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MICHEL TELÓ | FEVEREIRO, 2015



O SERTANEJO FALA SOBRE A CANÇÃO QUE "ESTÁ ENTRE AS MAIS, MAIS DA MÚSICA BRASILEIRA", "É UMA DAS MAIORES MÚSICAS DE FESTA DO PAIS" E "PODE SER COLOCADA ENTRE AS PRIMEIRAS EM TERMOS DE GRANDIOSIDADE": SIM, ELA MESMA, AI, SE EU TE PEGO


POR LEANDRO SAIONETI FOTO VITOR PICKERSGILL





1. Posso brigar com você, agora ou depois da entrevista, por cantar várias músicas que não saem da minha cabeça? Fico feliz por isso. Poder andar pelo mundo e as pessoas te reconhecerem pela sua música. Aprendi nos bailes que as letras mais fáceis são aquelas que ganham a alegria das pessoas. E con­segui fazer isso com algumas.


2. Mas você não se sente uma espécie de entidade quan­do percebe que, com alguns refrãos, já reuniu ca­sais, separou outros e ajudou várias crianças a virem ao mundo? [Risos.] É legal fazer parte da vida das pessoas, e de uma forma divertida. Tem muitos casais que encontro no dia a dia e falam "cara, estamos juntos graças a você, quando fomos ao seu show ou quando cantei uma música para ela, e hoje temos filhos".


3. É provável que ele estivesse cantando Ai, se eu te pego. A canção virou um hit depois que o Neymar apare­ceu dançando sua coreografia. Já o conhecia? Ainda não. Mas depois do grande sucesso, ele foi a alguns dos meus shows. No Brasil, a música já estava muito estourada, e tive a alegria de o Neymar mostrara canção para o [jogador do Read Madrid] Marce­lo, que a levou para a concentração do time, virando comemora­ção de atletas em todos os esportes. É surreal. Acho que de tudo que aconteceu na música brasileira, Ai, se eu te pego está ali, entre as mais, mais.


4. E você acha que, nas próximas décadas, vai encontrar pessoas na rua que começarão a cantar "assim você me mata"? Acredito que sim. E já se passaram quase qua­tro anos desde sua estreia. A música marcou muito. Dá para colo­car em uma mão, em termos de número e grandiosidade, as músi­cas brasileiras que fizeram isso.


5. Mas, sinceramente, quando surgiu a oportunidade de gravar "nossa, nossa, assim você me mata, ai, se eu te pego, ai, ai, se eu te pego, delicia, delicia...", você não se sentiu um pouco mal? O meu irmão Teófilo acredi­tou na música. Ele disse que ela era demais e devíamos gravá-la. Aí, cantei-a em uma micareta, em Palmas. Quando comecei, nin­guém conhecia a música. Quando terminei, estavam todos can­tando e dançando. Ali eu vi que tinha algo muito diferente na canção. E logo que a lancei, os críticos de música sertaneja "des­ceram a ripa", falando muito mal. Mas ao mesmo tempo em que falavam, o povo ia adorando.


6. Algumas críticas te chamavam de artista comercial, responsável por um sucesso descartável. Isso te in­comoda? Não acho que é descartável. Sabe Macarena, que até hoje toca nas festas? E eu tive a alegria de fazer umas das maiores músicas de festa da história do Brasil, que o mundo inteiro canta até hoje. Virou uma música pop. E só acho que ela estourou com essa dimensão, com grego, croata e russo cantando, pois é muito simples. As pessoas ainda vão viajar muitos anos para o exterior e escutar Ai, se eu te pego.


7. Em 2012, Bruno Medina, tecladista da banda Los Hermanos, escreveu uma carta aberta a você, ironi­zando o alcance que a canção atingiu. Mas ele não po­de falar muito sobre esse assunto, certo? A Anna Julia é a música que a banda acabou renegando, né? Mas vai de cada um. Eles não gostaram mais de cantá-la. Ela estourou, e acho que na­da perto do que foi Ai, se eu te pego, mas também estourou e eles cansaram. Fico feliz como que aconteceu comigo, sou muito gra­to. Como diz a Sharon Acioly, compositora da música, "ado, ado, ado, cada um no seu quadrado".


8. E qual foi o recorde de vezes que você cantou Ai, se eu te pego em urna única apresentação? Acredito que seis, sete vezes, na Festa do Peão de Barretos. Toquei em um trio elé­trico. E com o andar do trio, o grupo de pessoas ia mudando. En­tão eu parava de cantar uma música e a galera já começava a can­tar Ai, se eu te pego. Mas se você for analisar, eram pessoas diferen­tes que iam surgindo durante todo o trajeto.


9. Depois de atingir o Top 100 da Billboard internacio­nal, o que mais dá para fazer? Dança dos Famosos? Sempre invento algo diferente, e desde o início pensei na minha carreira como músico. Temos grandes exemplos, como Chitãozi­nho e Xororó, Zezé di Camargo. Quero continuar nesse mundo dos palcos. Eu vejo Milionário e Zé Rico: ainda hoje estão tocan­do sexta, sábado e domingo, e gostam de ir para a estrada. Desde pequeno me vi fazendo a mesma coisa.


10. Não é um problema fazer sucesso em uma época na qual as gravadoras não transformam mais os seus artistas em reis devido às altas vendagens? Se as grandes gravadoras ainda mandassem, talvez eu não tivesse saído do Mato Grosso do Sul, fazendo um som diferente. Porque, antigamente, uma gravadora podia pegar você e transformá-lo em um grande sucesso ou, caso já existisse um cantor semelhante, engavetá-lo. E hoje não é bem assim. Mas lógico que financeiramente eu poderia ter vendido milhões de discos. Mas poderia não estar aqui, agora.


11. Falando em possibilidades, os grandes hits do seu repertório — Ai, se eu te pego, Fugidinha, Ei, psiu! Beijo me liga — são de outros autores. Você deixou de ga­nhar muito dinheiro por não ser também o autor deles? Ganhei muito mais dinheiro por ter gravado as músicas. Lógico que se você tem uma música composta por você, ganha mais um pouco. Mas caso eu não as tivesse gravado, não teria ganhado a grana que eu ganhei, não teria estourado e ido para o mundo. E fico feliz que os autores também tenham ganhado.


12. Mas sempre há na mídia polêmicas sobre questões autorais. Não seria melhor escrever suas próprias letras? No tempo da banda Tradição eu compunha mais. Mas iniciei a carreira solo e quis achar outra linguagem, aí fui atrás de compositores. E sobre esse problema, quem deve se entender são os compositores e aqueles que acham que são. Eu sou o intérpre­te. Quando é muito bonita, todo mundo quer ser o pai da criança.


13. Alguma fã já ficou furiosa com você ao saber que mesmo você cantando "ai, se eu te pego", já havia alguém que você pegava na sua casa? Apesar de todo esse lado da música, há o respeito, pois sabem que sou comprometido. Lógico que tem as mulheres que se exaltam, mas com respeito vo­cê consegue colocá-las no lugar e está tudo certo. Faz parte.


14. Quando você faz 160 shows, como no ano passado, dá tempo de fazer em casa tudo aquilo que canta nas canções? Só levar a mulher junto para a estrada. Ficar longe de casa é a parte mais difícil da vida de quem viaja muito, como um artista. E a minha esposa é atriz, então precisamos adminis­trar as agendas. Mas sempre damos um jeito.


15. Quer dizer que aquela história do sexo antes da partida de futebol também funciona para shows? Rapaz, antes do show também é legal. Você entra em uma vibe mais feliz e leve.


16. Mas você canta "vou te esperar na minha humilde residência pra gente fazer amor". Quem faz amor trepa mal, não? Trepa mal, não. Só fazer amor bem feito.


17. E se Michel Teló tocar na hora? [Risos.] Prefiro não me ouvir. Já canto e me ouço todo dia. Coloco outro som. Eu cantando para mim mesmo não dá. Prefiro escutar as canções do John Mayer. Minha esposa e eu gostamos de fazer um clima com ele.


18. Então o "Rei das Festas" gosta mesmo é de amorzinho caseiro? Sempre fui caseiro. Curto ficar coma mi­nha família e ir a uma balada com a minha mulher, para a gente se divertir e dançar. E como gosto de levar alegria para as pessoas em cima do palco, talvez por isso tenha recebido esse título. Mas sou um cara de boa.


19. Você diz que é inspirado por cantores como Roberto Carlos e Luiz Gonzaga, curte bandas como Jota Quest e Coldplay e considera o Bruno, que faz du­pla como Marrone, e a Beyoncé excelentes cantores. O que mais curte? Música celta? Não. Aí já tenho uma boa mis­tura. Mas tem um estilo de que gosto muito e é o primeiro da mi­nha lista: o chamamé correntino. É tocado na sanfona e é popular no Rio Grande do Sul.


20. Para fechar, quem você gostaria que regravasse Ai, se eu te pego: João Gilberto, Chico Buarque ou Caetano Veloso? [Risos.] João Gilberto seria muito legal, prin­cipalmente após ele ter cantado, com aquela voz bem suave, "o pa­to vinha cantando alegremente, quêm-quêm...".


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