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LEANDRA LEAL | MARÇO, 2005



Na novela ela só usa preto. Aqui, posa de azul claro, fala de sexo, e diz que xingaria meio mundo se ganhasse um Oscar


POR JACKSON BEZERRA

FOTO NANA MORAES


Ela está longe do estereótipo de gostosa. Alguns podem até considerá-la gordinha. Mas o rosto de anjo e os olhos de diabinha da jovem Leandro Leal vêm atraindo a atenção do público masculino na novela Senhora do Destino, a sétima de sua carreira. Aos 22 anos, é um raro rosto bonito das novelas que não foi talhado na Oficina de Atores da Globo. Seu playground foi o Teatro Rival, no centro do Rio de janeiro, pertencente a sua família há 70 anos e hoje foi rebatizado de Rival BR. A convivência com artistas, a começar por sua mãe, a atriz Ângela Leal, proporcionou-lhe momentos ímpares. Segundo conta, já teve um Parabéns a Você cantado por Elza Soares, foi carregada no colo por Grande Otelo e ainda convenceu Dias Gomes a assistir uma pecinha protagonizada e organizada por ela aos 4 anos. Ela acha que a companhia freqüente de adultos e artistas queimou etapas e abreviou a adolescência. "No colégio, eu já sabia o que era maconha antes de a galera conhecer", lembra.


Leandra estreou na TV aos 12 anos na série Confissões de Adolescente e um ano depois filmou A Ostra e o Vento, longa de Walter Lima Jr. que acabaria por consagrar a menina prodígio. Ganhou vários prêmios, entre eles o de melhor atriz nos festivais de Biarritz e Miami. "Prêmio é chatice, é pra encher a prateleira.", diz. A carreira decolou a partir daí. No teatro, trabalhou em três peças, sendo uma Impressões do Meu Quarto, de sua autoria em parceria com a amiga Bianca Gismonti. Fez seis filmes, entre eles os sucessos Cazuza, o Tempo Não Pára e O Homem Que Copiava.


Leandra cursou faculdade de dança, "Não terminei. Gosto mesmo é de atuar." E conversar. "Gostaria de apresentar um programa de TV para poder falar." Sobre o estouro do novo cinema nacional, é polêmica. Diz que há muitos filmes ruins sendo feitos. Sobre sexo, não enrola: "Sou muito individualista nessa coisa". Quando o assunto são as cenas quentes, diz que, antes, estuda muito, mas na hora de filmar não afina: "Esqueço o pudor e dane-se". Mas só se for com um bom diretor. "Cenas de sexo em geral são muito malfeitas, estereotipadas." Para entrevistar Leandra Leal, PLAYBOY convocou o jornalista Jackson Bezerra, que cumpriu a tarefa em duas horas de conversa no apartamento da atriz, no Rio de Janeiro.





1. Com que diretor você gostaria de filmar uma cena de sexo? Com certeza com o Pedro Almodóvar. O cara é muito louco. Eu tenho inveja daquelas atrizes dele, queria ser que nem elas, estranhas, fortes. E ninguém filma sexo como ele. Você viu Carne Trémula? Aquelas duas bundas pra mim é delírio [cena entre os atores Liberto Rabal e Francesca Neri]. E aquele mergulhador de brinquedo em Ata-me? A Victoria Abril de perna aberta na banheira e o negocinho vem nadando por baixo d'água até se encaixar nela. É lindo. Aliás, todas as imagens de sexo que ele produz funcionam, dão tesão. Com ele, eu faria uma cena dessas sem medo.


2. Por que você não se aproxima do Caetano Veloso, que é muito amigo dele? Aí é fogo. Quando o Almodóvar vem aqui, se enfia lá na casa do Caetano, em Salvador.


3. O Almodóvar é um diretor que tem facilidade em tocar no assunto da homossexualidade. Você também é assim na sua vida pessoal? Claro, tenho muitos amigos gays, convivo muito com eles. Mas na verdade acho que o ser humano é animal. Acredito que tenha homem que só se interesse por homem e mulher que só gosta de mulher. Existem héteros também é óbvio. Agora, tesão já é outra coisa. Não venha me dizer que só sente tesão por homem ou mulher. Ou por planta...


4. Ou por vegetais... [risos] Tesão a pessoa sente por qualquer coisa, tem gente que freia e tem gente que não. "É gay", "não é gay", acho essas definições católicas. Sexo não é procriação, é felicidade.


5. Como foi fazer sua primeira cena de sexo, no filme A Ostra e o Vento, quando você tinha 13 anos? Todas as cenas daquele filme foram difíceis. E essa em que eu transo com o vento não foi mais complicada do que as outras. A gente ensaiou muito ante... já cheguei ao set com tudo resolvido. A única saia-justa aconteceu naquela cena em que eu apareço com o vestido molhado, transparente.. Fiquei muito envergonhada. Mas a da transa foi tranqüila. Nunca fui encanada com sexo.


6. Você ainda ensaia hoje em dia para fazer cenas mais quentes? O importante é conversar antes, pra não ficar com medo. "Não quero que mostre tal parte do meu corpo." Na reunião é preciso um diálogo sem pudor, mais do que durante a cena.


7. Sexo é simples? Sou individualista nessa coisa de sexo, sabe? Importa eu na parada, ser feliz. Acho que a gente desenvolve a sexualidade durante a vida toda, independentemente do parceiro com que se está no momento. Um cara bacana ajuda, mas é a capacidade de cada um que precisa ser aprimorada.


8. Você é segura assim desde o início de sua vida sexual? Começar a transar foi uma decisão consciente minha, apesar de não ter sido racional. Aliás, racional nessas horas é só usar camisinha: tem que ter pelo menos um neurônio que apite na hora H e nos lembre disso. O resto é felicidade. E, se estou com uma pessoa de quem eu gosto mesmo, aí é fenômeno, é sensacional, fogos de artifício.


9. Suas amigas também são como você, descomplicadas? Cara, tenho amigas que eram virgens e enrolaram o namorado um ano, separaram e transaram logo depois com outro cara. Eu ficava indignada: "Coitado, você cozinhou o sujeito um ano!"


10. A maioria das pessoas é preconceituosa? Passa Robocop à tarde na TV, mas pessoas do mesmo sexo se beijando não pode? Sexo é um tabu? Sexo é a solução! Pode matar alguém, não pode beijar?


11. Você gosta de ver TV? Não falo mal. Quando acho ruim, simplesmente não assisto. Adoro o Saia Justa, do GNT. Eu sei que é bem pra mulherzinha, mas eu adoro e gostaria de fazer parte do elenco. E aquela velhinha, a Sue Johanson [do programa Falando de Sexo com Sue Johanson], também do GNT? É muito boa. Alguém liga e diz uma barbaridade qualquer: "Como eu faço pra dar a bunda?" E ela não se abala: "Faça isso", "faça aquilo". Adoraria ter um programa de entrevistas meio trash.


12. E cinema? Você gosta da nova safra de filmes nacionais? Tem quem ache que a gente tem que torcer para o cinema brasileiro, mesmo que seja ruim. Até torço, mas conto nos dedos os bons. Pra mim, é o boom da linguagem televisiva no cinema. Tem muito lixo sendo feito. Amarelo Manga é muito bom. Achei legal O Homem Que Copiava, que eu fiz. Carandiru acho ruim. Gosto mesmo é de documentários, como o 174, Janela da Alma e Edifício Master.


Tem quem ache que a gente tem que torcer para o cinema brasileiro, mesmo que seja ruim. Tem muito lixo sendo feito.

13. Você gostaria de ganhar um Oscar? Prêmio é chatice, é pra encher prateleira, mas eu amaria ganhar um Oscar. Eu seria mais heavy do que o Michael Moore [cineasta americano que fez discurso anti-Bush ao receber o Oscar em 2003 por Tiros em Columbine]. Faria um discurso político, mandaria meio mundo se foder. O povo que escolhe os premiados não dá, né? Onde já se viu Fernanda Montenegro perder para a Gwyneth Paltrow, aquele poste?

14. Já tinham me avisado que você é uma garota de opinião. Cresci convivendo com adultos nos teatros. Acho que isso influenciou. Fazia teatro amador com a galera que estudava comigo e era a única que se interessava por Constantin Stanislavsky [russo que criou no século 19 um método de estudo para atores].


15. Ator que não lê não vai pra frente? Acho que pode ir, sim. Não tem a ver com ler ou não ler. No começo da minha carreira, me apaixonava por grandes atores, mas com a convivência descobria que não eram caras tão interessantes. Apesar de serem bonzaços na profissão, eram muito decepcionantes como pessoa.


16. Quem são os homens que você considera bonitos? Meu namorado, o Lirinha [José Paes Lira, do grupo Cordel do Fogo Encantado], o Chico Buarque, o Gael Garcia Bernal. Este é lindo, mas não gostei dele fazendo o Che Guevara [no filme Diários de Motocicleta]. Lembra daquela cena em que ele atravessa o Amazonas a nado? Com aqueles bracinhos? Teria morrido no meio do caminho. Che era demais, um cara forte, li tudo sobre ele.


17. Como é contracenar com Renata Sorrah na novela Senhora do Destino? É uma pessoa contagiante, encantadora. A personagem dela é fantástica, uma piranha de carteirinha. Pegou motorista de táxi, bicheiro. Não temos cena boba, aquela coisa "Oi, tudo bem?" A história em torno do nosso núcleo é pancada.


18. Você sabe que desde a estréia da novela os homens estão reparando mais em você, inclusive o leitor de PLAYBOY? Será? Mas eu acho que não tenho o perfil. Só se for por causa da roupa preta. A pessoa começa a usar preto e já acham que é "a gostosa" [risos].


19. A maioria dos homens não repara nessas coisas. Mas que você está uma gata, isso está. Antes que você me convide para posar, já digo que não vou mesmo. E tenho uma boa desculpa: acho que o ensaio da Alessandra Negrini [abril de 2000] é tão lindo que ninguém mais precisa posar nua depois dela...


20. Você nunca teve vontade de posar nua, nem para um namorado? Já fiz. Mas prefiro manter bem guardado.


PRODUÇÃO MARIANA SANTIAGO

CABELO E MAQUIAGEM SANDRA MOSCATELLY


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