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MARINA DIAS | JUNHO/JULHO, 2016



UM GABINETE DE CURIOSIDADES

Por Erika Palomino


Quando Marina Dias apareceu no meio da moda, nos anos 1990, o mercado se regozijou diante da existência de uma modelo tatuada, que refletia a explosão da cultura jovem e do corpo como mídia para a expressão pessoal. Ótimo, pensamos todos. Combustão rápida e existência efêmera. O que ninguém previa é que aquela garota rabiscada viria pra ficar.


Marina nunca colecionou os méritos, títulos, apostos ou alcunhas que foi acumulando em sua jornada. Jamais se fez às custas de nomes ou sobrenomes (Chanel, Versace, Dior, Fendi, Herchcovitch, Sommer, Neon). Impôs-se, de forma absoluta, irrepreensível e profissional quando grifes nacionais e internacionais precisaram de mulheres com personalidade para preencherem suas roupas, desfiles e campanhas.


Ela sempre foi muito além de seu papel de musa da desvairada paulisteia after-hours e da top model entre-décadas – que modelou e ensinou jovens new-faces a caminhar e a posar, nas passarelas do São Paulo Fashion Week ou na TV. Sua idade? Desimportante. O corpo parece parte de um pacto. Sublime, incólume. E sempre: a sobrancelha arqueada; a ironia; a falta de paciência; a inteligência confundida com uma superioridade blasée.


Geniosa, destemperada, verdadeiro gabinete de curiosidades, Marina passa longe da unanimidade e do óbvio que toda a sua fúria possa causar – dia após dia, a anos-luz do previsível e do banal. Durma com este barulho. Se ela quiser, claro. Marina não é para fracxs. Nem para muitxs. Esse é o luxo #real. E então, quem segura – e mais, e melhor –, quem dá conta desta mulher?



MARINA DIAS FOREVER

Por Alexandre Herchcovitch


Com incrível senso de humor, por vezes ácido, por vezes negro, me inspira. Sua beleza incomum habita meus pensamentos e me ajuda a criar. Marina Dias se fez presente num momento da moda brasileira em que o padrão era ter 1,80 metro, um corpo perfeito com muitas curvas, cabelos longos e loiros e pele não tatuada. Imagens que nunca sairão de nosso imaginário saíram dela. Viva Marina Dias!



MEU REDEMOINHO PARTICULAR


Me lembro com detalhes da casa em que morei no Pacaembu quando era criança: enorme, com muitos cômodos, um lugar ideal para crescer. Ali tinha um estúdio fotográfico e um quarto escuro onde meu pai, Claudio Freitas, tirava e revelava suas fotos. Gloria Flügel, sua esposa na época, já fotografava para a PLAYBOY, e muitos dos cliques dela saíram desse estúdio lá pelos anos 1980. Lembro que as mulheres a escolhiam provavelmente pela habilidade em ressaltar a delicadeza e a sensualidade da mulher, sem explorá-las como objeto.


Nesse estúdio também tinha um armário cheio de peças de produção: lingeries, roupas, sapatos... Meu primeiro salto alto saiu desse acervo. Eu usava escondida quando não tinha ninguém em casa, era um peep toe marrom lindíssimo, altíssimo e com ponta de ferro no salto. Foi nesse armário que descobri que podia me expressar pela minha roupa, e provavelmente onde meu caso de amor com a moda começou.


Costumo brincar que minha vida/redemoinho inclui três coisas: música, arte e moda. Não levanto da cama se não tiver uma música tocando. Minha mãe, Claudia Dias, é música e artista plástica, e sempre me incentivou! Faço retratos na minha janela, que tem uma luz linda, desenho nos meus Moleskines, preparo meus sets e ensaio minhas apresentações, além da carreira como modelo.


Com as minhas (muitas) tatuagens, fiquei internacionalmente conhecida como a “tattooed model”. Cada uma delas conta uma história pessoal, e eu quase não falo disso. Guardo segredo. O que acredito de verdade é que cada mulher é linda à sua maneira, e que suprimir ou padronizar sensualidade, estilo e beleza é abafar as mil expressões do que é belo.



Assim que recebi o convite para posar para a PLAYBOY, decidi que meu ensaio não seria somente para agradar aos homens, seria também para lisonjear as mulheres, inspirá-las a estarem sempre lindas, fortes e com muito a dizer.


Eu não sou mais a menina que se deslumbra com o peep toe marrom, mas ainda me encanto com coisas belas. A gente muda sempre, toda hora. Isso é vital e importante. A PLAYBOY não é mais uma revista que preza apenas pelo corpo curvilíneo e dentro de um padrão. Continua em busca da beleza, que se apresenta de formas diferentes para cada um.



Bem-vindo ao meu universo! Cheio de beleza tatuada, fetichista, mistério e música. Yours trully,


Marina Dias.


 

FOTOS

CASSIA TABATINI


DIREÇÃO DE ARTE EDU HIRAMA

EDIÇÃO DE MODA GREGÓRIO SOUZA

BELEZA LAU NEVES (CAPA MGT)

PRODUÇÃO DE MODA KAKÁ LOBO

PRODUÇÃO EXECUTIVA MATHEUS PALLOS

ASSISTENTES DE FOTOGRAFIA KIKO FERREIRA E RENATO GONÇALVES

TRATAMENTO DE IMAGEM NELSON EUFRACIO

FILME FELIPE LION



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