Aos 49 anos, a atriz que conquistou seu lugar ao sol interpretando suas tragédias pessoais mostra que em seu 1,80 metro de altura há muita inteligência, muito talento, carisma e amor
POR TABATA PITOL
FOTOS JULIA RODRIGUES
1. Mônica, eu vou colocar no abre da matéria que você tem 49 anos e vão me escrever dizendo que está errado. Como assim, 49? Você sabe que parece bem menos e que isso não é conversa fiada, né? Tem uma frase do Confúcio que questiona: quantos anos você se daria se não soubesse a idade que tem?
2. E quantos você se daria? Depende. Hoje daria uns 30. Quando me separei, me daria uns 200.
3. E como está sendo chegar aos 50? Está pirando ou está tudo bem? Eu não tive crise de 30, nem de 40 e não terei dos 50. Tive de 25, 35 e talvez tenha dos 55. Estou em uma fase de vida tão boa, coma minha segunda peça fazendo sucesso, que não há espaço para drama agora.
4. Você já foi galinha no teatro, tartaruga na TV. Até que escreveu um texto e conquistou o sucesso. Você viveu um conto de fadas? O conto de fadas aconteceu depois que a peça estreou e começou a ser sucesso. Antes eu seguia o caminho tradicional que era ir na Globo fazer uma fita e deixar lá para teste. Tem gente que no primeiro papel estoura, mas comigo não aconteceu. E minha carreira me forçou a estar no lugar em que estou hoje, ser autoral, simplesmente porque nada acontecia. Eu fazia pontas, participação, mas a coisa não deslanchava. Sugeria papéis, mas ninguém me dava atenção. Então eu estava no Zorra Total, e aquilo não tinha mais propósito. E aí minha mãe virou para mim e disse: minha filha, até quando você vai ficar esperando alguém ter um olhar para você? E com o que ela disse, a ficha caiu e fui atrás do que queria. Tanto que, hoje, tudo que tenho sou eu que faço. Meus trabalhos, eu que invento. Eu invento a minha vida.
5. Quando aconteceu essa reviravolta, você já tinha mais de 30 anos. Foi muita pressão viver tantas incertezas em uma sociedade que praticamente cobra que você faça seu primeiro milhão antes dos 30? Com 32 anos, eu não tinha nem namorado fixo. Não tinha carreira, não tinha dinheiro... Tudo aquilo que imaginei, a casa com crianças, cachorros, achei que não ia mais acontecer. Mas cada um tem uma história. Conheci meu ex-marido e ele foi meu incentivador. Ele me apresentou um diretor, eu li meus textos para ele e decidi fazer a peça. Fiz um livro de ouro na família, cada um deu um pouco de dinheiro, e ai eu estreei. Na segunda semana começou a lotar, e decidimos fazer a segunda sessão. Lembro direitinho do teatro com gente sentada no chão, esperando a segunda sessão. Ali eu pensei: minha peça é um sucesso. E minha vida mudou: ganhei dinheiro, reconhecimento e a vida aconteceu.
6. Seus filmes, peças e séries são todos baseados em relacionamentos. Isso é o mais importante da vida? Relacionamentos me movem. São tudo para mim. Quando estou bem no amor, estou bem em tudo.
7. Você já declarou que escreve de acordo com a sua experiência. Isso não faz com que se sinta nua no palco? Acho que não. Eu escrevo histórias que vivo, mas quando já existe um certo distanciamento. Aquilo já virou arte, teatro. Já não é mais meu. Essa minha segunda peça, Minha Vida em Marte, eu só escrevi após cinco anos da minha separação. Eu precisava me distanciar da dor para colocar no papel.
8. E nua em uma revista, já pensou? [Risos.] Nossa, nua em uma revista eu nunca pensei. Fui casada com um fotógrafo e fizemos vários ensaios lindos, mas eu nasci em Macaé, Rio de Janeiro, e na minha cidade o padrão de beleza é o da mulher gostosa, cheia de curvas, e eu não sou essa pessoa. Então, nunca me achei assim gostosa de sair na revista.
9. Vamos agora falar de homens? Vivemos um grande momento para o movimento feminista, e tenho ouvido muitos homens dizendo que nós, mulheres feministas, não gostamos mais deles. Como explicar que isso não é verdade? A gente adora eles, por isso estamos tão na luta do feminismo, que é uma maravilha para o homem, porque tira dele o peso de ser provedor, de ele ser o fodão, o cara que toma as decisões. É um peso para os homens terem que ser esses super-heróis da vida real. A gente vem de uma sociedade machista, e por isso precisamos falar de feminismo todo dia. Às vezes, é preciso ser radical, porque ainda estamos em uma sociedade muito machista, mas nem sempre. Então, não é que não gostamos de homem, muito pelo contrário, a gente só não aceita mais certos tratamentos, porque hoje a gente sabe que ocupa outro lugar.
10. Mas muita gente deve achar contraditório uma feminista declarando que é uma pessoa melhor quando está em um relacionamento... As pessoas confundem muito. Eu falo de amor como falo porque não fui criada para casar. Fui criada por uma feminista cuja bandeira era ser independente. Mas as pessoas acham que a mulher independente não ama, não sabe e não quer ser carinhosa, e não é nada disso.
11. E tem alguma coisa que só é legal fazer com homem? Ai, meu Deus, tô demorando para pensar... [Risos.] Bom, nunca namorei com mulher, então namorar é uma coisa que é legal só com homem. Nada contra nenhum tipo de relacionamento, mas para mim é assim.
12. Você e seu namorado moram em estados diferentes. Como matar "aquela" saudade? Como trabalho muito, sempre dá para esperar. E confesso que, como já passei por casamento, por morar junto, tô amando passar por essa experiência de só se encontrar na paixão, na saudade e no amor. Então, seis meses de namoro você só conta um mês e meio, que é o tempo que você encontrou. Agora, às vezes por telefone, internet, a gente fala uma sacanagem um para o outro, manda foto...
13. Então você manda nudes? Sim, mas sem cabeça. Mas, hoje em dia, até sem cabeça eu tô com medo, porque fica tudo salvo em algum lugar por aí. Mas já mandei muito nude...
14. E na hora do sexo? Você gosta de sofisticar ou prefere o mais "simplinho" entre quatro paredes? Depende da fase. Tem dia em que você quer fazer sexo em três minutos, e se demorar cinco você já solta um "puta que pariu". Você tá cansada. Tem dia em que está mais romântica, daí se dedica mais. Acho legal quem busca coisas novas, principalmente dentro de relacionamentos longos. Eu nunca fiz sexo tântrico, mas como estou com um mês e meio de namoro só, encostou dá choque. Vou deixar o tântrico anotado aqui em uma listinha para quando as coisas começarem a cair na rotina.
15. Queria agora falar da sua mãe e da sua filha. Primeiro, sua mãe. Ela foi vereadora, prefeita, feminista... O que você tem dela? A capacidade de me reinventar. Minha mãe sempre inventou trabalho para ela, e isso foi um exemplo para mim. Inventa as suas coisas e vai. O pior que pode acontecer é não dar certo. Medo paralisa, mas se não der certo, você vai e inventa outra coisa.
16. E da sua filha Júlia, de 8 anos? O que você tem dela? Eu tenho o humor da Júlia. Ela já é engraçada. E ela tem um pacto com a alegria, é leve. E eu sou assim, leve, solar.
17. Na sua mais nova peça, você é autora, única atriz em cena e uma das produtoras. Gosta de estar sozinha ou sente solidão? No trabalho, não sinto. A única solidão de que tenho medo é a do amor romântico. Eu queria na velhice ter um parceiro. Eu adoro compartilhara vida. Acho gostoso dividir as coisas legais. Acredito que seja possível ser feliz sozinha, mas é muito mais gostoso com outra pessoa.
18. E como é esse parceiro de vida? Ele tem que me estimular intelectualmente. Eu não consigo ficar só no tesão. Ok, se o cara é lindo, é lindo, e isso é bom. Mas se não estimular meu intelecto, meu tesão acaba completamente, é impressionante.
19. Você é uma pessoa tão animada com a vida que fiquei pensando: qual seria o dia perfeito para você? Meu dia perfeito começaria comigo malhando, porque quando malho é quase dia de folga para mim. Eu buscaria minha filha na escola. À noite teria teatro e, depois do teatro, meu namorado estaria na porta me esperando.
20. Para terminar, pergunta de concurso de miss: se você pudesse realizar um só desejo, qual seria ele? Uma coisa só? Minha filha ser feliz. Que ela saiba fazer as escolhas certas. Que o medo não a impeça de nada. Quero que minha filha seja muito feliz.
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