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ISABEL FILLARDIS | AGOSTO, 1996



A ATRIZ FALA DE BEIJOS COMBINADOS E CONTA COMO REAGE QUANDO OS GALÃS AVANÇAM SEM PERMISSÃO.


POR: GORETTI TENÓRIO NUNES FOTO: NANA MORAES


Um dia você pode ter a sorte de fi­car ao lado da atriz Isabel Fillar­dis, a Lindalva da minissérie O Fim do Mundo, da Rede Globo. Se você a olhar insistentemente e não receber de volta um mísero sorriso, não vá se sentir o mais rejeitado dos homens. Porque é bem provável que ela nem ao menos te­nha notado. "É esse meu jeito desligado, sabe? Muitas vezes minha mãe precisa me avisar que tem alguém me paqueran­do." É assim: Isabel Cristina Teodoro Fi­lardis — ela optou pelo "l" dobrado quando escolheu o nome artístico —, a carioca que nasceu em agosto de 1973 no subúrbio de Marechal Hermes, continua, aos 23 anos, a ser a menina desligada, bem-comportada e extremamente risonha que passou a infância e a adolescência num condomínio em Inhaúma, também no subúrbio do Rio de Janeiro. Este ano, ela resolveu se mudar e acaba de comprar um apartamento maior, de quatro quar­tos, no bairro de Freguesia, perto do Pro­jac, a cidade cenográfica onde são grava­das as novelas da Globo.


Apesar de parecer tão desligada, Isabel Fillardis sabe bem o seu papel na família. "Depois que comecei a ganhar dinheiro com meu trabalho, virei o homem da ca­sa", conta. Ela acha possível que, no iní­cio, isso tenha melindrado o pai, o subofi­cial da reserva da Aeronáutica Valdemil Maia Filardis. Mas também acredita que o orgulho de ter uma filha bem resolvida profissionalmente fala mais alto, embora seja difícil saber exatamente o que se passa na cabeça dele. "Meu pai é caladão", explica. "Uma muralha."


Já a mãe de Isabel, Sônia Maria Filardis, é um furacão: alegre, falante, crítica, bonita. Além de cuidar dos outros dois filhos do casal — Jaqueline, de 17 anos, e Júnior, de 12 —, Sônia é uma presença constante ao lado da atriz. Tanto que, se não fez questão de acompanhar esta entre­vista inteira, também não hesitou em entrar na sala e ouvir a última meia hora de conversa. De Sônia, que é neta de ín­dia, Isabel deve ter herdado o olhar mam­a to, às vezes desconfiado, que em certas ocasiões usa para substituir um comentá­rio, uma opinião.


Isabel começou a trabalhar cedo. Aos 11 anos, fazia desfiles no condomínio onde morava. Aos 15, passou a atuar como modelo, contratada pelas agências Ford, no Rio, e Elite, em São Paulo. Como o pai exigia, a garota continuava estudan­do e terminou o segundo grau em Magis­tério. Em 1993, ela resolveu "tirar uma cisma" e foi fazer um teste para atriz na Oficina de Atores da Rede Globo. Poucas semanas depois, era chamada para os tes­tes da novela Renascer.


Logo em seguida, vieram Pátria Mi­nha, A Próxima Vítima e a minissérie O Fim do Mundo, todas da Globo. Isabel fez também uma peça de teatro, encar­nando Anastácia, a escrava negra de olhos azuis, e integrou um conjunto mu­sical, As Sublimes, com outras duas can­toras negras, Lilian Valeska e Karla Prietto. Mais recentemente, participou do filme O Homem Nu, dirigido por Hugo Carmim. Isabel sabe que trabalha muito, sente falta de férias, que ainda não se per­mitiu desfrutar. Viaja apenas a trabalho e nunca saiu do Brasil. O que a atriz mais quer é conseguir tempo para estudar. Ainda para este ano, programou sua vol­ta às aulas de dança. É uma maneira de manter a forma (1,72 metro, 53 quilos, 60 centímetros de cintura, 92 de busto, 89 de quadris), sentir prazer e ao mesmo tempo investir na carreira.


Isabel Fillardis conversou com a edito­ra especial de PLAYBOY Goretti Tenório Nunes num casarão numa rua tranqüi­la do Jardim Botânico, no Rio, escritório de uma empresa que agencia trabalhos de vários artistas. Bem-humorada, brin­calhona, chegou sem maquiagem, vestin­do uma calça de lycra preta e uma blusa de linha que insistia em ajeitar toda vez que escorregava e descobria um pouco o colo. Isabel se define como recatada e conta que se sente diferente das pessoas que a cercam no seu ambiente profissio­nal: "Já me disseram que eu sou muito metida. É porque eu fico na minha, meu lado criança é muito aflorado." O fato é que a infância não é um período tão re­moto na vida de Isabel Fillardis e as lem­branças, fresquinhas, marcam seu com­portamento, como se verá a seguir.





1. Quando foi a primeira vez que você se interessou por um garoto? No colégio, na 2ª ou 3ª série. Eu mandava bilhetinho. E numa festa caipira ele foi meu par. Olha que ner­voso! [Risinho.] Foi muito legal, di­vertido. Aquela coisa de olhar assim, pegar na mão, tal. Mas ainda não considerava namorado, não.


2. Você treinava beijo? Ih, não, não fazia isso não. Sa­be quando beijei a primeira vez? Eu já era grandinha, uns 11, 12 anos. O me­nino era filho da minha professora e nós morávamos no mesmo condomí­nio. Ficamos amigos, ele começou a me paquerar. Teve um dia, na casa dele, em que a gente beijou escondi­do na cozinha. Ave Maria! [Ri.] Pri­meiro achei engraçado, depois achei esquisito, e aí depois deixei pra lá. Não pensei mais... Beijei, só.


3. Começar a trabalhar cedo não obrigou você a deixar de lado muita coisa da sua infância? Quando comecei a trabalhar como modelo, curtia muito. Era a época em que eu mais saía à noite, ia a boates, porque os desfiles geral­mente eram em boate. Dava mais sa­pato alto, hoje em dia quase não uso. Eu adorava, adorava.


4. A Glória Pires falou mal da safra de atores iniciantes que conseguiam papel só por terem um rosto bo­nito. Você ficou magoada? Ela não está de todo errada, mas poderia ter falado de uma outra forma. Eu, por exemplo, não tive pre­paro, mas acho que tive sorte de entrar numa novela boa, de ser bem dirigida e de, talvez, ter talento. A gente só vai saber fazendo. Ou tem gente que nas­ce assim, desde o bercinho, como ela [Glória Pires], que desde criança já es­tava lá, metida naquele meio. Ela gene­ralizou, fez um auê danado [ri].


5. Qual a situação mais tensa que você já viveu na sua profissão? Foi em Renascer, numa cena gravada numa cachoeira. Tinha muito limo nas pedras, era um final de tarde, eu ia saindo da água, milito molhada, o rio estava escuro. Aí, tum, bati com a cabeça numa pedra. Sangrou muito, eu não conseguia acordar, a gente estava a 1 hora do centro da cidade, tiveram que pegar o carro e sair correndo. A cena nem foi ao ar porque ficamos traumatizados.


6. Em que outras situações você fica tensa? Em cenas de nudez, cenas de intimidade. Em Pátria Minha fiz duas que prometi a mim mesma que não vou mais fazer. Eram cenas tirando a blusa, tirando o sutiã ou parecendo que ia tirar a calcinha. É uma coisa que agride. Sou muito recatada. No filme O Homem Nu, dirigido por Hugo Carvana, tem uma hora em que minha personagem transa com o Cláudio Marzo. Cheguei pro Hugo e, antes que eu falasse, ele já disse: "Olha, não se preocupe com a cena, vai ser um plano superfechado, curto, suave, bonito." Eu falei: "Ah, que bom" [ri].


7. Você já disse que ter declarado ser virgem aos 19 anos causou um turbilhão na sua vida. Por quê? Quando disse aquilo, 19 anos era muito tarde [enfática]. Eu era uma raridade! Falei por inocência mesmo. Foi terrível, fiquei magoada, chorei muito [enfática]. Fiquei com vergonha de as pessoas acharem estranho, porque pra mim era uma coisa supernormal. Foi uma coisa! [Risos.]

8. Você ficou tentada a transar só para passar para o outro time? Não. Já fiquei tentada com um dos meus namorados, mas não por causa disso. Foi depois dessa história. Mas o problema foi saber se era o meu momento. Isso é muito importante, é uma coisa que marca a vida da mulher.


9. Mas afinal, você não vai con­tar se já transou ou não? Não falei, nem falaria [ri]. Ih, nossa, é um pavor. Acho que ficou um bloqueio. Não falo isso numa re­portagem. Seria como se estivesse me despindo. Não vou falar se já aconte­ceu ou não. Talvez fale daqui a um tempo. Talvez quando eu for mãe... [dá uma gargalhada quando se dá con­ta do que disse].


10. Você já deixou claro que tem vergonha, mas se posasse nua acha que ficaria bonito? Acho que ficaria bonito, por­que tenho estrutura pequena, aquela estrutura assim [desenha um violão no ar]. Acho bonito.


11. Que parte do seu corpo você mudaria? O pé. O dedão é muito comprido. Não gosto. [Abaixa-se e fica mos­trando o pé.] Isso aqui tudo é o meu dedo. Mas minha mãe fala que se ti­rar o dedo eu caio, meu equilíbrio é o meu dedo [risos].


12. Você já foi apaixonada lou­camente por alguém? Já. [Pausadamente.] Foi bom... foi proibido. Minha família não achava legal... Isso é ruim. Namorava escondi­do, às vezes ia para discotecas... Durou um bom tempo. Hoje em dia não na­moraria [assim]. É um desgaste gran­de. Me sinto melhor quando a coisa é mais calma, quando está tudo às claras.


13. Qual a maior delicadeza que um homem já proporcionou a você? Caramba! Essa tem que pensar bem. [Pensa.] Uma vez eu estava parti­cipando de um desfile e um namorado foi assistir. No final — fui a última a sair da passarela — ele estava me espe­rando com um presente e um buquê de flores deste tamanho [faz um arco com os braços]. No meio da passarela, o homem te dar flores... é bem legal.


14. Quando não é legal ser fa­mosa? As vezes você está com pressa, não está disposta, e tem que parar para dar autógrafos. Só que eu dou sempre. Quando estou mal-humorada, fico mais quieta, é a única diferença. Não gosto é quando me tocam, puxam meu cabe­lo. Eu tenho horror, digo: "Não puxe meu cabelo que eu não gosto." Brigo, falo sério. E, de vez em quando, em festa, passa um engraçadinho e... sabe quando tem aquela mão-boba que ba­lança? Mas não deixo por menos, não. Digo [fala de um jeito afetado]: "Vem cá. Qual é o seu problema? Sua mão está desgarrada?" Porque tem homem que é abusado. Isso quando não falam uma gracinha e eu olho de cara feia...


15. Você se lembra das primei­ras pessoas famosas que conheceu quando foi para a Globo? Ficou tímida? Ah, sim, com o Humberto Mar­tins [o Lênin de Vira-lata]. Eu fiquei pá­lida, porque sou Fá dele. Acho ele lin­do, lindo, lindo. Falei isso para ele, que ficou rindo, vermelho, rubro [ri].


16. Você é capaz de abordar um homem? Não. Acho que não. Com meu atual namorado [o comerciante Johnson Afonso], foi ele quem falou. Nós fomos ao cinema, vimos Coração Valente, um filme longo à beça. Estávamos os dois tímidos. Era um tal de olhar pro lado e: "Você quer pipoca?" "Não." Eu gosto dessas coisas. Tem que ser aos pouquinhos. No meio do filme, não sei o que deu nele. Falou: "Não gostei desta parte do filme" e, tum, tascou um beijo. Foi um beijo rápido, um beijo chocante, mas bom. Daí fiz assim [gira a cabeça lentamente] e continuei olhando pro filme. Dali um a tempo, ele me beijou outra vez, aí não teve mais jeito. Foi delicado, divertido, diferente.


17. Como são os beijos na TV? É lábio encontrando outro lábio. Você não beija beijo de língua. Às vezes o diretor pede que seja um beijo de língua, já aconteceu comigo, e aí tive que beijar, fazer o quê? Mas é combinado.


18. Já teve alguém que avançou, sem combinar? [Faz uma careta.] Hã! Já. Mas fui até o fim da cena. Depois olhei com a cara feia — e ele entendeu. Nem precisei falar. Eu sou chique [risos].


19. Como você dorme? Com as roupas mais esquisitas. Com pijamão, camisola compridona, camisetona. No frio, me encasaco inteira. E sempre acordo bem-humorada.


20. Você é manhosa? Com seu namorado, por exemplo, faz muita manha? [Dá um gritinho.] Aiiii, tadinho! Mas ele também faz, deita no meu colo e tudo, está acostumado comigo. Ele fala: "O que é que você quer agora, Isabel?" E eu [recosta-se no sofá]: "Ah, eu quero colo" [risos].



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