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OS 7 CASSETAS | JULHO, 2000

Playboy Entrevista


Uma conversa franca com os humoristas mais divertidos da televisão brasileira sobre piadas, políticos corruptos, gafes e mulheres siliconadas


Olhando pelo lado de fora, um incauto cidadão talvez imaginasse que a confortável casa de dois andares e grades esverdeadas localizada em uma das ruas mais valorizadas do bairro de Ipanema, na zona sul do Rio de Janeiro, fosse uma respeitável clínica médica ou um bem-comportado escritório de arquitetura. Mas é ali, numa espécie de quartel-general bastante democrático, que Bussunda (Cláudio Besserman Viana), de 38 anos, Claudio Manoel Pimentel dos Santos, 41, Hélio de La Peña (Hélio Antonio do Couto Filho), 40, Beto Silva (Roberto Adler), 40, Hubert de Carvalho, 40, Marcelo Madureira (Marcelo Garmatter Barreto), 42, e Reinaldo Batista Figueiredo, 48 anos, fazem o que mais gostam: piadas.


A trupe de humoristas mais heterogêneos do país formou seu embrião há exatos 22 anos, na Faculdade de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Foi quando nasceu, mimeografado, o jornal Casseta Popular, produzido por Beto Silva, Marcelo Madureira e Hélio de La Peña. Em 1982, Bussunda e Claudio Manoel engrossaram a equipe, e também o besteirol. O lado Planeta da marca surgiu quando Hubert e Reinaldo decidiram lançar o jornal Planeta Diário, tendo os cinco cassetosos como colaboradores. No ano seguinte, com a criação da editora Toviassú (que o grupo faz questão de esclarecer tratar-se da contração da expressão Todo Viado é Surdo), a Casseta virou revista, e os sete rapazes, mais unidos do que nunca, transformaram-se no grande sucesso do irreverente e debochado humor nacional.


A estréia na televisão, em 1988, aconteceu primeiro nos bastidores. Foram contratados a princípio para trabalhar como redatores do extinto programa TV Pirata, da Rede Globo. No ano seguinte, porém, acabaram convocados para atuar como comentaristas do desfile de Carnaval na Marquês de Sapucaí. Aproveitaram o mote para lançar um vasto repertório de impropérios gravados em vinil e intitulado Preto com um Buraco no Meio.


Atualmente, a marca Casseta & Planeta também se encontra presente em outros produtos, como camisetas, cuecas, balas, figurinhas e nove livros de piadas. Até o final de setembro, será posto à venda o Jogo do Micão, uma seleção de perguntas e respostas inspiradas no Jogo do Milhão, de Silvio Santos, mas baseado num vídeo com os melhores momentos do C&P. Embora movimentem milhões de reais, eles recusam-se a revelar o montante de seus lucros. “Essa é uma informação irrelevante”, afirma Bussunda, acrescentando que os valores divulgados pela imprensa estão muito distantes dos verdadeiros. Para cima, é claro.


Para entrevistar o time de marmanjos que garante nossas gargalhadas nas noites de terça, PLAYBOY destacou a jornalista Dalila Magarian. Seu relato:


“Reunir os sete cassetas na mesma sala foi a parte mais difícil da entrevista. Por vários motivos. O primeiro é que cada um deles é responsável por tarefas distintas e possui seus próprios ministérios de trabalho, como gostam de reforçar. O segundo é que, fazendo as contas, o tempo máximo que conseguiram permanecer sentados sem sair do lugar foi de 15 minutos, descontados os intervalos para lanchinhos, idas ao toalete, telefonemas, leitura de jornais e olhadelas na televisão. As sessões de entrevista precisaram desenrolar-se nos intervalos de gravação do programa, em duas terças-feiras consecutivas.


“Foi surpreendente perceber a sintonia fina que existe entre eles. Embora tenham idéias diferentes sobre vários assuntos, todos falam a mesma língua ao discutir temas como os objetivos do trabalho e o tipo de humor. No fundo, os cassetas amam-se loucamente, embora cada um também ame a própria mulher, já que são todos ‘espadas’. Espadas, sim, mesmo que sempre terminem confessando que não comeram ninguém.”


PLAYBOY – Cá para nós, o bordão de que vocês nunca comem ninguém tem um fundo de verdade?


HUBERT – Essa foi uma realidade durante vários anos [risos].


CLAUDIO MANOEL – A gente criou o bordão porque na televisão existe aquela idéia de que todo mundo come todo mundo, principalmente ator e atriz. Como não fazemos parte dessa categoria, resolvemos fazer piada.


HUBERT – Além disso, a Marília Gabriela jamais namoraria a gente [risos].


TODOS – Graças a Deus! [Levantando os braços]


PLAYBOY – Hoje em dia as mulheres dão mole para vocês?


HÉLIO DE LA PEÑA – As mulheres dão mole pra gente e a gente dá a coisa mole pra elas [risos].


BUSSUNDA – A Gisele Bündchen gravou o programa e ficou doida pelo Claudio Manoel.


CLAUDIO MANOEL – Principalmente na hora em que fizemos sexo selvagem... [risos.]


PLAYBOY – Como surgiu o nome das Organizações Tabajara?


HÉLIO DE LA PEÑA – A gente tinha saído de uma gravação e viu esse nome numa placa qualquer. Começamos a sacanear e o nome ficou maior que nós [risos].


PLAYBOY – Algum Tabajara de verdade apareceu para cobrar royalties?


BUSSUNDA – Não. Mas a gente ficou sabendo que uma faculdade de São Paulo trocou o nome por nossa causa. O reitor mandou um e-mail dizendo que não havia problemas com o Casseta, mas que a universidade dele tinha uma tradição a zelar [risos].


BETO SILVA – Ninguém ia querer mesmo estudar numa faculdade chamada Tabajara.


PLAYBOY – Algum empresário maluco já pensou em fabricar os produtos Tabajara?


BUSSUNDA – Não. Mas, se alguém quiser, é só nos procurar.


BETO SILVA – Tinha de ser um cara meio maluco. Mas eu acho que os produtos iriam vender muito.


REINALDO – Principalmente o karaotê, o aparelho de videokê de onde sai um carateca de dentro [risos].


PLAYBOY – Quantos pontos vocês alcançam no ibope?


MARCELO MADUREIRA – Semana passada tivemos 32.


BUSSUNDA – Depende do filme que o Silvio Santos está passando. Às vezes a gente ganha. Noutras é ele quem ganha.


CLAUDIO MANOEL – Se não for contra um filme, a gente sempre ganha. Até agora só perdemos para Hollywood, o que não é nenhum demérito. De certa forma, é até erótico levar uma surra da Demi Moore [risos]. [O filme Strip Tease, estrelado por Demi Moore e exibido em abril pelo SBT, superou em audiência o Casseta&Planeta.]


PLAYBOY – Vocês se preocupam com os níveis de audiência?


HÉLIO DE LA PEÑA – Nós nos preocupamos com o nosso emprego!


HUBERT – É bom que as outras emissoras ofereçam opções. Isso torna o processo mais democrático. Mas o trabalho da gente também fica mais estressante. Sofremos uma tensão semanal pela audiência. Mas os concorrentes passam pelo mesmo estresse.


BETO SILVA – Os filmes de ação são sempre os mais complicados de vencer. Mas felizmente o Silvester Stalone só faz um filme por ano.


PLAYBOY – Qual é a receita do programa?


CLAUDIO MANOEL – A primeira coisa que pensamos é se estamos mesmo achando graça daquilo que acabamos de escrever. Nossa preocupação é fazer um programa que não seja elitista.


MARCELO MADUREIRA – A idéia é não ser popularesco. O fundamental é que seja muito divertido de fazer, sem ficar pensando no ibope. Mas claro que tem de ser um sucesso artístico e também comercial.


PLAYBOY – Vocês sofrem algum tipo de censura dentro da Rede Globo?


MARCELO MADUREIRA – Ninguém nos diz para não sacanear fulano ou beltrano, ou que isso pode e aquilo não pode. Agora, existe um controle de qualidade próprio da TV Globo. Por isso há negociações sobre alguns aspectos do programa.


PLAYBOY – De que tipo?


CLAUDIO MANOEL – É a negociação do bom senso. As discussões incluem temas como religião, costumes, valores das pessoas. A idéia principal é não ofender ninguém. Só fazer piada.


BETO SILVA – Quando uma piada realmente boa é vetada, a gente tenta dialogar com a direção.


BUSSUNDA – Recentemente tivemos esse tipo de negociação com o [diretor de Qualidade da Globo] Mário Lúcio Vaz. Havia uma piada num dos quadros de Garotas do Programa falando em pau mole. Não passou, daí trocamos o pau por pinto [risos]. Mas a verdade é que a grande maioria das cenas que a gente fez e não foram ao ar diz respeito ao departamento jurídico ou ao departamento comercial.


PLAYBOY – Que cena deixou de ir ao ar, por exemplo?


BUSSUNDA – Não me lembro direito de todas elas, mas teve uma em que a gente falava sobre a Ferrari do Ronaldinho. O departamento comercial não deixou passar, por causa do nome da marca. Achei o critério discutível, porque ninguém ia sair de casa para comprar uma Ferrari só porque a gente falou na marca. Mais recentemente recebemos um memorando do [departamento] jurídico para não citar nomes de candidatos a prefeito. Mas isso por causa da campanha política.


PLAYBOY – Vocês gostam de fazer piada sobre homossexuais?


MARCELO MADUREIRA – A gente gosta de fazer piada sobre português, judeu, alemão. Sobre todo mundo que está vivo, caminhante e andante.


BUSSUNDA – Nós não somos os arautos de uma nova sociedade. A gente faz piadas de que a gente gosta. E fazer piada de boiola todo mundo faz.


BETO SILVA – Além disso os gays são engraçadíssimos. Mas a gente toma cuidado para não passar do limite. Nunca fizemos piada de alguém batendo em um homossexual, por exemplo.


PLAYBOY – Alguma entidade já reclamou oficialmente de vocês?


BUSSUNDA – Na época em que lançamos o disco Preto com Buraco no Meio alguns grupos negros consideraram o título racista e a gente foi lá conversar pessoalmente com eles. Grupos feministas também já reclamaram. Nós achamos que todas as lutas pela igualdade e pela liberdade do ser humano são muito válidas. Mas esses grupos precisam ter um pouco mais de humor. Eles acabam sendo muito chatos.


CLAUDIO MANOEL – O militante em geral é muito chato, seja de qualquer tipo, de direita ou de esquerda. Pra fazer humor a gente tem de desmoralizar até as nossas mais profundas crenças, porque senão acaba ficando muito solene.


HÉLIO DE LA PEÑA – Não sabemos bem por quê, mas a prefeitura de São Paulo negou autorização pra gente gravar uma cena do prefeito Celso Pizza no Parque do Ibirapuera. Fizemos no Parque Villa Lobos, que é do Estado. Ficou até melhor. Na hora passou um carro da polícia e a gente fingiu que estava fugindo [risos].


PLAYBOY – Qual a parte mais difícil de imitar o Pitta?


HÉLIO DE LA PEÑA – A parte mais complicada foi incorporar o caráter dele. Eu não tinha muita prática com estelionato.


PLAYBOY – O prefeito Celso Pitta ficou aborrecido?


CLAUDIO MANOEL – O Pitta estava fugindo dos oficiais de Justiça e tinha mais o que fazer [risos].


BUSSUNDA – A gente não faz piada com quem a gente presume que é ladrão. Só com aqueles que já foram julgados e condenados. Ou então quando há o senso comum na sociedade de que o cara é mesmo um ladrão. Caso contrário vira campanha contra, não vira piada.


PLAYBOY – Então isso significa que o Casseta & Planeta possui um código de ética?


BUSSUNDA – Mais ou menos. Fizemos um programa inteiro sobre o [Fernando] Collor e o [departamento] jurídico da Globo proibiu porque o cara ainda não havia sido julgado. Fizemos outro programa para substituir. Um mês depois, levamos o programa do Collor inteiro ao ar. Já existia no Brasil um senso comum sobre ele. O nosso principal critério é nunca sair na frente da sociedade. Só falamos em formato de piada aquilo que a sociedade já pensava antes. Não mantemos uma campanha mesquinha contra ninguém. Só chamamos alguém de burro se isso for um consenso da sociedade.


PLAYBOY – O que mais vocês deixam de fora do programa?


CLAUDIO MANOEL – A gente nunca fez piada sobre a morte do Ayrton Senna, por exemplo, embora todas as piadas que surgiram depois sobre esse assunto tenham sido dadas como nossas, não sei por quê.


REINALDO – Também não fomos nós que fizemos piadas sobre a morte dos Mamonas Assassinas.


PLAYBOY – E sobre traficantes, vocês fazem?


BUSSUNDA – Bem de longe!


CLAUDIO MANOEL – E com todo o respeito, viu, senhores traficantes...


HUBERT – A gente só fala sobre eles no sentido construtivo.


BETO SILVA – Juramos que é tudo obra de ficção!


PLAYBOY – Qual o critério para a escolha dos convidados do programa?


BUSSUNDA – O primeiro critério é que eles estejam na mídia. O segundo é que a gente goste deles.


PLAYBOY – Algum desses convidados acabou se revelando um grande comediante?


REINALDO – Eu pessoalmente gostei do [escritor] João Ubaldo Ribeiro no papel de intelectual Kickboxing. Ele quebrava as regras da gramática com golpes de kickbox e também com a cara de quem falava português errado. Foi muito engraçado.


BUSSUNDA – O Pelé foi surpreendente. Ele tinha de contracenar com ele mesmo, fazendo o papel de Pelé e de Édson ao mesmo tempo. Na hora ele acabou incluindo vários cacos e ficou engraçadíssimo.


CLAUDIO MANOEL – O [centro de produção da Globo] Projac quase parou para ver o Pelé. O cara não joga futebol há 25 anos e, mesmo assim, mantém um carisma impressionante com o público!


HUBERT – Também foi emocionante fazer o programa com a Xuxa. Ela realmente tem alguma coisa meio divinal, diferente dos outros mortais.


CLAUDIO MANOEL – A Gisele Bündchen foi uma grande revelação, pela naturalidade. Gravamos em Nova York e havia fotos dela espalhadas pela cidade inteira. Mesmo assim ela chegou ao local da gravação com jeito de moleca, sem nenhuma frescura.


PLAYBOY – Qual o maior fora que vocês já cometeram?


BUSSUNDA – Acho que um deles foi com a Vera Fischer. A gravação estava marcada para as 8 e meia da manhã. Achamos que ela iria se atrasar. Chegamos ao estúdio somente às 10 e meia e ela já estava lá, toda pronta e maquiada. Que vexame.


HUBERT – Teve uma outra vez em que o Claudio [Manoel] e eu cometemos um fora ao vivo pelo [telejornal] SP TV. Fomos para Barretos [interior de SP] fazer uma paródia de dupla caipira durante o programa Amigos. O jornal deu o boa-noite com a gente cantando justo uma letra indecente. Na hora nos distraímos e repetimos a que tínhamos feito na hora do ensaio.


BUSSUNDA – Uma produtora do programa também deu um fora interno. Mandamos a moça para a Flórida [Estados Unidos] para fazer a produção em Miami e em Cabo Canaveral. Ela chegou da viagem e foi logo dizendo: “Em Miami já está tudo produzido. Mas canavial eu não encontrei de jeito nenhum”. [Risos.]


PLAYBOY – Alguma personalidade famosa já recusou um convite de vocês para participar do programa?


CLAUDIO MANOEL – As pessoas tinham mesmo receio de fazer o programa. Por isso somos gratos à Xuxa. Depois que ela apareceu no programa, ficou mais fácil. Eles devem pensar: “Se a Xuxa pode, eu também posso”. Nunca pensamos em constranger ninguém. Mas, se o cara chega travado, claro que vai ser uma droga.


PLAYBOY – Quem vocês gostariam de convocar para o programa?


CLAUDIO MANOEL – O Roberto Carlos, o Ronaldinho e o Guga.


REINALDO – Eu queria convidar o [cantor] João Gilberto. Mas ninguém quis levar a proposta a sério. Dizem que seria a mesma coisa que convidar o Tim Maia, caso ele estivesse vivo [risos]. Muito arriscado.


PLAYBOY – Convidamos alguns humoristas para fazer perguntas para vocês. A primeira é do Chico Anysio. Ele mandou esta: “É visível o progresso de vocês como atores. Vocês acham que é satisfatório ou ainda podem chegar mais longe?”


BETO SILVA – A gente quer chegar mais longe, Chico.


MARCELO MADUREIRA – Eu pretendo fazer Shakespeare e o Actor’s Studio [risos]. Eu não me considero ator. Estudei, freqüentei bons colégios [risos]. Eu sou no máximo um comediante. Enquanto ator eu sou um insulto [risos].


PLAYBOY – As meninas do Grelo Falante, do Rio de Janeiro, que sob supervisão de vocês redigem os textos do Garotas do Programa, mandaram esta: “Como vocês se viraram sem nós esse tempo todo?”


BETO SILVA – Nós não nos viramos porque nós somos espadas. Elas se esquecem disso o tempo todo!


MARCELO MADUREIRA – Se a gente levou todo esse tempo pra descobrir o Grelo, imagine quanto tempo a gente vai levar pra descobrir o cérebro.


PLAYBOY – Mais mulheres. Desta vez, as do grupo paulista 2 Neurônio: “Vocês acham que mulher também sabe fazer piada ou é só alvo?”


HÉLIO DE LA PEÑA – As mulheres já provaram que, assim como o Pokémon, também evoluem [risos].


HUBERT – Antes os homens eram educados pra fazer piada e as mulheres para não entendê-las.


MARCELO MADUREIRA – Hoje, algumas mulheres sabem fazer melhor piada do que sexo. E nada mais direi.


PLAYBOY – Agora uma pergunta do Miguel Paiva: “Que tipo de concessão vocês fizeram para que o humor cáustico e radical dos tempos do jornal Planeta Diário e da revista Casseta Popular fosse assimilado pelo grande público da televisão?”


CLAUDIO MANOEL – Nunca foi um problema passar de revista para televisão. Era uma coisa que a gente almejava. Escrever, pelo menos. Atuar é que foi um susto.


MARCELO MADUREIRA – Acho que quem fez concessão foi o público em nos receber e gostar das nossas piadas.


PLAYBOY – Vamos lá. Esta pergunta agora é do João Kleber: “Se a turma do Casseta assumisse o cargo do FHC, qual seria o primeiro ato?”


REINALDO – Assinaria a minha exoneração.


BETO SILVA – Pediria demissão pra não ficar de cabelo branco como todo presidente fica, já percebeu?


HÉLIO DE LA PEÑA – A primeira providência seria tirar o passaporte e sair viajando.


PLAYBOY – Outra do João Kleber, desta vez especificamente para o Claudio Manoel: “O Massaranduba aceitaria ser segurança do governador Mário Covas?”


CLAUDIO MANOEL – Ser segurança do Covas é um trabalho muito pesado. O Massaranduba não tá com isso tudo, não.


PLAYBOY – Voltando à nossa conversa, confessem: quais os humoristas que vocês admiram?


HÉLIO DE LA PEÑA – No Brasil o Tom Cavalcante é um cara que eu acho muito engraçado como imitador. O Falabella é sensacional. E a Regina Casé, o Luiz Fernando Guimarães, o Evandro Mesquita.


BETO SILVA – Da área escrita a gente sempre curtiu a turma toda do Pasquim, o Ivan Lessa, o [Luís Fernando] Veríssimo. Da televisão recebemos a influência do Jô [Soares], dos Trapalhões, do próprio Chico Anysio, apesar de ele gostar de falar mal da gente...


PLAYBOY – O que aconteceu entre vocês e o Chico Anysio?


BUSSUNDA – Nós chegamos à [Rede] Globo numa época em que o Jô [Soares] havia deixado um enorme espaço. O Chico achava que o espaço seria dele.


HUBERT – Foi na estréia da TV Pirata. Ele disse que a empregada dele não entendia o programa. Mas com o tempo a gente aprendeu que o Chico é assim mesmo, ora ele fala bem, ora fala mal. Não tem mais surpresa pra gente.


BUSSUNDA – Na verdade eu acho que o Chico é um ótimo comediante e um péssimo entrevistado [risos].


HÉLIO DE LA PEÑA – Ele se referiu a mim como sendo só um neguinho de olhos verdes. Acho que provei que sou um pouco mais do que isso.


PLAYBOY – Vocês riem das piadas alheias ou pelo fato de serem humoristas se tornaram mais rigorosos?


BETO SILVA – Rimos até com mais facilidade em certos momentos e em outros, pelo mesmo motivo, não achamos a menor graça. A gente acaba prestando muita atenção em outros fatores, como a técnica e o texto.


MARCELO MADUREIRA – Pior é aquela pessoa que chega na gente e diz: “Eu tenho uma piada incrível para te contar...”


BETO SILVA – Essas pessoas a gente tem de agüentar. Até agora só um cara passou do limite. Foi num show dos Rolling Stones. Ele chegou passando a mão na nossa bunda. Quando a gente foi pra cima dele, ele falou: “Ué, vocês não fazem isso com todo mundo?”. Mas isso não é verdade. A gente trata as pessoas na rua com o maior respeito.


PLAYBOY – Como vocês dividem o trabalho?


BUSSUNDA – Cada um de nós assumiu um ministério dentro do Casseta. O Ministério da Literatura é do Beto Silva. O da Internet e Novas Mídias é do Marcelo Madureira. O Claudio Manoel cuida da redação final do programa junto com o Reinaldo, que também trata dos Assuntos Gráficos. O Hélio de La Peña é responsável pelos Licenciamentos, o Hubert pela parte musical e eu ocupo os ministérios do Cinema e do Ócio e Lazer [risos].


PLAYBOY – Ministério do Ócio e Lazer? Não é um certo protecionismo?


BUSSUNDA – Na verdade eu cuido das férias da rapaziada. Faço a agenda das folgas semanais ou mensais. Digamos que não é um ministério que dê realmente muito trabalho.


PLAYBOY – Os fãs mandam piadas para vocês?


BUSSUNDA – Mandam muitas pela internet, mas as aproveitáveis não somam 1%.


HÉLIO DE LA PEÑA – O engraçado é que tem aqueles que mandam as nossas próprias piadas de volta pra gente [risos].


PLAYBOY – É fácil fazer piada ou há dias em que ninguém consegue pensar em nada engraçado?


HUBERT – Isso não pode acontecer. Nunca pode dar branco. Já passei por momentos difíceis. Até de perder um parente e no dia seguinte ter de ir lá e fazer piada. Essa é a vida do humorista profissional.


PLAYBOY – Vocês têm alguma fonte de inspiração especial?


REINALDO – O que a gente faz mesmo é jogar conversa fora. E com sete caras as reuniões são mais fáceis: sempre dá pra desempatar.


PLAYBOY – É mais fácil fazer piada sobre política ou sobre futebol?


BUSSUNDA – Este ano ficou mais difícil fazer piada sobre política. Até o Jornal Nacional deixou a política para o último bloco. Então falamos sobre outras coisas. Ultimamente o forte tem sido as novelas. Elas rendem um bocado de paródia.


HUBERT – Nos tempos do [ex-presidente] Itamar era mais fácil fazer piada sobre política.


PLAYBOY – Que personagem do Casseta & Planeta conseguiu uma maior empatia do público?


BUSSUNDA – O Massaranduba [Claudio Manoel] e o parceiro dele, o Montanha [Bussunda], são a revelação do ano. Alguém precisava sacanear esses caras que ficam dando porrada em todo mundo no meio da rua. O surpreendente é que essas turmas de jiujiteiros também gostam do Massaranduba. Eles não perceberam que a piada é uma paródia deles. Ficam achando sempre que é para a gangue do lado [risos].


PLAYBOY – Que programas vocês assistem em casa?


BUSSUNDA – Eu particularmente gosto de ver TV a cabo. Na [TV] aberta vejo futebol e o programa da Hebe [Camargo]. Acho a Hebe muito divertida.


CLAUDIO MANOEL – Eu assisto o Muvuca, um pouco de telejornal, a MTV e os seriados americanos da TV a cabo.


HÉLIO DE LA PEÑA – Eu sempre dou uma olhada nas novelas. Só não gosto de programas de animais e de saúde.


PLAYBOY – Os discos de vocês vendem bem?


BUSSUNDA – O primeiro disco [Preto com Buraco no Meio] vendeu 40.000 exemplares nos primeiros dois meses. Foram 70.000 no total. Mas o Pra Comer Alguém não vendeu. Foi feito meio na clandestinidade pela gravadora Velas, porque a [gravadora] Som Livre achou que tinha muito palavrão nas músicas.


CLAUDIO MANOEL – E agora acabamos de lançar o terceiro disco, The Bost of. O problema é que não temos tempo de sair trabalhando o disco.


PLAYBOY – E com os livros, vocês levam mais sorte?


BETO SILVA – A gente já vendeu 300.000 livros, contando os nove títulos já editados. Não se pode reclamar.


PLAYBOY – Vamos agora a um tema do momento: vocês são a favor ou contra os seios de silicone?


HÉLIO DE LA PEÑA – A mulher do ponto de vista do playground tem de botar silicone, vidro fumê, pára-choques. Quanto mais acessórios pra mim tá sensacional.


BUSSUNDA – Eu acho que esse é um bom recurso. Só não pode virar arroz de festa. As diferenças é que são bacanas. Existe um tipo de tesão para a mulher de peitão e um tipo de tesão para a mulher de peitinho. Se todas ficarem iguais é que vai ser muito chato.


PLAYBOY – Vocês preferem o corpo da Tiazinha ou o da Feiticeira?


CLAUDIO MANOEL – Eu sou mais tiazófilo, considero a Tiazinha mais realizável. Ela não pode botar silicone de jeito nenhum!


PLAYBOY – Quais as mulheres favoritas do Casseta & Planeta?


MARCELO MADUREIRA – Mamãe! Ah, e a Letícia Spiller.


HÉLIO DE LA PEÑA – Tem de começar pela prata da casa, a Maria Paula. Tem aquele ditado de que galinha de casa não se corre atrás, mas a gente tem de dar o valor.


CLAUDIO MANOEL – Depois vem a Luma de Oliveira, a Vera Fischer, a Cameron Diaz, a Luana Piovani... A gente adoraria gravar com a Luma. Estamos negociando uma licença do Eike [marido de Luma] há um ano e meio. Quero dizer que também gosto da Feiticeira, apesar de ter gente dizendo que tudo no corpo dela é artificial. Mas ninguém por aqui está a fim de fazer uma autópsia.


REINALDO – Tem também a Carolina Ferraz.


HUBERT – E Sophia Loren. Nunca me esqueço dela em Os Girassóis da Rússia (1970, de Vittorio De Sica).


PLAYBOY – O que mudou na vida de vocês depois da fama, além da conta bancária?


HUBERT – O meu apartamento. Mudei para um de quatro quartos, com ar-condicionado. Além disso, antes eu era um joão-ninguém. Agora passei a ser um joão-ninguém famoso pra caralho.


HÉLIO DE LA PEÑA – Apareceram muitos amigos de infância.


BUSSUNDA – Eu adorava ficar no meio da multidão, na arquibancada e na geral do Maracanã. Agora ficou mais difícil. Tem muito pedido de autógrafo, acabou a era do anonimato.


CLAUDIO MANOEL – Fora do Rio é que fica mais difícil. Aqui [no Rio de Janeiro] as pessoas estão mais acostumadas a encontrar as pessoas da televisão na rua. Mas também não é nenhum fenômeno. Principalmente porque ninguém do grupo tem cara de galã.


BUSSUNDA – E nós nunca saímos nas colunas sociais.


CLAUDIO MANOEL – E nenhum de nós namora a [apresentadora] Eliana. Nem temos depressão para virar assunto de capa de revista.


PLAYBOY – É verdade que vocês agora ganharam mais poder dentro da Rede Globo?


CLAUDIO MANOEL – Não tem essa história de poder. O que aconteceu é que houve uma abertura para apresentarmos nossas idéias. A Globo estava buscando isso e achamos que era bem melhor partir da gente do que de alguém de fora. Mas não temos interesse em obter cargos, nada disso. Gostamos de criar. Foi assim que surgiu o projeto do [programa] semanal Garotas do Programa.


PLAYBOY – Vocês acham que o Garotas do Programa está cumprindo o objetivo inicial?


BUSSUNDA – Acho que sim. Mas o começo é difícil para todo mundo. Para elas, que nunca fizeram televisão, e para a gente, que nunca fez supervisão. Esse é, no mínimo, um programa que nunca existiu na TV brasileira.


MARCELO MADUREIRA – O legal do programa é que ele é escrito, dirigido e feito só por mulheres, mesmo não sendo apenas para mulheres, mas para todo mundo. É a visão feminina do humor.


CLAUDIO MANOEL – E são 22 mulheres trabalhando juntas.


BUSSUNDA – Corre o boato de que as mulheres que trabalham juntas começam a menstruar todas ao mesmo tempo.


CLAUDIO MANOEL – Tem pelo menos uma delas com TPM [Tensão Pré-Menstrual] todo dia.


PLAYBOY – Mudando de assunto, vocês já foram vaiados em shows?


MARCELO MADUREIRA – O Claudio Manoel foi vaiado ontem à noite no quarto, pela mulher.


TODOS – [Risos.]


CLAUDIO MANOEL – Mentiroso, eu nem estava em casa...


MARCELO MADUREIRA – Nós só fomos vaiados uma vez, antes de ir para a televisão. Foi numa época em que fazíamos uma espécie de coral com músicas parodiadas.


CLAUDIO MANOEL – Foi numa boate carioca. Estava todo mundo se dando bem na pista de dança e de repente o dono da boate interrompeu o som para apresentar o nosso grupo. Começamos a cantar a nossa música de apresentação e alguém lá no fundo gritou: “Filhos da puta!” [Risos.]


HÉLIO DE LA PEÑA – Ficamos um olhando para a cara do outro, sem saber se era melhor continuar ou sair correndo. Mas depois disso aposto que o dono da boate nunca mais decidiu inovar [risos].


PLAYBOY – Vocês brigam muito?


BUSSUNDA – Sempre. Muito.


HÉLIO DE LA PEÑA – Anos atrás uma candidata a secretária chegou ao escritório bem na hora em que a gente estava brigando. Falou para a gerente que não queria o emprego porque achava que o grupo ia acabar [risos]. Mas ela trabalha com a gente até hoje!


REINALDO – [Sério.] Para fazer o nosso último disco a gravadora teve de alugar sete estúdios diferentes, um em Los Angeles, outro em Nova York, um em Paris. Depois mixaram tudo lá no Paraguai [risos].


MARCELO MADUREIRA – Não é briga, é o nosso modus operandi de trabalhar. É uma forma de produzir em que uns irritam os outros reciprocamente. Todos consensualmente queremos fazer o melhor possível.


CLAUDIO MANOEL – Todos consensualmente queremos espancar o Marcelo Madureira!


MARCELO MADUREIRA – Vai tomar no cu da sua mãe!


TODOS – [Risos.]


PLAYBOY – Qual o principal tema das brigas?


CLAUDIO MANOEL – São discussões muito íntimas...


MARCELO MADUREIRA – O tema é a introdução de objetos estranhos em buracos profundos [risos.].


CLAUDIO MANOEL – O Marcelo Madureira é o maior especialista nesse assunto [risos].


MARCELO MADUREIRA – Corrigindo, eu sou um teórico do assunto. Criei no site do Casseta um exame virtual de próstata. É um sucesso tão grande que até os americanos querem lançar esse programa lá no Disney World com o Mickey e o Pateta. Os caras estão é com inveja do meu sucesso.


TODOS – [Risos.]


PLAYBOY – Que tipo de crítica costuma ser feita ao trabalho de vocês?


TODOS – [Pensativos.]


BUSSUNDA – Ah, a gente fala tanta merda! Mas tem um tipo de crítica equivocada. Dizem que desrespeitamos o povo quando fazemos as enquetes de rua. Mas é o contrário. Nós sempre brincamos com todo mundo de igual para igual. O mais divertido é justamente quando alguém consegue sacanear a gente. Algumas pessoas têm um certo paternalismo, acham que temos de chegar na rua e tratar o povo como coitadinho. A gente prefere tratar de igual para igual.


PLAYBOY – Vocês lêem PLAYBOY?


BUSSUNDA – A gente tem a PLAYBOY no escritório. E dentro do banheiro.


MARCELO MADUREIRA – Consideramos o conteúdo da revista muito... [pensando] enlevante. [Irônico.] Eu compro só para ler as entrevistas.


CLAUDIO MANOEL – Eu compro só para ler as entrepernas.


BUSSUNDA – Eu, pela primeira vez, vou ler a entrevista [risos].


MARCELO MADUREIRA – A PLAYBOY é a primeira revista em braile do Brasil. É que os caras lêem a revista com as mãos [risos].


PLAYBOY – Vocês se consideram uns sujeitos originais?


MARCELO MADUREIRA – [Sério.] Não. Eu acho que tudo é um processo evolutivo. No meu caso sofri influência do Pasquim, do Ivan Lessa, do Jaguar, do Ziraldo, do Henfil.


CLAUDIO MANOEL – Acho que nós temos um estilo e acredito que esse estilo seja original.


PLAYBOY – Qual é o estilo de vocês?


BUSSUNDA – Barroco baiano.


MARCELO MADUREIRA – É o estilo frouxo retesudo [risos].


CLAUDIO MANOEL – [Sério.] Na realidade temos um estilo intuitivo que surgiu da junção de sete pessoas diferentes, cada uma com as suas próprias influências e tipo de humor.


BUSSUNDA – [Sério.] Nós somos um grupo que faz humor. Ninguém entrou no grupo porque queria se lançar numa carreira solo como comediante. Nenhum de nós fazia curso de teatro, por exemplo. Formar o grupo não foi uma maneira para entrar para a televisão.


PLAYBOY – Qual o segredo para um grupo de sete pessoas durar tanto tempo?


MARCELO MADUREIRA – Se existisse um segredo eu não contaria. Segredo é segredo.


CLAUDIO MANOEL – Se o grupo fosse de mulheres não iria durar nem 15 minutos.


MARCELO MADUREIRA – [Sério.] Tem durado porque a gente briga o tempo todo. Meu pai e minha mãe estão casados há cinqüenta anos justamente porque brigam muito.


CLAUDIO MANOEL – É, o Marcelo tem mesmo poucas coisas entaladas.


TODOS – [Risos.]


PLAYBOY – O contrato de vocês com a Globo é individual ou coletivo?


BETO SILVA – Cada um tem um contrato próprio, mas o teor é discutido em grupo.


MARCELO MADUREIRA – O contrato vai até o final dos tempos com prorrogação de dois anos.


CLAUDIO MANOEL – [Sério.] Nosso contrato com a Globo deve durar mais uns três anos, mais ou menos.


MARCELO MADUREIRA – Vai até o Silvio Santos contratar a gente por vários bilhões [risos].


PLAYBOY – Vocês iriam para o SBT?


CLAUDIO MANOEL – Hoje estamos muito bem aqui [na Globo]. Mas não temos nada contra o SBT.


MARCELO MADUREIRA – Somos profissionais de alto gabarito, igualzinho as putas [risos]. Trabalhamos em qualquer lugar.


CLAUDIO MANOEL – O único lugar onde eu não atuaria é no Vasco [da Gama].


TODOS – [Risos.]


PLAYBOY – Qual é o time de futebol de vocês?


BETO SILVA – Eu sou Fluminense. Ou melhor, sou o único que assume ser Fluminense. Esses caras não têm a menor personalidade.


MARCELO MADUREIRA – Bussunda, Claudio Manoel e eu somos flamenguistas. O Hélio de La Peña diz que é botafoguense, o Hubert nem finge e o Reinaldo é intelectual.


BETO SILVA – O Reinaldo é só um cara que a gente apóia [risos].


MARCELO MADUREIRA – O Reinaldo é amigo do Millôr [Fernandes]. Se faz passar por intelectual, toca jazz, essa abominável manifestação musical do ser humano [risos]. No fundo ele morre de vergonha de ser um Casseta [risos].


PLAYBOY – O que tira o humor de vocês?


MARCELO MADUREIRA – [Irônico.] As injustiças sociais, a miséria e a pobreza.


BUSSUNDA – Os problemas de saúde. Eu acabei de operar o joelho e hospital é a coisa mais deprimente do mundo. Os caras te colocam de bunda de fora, daí vem um negão e pergunta: quer tomar banho?


TODOS – [Risos.]


MARCELO MADUREIRA – O Bussunda é o primeiro cara que fez uma operação de joelho numa sauna gay. Ele se confundiu e entrou na porta errada.


CLAUDIO MANOEL – Ele está ficando maluco. Começou a pensar que era o Ronaldinho e acabou somatizando no joelho.


PLAYBOY – Qual é o lazer favorito de vocês?


BETO SILVA – Gosto de ler e assistir filmes de mistério, de ficção.


MARCELO MADUREIRA – Eu gosto de ficar em casa lendo um boa mulher e comendo um bom livro.


BUSSUNDA – No tempo livre eu prefiro brincar com a minha filha.


PLAYBOY – Vocês pretendem estrear no cinema?


BUSSUNDA – Temos uma história pronta. É uma comédia sobre a década de 70, a época da ditadura. Queríamos botar o Guilherme Fontes para captar os recursos mas não foi possível. [O diretor está sendo processado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia por não ter pago a dívida de 2,5 milhões de reais pela produção do longa-metragem Chatô, o Rei do Brasil. O filme já consumiu 8 milhões de reais e não foi concluído.] A nossa captação vai ser séria. Vamos tentar filmar no início do ano que vem ou no máximo em 2002.


PLAYBOY – Algum de vocês já era ator antes de ser humorista?


HUBERT – Eu costumava ser o Papai Noel nas festas do colégio de final de ano. Mas era um papel dramático, vivia chorando.


BETO SILVA – Quando começamos na televisão não tínhamos a menor idéia do que era aquilo.


CLAUDIO MANOEL – O que deflagrou a nossa ida para a frente da câmera foi o fato de nenhum ator ter topado fazer o nosso projeto. Todo mundo que a gente pensava já tinha algum outro trabalho engatilhado. Então falamos [para a Globo]: “A gente mesmo faz”. No começo, teve quem achasse a idéia parecida com um complô de autores.


HUBERT – Aquela coisa do compositor que quer começar a cantar.


REINALDO – Mas o programa ficou legal justamente por isso. Fazendo um paralelo, outros cantores podem cantar até melhor as músicas do Chico Buarque [de Hollanda], mas quando é ele quem canta tem um valor insubstituível.


PLAYBOY – O grupo é partidário de algum partido político?


BETO SILVA – O grupo não tem posição sobre nada. Cada um de nós tem a sua opinião pessoal sobre tudo.


CLAUDIO MANOEL – Por isso é mais complicado dar entrevista. Ficam colocando coisas na boca da gente em nome do grupo.


HUBERT – O Marcelo Madureira, por exemplo, deu uma entrevista para a [revista] G Magazine e colocaram uma coisa enorme na boca dele. Uma coisa bem escrota...


TODOS – [Risos.]


PLAYBOY – Vocês já estão ricos?


MARCELO MADUREIRA – Eu fiquei uma vez. Mas depois fiz exame de urina e deu negativo.


TODOS – [Risos.]


CLAUDIO MANOEL – Ganho mais do que preciso e menos do que mereço. Na verdade, falar em dinheiro só provoca inveja e seqüestro.


MARCELO MADUREIRA – No nosso contrato com a Rede Globo existe uma cláusula que nos proíbe de revelar o quanto ganhamos.


BUSSUNDA – Dinheiro não é uma informação relevante. Às vezes a gente ouve falar na imprensa sobre o quanto as mulheres ganham para tirar fotos para a PLAYBOY e o nosso salário não chega nem perto.


BETO SILVA – Mas a gente promete uma coisa: quando formos posar pelados para a PLAYBOY vamos revelar o cachê de cada um.


BUSSUNDA – Vou logo avisando que doarei o meu cachê para uma instituição de caridade.


CLAUDIO MANOEL – [Interpretando Massaranduba.] Mas quem pendurar o nosso pôster no banheiro vai levar porrada.


POR DALILA MAGARIAN

FOTOS ROSANE MARINHO


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