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MARÍLIA GABRIELA | MAIO, 1991

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com a rainha do telejornalismo brasileiro

sobre os bastidores de suas famosas entrevistas, amores, sexo, poder, fama e a possibilidade de posar nua


Boa noite. O Cara Cara que PLAYBOY apresenta, com exclusividade, a partir deste instante não tem trilha sonora, vinheta, cenário escuro, luzes, câmeras, ação. Mas por pouco não é apenas mais uma grande performance da geminiana Marília Gabriela Baston, 1,78 m, 65 quilos, 42 anos, enormes olhos azuis, boca imensa, cabelos louros e encrespados à custa de permanente, que o público aprendeu a conhecer, respeitar e admirar em 21 anos de televisão. Sim, depois de ter aceitado conversar com PLAYBOY, ela mostrou por que é a mais competente entrevistadora da televisão braseira: em vários momentos, procurou virar o jogo, transformando o editor-contribuinte de PLAYBOY Paulo Markun em entrevistado, acuando-o num canto do ringue com muita elegância, inegável charme, os famosos olhos azuis e perguntas aparentemente inocentes do tipo "Você não achar?"


Mas a tática não funcionou e o resultado das quase oito horas de conversa, boa parte delas na sala de seu espaçoso apartamento, alugado, no coração dos Jardins, é a mais completa exposição de Gabi. Até o momento, já que, entre outras coisas, saberemos por que não aceitou, ainda, o convite da revista para posar em nossas páginas.


Entre as explicações sobre seu infalível método de arrancar a confissão de namoros e paixões platônicas de ministros de Estado e detalhes picantes sobre suas reações ao outro convite de PLAYBOY, Marília Gabriela entregou bastidores de entrevistas históricas, como a do presidente Fernando Collor, do líder dos palestinos, Yasser Arafat, do presidente da Argentina, Carlos Menen, do dirigente da Líbia Muamar Khadafi e da atriz Shirley MacLaine, revelou suas preferências românticas e mostrou que poderia, perfeitamente assumir o lugar reservado ao outro em seu próprio programa.


Afinal, todos nós telespectadores e agora leitores de Gabi ouviríamos com interesse a história da mocinha espevitada de 18 anos que viu Paula Mário Mansur, diretor de jornalismo da Rede Globo em São Paulo, correndo atrás de uma loura num baile de Carnaval, em 1969, postou-se diante dele e saiu-se com essa: "Só saio daqui se você me receber na quinta-feira, na sua sala". E o diretor não teve outro jeito senão concordar com o pedido. Na data marcada, a moça explicou que queria um emprego no recém-lançado Jornal Nacional e o diálogo foi assim:


Ele: "Você é jornalista?"


Ela: "Não".


Ele: "Já trabalhou?"


Ela: "Fui modelo".


Ele: E por que acha que vai ser repórter de televisão?"


Ela: "Porque vai ser a única coisa que eu vou saber fazer na vida".


Como se vê, ela estava certa. O sucesso trilhou uma longa estrada, que começou diante de uma reportagem insólita, sobre uma família que teria trocado um violino Stradivarius por uma galinha. O instrumento, afinal, não era um verdadeiro Stradivarius, mas a matéria da repórter iniciante foi ao ar e ela foi contratada. Ela teve seu grande momento em 1980, quando a mesma Globo resolveu promovê-la a apresentadora de um programa dedicado ao público feminino — o TV Mulher. A idéia não agradava ao Boni, que implicava com a voz da repórter. Mas o fato é que o programa deu certo, a apresentadora mais ainda e Gabi teve direito, inclusive, a uma fotolegenda no New York Times, onde ficou registrado que a anchorwoman de um revolucionário espaço feminista da televisão brasileira, recheado de comentários, entrevistas e até conselhos sobre sexo, tinha apanhado muito da mãe quando criança.


Essa mãe severa ainda ocupa um grande espaço no universo interior de Marília Gabriela, que jura ser, por dentro, a mesma garotinha descendente de italianos que passou muitos dias de férias no cinema do tio, impressionou-se com o avô blasfemador e irreverente e adotou o sotaque carioca de um vizinho tão garoto quanto ela, abandonando definitivamente o erre acaipirado de Campinas, onde nasceu, Sertãozinho e Ribeirão Preto, por onde passou até os 18 anos, quando chegou a São Paulo. Na capital, morou em pensões com artistas como Gina Le Feu, Marisa Gata Mansa e uma certa Sonia Braga. Apaixonou-se e casou aos 20 anos com Reinaldo Hadad, um empresário que, entre outras atividades, trouxe para o Brasil as chamadas pulseiras magnéticas, aquelas que, segundo a propaganda, aliviavam as tensões de quem as usava. Tempos atrás, elas estiveram na crista da onda, mas, como todo modismo, sumiram do mapa. Viúva precoce, ela casou-se novamente, com o tenista e empresário Zeca Cochrane. Hoje, curte o que define como vantagens de ser sozinha. E avisa: adora namorar.


Freqüentadora assídua de divãs famosos, como os de Roberto Freire, José Ângelo Gaiarsa e Flavio Gikovate, sabe reconhecer seus fracassos — como a tentativa de virar cantora — e os sonhos inatingíveis — ser bailarina clássica, por exemplo. Para manter a forma, sobe sessenta andares todos os dias não literalmente, mas na extenuante prática do step, a ginástica que, com a ajuda de uma pequena plataforma, simula a subida numa escada. Acorda muito cedo, sai pouco à noite, tem uma coleção de caixas de fósforos tão à mostra quanto os livros cuidadosamente arrumados na estante da sala, ao lado de troféus de melhor apresentadora e de lembranças de suas façanhas jornalísticas, como uma Santa Ceia em madrepérola, diplomático presente de Yasser Arafat. Só usa maquiagem, e mesmo assim pouca, na televisão. Durante o dia, circula pela cidade como se a notoriedade não fosse dela, mas de outra pessoa. Apresentadora do Jornal Bandeirantes, mediadora dos debates presidenciais, alma do Cara Cara, ela quer mais, sempre mais. E admite: "Gosto de viver perigosamente. Qualquer coisa que não tenha emoção, emoção, emoção me parece simplesmente tédio". Senhoras e senhores, cara a cara com todos, Marília Gabriela.


PLAYBOY — Vamos começar com uma pergunta que todo mundo quer fazer. Como é que você consegue arrancar da Zélia que ela está de aliança, que está apaixonada, ou tirar do ministro Jarbas Passarinho que ele tem uma paixão secreta...


MARÍLIA GABI GABRIELA — Um romance latente [risos]. Aliás, outro dia, no Jornal, eu perguntei: "E aquele romance latente, ministro, continua?" E ele: "Não, a sua entrevista matou". [Risos.]


PLAYBOY — Mas como é que se consegue isto na televisão, que, obviamente, é uma arena onde em geral os entrevistados estão sempre travados?


GABI — O programa dá uma ilusão de intimidade, não tem ninguém no estúdio, só três técnicos escondidos atrás das câmeras. O cenário, escuro, só tem focos de luz em cima de mim e do entrevistado, e nós estamos muito próximos. Esta é a parte física do programa, e existe um outro lado: eu jogo com muita lealdade, respeito muito as pessoas, acho que elas só dizem o que estão prontas para dizer. Por isso, não acho que consegui arrancar da Zélia que ela estava apaixonada e nem do Passarinho que ele tinha um romance latente com uma mulher mais nova. Eu não arranquei deles — eles disseram porque estavam com vontade e em algum momento sentiram que era a hora de dizer e que ali era um bom lugar.


PLAYBOY — Você mostra as perguntas ou pelo menos os temas a quem vai ficar cara a cara com você?


GABI — Apresento as perguntas, que não são rígidas, claro. Se percebo que o assunto está de alguma forma ferindo a sensibilidade eu seguro, não sou aquela que busca um furo a qualquer preço. Tenho uma relação de muito amor — esta é uma palavra delicada para colocar aqui, mas eu gosto muito das pessoas que entrevisto. Quando vou entrevistá-las, passo uma hora pelo menos tentando pensar como elas pensam. Descobri isto há muito pouco tempo, na psicanálise.


PLAYBOY — A entrevista com o ex-ministro Bernardo Cabral não foi assim, foi meio obrigatória...


GABI — Qual? Eu fiz duas.


PLAYBOY — Aquela em que ele deu uma espécie de resposta à da ministra Zélia...


GABI — É, foi a primeira entrevistona que ele deu depois que caiu. Eu estava certa de que ele passaria informações, contava com isso, mas ele sonegou tranqüilamente, com a maior categoria, o maior gabarito.


PLAYBOY — E aí você reage como?


GABI — Cutucando. Foi o que aconteceu na minha primeira entrevista com o ex-governador Orestes Quércia, em que ele não tomava nenhum partido, não assumia nenhuma opinião. Fui ficando louca, comecei a pensar "este programa vai ficar muito ruim" . Então comecei a cutucar, cutucar e quanto mais eu batia menos ele assumia alguma coisa. Achei que o Quércia nem ia voltar ao programa, porque a primeira experiência foi tão ruim. Mas ele veio, e no segundo Cara Cara foi tranqüilíssimo, seguríssimo, me deu uma entrevista deliciosa, cantou, disse coisas, frases de efeito e tudo. Este tipo de coisa acontece.


PLAYBOY — Então o Cara Cara não tem um manual de redação decretando que a notícia tem que ser publicada a qualquer preço?


GABI — Não, não.


PLAYBOY — E como é o seu manual?


GABI — O meu é um testemunho de vida. Quebrei muito a cara dando entrevista e percebi que existe um limite, o limite do bom gosto, do respeito.


PLAYBOY — Qual foi a pior entrevista que você fez?


GABI — Já citei uma que foi resgatada completamente. A outra foi a do Faustão [Fausto Silva]. Ele é inintrevistável. Não responde a nenhuma pergunta. Você percebe rapidamente que ele está fazendo um show. Ele usa sua entrevista para fazer uma piada atrás da outra —fez o maior sucesso, inclusive. Todo mundo chegava para mim e dizia: "Ótima a entrevista do Faustão" e eu: "Que entrevista? Foi show". E, o pior — depois de não responder a nada, arrematou: "Você é fogo, hein?" Tenho por hábito interromper o convidado e dizer: "Escute, o senhor não respondeu à minha pergunta". Vira e mexe eu faço isso. Com o Paulo Maluf, até consegui uma boa resposta, em que ele acabou dizendo: "A que horas entra este programa? Depois das 10?" Eu disse que sim, e ele falou: "Então eu posso dizer. É que no Brasil, o político ou é veado, ou corno ou é ladrão, e a mim escolheram como ladrão" [risos]. A insistência valeu por esta frase de efeito muito engraçada.


PLAYBOY — O programa em que você entrevistou o presidente Fernando Collor não foi como os outros... Quem ficou nervoso? Você ou ele?


GABI — Não foi mesmo. Primeiro, houve a dificuldade de conseguir a entrevista. Segundo, conheço o presidente há um bocado de tempo e ele hoje é muito mais formal do que era. Eu não estava nervosa, eu estava sóbria, de acordo com a situação... A entrevista começou tensa e ele estava mais tenso do que eu. E muita gente estranhou porque todo mundo está acostumado a me ver dando palpite, me mexendo demais, mais entrona nas entrevistas, mas isso não aconteceu nesse programa.


PLAYBOY — Qual foi o lbope dessa entrevista?


GABI — Ninguém sabe. Aconteceu urna coisa muito curiosa. Dizem que o aparelho que marca o Ibope quebrou justamente na hora do programa.


PLAYBOY — Mas qual foi a reação do público?


GABI — Estas flores todas que estão aqui [aponta para a sala cheia de buquês] eu recebi de quem achou o programa exemplar. Acho que o presidente estava um bocado nervoso, depois foi se descontraindo. E eu estava como sempre estou, fazendo todas as perguntas que tinha de fazer, prestando muita atenção para interferir quando necessário... Só que estava diante do presidente da República. Eu o maquiei ainda antes de entrar no ar — isso não é coisa de gente nervosa. Disse a ele: "Seu nariz está brilhando, posso passar um pó-de-arroz no senhor?" E ele: "Tudo bem".


PLAYBOY — Ele riu?


GABI — Não, foi formal.


PLAYBOY — Foi estabelecido algum tipo de condição para essa entrevista ser feita?


GABI — Não. Eu ainda perguntei se os assessores do presidente queriam uma conversa prévia, mas disseram que não era necessário. Expliquei que costumava falar antes do programa com meus entrevistados, mas só por alguns minutos, e foi assim. O estúdio era no subsolo do Palácio do Planalto, eu não tinha monitor, não via o que se passava no vídeo. Éramos nós dois mais os câmeras no estúdio. Nos intervalos ainda rolou um papo mais informal, ele se queixando: "Imagine, que loucura, deixei de sair para fazer exercícios um domingo, porque estava com uma bicicleta ergométrica nova em casa, e a imprensa toda cobrou..." E eu ainda brinquei: "Bem-feito, ninguém mandou começar. Agora vai ter que fazer todo domingo, mesmo que esteja com febre de 40 graus". Ele riu e tal. Mas ele é formal e foi uma entrevista formal. Eu me dou por satisfeita, perguntei tudo, do PC à questão social...


PLAYBOY — Você acha que ele deixou de responder alguma coisa?


GABI — Acho que muita coisa ele respondeu com essa hábil prática do político de responder com alta dialética, e no final fica um discurso vazio.


PLAYBOY — Em boa parte do tempo o presidente olhava para um ponto a alguns centímetros dos seus olhos. Olhava para onde?


GABI — Era espaço vazio mesmo. Só tinha um pano preto atrás da gente. Acho que é coisa dele. Enquanto falava no gabinete ele olhava assim também, longe, de lado. Deve ficar pensando.


PLAYBOY — O presidente lembrou seus tempos de repórter para passar um pito na imprensa, dizendo que ela inventa, cria e não checa as informações. Nesse momento você não teve vontade de...


GABI — De defender a classe? Não. Não mesmo. Sabe por quê?


PLAYBOY — Seria vestir a carapuça?


GABI — Primeiro, vestir a carapuça. Segundo, eu acho que aquilo foi mais um desabafo, de mais uma pessoa focalizada pela imprensa. Isso é um hábito, está todo mundo acostumado a ouvir gente reclamando da imprensa. E, depois, aquele foi o primeiro e grande momento da entrevista. O único em que ele foi absoluta e completamente espontâneo. Então eu parei, fiquei em êxtase e pensei: "Opa, eis aqui uma pérola nessa entrevista". Era aquele presidente da República, absolutamente formal, num enorme desabafo.


PLAYBOY — Que outros momentos da entrevista você destacaria?


GABI — O presidente foi muito profissional. Como, por exemplo, em relação a Zélia. Ele conseguiu um efeito específico e importante, que foi a confirmação da Zélia no cargo, o que significava baixar a inflação, recomeçar a negociação da dívida externa, que estava parada em cima das especulações de que a equipe ia cair.


PLAYBOY — Quem foi o entrevistado que mais te marcou?


GABI — O rei da sedução chama-se Fidel Castro. Nunca vi nada parecido na minha vida. Ele entra no ambiente e muda o metabolismo da sala! Hoje é uma figura um tanto antiquada, politicamente complicada, mas ainda assim uma pessoa absolutamente carismática e sedutora. O Arafat, que é uma pessoa extremamente interessante, apaixonado, não passa nem perto. Quanto ao Menem, achei que fosse encontrar um carisma ambulante, mas não. Ele é articulado, fala direito, se defende perfeitamente bem, mas falta charme mesmo, aquela coisa maior do sedutor, do carismático. Ele fala muito bem das coisas pessoais, tenho a impressão que ele é um excelente companheiro para um almoço, um jantar, um churrasco, porque aí ele deslancha. Tocou em assuntos como Zuleima [sua ex-mulher, de quem se separou em janeiro de 1990, num caso ruidoso. Ela acusou-o de ser mulherengo e de ter assessores corruptos], tango, futebol, é formidável.


PLAYBOY — Das entrevistas internacionais, qual deu mais trabalho?


GABI — A do Khadafi e a do Arafat. A do Khadafi foi delicada porque se tratava da primeira entrevista depois do bombardeio [o ataque à Líbia feito pelos americanos em abril de 1986]. Então, foi muito cercada de cuidados. Chegar lá foi difícil. Nosso equipamento foi todo revistado a partir do aeroporto. Esperamos a hora de fazer a entrevista, cumprindo as programações que eles estabeleciam — visitas a usina de eletricidade, fábrica de laticínios, este tipo de coisa. Na do Arafat teve tudo isto, só que de uma maneira um pouco mais velada. Fui daqui acompanhada por alguém da OLP [Organização para a Libertação da Palestina]. Lá, fui hospedada num hotel da OLP em Túnis, onde fiquei esperando noite após noite, porque ele costuma trabalhar até muito tarde — e eu sentada, maquiada, caindo de sono, pensando "é hoje, é hoje", e passavam-se as horas e nada. Isto durou uns cinco dias. Eles tomaram todos estes cuidados, cinco metralhadoras atrás dos câmeras o tempo todo. Mas o resultado foi uma ótima entrevista. Esse pessoal com cabeça a prêmio é complicado e, claro, mais difícil de entrevistar.


PLAYBOY — E como foram os bastidores da entrevista com a Shirley MacLaine?


GABI — Na hora em que ia começar, ela perguntou: "A luz é assim mesmo?" Eu disse que era, ela levantou, mudou a luz, mudou o ângulo da câmera, encarou a ironia dos técnicos e ainda me falou: "Não dá risada não, aprende. É para o seu bem". E eu tive uma aula sobre como ter a melhor luz e o melhor enquadramento.


PLAYBOY — Teve momentos engraçados?


GABI — Não. Pensei que ela tivesse mais joie de vivre, que fosse de uma alegria esfuziante... como a que a Dercy [Gonçalves] mantém, que o Jô [Soares] mantém fora de cena. A Shirley é seríssima. Tive que editar grande parte da entrevista dela para tirar os momentos de reflexão.


PLAYBOY — Falando em la MacLaine, como é o seu departamento-místico? Pratica tarô, por exemplo?


GABI — Tarô? Tarei em várias coisas [risos]. Acho lindo o baralho do tarô, acho bonito jogar, mas... acredito em astrologia, adoro astrologia, o resto só me dá prazer. Em 1974, conheci uma senhora alemã no centro de São Paulo, num apartamentozinho, que me falou coisas incríveis... e que acabaram acontecendo.


PLAYBOY — Você lê horóscopo de jornal?


GABI — Todos. Do meu signo, que é Gêmeos, e do ascendente, Câncer.


PLAYBOY — E como faz a média?


GABI — Escolho o que estiver melhor [risos].


PLAYBOY — As emissoras travam uma guerra. Você se sente participante dela?


GABI — Não. Acho que é uma guerra muito cordata e acumpliciada. Não me iludo, eles conversam muito sobre contratos, "Vamos contratar, vamos tirar esse de você, mas acontece que isso e aquilo". Desde que estou na Bandeirantes, recebi convites da Manchete e do SBT, e acho importantíssimo para o currículo de qualquer profissional, mas não usei isso para nada.


PLAYBOY — Como é que chegam para um profissional, um astro de TV, como é esta cantada?


GABI — Profissional?


PLAYBOY — Profissional.


GABI — É assim, tem sido assim. Um almoço, jantar, e aí senta e "Como é que você está lá?" "Estou bem e tal." "Do que que você não gosta?" "Não gosto disso e tal, mas tem aquilo que é positivo." "Ah, porque a gente gostaria muito de ter você na emissora." "Legal, curioso." Aí fazem proposta de trabalho, e de grana ninguém fala [risos]. Numa delas, me lembro que veio uma figura importantíssima, talvez a mais importante da emissora, maior simpatia, expôs os projetos que me interessavam e eu falei: "Escute, faça uma proposta mais concreta". "Bom, isso é outra pessoa que vai falar com você" [risos]. A partir do momento que você se interessa, outra pessoa é que vai falar disso. De dinheiro nunca ninguém fala de cara.


PLAYBOY — E hoje você ganha só dinheiro ou tem também outros benefícios?


GABI — Dinheiro e passagens. Passagens internacionais.


PLAYBOY — Ganha bem?


GABI — Não ganho mal, veja bem, eu não sei... até por uma resolução pessoal não sei quanto ganham as pessoas que fazem o que eu faço. Neste último contrato, há um negócio com um apartamento. Em 21 anos de profissão nunca consegui comprar nada para mim, e agora, de dois anos para cá, consegui encaixar isso tudo no contrato. Agora, não sei quanto as pessoas ganham, não sei se estou ganhando muito menos, ou muito mais. Estou ganhando o que me parece justo e suficiente para mim, e é assim que tem sido acertado nos meus contratos. Às vezes, vejo "fulano indo para tal lugar ganhando tanto". Aí, penso: "Meu Deus, estou ganhando muito pouco!" Mas não sei se a informação é verdadeira, se é especulação.


PLAYBOY — Você ganha menos do que dizem que a Lilian Wite Fibe ganha...


GABI — Eu ganho menos do que dizem que a Lilian Wite Fibe ganha com certeza [risos].


PLAYBOY — E o apartamento para onde você vai mudar... a Bandeirantes comprou para você?


GABI — A Bandeirantes comprou uma parte dele para mim e eu pago para ela todo mês. Foi a única maneira. Eu não teria capital para comprar um apartamento. Comprei na planta, e ainda está em construção. Não teria dinheiro para isso, jamais. Não tinha condição. Então, dei uma entrada, a Bandeirantes pagou a outra parte e o resto está sendo descontado.


PLAYBOY — Mas você fez alguns comerciais, não é?


GABI — Faço exclusivamente para pagar este tipo de conta. Se você me perguntasse se eu gosto de fazer comerciais, não, eu não gosto mesmo. Enche o meu saco.


PLAYBOY — Você acha que nisso eles afetam sua credibilidade?


GABI — Não, porque na prática não aconteceu isso até agora. Sou muito cuidadosa, escolho o que fazer, sou muito procurada para fazer desde... Por exemplo, outro dia me procuraram para fazer uma propaganda de canos hidráulicos. Imagine, eu não vou fazer. De imobiliárias geralmente não pego também, mas de um sabão em pó não tenho por que dizer não. Sou dona de casa também, não tenho nada contra sabão em pó, sabão em pó de marca conhecida.


PLAYBOY — O Boni disse, em sua recente e muito comentada entrevista para PLAYBOY, que, na verdade, só os vendedores, os camelôs eletrônicos, tipo Sílvio Santos, Gugu Liberato e Fausto Silva, ganham dinheiro na televisão. Você nunca fez programas de auditório, nunca quis ser animadora?


GABI — Sou tímida. Aliás, sou timidérrima. Quando eu estreei o Marília Gabi Gabriela [um ex-programa seu, também na Bandeirantes], lembro que uma jornalista escreveu um artigo que achei muito engraçado. Dizia assim: "Eu queria saber o que dá nessa Marília Gabriela que, quando acendem as luzes e as câmeras começam a trabalhar, a gente se retrai, empalidece, emudece, mas ela, ao contrário, se ilumina, brilha e fala". Eu também não sei, acho que sou um bicho de televisão. Para atravessar uma multidão, um restaurante cheio de gente é um problema. Agora, me põe na frente de uma câmera de televisão para conversar com alguém, aí sai da frente. É o meu meio, é o que eu gosto de fazer, o que eu sei fazer e ainda por cima é o leitinho das crianças.


PLAYBOY — Será que isso tem a ver com a sua altura?


GABI — Eu tenho 1 metro e 78 descalça, ou seja, dependendo do sapato chego a 1 e 85, bravamente, com galhardia.


PLAYBOY — Para os rapazes isto é um problema grave...


GABI — É... o problema de altura, o Gaiarsa [psicólogo José Angelo Gaiarsa] uma vez me disse: "Gabriela, você é a Catarina da Rússia", e gargalhava na minha cara e eu ficava p... da vida. "O seu problema é que você é uma girafa, as pessoas olham para você de baixo para cima, o que é complicado." O que gera muita antipatia, também.


PLAYBOY — Mas isso não acontece no vídeo, não é? Você está sentada...


GABI — É, não me dou mal com o meu tamanho, não. Não me locomovo mal... é coisa de timidez mesmo.


PLAYBOY — Qual é o segredo do Jô Soares como entrevistador?


GABI — Qualquer entrevista do Jô é boa porque, se o entrevistado for ruim, ele completa. O Jô é um showman mesmo, então você pode levar qualquer pavoroso entrevistado lá que, no que falhou, entra ele com o talento. Houve uma época que o Boni pensou por alguns anos em juntar o Jô e eu. Quando o Jô foi no Cara Cara, depois a gente foi jantar e ele me disse: "Gabi, seria sensacional nós trabalharmos juntos, porque você levantaria e eu cortaria com a maior facilidade. A gente independeria do entrevistado, juntando os dois estilos". No começo, por insegurança, para passar seriedade na televisão, adotei um modelo certinho. No TV Mulher, a Marília Pêra, na época muito minha amiga, e o Humberto Pereira, que trabalhava na Globo e agora está no Globo Rural, me diziam em situações separadas que eu estava artificial no vídeo. A Marília dizia: "Você é debochada, Gabriela, no ar você fica parecendo um iogurte". Acabei me assumindo. Todo mundo que se expõe numa televisão faz isso porque é um pouco mais carente que os outros. Eu me considero carente de tomo de psicologia. Pega lá o livro, está lá, "c-a-r-e-n-t-e, Marília Gabriela". [Risos.] Então, acho que quem bota a cara, seja para fazer isso ou aquilo, está querendo um pouco mais de atenção ou muito mais atenção, porque está querendo ser mais gostado. Quando você não é outra pessoa além de você mesmo no vídeo, corre um risco de ser amado ou odiado pelo que é de verdade, não pelo seu personagem. Hoje, as pessoas que gostam de mim gostam exatamente de mim, e as pessoas que me detestam, me detestam exatamente como eu sou. Quando vem uma crítica, dói mais, porque sou eu, não estou escondida atrás de personagem nenhum.


PLAYBOY — Como você lida com a sua emoção no vídeo?


GABI — Sou muito transparente. As pessoas sabem quando estou de mau humor ou bom humor, se estou triste. Uma época, o Jô me ligou e disse: "Gabi, preste atenção, que o telespectador não tem culpa disso". Mas acho que não dá para confundir o estado d'alma de uma pessoa que está apresentando com a opinião que ela está emitindo. A minha opinião não é necessariamente a dos telespectadores, não posso ofender a inteligência dos outros, cada um tem as suas idéias e a sua linha de raciocínio. Só que existem alguns assuntos que, acho, são inevitáveis, ou são unanimidade, e nessa hora por que não emitir a sua?


PLAYBOY — Você não vai opinar sobre este ou aquele candidato a governador...


GABI — Exatamente, porque não tenho esse direito. Ninguém sabe em quem eu votei.


PLAYBOY — É verdade que você apanhou demais quando era criança?


GABI — Apanhei pra burro e não foi privilégio meu. A minha irmã apanhou também; a minha mãe batia na gente, ela era rigorosíssima. Batia com cinto, fio de ferro elétrico, essas coisas. Esse é um assunto que já deu muito pano para manga, porque uma vez, muitos anos atrás, falei sobre isso e a família da minha mãe brigou comigo. Mas é verdade, e eu descobri que a minha mãe tinha o sistema nervoso abalado e corroído por uma doença. Ela morreu aos 44 anos de idade com câncer generalizado.


PLAYBOY — Ela era dona de casa?


GABI — Era só dona de casa. E era aquela dona de casa que, se eu fosse menos do que a primeira da classe, todo mês apanhava. Era obrigada a ter boas notas, obrigada a estudar e obrigada também a fazer trabalhos domésticos, apesar de a gente ter empregada.


PLAYBOY — Pelas suas declarações, prendas domésticas não são muito o seu departamento.


GABI — Não, já fiz tudo que tinha que fazer quando era criança. Quando minha mãe estava doente, cozinhava muito em casa para meu pai e meu irmão. Isto tudo eu já fiz naquela época. Hoje em dia, só faço se estiver com muita vontade e se for para dar muito prazer. Por obrigação, não mesmo.


PLAYBOY — Fez primeira comunhão?


GABI — Primeira comunhão, fui anjo de procissão, coroei Nossa Senhora, tudo isso eu fiz. Fui crismada. No interior, esse negócio de ser anjo de procissão é uma coisa fantástica. Eu tinha uma roupa que brilhava, com penas de verdade, eu adorava fazer aquilo.


PLAYBOY — Hoje em dia você vai à igreja?


GABI — Não. Não vou há muito tempo.


PLAYBOY — Você acredita em Deus?


GABI — Às vezes sim, às vezes não. É um assunto que não ficou muito resolvido na minha cabeça. Eu me surpreendo às vezes rezando, mas não é para Deus, não. É para esta mãe terrível que eu tive. Quando rezo é para esta mãe superprotetora, super-rigorosa e até malvada.


PLAYBOY — E aí você ficou assim... pois, em toda entrevista que você dá, sempre repete a frase: "Posso não ser a melhor mãe, mas..."


GABI — Porque eu sou carregada de culpas, fui educada para ser carregada de culpas, educada para ser a melhor mãe, a melhor dona de casa. Então, por mais que me liberte disso — e eu hoje estou muito melhor —, ainda é assunto de terapia.


PLAYBOY — É verdade que em sua casa existe uma regra de deixar a televisão desligada?


GABI — Já teve. Televisão de manhã eu acho um absurdo... justo eu que trabalhei durante anos na TV de manhã. Aliás, eu acho que isso começou como regra e acabou como hábito. Na minha casa, ninguém assiste TV de manhã.


PLAYBOY — E você vê televisão?


GABI — Hoje em dia, pouco. Tenho filmes de vídeo. Assim, vejo uma ou outra coisa que tenha vontade de ver especialmente. Eu acordo muito cedo e chego tarde em casa, e não tenho tempo de ver TV.


PLAYBOY — E cinema?


GABI — Sou louca por cinema. Cresci dentro do cinema. Um dos irmãos de minha mãe era dono de um cinema. Aos 3 anos de idade, sentava ao lado da minha irmã e perguntava: "O que eles falaram agora?" Aos 4 anos, eu já lia. Então, vi tudo o que chegou nesse cinema do meu tio. Sou daquelas que compram enciclopédia de cinema. Normalmente vou às sessões das 2 às 4, nas matinês.


PLAYBOY — Agora, o assunto é casamento.


GABI — Hummm... fala...


PLAYBOY — A primeira vez, com quantos anos, como foi?


GABI — Foi paixão, aos 21, 22 anos. Conheci num dia... no dia seguinte tinha uma festa para ir, aquelas coisas de coincidência, ele também foi...


PLAYBOY — Como ele era?


GABI — Olha, era bonito. Aliás, o meu filho é a cara dele, igualzinho. Nessa festa, a gente começou a namorar, dia seguinte a gente estava morando junto, mês seguinte eu estava casada e grávida. Paixão de 20 anos de idade, aquelas coisas que durante anos você lembra, como era o toque da mão nas suas costas... paixão, paixão no estado puro. Paixão da melhor que existe ou da pior, dependendo do ponto de vista [risos]. Durou quase dois anos, tive meu primeiro filho, Cristiano, e três anos depois fiquei viúva... Depois, veio o segundo marido, o Zeca, em 1976. Em 1978, nos casamos de papel passado, eu estava grávida, e meu outro filho, Teodoro, nasceu em novembro de 1978.


PLAYBOY — E o terceiro casamento?


GABI — Este ainda não aconteceu.


PLAYBOY — Nem em plano?


GABI — Não. Acho difícil. Quando me separei, percebi que estava irremediavelmente viciada em casamento. Porque vivia na casa dos meus pais, fui viver com amigas, saí das amigas, casei, morando com alguém, depois voltei para morar com irmã e amigas, depois casei outra vez. Então estava sempre junto, sempre numa dependência emocional de alguma forma. Quando me separei, foi muito complicado — não tinha ainda o manual para perder os hábitos do casamento.


PLAYBOY — E existe um manual?


GABI — Dizem que os americanos fizeram um manual... e aí eu levei uns três meses para conseguir. Bem, aí, primeiro desmontei a casa inteira, tirei tudo, dei os móveis, troféus, tudo, tudo. Mas não conseguia montar outra casa. Fiquei uns três meses com entulhos dentro da casa. A primeira vez que o Zeca viu, saiu chorando. "Você jogou onze anos da sua vida fora!" E eu: "Não joguei. O que tinha que guardar da gente está aqui [aponta o peito].


PLAYBOY — Viver sozinha é um problema ou uma solução?


GABI — Viver só tem suas vantagens: não tenho problema de chegar e dizer: "Mamãe, estou indo viajar para a Tunísia amanhã", telefono de lá. Reproduzindo esta conversa com o marido, a coisa fica mais complicada. "Escute, vou passar o fim de semana no Rio de Janeiro." [Risos.] Não dá certo. Gosto de namorar, gosto de encontrar uma pessoa, de sair com ela, de estar com ela, seja pelo período que for. Agora, acima de tudo, me agrada muito a idéia de que, apesar disso, não tenho que ficar presa a regras, normas e horários.


PLAYBOY — E quando ficar velhinha, de bengalinha...


GABI — Quando ficar velhinha! Acha que estou preocupada com isso? Eu só quero pensar em casamento — quer dizer, não nesse casamento de formato rígido de obrigações e deveres —, quero pensar em casamento como relação de paixão, entusiasmo. Adoro os começos das relações, eu adoro, que é quando está todo mundo dando o melhor de si. Gosto do período da sedução, causando a melhor das impressões, sofrendo a melhor das dores no peito, entrecortando a respiração no melhor ritmo, é disso que eu gosto. Quando penso em casamento, só penso num casamento ou numa relação mais profunda, em função deste sentimento. Agora, companhia, ah... eu junto dinheiro e vou morar com um bando de velhinhos, e fica ótimo. Para que um problema particular e doméstico?


PLAYBOY — Você acha que a paixão é compatível com o casamento?


GABI — Um bom casamento nasce de uma boa paixão, mas a longo prazo não é compatível. Aliás, não acho que casamento seja compatível com nada [risos]. Nem com amor profundo... a essa altura, já tenho as minhas dúvidas. Acho o casamento compatível com obrigações, com deveres mesmo, aturações. O casamento é uma tarefa muito difícil, muito árdua, talvez mesmo a mais madura, por isso tudo. Mas não acho que seja a tarefa mais agradável da vida, não acho.


PLAYBOY — É, você foi radical... nem adianta falar mais em casamento... O que você não gosta nos homens?


GABI — Homem galinha. Esse não dá para dar a mão. Tenho um amigo, aliás, o meu melhor amigo, que costuma brincar, ele fala para agredir — então, ele diz que só dá a mão para mulher porque mulher tem xoxota. E eu converti isso para mim, e digo que, para homem galinha, só se dá a mão porque ele tem pau. Definitivamente. Hoje em dia tem muito homem galinha.


PLAYBOY — Mas o que é homem galinha?


GABI — Homem galinha é aquele material barato que, em qualquer festa, praia ou aglomerado, você tem a sensação que qualquer mulher pode comer. Tem todo um time de galinhas por aí, porque acho que tem mais mulher na praça do que homem.


PLAYBOY — Você tem duas frases que têm a ver com isso. Uma é o seguinte: "Nunca levei uma cantada". A outra é: "Cada vez mais eu sou uma mulher admirável e não transável". Se você juntar as duas, parece uma reclamação.


GABI — Acho que é um pouco isso mesmo. Não as duas. O "nunca levei uma cantada" não é uma reclamação, porque acho que, na verdade, os homens cantam as mulheres que os escolheram. A não ser um louco desavisado, um galinha, que mete os pés pelas mãos, normalmente a cantada é permitida pela mulher.


PLAYBOY — Você nunca deu tempo de...


GABI — Não, porque também gosto de cantar, do meu jeito. Agora, a segunda frase, eu sinto que talvez seja uma reclamação. Porque sinto que cheguei a esse status, quer dizer, os homens querem saber muito da guerra do Iraque, falar sobre entrevistas, situação política, e é uma conversa com admiração, mas que possa resvalar para uma irresponsabilidade que eu também gosto. É nesse sentido que eu disse aquilo. Agora, cantada nunca levei. Se você considerar cantada receber flores com um cartãozinho gentil, isto é cantada?


PLAYBOY — Acho que sim...


GABI — Então já levei algumas [risos]. Mas, quando se fala em cantada, imagino o cara chegar e abrir o verbo. Num pout-pourrie de cantadas, meu ex-marido Zeca tem lugar de destaque. Ele começou dizendo que eu tinha uma bela alavanca, que era o negócio do braço para o tênis, mas a melhor veio depois, ao falar que eu era uma vaca Baguá...


PLAYBOY — E você sabia o que era?


GABI — Não, e pensei: "Vou estapear este cretino". Aí, ele disse que vaca Baguá é aquela que foge do rebanho e fica selvagem e, quando vão recapturá-la, ela às vezes fica tão nervosa e treme tanto que pode morrer de ódio de estar presa de novo. Aí, fiquei presa a ele.


PLAYBOY — Essa recessão nas camadas não tem a ver com o fato de você ter uma imagem expressa por adjetivos como faiscante, segura, competente, simpática, sagaz, desejável, elegante...?


GABI — Não, até porque eu contrabalanço isso com uma insegurança pessoal muito grande. Isso não estufa o meu ego. Eu ouço ou leio esses adjetivos tipo comovidinha, tipo feliz, mas não sei se acredito. Isso acontece não só no plano profissional como no pessoal também. Já discuti essa questão muito nas minhas sessões de análise, e acho que isso me ajuda a continuar parecida com a menina de Ribeirão Preto que veio para São Paulo em 1968. A televisão é um veículo muito louco, que pode te fazer perder sua real proporção. Já vi muita gente pirar, dar ataque do tipo "não gravo mais". Enfim, virar estrela. Isso é uma coisa que nunca tive, porque entrei assalariadinha, ganhando 600 mil réis, 600 cruzeiros mesmo, e tive uma carreira tipo montanha-russa.


PLAYBOY — Qual o seu sonho? Virar cantora?


GABI — Não, o sonho de verdade é ser bailarina [risos]. O grande sonho da gente não é plano, é sonho mesmo. Cantar virou plano, eu até gravei. Departamento de sonhos é outra coisa — é quando alguém nunca fez uma pontinha do pé, nunca arriscou um gesto. Eu arrisco em danceterias e tal. Adoro dançar.


PLAYBOY — Queria ser Isadora Duncan?


GABI — Não, Isadora Duncan era uma figuraça, mas dançar como ela não... Estou falando daquela disciplina do corpo, de ficar em pé e ver seus músculos delineados. Levantar o pé e conseguir fazer com que ele venha aqui em cima... ter controle sobre si mesmo, sobre seu físico; de forma que consiga fazer de si próprio uma obra de arte.


PLAYBOY — Nunca tentou?


GABI — Jamais, até porque cantar virou um pesadelo monumental. A imprensa queria comer meu fígado, e aí começou a me dar medo, começou a vir este negócio de auto-estima, eu estava vendo: "Deus, será que sou tão pavorosa?" Achava que cantava numa média boa, inclusive melhor do que muitos profissionais. E, de repente, eu era a menos querida das pessoas, todo mundo dizia: "Isto é invenção da Globo".


PLAYBOY — Você está longe do padrão de apresentadora de televisão — aqui ou nos Estados Unidos. Mas atrai os homens...


GABI — Recebo o feedback do Ferreira Martins [também apresentador de telejornal da Bandeirantes]. Ele me conta dos amigos que chegam para ele com uma curiosidade sexual: "Escute, ela tem uma cara de louca..." E eu faço o que eu quero. Se é isso que faz com que eles pensem que sou louca, estão certos. Sou responsável pelos meus atos, mas faço o que me dá na telha. Não me preocupo com a opinião alheia. Sou uma pessoa digna, vivo sem afetar a vida dos outros. E as pessoas devem pressentir que eu não tenho limites, não tenho grilos. Eu sou assim. Se eu amar alguém, vou ligar para ele e dizer: "Tenho um assunto para falar com você. Não consigo te tirar da cabeça, estou apaixonada por você". Aprendi que o máximo que posso ouvir é um não.


PLAYBOY — Você recebeu recentemente um convite de PLAYBOY para posar nua nas páginas da revista...


GABI — O convite mais galanteador que já recebi.


PLAYBOY — Por quê?


GABI — Porque mexe com a vaidade. Em vários sentidos. Primeiro, o fato de saber quanto vale a sua nudez — o que já foi sensacional. Dizem que no mercado está valendo muito. As pessoas que vieram negociar comigo disseram que é um cachê muito alto, e que só outra mulher até agora ganhou.


PLAYBOY — Você já se decidiu?


GABI — O convite mexeu comigo, me surpreendi em casa, nua, na frente do espelho, fazendo umas poses e achando que ia ficar perfeito [risos]. Achei que ia ficar maravilhoso! E comecei a me surpreender pensando que fotógrafo seria, em que ambiente podia ser feito, quer dizer... mexeu com a minha cabeça. Fui me olhar e concluí: realmente, daria para fazer. Mas, por enquanto, não.


PLAYBOY — E um ensaio sensual, sem que você fique totalmente nua?


GABI — Se pagarem 200 mil dólares... [Risos.]


PLAYBOY — Você nunca entrevistou alguém que te conhecesse mais intimamente, alguém que você namorou?


GABI — Alguém com quem eu transei? Olha, já entrevistei tanta gente que é possível.


PLAYBOY — Que tipo de homem te atrai?


GABI — Físico? Os bonitos [risos].


PLAYBOY — E intelectualmente?


GABI — Mas nós estamos aqui para conversar ou para quê? [Risos.]


PLAYBOY — Não, é mera curiosidade jornalística...


GABI — Gosto dos bonitos... e inteligentes. Perfeitos [risos].


PLAYBOY — Altos?


GABI — De preferência. Um amigo meu já disse que eu sou machista. Não sou, mas tenho o mesmo tipo de preferência dos que escolhem as mulheres pelas formas e, eventualmente, se falarem bem, melhor ainda. Acho que os homens podem ser escolhidos assim também.


PLAYBOY — Quer dizer que não precisa ser muito inteligente...


GABI — Não, eu não disse isso. Gosto de ver homens bonitos e, se forem inteligentes, é a perfeição.


PLAYBOY — Você iria numa dessas boates onde os homens se exibem para mulheres?


GABI — Só vi em filme. Não acho a menor graça. Não gosto das coisas muito explícitas.

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PLAYBOY — E como foi sua primeira vez?


GABI — Não digo mesmo. O que posso dizer é que não foi muito cedo e foi bem racional. Foi uma pessoa eleita. Não foi romântica.


PLAYBOY — E a pessoa sabia disso?


GABI — Soube em seguida, quando eu disse até logo e obrigada.


PLAYBOY — Isso tem a ver com sua formação de menina do interior?


GABI — Tem a ver com a minha personalidade, com esta minha característica de "a minha vida quem decide sou eu".


PLAYBOY — Corre a lenda segundo a qual você namorou gente famosa, conhecida.


GABI — Por exemplo?


PLAYBOY — O Leão, o ex-goleiro que agora é técnico de futebol.


GABI — Jamais.


PLAYBOY — Carlos Lacerda...


GABI — Jamais! Com o Carlos Lacerda tenho uma história engraçada, que, aliás, foi o Mitre [Fernando Mire, superintendente de jornalismo da Bandeirantes] que me lembrou, porque eu já tinha esquecido dela. Uma vez, estava no Jogral [um bar de São Paulo que não existe mais], entrou o Carlos Lacerda, me dirigiu um alto gracejo e eu respondi na lata. Jamais troquei palavras com este senhor, imagine. Nem eu, nem a Shirley MacLaine pelo jeito, porque ela também desmentiu ter tido um caso com ele.


PLAYBOY — Ronaldo Caiado?


GABI — Não, jamais.


PLAYBOY — Fala-se também em Mário Gomes, Nuno Leal Maia, José Wilker...


GABI — Tudo verdade.


PLAYBOY — Quando?


GABI — Faz tempo. Foi entre meu primeiro e meu segundo casamentos.


PLAYBOY — Namorou muito colega de trabalho...


GABI — Ah, mas eu não era ninguém e eles eram de Hollywood. Foram histórias boas, cheias de charme e essas pessoas ficaram minhas amigas.


PLAYBOY — Recentemente você mudou de canal?


GABI — Eu... os atores... são bonitos e tem essa coisa da informação. Sem falar que podem ser um enigma, pessoas que são múltiplas.


PLAYBOY— E são mesmo?


GABI — Na verdade, até me decepcionei um pouco. Continuo gostando, mas presto atenção nos internacionais...


PLAYBOY — Saída diplomática. É mais fácil namorar pessoas públicas?


GABI — Não, é mais difícil. É mais noticiado.


PLAYBOY — Atualmente você está jogando mais na reserva?


GABI — Estou mais low profile... Mas sou do time que precisa estar bem emocionalmente para funcionar direito, coisa que acontece mais com as mulheres do que com os homens... então, estou sempre namorando.


PLAYBOY — Quem você está namorando no momento?


GABI — Ah, namorar envolve duas pessoas. Só posso dizer quem estou namorando quando a outra pessoa está a fim de que isso seja conhecido.


PLAYBOY — E a outra pessoa não está a fim?


GABI — Não sei, vou perguntar para ela [risos].


POR PAULO MARKUN

FOTOS CAROL DO VALE


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