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PITTY | JULHO, 2014



Após passar quase meia década sem lançar um disco solo, a roqueira de 36 anos fala sobre vida e morte, sexo, ciúme, Anitta, Valesca Popozuda, legalização da maconha e das chances de posar para PLAYBOY


ENTREVISTA MARCO BEZZI FOTOS DANIEL ARATANGY





1. Em Sete Vidas, faixa-título do seu novo disco, você canta que "só nos últimos cinco meses, eu já morri umas quatro vezes". O disco é uma resposta pra quem achava que você estava morta musicalmente? É uma resposta pra mim, interna. "Estou viva!" Nos últimos tempos, passei por situações nas quais tive de encarar mortes reais e metafóricas. A vida me deu esse golpe três vezes seguidas [com as mortes de Chorão e Champignon, do Charlie Brow Jr., e do guitarrista Peu, músico que tocou com Pitty no primeiro disco da cantora]. Foi um maremoto atrás do outro. Quando eu estava subindo pra respirar, uma onda me levava para baixo novamente. Foram momentos de bastante agonia e desespero no início, mas de reflexão também. Entendi que o que aconteceu faz parte de um puta aprendizado.


2. As músicas desse novo trabalho têm uma pegada mais sensual. Dá para ouvi-las durante o sexo ou desconcentra? Dá, sim. O disco passa essa sensação de quadril. Tenho procurado mais a curva do que o ritmo quadrado, ultimamente. Procuro mais a sinuosidade dentro da música, a coisa mais lasciva, o blues. O rock ficou muito branco e duro por um tempo.


3. Mas você já botou para ouvir uma música sua durante o sexo? Não! Aí já é onanismo demais. Quem tem esse ego todo? [Risos.]


4. O rock no Brasil parece ter se enfiado num buraco nesses últimos anos. Dá pra sair dele ou tem gente cavando para o buraco ficar ainda mais fundo? Houve uma infantilização do gênero, que resultou num bode geral nos últimos anos. Mas agora as rádios rock estão de volta; os Titãs, por exemplo, lançaram um disco superpesado; há outras banda, como Vespas Mandarinas e Vivendo do ócio, produzindo ótimos trabalhos. Estou otimista quanto à mudança, é um período propício. Não tenho a pretensão de me colocar como a salvadora do rock, mas estou feliz de fazer parte dessa retomada com meu novo disco.


5. O discurso dos roqueiros estava mais para Luciano Huck do que para Sérgio Mallandro? A comparação é engraçada, mas, de uma certa maneira, você tem razão. O rock havia perdido uma função inerente de quebrar tabu. Ficou uma coisa da "festinha de aniversário de criança", inócua. Os pais começaram a colocar as músicas para os filhos ouvirem. Quando isso ocorre, tem algo errado acontecendo.


6. Por que você decidiu defender a Anitta no episódio em que ela cantou duas de suas músicas (Máscara e Na Sua Estante) e foi chamada de vulgar e vadia pelas suas fás? Ouviu as versões? O que achou? Não estava defendendo a Anitta, e sim o debate sobre como melhorar a situação das mulheres. Usei a Anitta como um símbolo para mostrar que as mulheres não são culpadas pelo machismo que elas próprias carregam. As meninas mais novas têm de entender que não podem reprimir uma outra mulher, pois assim estão se reprimindo também. Quando eu era mais nova, também tinha dificuldade para compreender essa máquina patriarcal, mas senti que tinha de mostrar para as meninas mais novas algo que levei um tempo para aprender. E outra: você tem o direito de gostar ou não da música, mas discutir o que é feio ou bonito é tão pessoal... E sim, eu escutei as versões da Anitta na internet e achei bem curioso, divertido.


7. Anitta e Valesca Popozuda, com esse discurso pró-ativo em defesa da mulher que toma iniciativa, são mais rock'n'roll que todo o cenário de rock junto? Não colocaria dessa forma porque essa afirmação pode confundir, e não acredito que elas façam isso conscientemente. Quando a Valesca fala que "ser vadia é ser livre", talvez não saiba que isso é um dos motes do feminismo. Mas, quer saber? Não importa se é consciente ou não, se é didático. O que importa é o que isso inspira, independentemente de se eu gosto da música ou não. O que está em voga nesse discurso que eu trouxe para a discussão é o papel delas como mulheres na sociedade. E elas têm o direito de se expressar.


8. Em 2005, você fez uma única foto sensual para PLAYBOY, na seção Mulheres que Amamos. Na entrevista, disse que queria alcançar um público diferente com a foto. Conseguiu? Sim. Ao longo desses anos, cada projeto, cada atitude e cada entrevista me levou aonde eu queria ir. A galera do oba-oba do início da minha carreira foi embora. Hoje consigo dialogar muito melhor com o meu público. Ele entende muito mais a minha música.


9. Falando em PLAYBOY, pensa em fazer um ensaio nu? Não sei. Talvez algo independente para o meu site, pois eu teria controle sobre a produção. O que me importa não é estar nua ou não, mas como isso vai ser passado para as pessoas. Não tem nada de errado em você olhar uma pessoa e achá-la um tesão, linda e maravilhosa, mas me incomoda ser comparada a um objeto. Pra mim, aceitar fazer uma foto para uma revista masculina seria mais ou menos como ir até a casa do diabo e reclamar que está quente. Não acharia justo fazer as fotos e depois encher o saco do editor pedindo pra cortar essa e outra imagem.


10. Não teria apelo para a sua vaidade se sentir desejada numa ensaio de nudez? Não tenho essa carência. Caso fizesse, seria muito mais pelo caráter experimental. Minha satisfação vem sempre daí.


11. Você se acha uma mulher gostosa? Me acho normal. Já me senti bem pior. [Risos.]


12. Mas já fez ensaio para você mesma? Nua não, mas gosto da experiência de autorretratos. As fotos do disco fui eu que fiz, numa pegada bem punk rock. Ali são os três acordes que eu sei tocar na minha câmera.


13. Quando você era mais jovem e solteira, seu perfil era mais conservador no sexo ou você foi uma mulher que sempre gostou de ousar? Sexo também é aprendizado. Dá vontade de falar para as meninas mais novas: "Você acha que sabe transar com 20 anos? Espere os 30 e poucos, mulher...". Nessa fase você conhece mais o seu corpo e se aprimora muito como mulher.


14. Todo esse tempo sem lançar um disco solo nos fez pensar que você poderia viver de direitos autorais e tirar quantos anos sabáticos quisesse. É verdade? Não posso parar, não por questões financeiras, mas principalmente porque quero tocar e cantar pelo resto da minha vida, independentemente do dinheiro. Tenho minha banda por necessidade, por tesão, e teria mesmo não sendo bem-sucedida como cantora. Não lancei um disco antes porque não via necessidade. Gravo quando tenho o que dizer, e não para atender demandas externas.


15. Quando não está cantando, o que você gosta de fazer? Tem algum hobbie? Sou cinéfila. Adoro assistir tudo. Achei genial o Clube de Compras Dallas, amei Azul É a Cor Mais Quente e Ninfomaníaca. É um Lars von Trier [diretor do filme] pop.


16. Esses dois últimos são filmes com cenas de sexo bem fortes... Algumas pessoas vieram me falar isso. Mas e daí que Ninfomaníaca mostra pau e boceta? Eu não estou olhando pra isso quando vejo um filme desses. Presto atenção na história.


17. Você está com o Daniel Weksler, baterista do NX-Zero, há sete anos. A mulherada cai em cima da banda dele? Rola ciúme? Quem é mais ciumento dos dois? Imagine. Nenhum dos dois é ciumento. Somos relax, conversamos muito e não temos tempo pra essas coisas. Meu negócio não é com elas [as fãs], é com ele. As pessoas pensam que ficamos meses separados por conta das viagens, mas não é verdade. Estamos sempre juntos.


18. Você é a favor da legalização da maconha? Sou a favor. Acredito na liberdade individual. A legalização seria um meio eficaz de combater a criminalidade e, principalmente, permitiria a liberação de substâncias derivadas da cannabis que poderiam ser usufruídas em tratamentos médicos.


19. Este ano temos eleições para presidente. Já foi chamada pra subir em palanque em época de eleição? Não fui e não aceitaria no momento. Ainda não pintou uma pessoa na qual eu tivesse vontade de votar.


20. As letras de Sete Vidas falam de vida e morte. Já pensou no que gostaria de ver escrito no seu epitáfio? Penso em: "Aqui jaz uma pessoa que viveu a vida que quis". Só não vá escrever "roqueira baiana" na lápide! [Risos.] Esse epíteto maluco me persegue!


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