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LAURA MULLER | AGOSTO, 2014



Jornalista, psicóloga e sexóloga do programa Altas Horas fala sobre sexo, sexo safado, sexo anal, sexo na concentração da seleção, sexo e fetiches, sexo rapidinho e as duvidas que tirou (sobre sexo) do cantor Roberto Carlos


ENTREVISTA NATHALIA GIORDANO

FOTO RENATO PARADA





1. Você está solteira. Algum pretendente já se sentiu intimidado pelo fato de você ser sexóloga? Tenho reparado nisso. É uma grande bobagem, mas faz parte da nossa cultura. Eles ficam intimidados, como se, por exemplo, um psicólogo pudesse ler a mente de uma pessoa.


2. Mas sua profissão já deve ter ajudado você de alguma forma na hora H, não? É um mito achar que uma sexóloga vai dar piruetas na cama e ser uma deusa no sexo. É como qualquer homem e qualquer mulher.


3. Quando um homem sai com uma sexóloga, ele imagina que encontrará a mulher mais liberal do mundo na cama. Isso já lhe causou algum inconveniente? Sim. É uma fantasia comum achar que o sexólogo vai ser a pessoa mais liberal do mundo. Mas cada um de nós tem seus próprios valores e crenças. Pode existir um sexólogo que nunca transou.


4. Mas o sexólogo não precisa estar apto a experimentar sexualmente? Não faz parte da profissão estar aberto a uma certa "pesquisa de campo"? Não necessariamente. Por exemplo, não preciso ser idosa para falar da sexualidade do idoso. Não precisamos vivenciar todas as situações, e isso nem seria possível. Trabalhamos com a teoria, não necessariamente com a prática. Temos inclusive padres e freiras que fazem curso de educação sexual e seguem o celibato.


5. Sexo bom é o sexo safado ou o papai e mamãe tem o seu valor? Tudo tem valor. Isso vai oscilando ao longo da vida. Entre quatro paredes vale tudo, desde que o casal esteja a fim. A gente só deve ir na cama até o momento em que essa prática não nos machuque física e emocionalmente, nem machuque a pessoa que está ao nosso lado. Dessa forma, podemos viver a rapidinha, o sexo safado, o papai e mamãe de uma forma saudável e prazerosa.


6. A terapia pode resolver qualquer problema sexual hoje em dia? A gente tem tratamento para todos os problemas. A ansiedade é uma grande vilã, e existem problemas emocionais, mas as causas também podem ser físicas. Por isso, o tratamento com um médico que prescreve remédios pode ser necessário. A medicação tem indicação e resolve muitas coisas, mas não podemos ignorar a parte emocional.


7. Você fala com muita espontaneidade sobre sexo, mas está numa TV que ainda se choca com um beijo entre dois homens e o transforma em debate nacional. Esse conservadorismo da TV brasileira atrapalha o seu trabalho? Não. Acho que estamos muito mais abertos. É fantástico ver um casal homossexual na novela, estamos entrando cada vez mais no tema. Mas precisamos entender que estamos inseridos em um cenário histórico, cultural, econômico e social que nos constitui como sociedade. A TV e as expressões artísticas no geral fazem parte desta cultura. O momento mundial que a gente vive é um momento de maior abertura na área da sexualidade, mas ainda temos muito para caminhar, e não só aqui no Brasil. O processo é lento, mas vejo com bons olhos.


8. Você sempre teve essa naturalidade ao falar sobre sexo? De jeito nenhum. Eu tinha muita vergonha. Na primeira entrevista eu fiquei bastante encabulada, tinha vergonha de falar "pênis" e "vagina".


9. E como surgiu o interesse de trabalhar nessa área? Foi algo pessoal? Uma forma de também "se ajudar"? Não! Eu me formei em jornalismo e trabalhei na Folha de S.Paulo e na Folha da Tarde, até que surgiu uma vaga de editora de sexo na revista CLAUDIA. Foi um desafio e eu topei. Era uma área nova, então resolvi fazer uma pós-graduação em educação sexual. Mas me apaixonei, e comecei a dar palestras e lançar livros. E, no final das palestras, sempre me pediam para atender em consultório, então eu fiz psicologia como minha segunda graduação e para poder atender essas pessoas.


10. Você tem quatro livros publicados sobre sexo. Essa literatura realmente faz alguém ser melhor na cama? A ideia é essa. Que a pessoa, por meio da informação, viva melhor sua própria sexualidade. Em todos os meus livros, eu dou dicas e respondo sobre sexo. O primeiro é para o mundo adulto, o segundo, para os adolescentes, o terceiro foi baseado no Altas Horas e nas minhas palestras por aí. O quarto, escrevi para os professores e pais para ajudar na educação sexual.


11. Quais foram as dúvidas que mais a deixaram na dúvida até hoje? Não sei se já tive muitas dúvidas. Tenho preparo e treino para lidar com as perguntas que chegam. O sexólogo não tem todas as respostas, mas, em geral, as perguntas do público nós sabemos responder. Faz parte do nosso repertório.


12. Em um cruzeiro marítimo no começo deste ano, o cantor Roberto Carlos se soltou e tirou algumas dúvidas com você. Até surgiram boatos de que teria rolado um clima entre vocês. Rolou algo? Eu dei duas palestras em um cruzeiro para o público dele. Mas esse boato foi a maior bobagem. Isso surgiu porque ele não aparece tanto nesses momentos, principalmente em uma palestra de sexualidade. Ele perguntou de forma divertida. Foram duas questões polêmicas, sobre ejaculação feminina e depois sobre piercing genital.


13. Você também recebeu uma cantada do lutador de MMA Jon Jones durante as gravações do programa Altas Horas. Alguém no programa já foi mais longe e a chamou para sair? No programa, não. O mais ousado foi mesmo o Jon Jones, que me pegou até de surpresa. Mas eu consegui sair pela tangente. Foi divertido.


14. Acabamos de vivenciar uma Copa do Mundo em nosso país. Em todo Mundial surge a mesma discussão: sexo na concentração ajuda ou atrapalha o desempenho? Se, para aquele homem, o sexo relaxa e não cansa, pode mesmo ser bacana transar antes do jogo. Mas, claro, precisamos analisar cada homem e cada transa.


15. Recentemente, o zagueiro da seleção David Luiz afirmou que acredita ser melhor esperar até o casamento para ter relações sexuais. Em um adulto, a falta de sexo pode ter que implicações práticas? Se para os valores dele é importante ficar sem sexo, vai fazer bem. Precisamos lembrar que viver o sexo não é necessidade básica de uma pessoa, como comer e dormir. Sexo pode ser um grande prazer, mas há pessoas que conseguem adiar essa vivência e se sentem mais confortáveis assim.


16. A imaginação na hora do sexo vai longe. Fetiche tem limite? Cada pessoa tem seus fetiches, e é tudo uma questão de grau. Um fetiche que fica na atração e que não tortura nem aprisiona pode ser saudável e estimular a imaginação erótica, mas quando esse fetiche incomoda, aí é importante olhar com cuidado e buscar ajuda de um psicólogo.


17. Entre os fetiches masculinos, um dos mais comuns é o sexo anal. Muitas mulheres reclamam de dor e incômodo nessa prática. Isso é uma questão mais de dominação ou é uma questão de dor mesmo? Há algo que possa ser feito para amenizar o incômodo? Pode ter a ver com a dominação e também pode ter dor física, mas o casal precisa estar bem a fim, principalmente a pessoa que está recebendo. Precisa estar relaxada e bem excitada. A dica é usar um lubrificante, porque o ânus não tem a lubrificação natural da vagina. Algumas mulheres gostam da dominação, gostam do sexo anal e podem até chegar ao orgasmo com ele.


18. Você chegou muito bem aos 44 anos. Se acha sexy? Eu acho que tenho momentos mais sensuais e outros nem tanto. Oscilo como qualquer outra mulher.

19. Quando foi a sua primeira vez? Foi bom para você? Isso vai ficar em segredo. Estamos misturando muito as esferas pública e privada, principalmente nas redes sociais. Outro dia eu vi que a nova moda no Instagram é o "after sex" [fotos de casais que acabaram de transar]. Precisamos segurar a mão nessa exposição.


20. Você pensa no trabalho enquanto está na cama? [Risos.] De forma alguma. Trabalho é trabalho e lazer é lazer. Deus me livre!


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