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HUGH HEFNER | MARÇO, 2000

Playboy Entrevista


Uma conversa franca com o inventor de PLAYBOY

sobre as maravilhas do Viagra, as virtudes da cama grande

e as vantagens de ter três namoradas.


O Playboy! O solteiro número 1 está de volta! Na América pós-feminista e reconciliada com os prazeres da vida, ele — e seu arsenal de diversão e beldades — está na moda, no topo, no auge. As listas dos convidados para suas festas espetaculares têm recheado a imaginação dos homens e as colunas sociais, pródigas em nomes sobre nomes — Leonardo DiCaprio, Gwyneth Paltrow, Ben Affleck, Jim Carrey, George Clooney, Jack Nicholson, Steve Martin, Cameron Diaz, Courtney Love, Drew Carey, Pamela Anderson Lee, Liam Neeson, Kevin Costner, jennifer Lopez e assim por diante. Novamente ele tem sido visto nos locais de divertimento, de volta à liberdade — em Los Angeles, Paris, Cannes, Londres.

O ano que passou foi o ano do Coelho no horóscopo chinês, mas foi, também, o ano de Hugh Marston Hefner e seu triunfante retorno à luz dos refletores. O ano 2.000 é o melhor momento para que a entrevista de PLAYBOY — um fórum que é marco jornalístico criado por ele mesmo — se volte para o homem que ajudou a mudar o mundo vestindo pijamas de seda. A primeira e única vez em que ele se submeteu a esse exercício foi há 26 anos, no 20º aniversário de PLAYBOY. Portanto, hora perfeita para atualizar e esclarecer alguns tópicos. Para entrevistar nosso editor-chefe, o escritor Bill Zehme esteve na abençoada Shangrilá, como é chamada a mansão PLAYBOY Oeste, em Hollywood: "Ele crio a revista e, como resultado, o século foi modificado para sempre. Ele se tornou — como a Esquire evidenciou não faz muito tempo — 'o mais famoso editor de revistas da história do mundo'. Mas ele é mais do que isso. É um símbolo cultural que também representa o homem que fez o que a maioria dos outros homens ansiaram fazer". Com a criação de PLAYBOY, em dezembro de 1953, também estreou a invenção que era o próprio Hugh M. Hefner. Ou a reinvenção dele mesmo. "A revista, sem dúvida, é a projeção da minha personalidade, dos meus sonhos e das aspirações de adolescência", disse ele. Hefner chegou quando a revista chegou e ambos eram iconoclastas que surgiram para dar sentido a um mundo que recuava diante do sexo, do prazer e da falta de inibição. Em pouco tempo, desvendou mistérios sombrios da sexualidade humana, celebrou-os e disse que não havia nada ilícito nisso.


Um garoto comum de Chicago, nascido de pais bondosos e reprimidos, Glenn e Grace, bons metodistas e orgulhosos disso. A sua seria una genuína história americana — e grande também. Dela surgiu um império do qual brotariam, sem nenhuma ordem específica, clubes noturnos, hotéis, cas­sinos e resorts, mulheres vestidas como coelhinhas e mulheres sem roupa ne­nhuma, várias publicações, um selo de livro, mercadorias com a marra da cabeça de coelho e programas de TV, produções cinematográficas, canais de televisão a cabo, marketing de vídeo e operações lucrativas na Bolsa de Valo­res, um site na Web, um jato preto particular chamado O Grande Coelho, as mansões e, mais do que tudo, uma boa vida, sempre uma boa vida.


E tudo o que ele teve que investir para realizar o seu sonho foram 600 preciosos dólares e uns poucos milhares a mais levantados com a ajuda de amigos. Houve mulheres — muitas mulheres, mais de 1.000 mulheres. Houve trabalho e festas intermináveis, com o equilíbrio que somente ele conse­guia. Só não conseguiu manter seu primeiro e precoce casamento com Mil­dred Williams, que produziu um filho, David, que seguiu seus próprios sonhos, e uma filha, Christie, que se tor­nou a presidente-executiva da multifa­cetada empresa do pai. Ele enfrentou tragédias variadas e triunfos. Mesmo um pequeno derrame causado por stress, do qual se recuperou quase ins­tantaneamente. Tudo na rotina que é a vida de um elegante mercador de so­nhos renegado. Encontrou sua play­mate para a vida toda em Kimberley Conrad, com quem se casou em 1º de julho de 1989. Eles tiveram dois filhos — Marston, hoje com 9 anos, e Coo­per, com 8. E, com a separação dos Hefner, veio o ressurgimento de Hugh Hefner; cuja ausência foi sentida por quase dez anos. Depois disso, desco­briu o Viagra, e as festas voltaram, elas que nunca tinham cessado, por­que ele não pára nunca, porque preci­sa badalar para sempre.


Nesta entrevista vamos explorar no­vamente seus sonhos particulares, que agora incluem um triunvirato de namoradas sem precedentes, as gêmeas Mandy e Sandy Bentley e Brande Ro­derick, e avaliar sua opinião sobre uma sociedade que, finalmente, cedeu diante de sua maneira de pensar.


PLAYBOY — Vamos começar com algo que todos nós gostaríamos de saber e somente você pode nos dizer: como é ser Hugh Hefner?

HEFNER — De quanto tempo você dispõe? Realmente, não pode haver nada melhor. Sei que estou vivendo as fantasias de muitos caras, mas estou vivendo minhas próprias fantasias também.


PLAYBOY — Então sua vida é tão boa quanto parece?

HEFNER — Melhor. Porque sonhei sonhos impossíveis e realizei todos eles. A maioria, pelo menos.

PLAYBOY — O que ficou faltando?


HEFNER — Não muita coisa.


PLAYBOY — Vamos ser mais específicos. Você está, segundo as últimas informações, apaixonado por três mulheres que se dão muito bem entre si. Duas delas são gêmeas e todas frequentam seu quarto ao mesmo tempo. Você está com 73 anos. Pode imaginar que os homens no mundo todo estão desesperados para saber dos detalhes.


HEFNER — Eu compreendo. Porque, mais uma vez, me encontro no meio de uma fantasia masculina universal. A vida é boa multiplicada por três. E às vezes por quatro. As gêmeas têm uma amiga que costuma nos visitar.


PLAYBOY — E como isso funciona? O que acontece de verdade dentro daquele quarto?

HEFNER — [Risadas.] Beijos e abraços.

PLAYBOY — Ora! Você não precisa ser eufemístico na sua própria revista. Vá em frente e parta nosso coração. O que você realmente faz naquele quarto?


HEFNER — Amor com as namoradas, no plural. E grato a Deus pelo Viagra.


PLAYBOY — A Time falou sobre elas — Mandy, Sandy e Brande — como sua namorada, no singular.

HEFNER — É isso que elas realmente são. [Faz uma pausa.] É difícil explicar, mas maravilhoso. E o que torna as coisas especiais é a maneira como as garotas se relacionam umas com as outras. Elas não têm ciúmes. São, de fato, boas amigas. Apóiam e protegem umas às outras e a mim. Eu nunca poderia ter imaginado que uma coisa dessas pudesse acontecer — nem mesmo nos meus mais loucos sonhos.

PLAYBOY — Considerando os seus sonhos, isso quer dizer muita coisa.


HEFNER — É verdade. Certamente, na década de 70, devo ter dormido com duas, três ou até quatro garotas ao mesmo tempo, mas agora é muito diferente. É uma relação séria, continuada. E parecemos estar nos dando melhor do que em um caso monogâmico normal. Não há muitos dias ruins. Se um de nós está meio deprimido, os outros se unem para animá-lo. É um dos melhores relacionamentos que já tive, por mais anticonvencional que seja.


PLAYBOY — Antes do seu derrame, em 1985, você disse que tinha concluído que buscar sexo com várias parceiras era "meio sem sentido e patético". Obviamente, seu ponto de vista mudou.


HEFNER — [Risos.] É preciso manter a mente aberta para assuntos como este. Mas naquela época eu me referia a ir de uma garota para outra. Isso fez parte do início da minha vida e, durante um breve período, depois que meu casamento terminou, antes de eu conhecer Brande e as gêmeas. Agora estou comprometido com essas garotas e não ando mais transando por aí.


PLAYBOY — Como você as conheceu?


HEFNER — Conheci as gêmeas no Garden of Eden, um dos meus clubes notunfos favoritos em Hollywood. Foi um dos primeiros que visitei quando meu casamento estava se desintegrando e eu comecei a sair de novo. Sandy e Mandy são universitárias de Joliet, Illinois. Sandy estuda em um curso pré-médico. Encontrei Brande um mês antes em um clube chamado Opium Den. Ela é uma aspirante a atriz. E nos demos bem imediatamente.

PLAYBOY — Quando vocês estão fazendo amor, pinta algum ciúme sobre o quanto, digamos, de atenção você dá a uma garota em detrimento das outras?

HEFNER — Exatamente o contrário. Há ocasiões em que uma das garotas diz: "Não se esqueça de fazer tal e tal coisa". Minha cama é uma democracia. Um por todas e todas por mim.

PLAYBOY — Você troca nomes e rostos?


HEFNER — Depende do que estivermos fazendo [sorri malicioso]. Geralmente consigo distinguir uma gêmea da outra, mas quando me confundo elas acham engraçadíssimo.

PLAYBOY — Para aqueles de nós que ainda estão confusos ou espantados com tudo isso, descreva uma típica noite entre tão bons amigos.

HEFNER — Todos nós gostamos de dançar, por isso frequentamos clubes noturnos. Mas ultimamente temos passado mais noites em casa do que na cidade. Pulamos na cama — felizmente minha cama é grande o suficiente para que possamos fazer isso — e vemos um filme, assistimos televisão, fazemos um piquenique, fazemos amor. As noites são plenas de amor e boas risadas.


PLAYBOY — Há discussões sobre quem comanda o controle remoto?

HEFNER — Não. Nossa série de TV favorita é Sex and the City [que no Brasil é exibida pela HBO] — que outra seria? Quanto aos filmes, Sandy e Mandy adoram os clássicos da Disney e Brande curte filmes de terror.

PLAYBOY — Recentemente vocês comemoraram seu primeiro aniversário juntos. Fizeram alguma coisa especial?


HEFNER — Levei-as à Disneylândia. As gêmeas nunca tinham ido e adoraram. Também voltamos ao Garden of Eden, onde nos conhecemos.

PLAYBOY — Quem mais repara na diferença de idade, você ou elas?


HEFNER — Brande diz: "A idade é apenas um número", e ela está certa. Mas, de certa forma, isso é mais significativo para mim. As garotas me mantêm jovem. Vejo a vida com mais frescor através dos jovens olhos delas.


PLAYBOY — Falemos sobre o Viagra?


HEFNER — Ficaria surpreso se você não o fizesse.


PLAYBOY — O que exatamente o Viagra faz por você?

HEFNER — Foi feito sob encomenda para um cara com três namoradas. É promovido pela Pfizer como um medicamento contra impotência, mas é muito mais do que isso. Ele tira a insegurança em relação ao desempenho. Lhe dá mais lenha e você pode continuar o tempo que quiser com quantas parceiras quiser. Redefine as fronteiras entre a fantasia e a realidade. Creio que o Viagra é a melhor droga recreativa legal dos Estados Unidos.

PLAYBOY — Você tem compartilhado seu segredo com Sandy, Mandy e Brande?

HEFNER — É claro. Elas insistiram. Já fizemos algumas festas de Viagra. Na teoria, deveria funcionar para as mulheres assim como funciona para os homens, mas, até agora, os resultados são inconclusivos. [Risos.] Acho que temos que pesquisar mais.

PLAYBOY — A maconha não era sua droga preferida para o quarto?


HEFNER — Bem, nunca fui fã de cocaína nem de drogas mais pesadas. O ecstasy, a chamada droga do sexo, é, na verdade, uma anfetamina. É uma coisa com a qual não quero me envolver. Nos primeiros anos da revista, na década de 60, usei muita Dexedrina, que me ajudou a me concentrar para escrever A Filosofia da PLAYBOY, editar a revista e construir o império. Conseguia trabalhar 24 horas durante dois, três dias seguidos. Mas, francamente, no terceiro dia as coisas começavam a ficar incoerentes e eu sabia que estava na hora de desabar. Mas, quando não conseguia mais trabalhar, a droga ainda era boa para o sexo porque me permitia continuar e continuar.

PLAYBOY — E... continuar. Assim, que parte do corpo ficava mais dolorida pela manhã?

HEFNER — Próxima pergunta.


PLAYBOY — Sério. Pelo bem dos aventureiros sexuais de todo o mundo.


HEFNER — Eu tenho problemas na parte mais baixa das costas, causados exatamente pelo que vocês estão pensando. Começou no final dos anos 70, quando eu me divertia durante muito tempo e muito intensamente com até quatro playmates. No meio da farra, minhas costas se manifestavam — mas a diversão continuava, como deveria. Mas, quando tentava me levantar na manhã seguinte, não conseguia nem caminhar [risadas]. É claro que problemas nas costas são um incômodo comum que vêm com a idade. Adquiri os meus na batalha, por assim dizer. E uso essas medalhas com orgulho.


PLAYBOY — Você esteve fora do cenário por dez anos, enquanto esteve casado. Estava preparado para essa reação toda com seu retorno?

HEFNER — Foi totalmente inesperado. A Playboy Entertainment Division promoveu uma festa de pijama no Garden of Eden, logo depois que Kimberley e eu nos separamos. O local estava cheio de playmates e eu recebi atenções que não esperava. Imagens de garotas com pouquíssima roupa sentadas no meu colo apareceram na televisão e em jornais de todo o mundo. Foi a primeira indicação de que o paraíso podia ser revisitado. Uma pré-estréia das atrações que ainda viriam.

PLAYBOY — É como se você tivesse voltado exatamente quando era mais necessário.

HEFNER — O momento certo é tudo. Se tivesse voltado alguns anos antes, teria encontrado uma reação muito diferente. O que encontrei foi um mundo retrô, pós-feminista, no qual os jovens estão prontos para se divertir de novo. Acho que é uma reação ao conservadorismo dos anos 80 e início dos 90.


PLAYBOY — Os astros também estão pagando seu tributo, convergindo para as festas da mansão PLAYBOY e se aproximando de você quando sai à noite para os clubes. O que exatamente eles lhe dizem?

HEFNER — Acho que a maioria das celebridades sente-se como se já conhecessem você e vice-versa. Recebo hoje o mesmo tipo de comentário que recebi há muito tempo, vindo de Gene Kelly. A primeira vez que ele veio à mansão, disse: "Finalmente". Em uma festa pré-Oscar, não faz muito tempo, fui apresentado a Bob Dylan e seu primeiro comentário foi: "Meu herói". Quando conheci Madonna, na mesma festa, a primeira coisa que ela disse foi: "Quando é que você vai me convidar para uma de suas festas"? Eu respondi: "Você já está convidada".

PLAYBOY — Por que você acha que as festas da mansão PLAYBOY são as mais quentes de Hollywood?

HEFNER — Eu promovo festas fantásticas! Acredite-me, digo isso sem preconceito. São as melhores da cidade. Mas é mais do que isso. A mansão PLAYBOY tem uma mística por causa das lendárias festas do passado. Uma geração inteira de jovens cresceu ouvindo falar das festas que perderam. Posso entender isso porque fui criado durante a Depressão e tinha fantasias sobre as festas Great Gatsby dos exuberantes anos 20 que perdi. A primeira vez que Leonardo DiCaprio veio a uma festa na mansão PLAYBOY, me disse: "Minha fantasia é estar no Grotto [uma espécie de gruta artificial com piscinas dentro da mansão] às 3 horas da manhã". George Clooney falou: "Agora que estou aqui, nunca mais quero ir embora". Acho que essas fantasias são universais. As das celebridades são exatamente iguais às do resto de nós.

PLAYBOY — Parte da mística da mansão PLAYBOY é a permissividade. Já vimos pessoas ficarem nuas na piscina externa e no Grotto, coisa que nem pensariam em fazer em outro lugar.


PLAYBOY — Vamos começar com algo que todos nós gostaríamos de saber e somente você pode nos dizer: como é ser Hugh Hefner?

HEFNER — De quanto tempo você dispõe? Realmente, não pode haver nada melhor. Sei que estou vivendo as fantasias de muitos caras, mas estou vivendo minhas próprias fantasias também.


PLAYBOY — Então sua vida é tão boa quanto parece?

HEFNER — Melhor. Porque sonhei sonhos impossíveis e realizei todos eles. A maioria, pelo menos.

PLAYBOY — O que ficou faltando?


HEFNER — Não muita coisa.


PLAYBOY — Vamos ser mais específicos. Você está, segundo as últimas informações, apaixonado por três mulheres que se dão muito bem entre si. Duas delas são gêmeas e todas frequentam seu quarto ao mesmo tempo. Você está com 73 anos. Pode imaginar que os homens no mundo todo estão desesperados para saber dos detalhes.


HEFNER — Eu compreendo. Porque, mais uma vez, me encontro no meio de uma fantasia masculina universal. A vida é boa multiplicada por três. E às vezes por quatro. As gêmeas têm uma amiga que costuma nos visitar.


PLAYBOY — E como isso funciona? O que acontece de verdade dentro daquele quarto?

HEFNER — [Risadas.] Beijos e abraços.

PLAYBOY — Ora! Você não precisa ser eufemístico na sua própria revista. Vá em frente e parta nosso coração. O que você realmente faz naquele quarto?


HEFNER — Amor com as namoradas, no plural. E grato a Deus pelo Viagra.


PLAYBOY — A Time falou sobre elas — Mandy, Sandy e Brande — como sua namorada, no singular.

HEFNER — É isso que elas realmente são. [Faz uma pausa.] É difícil explicar, mas maravilhoso. E o que torna as coisas especiais é a maneira como as garotas se relacionam umas com as outras. Elas não têm ciúmes. São, de fato, boas amigas. Apóiam e protegem umas às outras e a mim. Eu nunca poderia ter imaginado que uma coisa dessas pudesse acontecer — nem mesmo nos meus mais loucos sonhos.

PLAYBOY — Considerando os seus sonhos, isso quer dizer muita coisa.


HEFNER — É verdade. Certamente, na década de 70, devo ter dormido com duas, três ou até quatro garotas ao mesmo tempo, mas agora é muito diferente. É uma relação séria, continuada. E parecemos estar nos dando melhor do que em um caso monogâmico normal. Não há muitos dias ruins. Se um de nós está meio deprimido, os outros se unem para animá-lo. É um dos melhores relacionamentos que já tive, por mais anticonvencional que seja.


PLAYBOY — Antes do seu derrame, em 1985, você disse que tinha concluído que buscar sexo com várias parceiras era "meio sem sentido e patético". Obviamente, seu ponto de vista mudou.


HEFNER — [Risos.] É preciso manter a mente aberta para assuntos como este. Mas naquela época eu me referia a ir de uma garota para outra. Isso fez parte do início da minha vida e, durante um breve período, depois que meu casamento terminou, antes de eu conhecer Brande e as gêmeas. Agora estou comprometido com essas garotas e não ando mais transando por aí.


PLAYBOY — Como você as conheceu?


HEFNER — Conheci as gêmeas no Garden of Eden, um dos meus clubes noturnos favoritos em Hollywood. Foi um dos primeiros que visitei quando meu casamento estava se desintegrando e eu comecei a sair de novo. Sandy e Mandy são universitárias de Joliet, Illinois. Sandy estuda em um curso pré-médico. Encontrei Brande um mês antes em um clube chamado Opium Den. Ela é uma aspirante a atriz. E nos demos bem imediatamente.

PLAYBOY — Quando vocês estão fazendo amor, pinta algum ciúme sobre o quanto, digamos, de atenção você dá a uma garota em detrimento das outras?

HEFNER — Exatamente o contrário. Há ocasiões em que uma das garotas diz: "Não se esqueça de fazer tal e tal coisa". Minha cama é uma democracia. Um por todas e todas por mim.

PLAYBOY — Você troca nomes e rostos?


HEFNER — Depende do que estivermos fazendo [sorri malicioso]. Geralmente consigo distinguir uma gêmea da outra, mas quando me confundo elas acham engraçadíssimo.

PLAYBOY — Para aqueles de nós que ainda estão confusos ou espantados com tudo isso, descreva uma típica noite entre tão bons amigos.

HEFNER — Todos nós gostamos de dançar, por isso frequentamos clubes noturnos. Mas ultimamente temos passado mais noites em casa do que na cidade. Pulamos na cama — felizmente minha cama é grande o suficiente para que possamos fazer isso — e vemos um filme, assistimos televisão, fazemos um piquenique, fazemos amor. As noites são plenas de amor e boas risadas.


PLAYBOY — Há discussões sobre quem comanda o controle remoto?

HEFNER — Não. Nossa série de TV favorita é Sex and the City [que no Brasil é exibida pela HBO] — que outra seria? Quanto aos filmes, Sandy e Mandy adoram os clássicos da Disney e Brande curte filmes de terror.

PLAYBOY — Recentemente vocês comemoraram seu primeiro aniversário juntos. Fizeram alguma coisa especial?


HEFNER — Levei-as à Disneylândia. As gêmeas nunca tinham ido e adoraram. Também voltamos ao Garden of Eden, onde nos conhecemos.

PLAYBOY — Quem mais repara na diferença de idade, você ou elas?


HEFNER — Brande diz: "A idade é apenas um número", e ela está certa. Mas, de certa forma, isso é mais significativo para mim. As garotas me mantêm jovem. Vejo a vida com mais frescor através dos jovens olhos delas.


PLAYBOY — Falemos sobre o Viagra?


HEFNER — Ficaria surpreso se você não o fizesse.


PLAYBOY — O que exatamente o Viagra faz por você?

HEFNER — Foi feito sob encomenda para um cara com três namoradas. É promovido pela Pfizer como um medicamento contra impotência, mas é muito mais do que isso. Ele tira a insegurança em relação ao desempenho. Lhe dá mais lenha e você pode continuar o tempo que quiser com quantas parceiras quiser. Redefine as fronteiras entre a fantasia e a realidade. Creio que o Viagra é a melhor droga recreativa legal dos Estados Unidos.

PLAYBOY — Você tem compartilhado seu segredo com Sandy, Mandy e Brande?

HEFNER — É claro. Elas insistiram. Já fizemos algumas festas de Viagra. Na teoria, deveria funcionar para as mulheres assim como funciona para os homens, mas, até agora, os resultados são inconclusivos. [Risos.] Acho que temos que pesquisar mais.

PLAYBOY — A maconha não era sua droga preferida para o quarto?


HEFNER — Bem, nunca fui fã de cocaína nem de drogas mais pesadas. O ecstasy, a chamada droga do sexo, é, na verdade, uma anfetamina. É uma coisa com a qual não quero me envolver. Nos primeiros anos da revista, na década de 60, usei muita Dexedrina, que me ajudou a me concentrar para escrever A Filosofia da PLAYBOY, editar a revista e construir o império. Conseguia trabalhar 24 horas durante dois, três dias seguidos. Mas, francamente, no terceiro dia as coisas começavam a ficar incoerentes e eu sabia que estava na hora de desabar. Mas, quando não conseguia mais trabalhar, a droga ainda era boa para o sexo porque me permitia continuar e continuar.

PLAYBOY — E... continuar. Assim, que parte do corpo ficava mais dolorida pela manhã?

HEFNER — Próxima pergunta.


PLAYBOY — Sério. Pelo bem dos aventureiros sexuais de todo o mundo.


HEFNER — Eu tenho problemas na parte mais baixa das costas, causados exatamente pelo que vocês estão pensando. Começou no final dos anos 70, quando eu me divertia durante muito tempo e muito intensamente com até quatro playmates. No meio da farra, minhas costas se manifestavam — mas a diversão continuava, como deveria. Mas, quando tentava me levantar na manhã seguinte, não conseguia nem caminhar [risadas]. É claro que problemas nas costas são um incômodo comum que vêm com a idade. Adquiri os meus na batalha, por assim dizer. E uso essas medalhas com orgulho.


PLAYBOY — Você esteve fora do cenário por dez anos, enquanto esteve casado. Estava preparado para essa reação toda com seu retorno?

HEFNER — Foi totalmente inesperado. A Playboy Entertainment Division promoveu uma festa de pijama no Garden of Eden, logo depois que Kimberley e eu nos separamos. O local estava cheio de playmates e eu recebi atenções que não esperava. Imagens de garotas com pouquíssima roupa sentadas no meu colo apareceram na televisão e em jornais de todo o mundo. Foi a primeira indicação de que o paraíso podia ser revisitado. Uma pré-estréia das atrações que ainda viriam.

PLAYBOY — É como se você tivesse voltado exatamente quando era mais necessário.

HEFNER — O momento certo é tudo. Se tivesse voltado alguns anos antes, teria encontrado uma reação muito diferente. O que encontrei foi um mundo retrô, pós-feminista, no qual os jovens estão prontos para se divertir de novo. Acho que é uma reação ao conservadorismo dos anos 80 e início dos 90.


PLAYBOY — Os astros também estão pagando seu tributo, convergindo para as festas da mansão PLAYBOY e se aproximando de você quando sai à noite para os clubes. O que exatamente eles lhe dizem?

HEFNER — Acho que a maioria das celebridades sente-se como se já conhecessem você e vice-versa. Recebo hoje o mesmo tipo de comentário que recebi há muito tempo, vindo de Gene Kelly. A primeira vez que ele veio à mansão, disse: "Finalmente". Em uma festa pré-Oscar, não faz muito tempo, fui apresentado a Bob Dylan e seu primeiro comentário foi: "Meu herói". Quando conheci Madonna, na mesma festa, a primeira coisa que ela disse foi: "Quando é que você vai me convidar para uma de suas festas"? Eu respondi: "Você já está convidada".

PLAYBOY — Por que você acha que as festas da mansão PLAYBOY são as mais quentes de Hollywood?

HEFNER — Eu promovo festas fantásticas! Acredite-me, digo isso sem preconceito. São as melhores da cidade. Mas é mais do que isso. A mansão PLAYBOY tem uma mística por causa das lendárias festas do passado. Uma geração inteira de jovens cresceu ouvindo falar das festas que perderam. Posso entender isso porque fui criado durante a Depressão e tinha fantasias sobre as festas Great Gatsby dos exuberantes anos 20 que perdi. A primeira vez que Leonardo DiCaprio veio a uma festa na mansão PLAYBOY, me disse: "Minha fantasia é estar no Grotto [uma espécie de gruta artificial com piscinas dentro da mansão] às 3 horas da manhã". George Clooney falou: "Agora que estou aqui, nunca mais quero ir embora". Acho que essas fantasias são universais. As das celebridades são exatamente iguais às do resto de nós.

PLAYBOY — Parte da mística da mansão PLAYBOY é a permissividade. Já vimos pessoas ficarem nuas na piscina externa e no Grotto, coisa que nem pensariam em fazer em outro lugar.


PLAYBOY — Dentro do espírito desta retrospectiva do milênio, que tal compartilhar alguns de seus momentos sexuais que deixaram boas lembranças?


HEFNER — Não estou certo de quanto estou preparado para compartilhar com você ou com nossos leitores. Mas, seja lá o que você imaginar que tenha sido, foi muito melhor. Mais amor e mais risadas. Mais aventuras sexuais inacreditáveis e mais amores e amizades duradouras também.

PLAYBOY — Por favor, diga-nos alguma coisa. Nossa mente curiosa realmente quer saber.

HEFNER — Em um aniversário, puseram dezoito garotas nuas para mim no Grotto, como presente.


PLAYBOY — Você costumava gravar em vídeo suas travessuras sexuais. Ainda assiste aos seus favoritos do passado?


HEFNER — Não mais. Livrei-me deles na década de 80. Anteriormente, em uma casa cheia de equipamentos, gravei muitas aventuras sexuais, mas somente com o conhecimento e a aprovação das participantes.

PLAYBOY — Você destruiu importantes registros históricos que transformam as fitas do caso Nixon em algo insignificante. Por quê?

HEFNER — Achei que estava na hora. Uma garota com quem estava saindo tentou pegar um deles e eu não queria que caíssem em mãos erradas. Algumas das mulheres que estavam nas fitas estavam casadas e com filhos, então achei que era tempo de me livrar delas.

PLAYBOY — Como?

HEFNER — Eu as afoguei, jogando-as no mar.

PLAYBOY — Onde?

HEFNER — Não sei o lugar. Lamento. As fitas se foram, mas as lembranças permaneceram.

PLAYBOY — Qual foi sua reação ao vídeo caseiro de sexo de Pamela Anderson e Tommy Lee [gravado por eles durante a lua-de-mel]?

HEFNER — Esse é um exemplo clássico de como a privacidade pessoal praticamente desapareceu da nossa sociedade. O tribunal não foi muito solidário, embora a fita tenha sido furtada da casa deles, o que sugere que as celebridades não têm direito a nenhuma privacidade. Não faz sentido. Será que o juiz estava punindo os dois porque não aprova a vida pessoal deles? Não tenho a menor ideia. Acredito que tenha sido uma má decisão. De qualquer modo, a fita de vídeo deles fazendo sexo não teve mais efeito sobre a carreira dela do que as fotos de Marilyn Monroe nua para o calendário tiveram nos anos 50. Isso nos mostra como avançamos na última metade do século.


PLAYBOY — Você teve uma experiência parecida em 1998, quando Larry Flynt publicou fotos explícitas suas com uma ex-namorada na cama redonda de Chicago.

HEFNER — Essas fotos foram tiradas há 25 anos, com uma câmera Polaroid. Foram furtadas da mansão de Chicago e eu nem sabia que estavam extraviadas até que Larry Flynt telefonou-me para dizer que estavam com ele. Em um gesto de boa vontade, convidei-o para vir à mansão PLAYBOY Oeste. Ele veio e me deu as fotos. Obviamente, tinha feito cópias e, 25 anos mais tarde, publicou-as. A ex-namorada está agora casada e com filhos adolescentes. Assim, ele teve que enfrentar graves ações judiciais por essa atitude.

PLAYBOY — Você uma vez admitiu que algumas de suas sessões de swing nos anos 70 e 80 incluíram bissexualidade. Por que resolveu falar sobre isso?


HEFNER — Estava tentando questionar alguns dos preconceitos relacionados com a sexualidade. As distinções que fazemos entre o que é um comportamento aceitável e um inaceitável são tão ardilosas. Esses tabus sociais têm muito pouco a ver com a verdadeira natureza do homem. Todos os meus sonhos são heterossexuais. O fato de eu estar disposto a experimentar as variações sobre o tema como parte de uma sessão de swing com múltiplos parceiros é apenas uma confirmação de que acho esses tabus uma droga.


PLAYBOY — Você acha que esses tabus estão desaparecendo?

HEFNER — Sim, acho. Depois do conservadorismo político dos anos 80 e da histeria provocada pela Aids, acho que os tabus mais irracionais estão começando a desaparecer. Acho que as pessoas estão mais abertas à experimentação e mais tolerantes em relação ao ponto de vista dos outros. A reação da população ao caso Clinton-Monica Lewinsky foi uma revelação. Os americanos provaram que são muito menos pudicos e puritanos do que os políticos de direita e os ex-membros da Moral Majority nos fizeram acreditar que fossem.

PLAYBOY — Como você resumiria o caso Clinton-Monica Lewinsky.


HEFNER — Muito barulho por nada. Eu só desejaria que ele tivesse mais bom gosto. Mas foi um caso perfeitamente apropriado e não era da conta de ninguém, a não ser dela e de Clinton. Tinha tudo a ver com as responsabilidades dele com a família e não com sua responsabilidade com o país.


PLAYBOY — Mas ele mentiu para todo o país.

HEFNER — Não era da nossa conta. Não tenho problemas com casos no escritório. A ideia de que eles são por definição destinados a obter vantagens simplesmente não é verdadeira. Só se a relação envolver abuso de poder. Mas é nos escritórios que você encontra membros do sexo oposto. E envolve-se emocionalmente. Por que não? Uma das coisas tristes que acontecem quando você termina a escola é que não tem mais aquele tipo de ambiente natural onde pode conhecer pessoas — não há mais comunidade de pessoas com interesses em comum. Um dos poucos lugares onde pode encontrar pessoas com interesses afins é no escritório. E não importa se é um escritório em Dês Moines ou a Casa Branca, em Washington D.C.

PLAYBOY — Sei que os Beatles visitaram a mansão e que, segundo a lenda, John Lennon apagou um cigarro em um Matisse no Grande Salão. Isso é verdade?

HEFNER — Ele esteve lá. Eu estava jogando gamão na biblioteca, por isso não vi o acontecimento. Parece que um dos meus amigos achou que as atitudes dele eram inapropriadas e ficou muito aborrecido. Houve uma grande troca de insultos.

PLAYBOY — Ele estragou o quadro?


HEFNER — Provavelmente tornou-o mais valioso: Matisse reinterpretado por Lennon [risos].

PLAYBOY — Sinatra, Elvis, os Beatles — esse desfile de pessoas lendárias nos conduz a Marilyn Monroe, sua primeira playmate. Por que você e ela nunca se encontraram?

HEFNER — Se ela tivesse vivido mais tempo, certamente teríamos nos encontrado. Mas eu passava muito pouco tempo na Califórnia nos anos 50 e ela nunca ficou um tempo em Chicago. Mas o aparecimento dela no primeiro número da revista nos vinculará para sempre aos olhos das pessoas.

PLAYBOY — Há alguma atriz da atualidade que possua o apelo sexual de Marilyn?

HEFNER — Pamela Anderson é a Marilyn dos anos 90. É a mais famosa loura do planeta. Mas não tem a presença na tela nem a vulnerabilidade de Marilyn. Ninguém se compara a Marilyn. Isso em parte é porque o sistema do estúdio não existe mais. Eles costumavam criar as estrelas do sexo. Agora, as estrelas do sexo são na maioria super-modelos e as garotas das fotos centrais. Tenho orgulho em dizer que muitas das maiores estrelas do sexo apareceram na PLAYBOY e que a revista teve um papel importante na carreira delas. De Marilyn Monroe, Jayne Mansfield e Brigitte Bardot, Ursula Andress, Raquel Welch e Farrah Fawcet a Bo Derek, Cindy Crawford, Pamela Anderson, Kim Basinger e Sharon Stone — todas elas estiveram na revista. Em entrevistas, Pamela, Kim Basinger e Sharon Stone ainda falam no papel que a PLABOY desempenhou no lançamento da carreira de cada uma.

PLAYBOY — O contraste entre Marilyn Monroe e Pamela Anderson é um reflexo das diferenças entre as garotas das páginas centrais mais naturais dos anos 50 e as playmates cirurgicamente aperfeiçoadas de hoje. Pamela disse uma vez que, se ficasse muito perto de um radiador, derreteria. Agora ela mandou remover os implantes e diz que isso a fez se sentir mais sexy. Qual sua opinião sobre implantes nos seios e qual a sua preferência pessoal?


HEFNER — Prefiro seios naturais, mas não tenho problemas com implantes nos seios. E como qualquer outra forma de cirurgia plástica: se melhora a aparência de uma mulher ou se ela sente que melhora, por que não?

PLAYBOY — Quantas playmates já fizeram implante nos seios?

HEFNER — Depende da época. Isso era relativamente raro há trinta anos e agora é lugar-comum. Não é mais uma coisa extraordinária.

PLAYBOY — Você mesmo já não passou por algumas "esticadinhas" há alguns meses?

HEFNER — Sim, mas apenas no pescoço. Não mexi no rosto. já me acostumei com o meu rosto e gosto dele.


PLAYBOY — Você mencionou uma série de gente famosa que já apareceu na PLAYBOY. Mas nem todas as mulheres que apareceram na revista estão entusiasmadas de estar lá. Uma Thurman ficou aborrecida quando você publicou fotos dela em uma praia de nudismo. O que você diria a ela?

HEFNER — Se as fotos tivessem sido tiradas em um cenário particular, não teriam sido publicadas. Um exemplo clássico disso é Jackie Onassis. As fotos nuas da ex-primeira-dama foram tiradas com lentes telescópicas, quando ela tomava banho de sol nas ilhas gregas. Essas fotos foram oferecidas à PLAYBOY. Recusei-me a publicá-las e elas acabaram na Hustler. Nossa recusa deve-se ao fato de que foi uma invasão de privacidade. Mas Uma Thurman estava em uma praia pública. Se você está nua em uma praia pública, tudo pode acontecer, me parece. Isso dito, eu obviamente prefiro publicar fotos que são tiradas especificamente para a PLAYBOY, mas às vezes fazemos exceções. Se não fizéssemos, não teríamos publicado a foto de Marilyn Monroe no número 1 e eu não estaria aqui.

PLAYBOY — Estamos sabendo que você reservou seu túmulo ao lado de Marilyn Monroe no cemitério Westwood Memorial. Você realmente planeja passar a eternidade descansando ao lado dela?

HEFNER — Sim, embora Jay Leno tenha insinuado que, já que eu ia gastar tanto dinheiro, deveria ficar em cima dela [risos]. Mas, para mim, há algo de poético no fato de que estaremos enterrados no mesmo lugar. E esse cemitério também tem outros significados para mim. Amigos estão enterrados lá.


PLAYBOY — Agora que Ron Howard e Brian Grazer estão planejando fazer um grande filme sobre a sua vida na Universal, você tem alguma sugestão para o elenco? Se pudesse escolher um ator de qualquer época para representá-lo, quem seria?

HEFNER — Teria que ser alguém que conseguisse captar o romântico juvenil, porque é isso na realidade que eu sou. É a história do garoto do meio-oeste, metodista, criado de forma repressora, que sonhou sonhos impossíveis e, contra todos os obstáculos, concretizou-os. Você pode ver um pouco da minha história em Mr. Smith Goes to Washington [A Mulher Faz o Homem] e vários outros filmes de Capra. Mas eu também sou Cary Grant em The Awful Truth [Cupido é Moleque Teimoso].

PLAYBOY — Se o filme tratar da sua infância, será que vamos ficar sabendo como Hugh Hefner aprendeu sobre os pássaros e as abelhas?

HEFNER — Minha mãe era uma mulher instruída que nos ensinou sobre reprodução, mas não sobre sexo. Meu irmão e eu fomos os primeiros garotos na nossa rua a saber de onde vinham os bebês, mas sexo nunca foi mencionado na nossa casa. Aprendi sobre sexo com meus amiguinhos.

PLAYBOY — Você já discutiu o assunto com Marston e Cooper, seus filhos?


HEFNER — Nenhum assunto é tabu na nossa casa. Se você torna um assunto tabu, cria uma sensação falsa de fascínio. E, como sabemos, o sexo já é suficientemente fascinante sem precisar da ajuda de ninguém [sorrisos]. Se você permite que os tabus quebrem a comunicação entre você e seus filhos quando são pequenos, então, quando ficarem adolescentes, você pagará o preço — o mesmo acontecendo com seus filhos. O que tentamos fazer é criar um ambiente onde, quando eles têm dúvidas sobre algo, obtenham respostas e que elas sejam verdadeiras.


PLAYBOY — Nesse espírito, temos algumas perguntas sobre o único assunto que ainda não discutimos: seu casa-mento com Kimberley e a separação de vocês.

HEFNER — Ainda estou apaixonado pela garota da porta ao lado, mas estou muito mais feliz agora do que estava quando estávamos casados.

PLAYBOY — Como os meninos estão lidando com a situação?

HEFNER — Eles deixaram bem claro para a mãe que nos querem juntos de volta, o que é de se esperar. E, ao mesmo tempo, tem havido muito pouco trauma, porque eles estão aqui quase todos os dias. Mantive os quartos deles intactos na mansão e sempre os vejo.


PLAYBOY — As suas namoradas já encontraram Kimberley?

HEFNER — Elas se conheceram, mas não junto comigo. Kimberley vem aqui regularmente com as crianças e usa o salão de ginástica todos os dias.

PLAYBOY — E se você estiver no Grotto com alguém quando ela der uma passada por aqui? Apenas uma parede separa a casa dela da sua. Isso não seria um pouco estranho?

HEFNER — Seria desconfortável para mim em qualquer situação. Não quero me exibir nem ferir ninguém de nenhum lado. Sinceramente, tenho sorte por estar funcionando tão bem do jeito que está agora, e quero tentar manter as coisas como estão o maior tempo possível — para Kim, para as garotas e para as crianças.


PLAYBOY — Como você encara os namorados de Kimberley na vida de seus filhos — e o fato de você estar bem na porta ao lado?

HEFNER — Kimberley não sai muito, mas alguns namorados já estiveram aqui. Houve ao menos uma ocasião, quando ela estava saindo com Rod Stewart, que os filhos dele e os nossos filhos, com a minha aprovação, vieram aqui e nadaram juntos na piscina. Mas ainda não tive que lidar com uma situação em que ela estivesse envolvida seriamente com alguém.

PLAYBOY — Depois da separação de Kimberley, como foi levar uma outra mulher para a cama pela primeira vez?


HEFNER — Muito estranho.

PLAYBOY — Algum sentimento de culpa?

HEFNER — Não. Apenas não pareceu natural. Kimberley simplesmente foi embora e realmente não foi uma separação oficial. Ela decidiu que queria levar as crianças para o Havaí na véspera de ano novo. Perguntei: "Por que você quer se afastar durante os feriados em vez de ficarmos juntos?" Mas a família dela estava indo e ela foi. A separação se tornou oficial depois, em janeiro e fevereiro de 1998. Foi lá por março ou abril que comecei a sair com garotas. No início de abril, chegou o Viagra. Era o momento certo.

PLAYBOY — E depois você conheceu Brande, Sandy e Mandy.

HEFNER — Sim. E o momento certo é tudo. Sou o cara mais sortudo de todo o mundo.

PLAYBOY — Vários amigos íntimos seus morreram no ano passado — Mel Tormé, Shel Silverstein e, mais recentemente, sua secretária Joni Mattis. Você tem medo da morte?

HEFNER — Não. Sinto-me muito confortável com a natureza da vida e da morte e com o fato de que nós chegamos a um fim. O que é mais difícil de imaginar é que aqueles sonhos e primeiros anseios e desejos da infância e da adolescência também desaparecerão. Mas quem sabe? Talvez eles se tornem parte do seja-lá-o-que-for eterno.

PLAYBOY — O que você acredita que acontece após a morte?

HEFNER — Não tenho uma pista. Sempre me surpreendo com as pessoas que acham que têm urna ideia. Está perfeitamente claro para mim que a religião é um mito. É algo que inventamos para explicar o inexplicável. Minha religião e o lado espiritual da minha vida vêm de um senso de ligação com a humanidade e com a natureza neste planeta e no universo. É tão fantástico, tão complexo, tão além da compreensão. O que tudo isso significa — se é que tem um significado? Mas como tudo isso pode existir se não tem algum tipo de significado? Acho que qualquer um que sugira que tem uma resposta está motivado pela necessidade de inventar respostas, porque nós não temos as respostas.

PLAYBOY — Portanto, preocupar-se com isso á inútil?

HEFNER — Isso é sabido. Woody Allen chamou a atenção para isso em Annie Hall [Noivo Neurótico, Noiva Nervosa]: "Como você pode ser feliz quando sabe que em 1 bilhão de anos o sol vai explodir?" Então, em Manhattan, ele pensa naquelas coisas que podem tornar a vida mais agradável: Potato Head Blues, por Louis Armstrong. Groucho Marx. Todos nós temos a nossa pequena lista.

PLAYBOY — Qual é a sua?

HEFNER — As lembranças da minha infância. Sonhar os meus sonhos. O Montclare Theater e aquelas imagens sobre a tela prateada. I'll Be a Friend with Pleasure, de Bix Beiderbecke. As coisas mais piegas, creio eu [risos]. Um dos motivos pelos quais gosto da mansão Playboy é porque é tão perto da natureza. Posso caminhar no meio das árvores, das flores e dos pássaros e ter aquela sensação de uma conexão universal. Minha religião é um dia perfeito ou uma noite maravilhosa aqui no quintal, onde posso ouvir os grilos como fazia na infância. Eu observo os beija-flores quando eles vêm se alimentar do lado de fora das janelas do meu escritório no sótão. Desde o começo, sempre foi mais fácil para mim estabelecer uma ligação com a natureza e com os animais do que com as pessoas.

PLAYBOY — Por que isso?

HEFNER — O mito do Tarzan e sua companheira: aqueles filmes sobre um homem e sua mulher sozinhos na floresta, ligados à natureza, tiveram uma grande influência sobre mim. A civilização e o caçador branco foram os inimigos que quiseram se intrometer e destruir aquela vida idílica, paradisíaca.


PLAYBOY — Quando as pessoas olham para a sua vida, há alguma lição que você espera que elas aprendam?


HEFNER — Se isso representa alguma coisa, minha vida é um exemplo de como você não tem que viver segundo as normas de outras pessoas. Você não precisa ficar limitado por ideias preconcebidas sobre sexo, idade ou outra coisa assim. Você pode aceitar essa vida ou pode encontrar seu próprio caminho, reinventar a si próprio e se tornar aquilo que deseja ser. A vida é uma aventura extraordinária se você a toma em suas mãos e persegue seus sonhos. Se você não fizer isso, nunca saberá o que poderia ter acontecido.


POR BILL ZEHME

FOTOS ELAYNE LODGE


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