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KLAUS MITTELDORF

Um mergulho na obra de um dos poucos fotógrafos brasileiros que podem ser tomados como uma unanimidade internacional.


Seus trabalhos já figuraram nas mais influentes publicações ao redor do planeta, como Vogue, Elle e Playboy, e lhe renderam conceituados prêmios no Brasil, Roma e Japão tendo, inclusive, vencido por três vezes um dos mais celebrados concursos internacionais de fotografia, o Nikon Photo Contest.


Dele, não se pode esperar nada tradicional. Suas cores, formas, ângulos e texturas criam uma atmosfera única que tornam Klaus Mitteldorf não apenas um fotógrafo, mas um verdadeiro estilo de fotografar.

 

Klaus Mitteldorf. Apesar da estampa e do nome gringo, você é brasileiríssimo. Nascido em São Paulo, viveu um tempo na Alemanha, buscando um resgate das suas origens. Também morou na França e Estados Unidos. O que você absorveu para sua vida e sua arte, vivendo em todos esses lugares, com tantas pessoas, culturas e cores diferentes? Foram muitos momentos marcantes, em muitos lugares diferentes e que me influenciaram muito na criação do meu universo de imagens. A minha Arte é resultado das coisas que vi e vivi, e a diversidade, com certeza, é uma característica do meu trabalho. Sempre quero mudar o mundo!

Apesar de se tornar profissional, na década de 70, você já admirava a fotografia desde os dez anos de idade e começou a clicar aos doze, com uma icônica Olympus Trip, presente do seu pai. Como foi, exatamente, que nasceu sua paixão pela fotografia? Curiosidade pelas coisas e muitas experiências fotográficas. Digamos que essa paixão nasceu da procura de um caminho que me ajudasse a me expressar para o mundo. Documentei muitas coisas dos 12 aos 21 anos de idade, mas só consegui acreditar na minha fotografia quando me apaixonei pelo Surf em 1974! Foi o momento mágico que me inspirou para sempre... Daí em diante, foi tudo fluindo como num sonho. Não parei mais.



E lá se vão 40 anos de fotografia... Esses seus primeiros trabalhos fotográficos, que tinham como foco o mundo do surf, ganharam as capas das principais publicações do gênero e até hoje impressionam pela beleza. Como você conseguia fazer aquelas imagens de tirar o fôlego sem a parafernália moderna de hoje? Eu me criei no mundo analógico e tudo que eu fiz foi baseado em muitas experiências e testes. Aprendendo e vivendo, eu tinha que me virar com o que o mercado oferecia e foi muito prazeroso passar por todos estes momentos.

Você é arquiteto por formação acadêmica. Antes de concluir o curso de arquitetura, você já produzia os seus primeiros cliques. Que paralelos você traça entre as duas carreiras? Em que a arquitetura influenciou no seu estilo de fotografar? A arquitetura me ensinou enquadramentos e composições. A minha fotografia ganhou na forma e na cor!


Você fotografa editoriais, publicidade, moda, nus, e também fotografa anônimos em suas andanças. Afinal, que tipo de fotografia te dá mais prazer, pessoal e profissionalmente?Tanto faz. A fotografia sempre me dá prazer quando ela me desafia. Eu preciso ter a sensação de ter a liberdade de criar sempre, não repetir fórmulas e arriscar com o novo, isso é o que me leva adiante.

O seu estilo de fotografar é espetacular. As suas cores e formas produzem uma atmosfera meio psicodélica, meio onírica que é, simplesmente, fascinante. Quais as suas inspirações? Como é o seu processo criativo? As inspirações vêm do dia a dia, da minha vivência e de tudo que me cerca no dia a dia... Não existe regra!


O seu estilo pouco convencional de fotografar, por vezes, causou certo estranhamento nas redações das grandes revistas. Por não poder mostrar todo o seu potencial estético, você enveredou pela publicação de livros, onde você pôde mostrar todo o vigor da sua obra. O que você tem a dizer sobre isso? Em parte é verdade... Além disso, nos meus livros sempre tenho a liberdade da escolha, o que raramente acontece em um trabalho contratado!

Apesar do fascínio que as cores de Klaus Mitteldorf causam em todos os admiradores do seu trabalho, você lançou um livro, Katharsis, totalmente com imagens em preto e branco. Qual o significado desse trabalho? Fugir totalmente do que as pessoas esperam das suas fotografias também pode ser considerado um processo de autoanálise, um mergulho no seu interior? É exatamente isto! O Último Grito e Katharsis são totalmente introspectivos, momentos onde busco a mim mesmo. Foi um processo cuidadoso, de vários anos, onde extraí de mim tudo que podia. Foi uma terapia onde me descobri... Foi um delírio!


Muitos fotógrafos consagrados acreditam que o digital banalizou a fotografia afinal, hoje em dia, qualquer pessoa pode sacar do bolso um celular, fotografar e ainda aplicar filtros que criam efeitos, nuances, que uma câmera convencional não alcançaria com tanta facilidade. Mas você, na contramão de todos, vê o digital com bons olhos, inclusive já produziu editoriais totalmente com a câmera de um celular, em 2004. Como você vê esse movimento? Eu sempre sou a favor das mudanças e do desenvolvimento das técnicas fotográficas, isto é evolução! Saudosismo não leva a nada. Por isto, comecei a fazer experiências com a fotografia do celular desde a época do VGA... Eu achava as texturas muito interessantes e fiz várias matérias usando celulares de vários tipos e formatos.


Work, Photographs 1983-2013 é o último catálogo lançado sobre a obra do fotógrafo brasileiro Klaus Mitteldorf. O livro foi extraido da exposição de mesmo nome, que aconteceu no Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Alvares Penteado (MAB-FAAP), em setembro de 2013.

Você já realizou exposições e possui acervos no Brasil, Alemanha, Tóquio e Paris. Publicou livros aclamados, como Norami(1989), Klaus MitteldorfPhotographs (1992), O Último Grito (1998), Katharsis(2001) e Introvisão(2006). Você recebeu prêmios conceituados, por suas fotografias, como o Prêmio Nikon (1980, 1982 e 1986), o Prêmio da Fundação Conrado Wessel de Fotografia (2002), o 3º lugar na Bienal de Arte Internacional de Roma (2008) e o HigashikawaInternationalPhoto Festival OverseasPrize, pelas exposições e os livros O Último Grito (1998) e Introvisão (2008). Você chegou onde queria? Eu nunca tracei algum objetivo neste sentido. As coisas sempre foram acontecendo naturalmente. Não posso reclamar porque foi tudo muito positivo e não vejo limites para o futuro...


Você agora está enveredando pela área cinematográfica, produzindo longas metragens. Em fase de produção, “Cansonthe Beach” traz à tona a história do Verão da Lata, as 22 toneladas de maconha que caíram no mar, nos anos 80, e“Rio-Santos”, uma ficção ambientada na famosa rodovia que integra os dois municípios que dão título à obra. O que você pode nos adiantar sobre esses trabalhos? Desde 1975, quando produzi o meu primeiro documentário de surf, o super8Terral, sonho em fazer um longa de ficção. Resolvi desenvolver primeiro a minha fotografia para depois me dedicar ao cinema, mas este processo já estava demorando 35 anos, e aí decidi escrever um argumento de cinema, que foi a base do roteiro de Rio-Santos, o filme que vamos filmar no fim deste ano. Ao mesmo tempo, tenho uma dupla de roteiristas desenvolvendo o roteiro de Cansonthe Beach,As Latas na Praia, que conta a história do verão da lata de 1987!

Vamos falar sobre PLAYBOY. Você fotografou para a versão brasileira e também para a filial alemã da revista. Quais as diferenças, as vantagens e desvantagens de trabalhar em cada publicação? As edições alemãs me dão muito mais liberdade de criação. Não existem regras. Eu escolho e faço toda a produção, é um trabalho muito mais autoral!



Sua primeira capa para a PLAYBOY Brasil foi com a modelo e apresentadora DorisGiesse. Você também clicou a atriz Vera Zimmermann, a windsurfista Dora Bria e as modelos Dulce Neves, Marinara Costa, Márcia Romão, Fábia Taffarel, Katia Reis, Diana Bouth e Roberta Foster. Que lembranças você tem desses ensaios? Acho que os primeiros ensaios com a Doris, a Martha do basquete (recheio da edição de dezembro de 1991) e a Vera foram os mais marcantes porque consegui mostrar mais o meu estilo de fotografia.

Você voltou à PLAYBOY em julho de 2015. Na capa, a funkeira Tati Zaqui, uma jovem longe do biotipo ‘gostosona’ que estampa as capas das revistas masculinas. Como foi explorar a sensualidade da Tati? A Tati foi a pessoa mais fácil e mais natural que já fotografei... Ela é uma ótima atriz e intérprete. Foi com certeza o ensaio mais perfeito que eu já fiz em todos os sentidos: criativo e inusitado!



O seu último ensaio para a PLAYBOY teve uma modelo mignon, cheia de tatuagens e piercings, com o cabelo azul. O visual incomum da Tati casou com as suas pirações e viagens fotográficas? Ela foi perfeita, porque tem um corpo perfeito para se fotografar e muita facilidade para se expressar. Piramos e viajamos juntos!


Como era a Tati nos bastidores? Houve algum momento na produção do ensaio que você gostaria de relembrar aqui? Eu quase não tive contato com ela nos bastidores, já que fizemos o ensaio numa fazendo com muitas locações diferentes a serem montadas e iluminadas. A nossa maior preocupação era com o tempo, que estava muito ruim nos dois dias de trabalho!

O tema do ensaio tem forte influência dos mangás. Como foi criado esse conceito? As mangás foram só o ponto de partida do trabalho de produção, acabamos indo por outros caminhos devido a vários fatores. O ensaio tem muitas vertentes.


Vamos subverter a história do Gênio da Lâmpada. Ao invés de três desejos, ele te dará a oportunidade de fazer o ensaio mais incrível da sua vida e trará para você uma estrela, um local e um tema. Quais seriam suas escolhas? Realmente nunca pensei neste sentido, gosto de surpresas e de ser desafiado com ideias novas e tentadoras. Fica para o futuro!

Para finalizarmos, deixe um recado para os admiradores do seu trabalho e para os leitores do Inside Playboy Brasil. Sempre me aguardem com surpresas e novidades... Nada deve ser previsto! Até a próxima!


Gostaríamos de agradecer a você pela gentileza de conversar com a gente. Desejamos mais sucesso ainda para você. Esperamos ansiosos por mais trabalhos seus na PLAYBOY ou em outras revistas.

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