mulher gorda como um exemplo de sucesso, de beleza, de talento, de vitória.
Fluvia Lacerda é essa mulher. E gorda é apenas uma das tantas características dessa roraimense de 34 anos, cheia de atitude, de personalidade, de beleza e de autoestima. Cheia de camadas, Fluvia continua revelando a sua personalidade marcante, seu feeling fortíssimo. É tinhosa, opinada. Sabe bem o que quer e o que não quer!
Numa sessão fotográfica, não tem medo (muito menos vergonha) de reagir com graça se percebe algum desconforto alheio em relação ao seu corpo. Já chegou a dizer para mim mesma, que já dirigi um de seus ensaios: “Sabe por que você está tão nervosa? Por que você não está acostumada com um corpo gordo”. Porrada!
Assim, sem cerimônias e, ironicamente, sem ensaio, Fluvia se revela tal e como é – muito mais que uma modelo plus size. Uma princesa moderna, que não teve um conto de fadas assim tão perfeito e, no meio do caminho, perdeu seu príncipe. Uma princesa que sabe o que é sacudir a poeira e dar a volta por cima. Uma princesa que, antes de mais nada, é embaixadora do movimento #bodypositive no Brasil, empoderando mulheres gordas que, até pouco tempo atrás, não se sentiam ou se viam representadas.
Fluvia é uma potência e, mais que sair poderosíssima em fotos clicadas em cenários paradisíacos, deseja seguir em frente nessa luta por igualdade, afirmando e reafirmando, das diversas formas possíveis, que todos os corpos são lindos. A boa notícia é que o caminho já foi parcialmente percorrido. Já tem muito gordo que passou a se ver como parte do baile. E já tem muita gente que decidiu inverter o curso do caminho até a perfeição. Ao invés da perfeição vir de fora para dentro, ela passou a ir de dentro pra fora. O caminho passou a ser mais acidentado, com curvas, protuberâncias e buraquinhos, e o destino final não é perfeição, mas a autenticidade.
A trilha do baile é sem pressão, cheia de liberdade, de possibilidade, de diversidade. E é direito e dever de todos dançar se sentindo confortável, na própria pele, definitivamente, sem culpa. Nesse conto de fadas, a meia-noite não tem badaladas que te revelam. Aqui você é o que você é. O caminho é árduo, mas a vista é maravilhosa, e inclui gordo em capa de revista, na tela do cinema, no topo das paradas, nas passarelas internacionais e, sim, na PLAYBOY. Espelho, espelho meu, existe alguém mais foda que eu? Essa é Fluvia, em sua essência, como muitas mulheres gostariam de se ver.
SYLVIA SENDACZ
FOTOS RENATO G. PEDRO
ARTE GIAN LUCCA AMOROSO PRODUÇÃO ISABELA FROSSARD, DENYSSON AMORIM E ALESSANDRA RUSSO TRATAMENTO DE IMAGEM NELSON EUFRACIO
Flúvia Lacerda foi ótima nas fotos. A melhor foto de Flúvia foi a 14a., em que ela toma banho de cachoeira de costas. Eu amo a bunda feminina.