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KELLY KEY | MARÇO, 2015



A CANTORA DE CLÁSSICOS COMO BABA BABY E CACHORRINHO FALA SOBRE O NOVO ÁLBUM, AS DIVAS POP, AS INFLUÊNCIAS MUSICAIS, O MARIDO ANGOLANO, O FEMINISMO, A VIDA QUE LEVA E SEUS JOGOS DE VIDEOGAME FAVORITOS


ENTREVISTA — LEANDRO SAIONETI FOTO — ANDRE VALENTIM





1. Seu ensaio para PLAYBOY, em dezembro de 2002, é considerado um clássico. Por que acha que ele ficou tão marcado? Minhas músicas eram muito sensuais, e me colo­caram como símbolo sexual. Acho que isso despertou a curiosida­de dos homens. Aquele foi o meu melhor momento.


2. Nossos leitores têm várias boas lembranças daquele ensaio. Você tem algum momento preferido? A foto do pôster em preto e branco em que estou de bruços. Acho que estou bem para caramba nela.


3. A canção Chic Chic, de 2003, tem uma frase que virou um ícone da redação de PLAYBOY: “A vida que eu le­vo nego pensa que é fácil". A vida que você leva nego pensa que é fácil? Todo mundo acha que a vida dos outros é fácil. As pessoas não têm o trabalho de raciocinar, de pensar, e acham que você tira tudo de letra. Mas a vida não é fácil para ninguém. Nem para mim. "Ah, ela está viajando, está incrível. Que esnobe." Viajar, fazer show, tudo isso é muito legal, muito bom, mas também é extremamente cansativo.


4. Então quando você deu uma "pausa" na carreira musi­cal em 2009, estava cansada? Não. É importante deixar cla­ro que quando eu digo "ai, eu tô cansada!" não é algo esnobe. Mas houve um esgotamento, sim.


5. Quais são as grandes dificuldades da vida de Kelly Key? Todo trabalho, por mais legal que seja, tem o seu lado negativo. Eu sempre procuro fazer as coisas que me dão prazer, porque músi­ca é prazer. Mas com o tempo e o sucesso, as coisas vão acontecendo muito rápido e a gente vai perdendo essa essência, vai ficando co­mercial, mecânico.


6. Seu novo álbum No Controle tenta, de alguma forma retornar a essa essência? Esse trabalho é uma evolução natural. Eu consegui a minha independência muito cedo, ain­da na adolescência. Quando a gente se torna adulta, as experi­ências mudam. Agora minha vida está muito mais organizada, muito mais equilibrada. E eu tentei levar esse amadurecimen­to para o meu trabalho. Ninguém da minha idade tem a expe­riência que eu tenho.


7. Quando você surgiu, foi muito comparada com a Britney Spears. O processo de amadurecimento pelo qual ela passou influenciou você de alguma for­ma? Pode ser que em algum momento, em algum show, mas nada especificamente. O trabalho de cada artista é muito pes­soal. Eu tenho o meu público, que me acompanha há 14 anos e espera determinadas coisas de mim. Não acredito em nenhum trabalho que é montado para substituir um ou outro. Isso não existe. Dizer "ah, fulana é igual sicrana" é algo fake total.


8. Mas a Britney Spears nunca a inspirou de alguma for­ma? Eu sempre me inspirei mais na Jennifer Lopez, que eu acho linda. Mas com certeza a Britney é um ícone para qualquer pessoa da minha geração. Acho que em determinado momento ela me inspirou, porque no fundo tinha uma semelhança: sou loira, dançava, era nova e tudo isso. Todo mundo falava: "Nossa, a Kelly Key está igual a Britney naquela foto".


9. Nessa esteira de influências, há quem considere a cantora Anitta uma espécie de "herdeira espiritual" da Kelly Key. Você concorda com essa visão? As pessoas insistem em dizer que a Anitta tem um produto parecido com o meu, mas acho que isso é apenas uma questão de carência do mercado pop. "Ah, mas ela está fazendo o mesmo trabalho que a Kelly Key." Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Ainda bem que Anitta apare­ceu, e que eu apareci, e que a Valesca [Popozuda] apareceu. Embora ela esteja mais para o funk, eu também considero um produto pop, e cada uma tem um papel importante de quebrar um preconceito que existe com o pop, e merece reconhecimento.


10. Mas você e a Anitta falam sobre temas bastante parecido, não? Claro! Nós falamos sobre relacionamentos, então fica impossível não falar coisas parecidas. Mas é a mesma coisa que dizer que a Claudia Leitte com Safado, Cachorro, Sem Vergonha está copiando Cachorrinha. Não, né? Só que se a Anitta cantasse uma música assim, iam cair em cima dela.


11. Você sempre teve um público LGBT muito fiel. O que acha dos projetos de criminalização da homofobia? Todo tipo de preconceito deveria ser crime, independentemente de raça, cor, religião... Vou falar uma coisa, não sei mui­to bem como vão me interpretar, mas enfim: por que só os ne­gros sofrem preconceito? Eu, como branca e loira, também sofro preconceito. E os homossexuais sofrem agressões físicas, são atacados. Por isso acho que essa criminalização já deveria ter acontecido há muito tempo.


12. Em seus primeiros trabalhos, você cantava uma mu­lher mais independente e um homem submisso. Depois, esses papéis foram se invertendo. O que aconteceu? O trabalho reflete o que nós somos. Quando lancei Baba Baby e, logo em seguida, Cachorrinho, eu estava saindo da adolescência e tinha essa vontade de dar um grito de independência. Depois, quando lancei Barbie Girl, tinha acabado de ter meu primeiro filho e estava num momento mais infantil. Hoje a mulher madura que existe re­conhece que em determinados momentos você está por cima e em outros, por baixo. Às vezes você vai ter que ceder, às vezes não.


13. Mas você acha que versos como “baba, olha o que perder" e "vem aqui que agora eu tô mandando" ajudaram as mulheres a conquistar mais independência? Muita gente acha que a mu­lher é naturalmente submissa. Não é verdade. A gente cresce com essa visão, e quer se libertar dela. Quando eu lancei Baba Baby fiz a letra com um tom de brincadeira, mas as mulheres gostaram. Elas gostaram de ouvir, e acho que é algo libertador para elas.


14. Você se considera um ícone feminista? Não acho que sou feminista. Não gosto de extremos. Acho que existe um meio termo para tudo.


15. O feminismo hoje seria um estremo? Eu não me fecharia nessa questão do feminismo. Não acho que é um extremo, mas acho que não preciso defender as mulheres. Todos deveriam ter os seus direitos. Temos urna série de questões que a sociedade preci­sava resolver na cabecinha dela com relação a direitos de uma forma mais abrangente. Não são só os direitos da mulher. Vários conceitos e preconceitos devem ser vistos com muito cuidado. As pessoas têm a cabeça muito fechada, não só para a questão da mulher, mas no ge­ral. Todo mundo merece seu espaço de acordo com sua competên­cia, seja mulher ou homem.


16. Uma das bandeiras do feminismo moderno é a luta contra as cantadas na rua. Você se incomoda de ser abordada dessa forma? Acho que qualquer um pode pas­sar por isso, homem ou mulher. Eu passo, meu marido passa. Lembro na minha adolescência de ir comprar pão e receber aquelas cantadas na rua. Tem sempre alguém interessado, e a gente consegue perceber isso. Mas nunca chegaram em mim de uma forma vulgar ou agressiva.


17. Esse tipo de abordagem faz bem para o ego? Eu acho que sim. Todo mundo quer se sentir bem, quer se sentir bo­nita e desejada. Sou casada há 14 anos e eu poderia estar em um momento péssimo, mas meu marido ainda se interessa por mim e me acha bonita. E isso é o mais difícil, porque ele me vê todos os dias, triste, feliz, irritada. Uma pessoa que me vê na rua só vê o externo, e é bem mais fácil me achar interessante e bonita. Então, quando eu recebo uma cantada dessas do meu marido, dentro de casa, fico mais feliz ainda.


18. As mulheres também chegaram muito em você? Pou­quíssimas vezes. E sempre que isso aconteceu, eu consegui le­var de uma forma bacana.


19. Com todo esse assédio, teve algum momento em que seu marido se assustou? Não sei. De repente, se fosse hoje, ele nem teria vindo para cá. Foi uma loucura: largou país, família, lar­gou tudo o que ele tinha. Mas quando a gente é novo, não pensa di­reito. Naquela época, era tudo esperança, possibilidade. Ele tinha noção de que eu era famosa e teve muito mais noção quando veio pa­ra cá, pois todo mundo ficou em cima do meu relacionamento. Queriam saber quem era ele, o que ele fazia.


20. É verdade que você é viciada em videogame? Sou viciada! Adoro. Antes de dormir, tenho que jogar. Tem um do The Walking Dead que é incrível. Mas GTA eu não gosto. Acho meio sem sentido você ter de bater nas pessoas, depois matar, depois jogar fora.


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