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A NÚMERO 1


"Nesta banca tem Homem". O anúncio, em todas as bancas de jornal do país chamava a atenção para uma nova revista que acabava de chegar: A Revista do Homem. O Brasil, sob o manto negro da ditadura militar, instituiu o Decreto-Lei nº 1077, censurando qualquer publicação considerada imoral. A justificativa do governo militar, nas palavras do então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, era que as “revistas de mulher pelada” estimulariam a “licenciosidade, insinuariam o amor livre e ameaçariam destruir os valores morais da sociedade brasileira”. Assim, a Ditadura não aceitou dar o “pecaminoso” nome de PLAYBOY à nova publicação. Era agosto de 1975, há exatos quarenta anos, e os 135.000 exemplares daquela novidade esgotaram em poucos dias. Era o início de uma era: A Era do Coelho.


UMA NOVA REVISTA

"Um país novo. Um novo homem. Homem exigente num país que se transforma dia a dia. Nunca, como agora, existiram maiores oportunidades para o homem conhecer-se melhor e entender o mundo que o cerca.

Entendendo seu mundo torna-se exigente na medida em que vê as coisas com lucidez e ideias e arejadas, podendo amar e usufruir o que é bom, sofisticado e belo. Para esse homem, esta revista. Revista que interessa ao homem no seu lazer, no seu prazer intelectual e também profissionalmente.

Revista para ajuda-lo a tornar-se completo. Para atualiza-lo em todas as áreas do seu interesse inteligente: política, negócios, esporte, aventuras, ciência, arte, cinema, moda, literatura.

Tudo isso sem desprezar as boas coisas da vida: uma bela viagem, o melhor som, boas bebidas, roupas elegantes, um belo iate. E, naturalmente, nas doses certas, um outro assunto de grande interesse: a mulher.”


Essas foram as palavras do jornalista e empresário e jornalista Victor Civita, fundador da Editora Abril, no editorial que abria a Edição número 1. Uma edição que teve em suas páginas a nata de tudo aquilo que Victor definiu como os grandes interesses do homem de então. Quem tivesse a revista em mãos se depararia com Jorge Amado publicando com exclusividade um capítulo do seu novo livro Guerra dos Santos (título original da obra que se chamaria posteriormente O Sumiço da Santa), Paulinho da Viola, assinando uma coluna sobre Música Popular Brasileira, Arthur C. Clarke, autor de 2001 – Uma Odisseia no Espaço, trazendo seu mais recente conto, A Passagem da Terra, o cineasta Francis Ford Copolla, falando sobre o grande sucesso de O Poderoso Chefão, Ziraldo e seu humor inconfundível, e muitas outras atrações que iam de política à música erudita, de Pelé à Família Kennedy. Todos estavam lá. Todos queriam estar lá.

Qual o segredo daquela revista? Por que se tornou a maior, em meio a publicações que já dominavam o mercado de masculinas, como Fairplay, Ele&Ela, Status? Seriam o humor, as matérias gastronômicas, a sofisticação do universo masculino, os artigos, as entrevistas? Em parte. O maior trunfo de PLAYBOY sempre foram as suas mulheres. Ah, as mulheres...


A PIONEIRA

Livia Keila Mund tinha apenas 19 anos de idade e dois de carreira quando se tornou a primeira Garota do Pôster, a Playmate da revista (quando ainda nem se podia usar essa denominação). Natural de Macaé, Rio de Janeiro, filha de pai alemão e mãe ítalo-francesa, Livia quase foi bailarina, quase foi freira, mas acabou se rendendo mesmo ao mundo da moda. Dona de uma beleza angelical e estonteantes olhos verdes, logo ganhou as capas das grandes revistas e as passarelas internacionais. Por tudo isso, Livia foi escolhida para ser a capa da primeira edição da HOMEM/PLAYBOY. Mas não é ela a mulher da capa, como muitos imaginam. O que há por trás disso? Quem conta, em primeira mão, é a própria Livia Mund, nossa estrela número 1: “Realmente não sou eu quem está na capa da revista e existe uma história sobre o motivo de eu não estar lá. Posso conta-la aos leitores. Para essa edição, eu fui fotografada para o ensaio, o pôster e a capa, mas ela precisou ser retirada da gráfica e foi substituída pela que todos conhecem. O motivo da troca é que, naquele mesmo mês, eu estava em outra capa, a da revista NOVA. Hoje é absolutamente normal, mas, naquela época, uma modelo não poderia estar em duas revistas ao mesmo tempo, por isso, teve uma disputa entre as redações e a NOVA acabou ganhando. Por eu ser a Playmate, todos acham que também estou na capa, mas na verdade é a Rosecleyde. Trabalhávamos juntas na época, quando recebi um comunicado urgente da redação, avisando sobre a troca e pedindo uma indicação (naquela época não tinha agência de modelos). Perguntei se ela toparia e ela então me substituiu na capa. Essa história ninguém sabe!”


Em entrevista à revista QUEM, em agosto de 2012, Livia também relembrou o inesquecível ensaio: “Recebi o convite através da redação e da produção da revista. O fotógrafo dessa matéria foi o Roger Bester. Eu me lembro como se fosse hoje, fazia sol em São Paulo... Eu já era modelo, sabia lidar bem com as lentes, então tudo foi muito tranquilo, não fiquei nervosa. Foram três dias de ensaio. As fotos em que apareço na moto foram produzidas em estúdio em um dia inteiro, no segundo dia tivemos as fotos externas, de rua, locação. No último dia fizemos a foto de abertura da matéria e o pôster, em um sítio lindo próximo de São Paulo. O resultado ficou como imaginávamos, belo, elegante. Naqueles anos de ditadura as fotos passavam por uma censura prévia antes de serem publicadas. Não podiam aparecer ao mesmo tempo os dois mamilos, o bumbum, só uma parte. Púbis, então, nem pensar. O nu era insinuado, sugerido, então o leitor tinha que usar a imaginação e recriar aquele ambiente, imaginar como seria o corpo feminino através do que estava à vista, a pele, os cabelos, pescoço, pedaços de coxas, ombros. A sedução estava no mistério, no olhar da modelo e no pouco que era permitido mostrar.”


Ah, as mulheres e seus segredos... Desde aquele longínquo 1975, o Brasil passou a saber que só a PLAYBOY poderia trazer aquela deusa que habitava nossos sonhos mais escondidos. Um novo ritual estava firmado. Tendo o jornaleiro como testemunha, passamos a nos encontrar naquela banca de jornal de sempre. Tomamos nos braços e a conduzo com todo cuidado, preciosidade que é. Rasgar aquele plástico que envolve a revista é como se fosse o ato de despir a mulher da capa. Passear por suas páginas é como abrir a porta para um mundo só nosso. Ali, aquela mulher me revelaria seus segredos. E sorri para gente, selando nossa cumplicidade.

Desde então, no mês seguinte, novo sonho, novo encontro, novas surpresas, novos sorrisos.  Tantas mulheres foram nossas, mês após mês, mas elas não tinham ciúmes umas das outras. Todas têm o mesmo lugar de destaque, nesse nosso invejável "harém"...

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1 Comment


pereiraleomar48
pereiraleomar48
Aug 24

E playboy deixou escapar a oportunidade de trazer as duas estrelas juntas, Livia Mund na capa e Rosicleyde no poster de uma edição regular nos anos 80

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