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MARCOS MION | MAIO, 2001



O gaiato da MTV mostra seu Lado shakespeariano, conta como foi trabalhar com Sandy e anuncia que ainda fará "uma coisa séria"


POR PATRÍCIA VILLALBA

FOTO ANA PAULA PAIVA


O VJ da MTV Marcos Mion, de 21 anos, fez o caminho inverso dos apresentadores que saem da emissora para tentar maior projeção em outra casa. Depois de um ano de contrato com a Globo — onde interpretava o personagem Max no seriado Sandy e Júnior —, foi trabalhar na MTV. E se deu muito bem, apesar de ter abandonado sua grande paixão, o teatro. "Por enquanto", faz questão de avisar.


Filho de uma família de médicos, Mion cogitava virar entregador de pizza quando começou a estudar teatro, aos 14 anos. O propósito inicial era arejar a cabeça, aturdida depois da morte de seu único irmão. A "terapia" acabou se transformando em profissão e, ainda adolescente, Mion engatou na carreira de ator. Um dia depois de sua formatura no curso de Teatro, foi convidado para atuar na Globo. Na MTV, estreou no ano passado, apresentando o programa Supernova, uma atração ao vivo de três horas. Logo ganhou o Piores Clipes do Mundo, antes apresentado pela VJ Marina Person. Foi no Piores que, segundo Mion, descobriram seu "talento para a falta de talento". Ele ataca desde o previsível grupo Molejo até totem do pop, como as Rolling Stones.


Mion entrou em 2001 com tudo. Ganhou outro programa, o Uá-Uá, e mais tempo para o Piores Clipes. Está bolando um programa de humor. E recebeu no mês passado o Prêmio de Melhor Apresentador de 2000 da Associação Paulista de Críticos de Arte. Foi o único premiado que não faz parte do cast da Globo. Para entrevistá-lo, PLAYBOY destacou a repórter Patrícia Villalba.





1. Artista bom também faz clipe ruim? [Risos.] Todo clipe é ruim até que se prove o contrário. Sempre há situações que podem virar piada. Uma banda estreante, com os caras dublando a música em cima de uma prancha de surfe, é muito engraçado. Em clipe de banda nova, os músicos aparecem o tempo inteiro. Se não aparece nenhum, o clipe é do Rappa. Se tem mulher, é porque a letra é ruim. Se tem mulher rebolando, é porque não dava para ilustrar a letra com coisa melhor.


2. Você sempre prestou atenção em clipes desta maneira crítica? Não. Depois que entrei no Piores é que comecei a treinar o meu olho para a podreira.


3. A idéia do programa foi sua? Não, me ofereceram o programa. Eles perceberam meu talento para a falta de talento [risos]. Dei algumas idéias, reformulamos, e daí ficou o meu Piores.


4. Você fez dois anos de Filosofia na USP. No que a filosofia pode ajudar ao espectador de clipes? [Risos.] Tem ligação, sim. Você passa a entender o ser humano. Consegue se colocar no lugar dos outros e tirar uma piada disso. Vejo um clipe e consigo perceber pelo olhar da pessoa o que ela estava sentindo naquela hora. A filosofia entra aí. Você armazena conhecimentos sobre a alma humana.


5. Você trabalha com uma equipe de quantas pessoas? Somos três. Eu, o Chuck [Hipólitho, o diretor] e uma produtora. A gente fica horas e horas pensando e também pedimos ajuda para as pessoas que têm anos de MTV. Não dá para lembrar de tudo sozinho. Outro dia, a gente achou um clipe do Luiz Caldas, da música Tieta, que é um clássico, é muito bom [risos].


6. Bom? Aí é que está. Acho tudo do Piores muito bom. O Supla, por exemplo, é muito bom. Ele se leva muito a sério. Quem pode falar que ele é ruim? Ele tem muita atitude. E eu, por admirar isso, falei: "Ele vai ser o Rei do Piores Clipes". Se o nosso programa dá audiência, quero mostrar alguém assim para as pessoas. Ele é foda.


7. E, depois disso, voltou-se a falar no Supla. É, ele fechou o Rock in Rio. Agora toca no rádio com a música que a gente passa no Piores Clipes [cantarola], "japa, japa girl..." [a música é Green Hair]. Chegam e-mails pedindo clipes dele em outros programas. A gente se sente meio responsável por, coitado, ter posto o Supla no Piores Clipes. Mas deu certo para ele.


8. É curioso esse tipo de, digamos, antimarketing. O mercado artístico brasileiro precisa aprender que o humor é a melhor forma para divulgar, criticar e entreter. Apresento o programa dizendo: "Eu sou o pior VJ da MTV". No ano passado, inventei uma novela no programa, que contava que eu havia sido mandado embora e tinha de apresentar o programa na rua. Tinha gente que dizia pra mim, sério, na rua: "Força, cara, vai dar certo!". Esse antimarketing que você falou dá resultado.


9. Já teve alguém que reclamou por ter sido incluído no Piores Clipes? Direto. Às vezes, a gravadora ou o assessor vem reclamar. Noutras, o próprio artista liga. Cara, eles descobrem até o número do meu celular. [Mion se recusa a dar nomes de quem já reclamou.] É muita falta de humor. Mas quem realmente está seguro na carreira sabe que a gente está aqui para levar vaias também. A Rita Lee me ligou e pediu para passar um clipe dela. Tem também o pessoal do Jota Quest. Estou devendo um especial para eles.


10. Você nunca exibiu o clipe Vem, da sua namorada, a cantora Patrícia Coelho. Ela é sua protegidinha? Juro que já tentei de todas as maneiras encontrar um jeito de pôr o clipe dela, mas não encontrei nada que pudesse justificar uma crítica. [Risos irônicos da repórter.] O que é o clipe da Patrícia? Ela, maravilhosa, cantando numa praia maravilhosa! Mas eu exibi o clipe no quadro Micon [que apresenta imitações de clipes].


11. A MTV andou divulgando que este ano será escolhido um novo Rei do Piores Clipes. Você dá uma dica de quem pode ser? Não é bem assim. O Supla será o rei para sempre. O que a gente vai fazer é compor uma corte, com votação. Já temos fortes candidatos. Fábio Jr. pode fazer parte da família real.


12. Li algumas entrevistas nas quais você pareceu ter uma certa mágoa do tempo em que trabalhou na Globo. É isso mesmo? Não é nada disso. Foi um trabalho que rendeu muito. Porém, chegou uma hora em que eu estava estagnado, não podia mais criar. Estava muito além do meu personagem [Max, do seriado Sandy e Júnior]. Chegava para gravar com meu texto decorado e várias idéias de mudança. De repente, comecei a incomodar.


13. Incomodar, como? Que tipo de sugestões você dava? [Pausa.] Não me lembro de nenhuma específica. Passei por muitas crises por causa do clima pesado, por não estar sendo aceito. O que mais odeio é quando tiram a minha capacidade de falar. Um dia, um diretor da Globo me pegou pelo braço e falou: "Bicho, você não está aqui para sugerir nada, está aqui para fazer. Então você faz, quieto, senão vai rodar e entrar outro no seu lugar. E tem mil caras querendo esse lugar". O nome dele não interessa, mas agradeço muito por me ter dito isso, porque daí pude ver que ali não era meu lugar.


14. Que frescura é essa de não querer dar nomes? Na MTV, você detona um monte de gente e aqui vai dar uma de rapazinho político? Acho que não convém dizer. O importante é o que ele falou e o que ele representa: uma estética e pensamento de estagnação, que é geral da TV, não só da Globo. Ele é, digamos, um estereótipo do diretor de TV.


15. Como foi trabalhar com a Sandy? Nossa, me apaixonei, ela é muito sexy, um mulherão! Eu mal conseguia trabalhar! [Gargalhadas.] É o tipo de coisa que todo mundo quer ouvir, né? A Sandy é uma menina. Todo mundo fica querendo vê-la como sonho sexual, mas isso não tem nada a ver. Ela é encantadora, não por ser sexy, mas por ser uma garota sincera, educada e carinhosa. Ela encanta um ambiente. E tem uma capacidade de trabalho incrível. A gente acaba a gravação, todo mundo morto, e ela e o Júnior ainda iam fazer show, felizes.


16. Você fez o caminho contrário ao que normalmente os VJs fazem: saiu da Globo e foi para a MTV. Se a Globo o chamasse de volta, você iria? [Pausa.] É sempre bom ser lembrado por qualquer emissora, ainda mais se for por pessoas que dão as regras na TV brasileira. Porém, faço na MTV um trabalho em que acredito. Para aceitar um convite, ia depender muito das condições.


17. A profissão de VJ não é para sempre. Como vê seu futuro? O meu sonho, que era ser um cantor tipo o Ricky Martin [risos], não consegui realizar. Como comecei cedo, daqui a cinco anos posso engrenar no teatro e fazer produção musical.


18. Você não tem medo de sofrer preconceito no meio teatral por ter feito um trabalho pop? Sei que já rola isso. Mas minha raiz já está plantada. Conheço [as obras do dramaturgo inglês William] Shakespeare, [e também as de Bertold] Brecht [dramaturgo alemão]. É isso que tenho dentro de mim: filosofia, Platão. Tenho, sim, um certo medo de ficar nesse meio da TV. Mas tenho talento e me preparo para fazer uma coisa séria.


19. Você já tem dois programas, o Uá-Uá e o Piores Clipes, e parece que vai apresentar mais um, não é? Estou ansioso. Quero trazer alguma coisa nova. Fui buscar influências, pesquisar programas corno [o tradicional programa de humor americano] Saturday Night Live. Vi Tom Green, um humorista da MTV americana que está no topo.


20. E tem algum clipe que você acha bom? Ah, sim. A Minha Alma, do Rappa. Foi a primeira vez em que chorei vendo um clipe. Tem um do Michael Jackson, Man in the Mirror, que é muito bom também. Tem um do Smashing Pumpkins [Try, Try, Try] que conta a história de um casal viciado em crack. Outro que é bom... [pára e pensa] Não, esse, não. Ah, já dei três! Está bom, né? Lembrei: tem o Japa Japa Girl, do Supla.


PRODUÇÃO NORA KNAPP


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