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RAÍ | SETEMBRO, 2015



Lançando a fotobiografia Raí Auto_Fotobio, o eterno terror do Morumbi fala sobre Viagra, bebida, política, Seleção e boatos sobre a sua sexualidade


POR JOÃO PEDRO JORGE

FOTO CLAUS LEHMANN





1. Em 2012, a colunista Fabíola Reipert insinuou que você teria um caso com o apresentador Zeca Camargo. De onde surgiu essa história? Do nada. Foi alguém que quis inventar algo do nada. Se ele fosse um amigo, alguém próximo, mas não. Ela inventou do zero. Todo mundo que compartilhou sabe que não é verdade.


2. Há muitos homossexuais no futebol? Já ouvi muitos jogadores falando que não tem, mas claro que sim. Só que é um meio tão machista que ninguém fala. O mundo do futebol sempre foi ligado a esse lado da força, de se mostrar o mais violento.


3. Você tem um considerável fã-clube feminino. Deu para aproveitá-lo? Antes de me casar, eu tive urna vida de interior bem pacata. E depois não teve como. É até engraçado. Tenho certeza de que minha carreira teria sido muito mais complicada se eu fosse solteiro. Talvez nem fosse jogador.


4. Mas e depois de se separar, como foi descobrir que poderia pegar a mulher que quisesse? [Risos.] Foi um momento de adolescência tardia. O que eu não aproveitei aos 17 anos, acabei aproveitando depois dos 30. Ainda mais que a minha carreira estava acabando, então não tinha mais essa responsabilidade. Eu aproveitei bastante.


5. Conheceu alguma capa de PLAYBOY naquela época? Não. Por ser uma pessoa pública, sempre preferi ter relacionamentos mais low profile. Mas eu também não conheço todas as capas de PLAYBOY que existiram na vida. [Risos.]


6. Você foi um avô jovem, com 34 anos. Hoje, aos 50, o vovô Raí já precisou usar Viagra? Ainda não, mas estou curioso para saber como é. O Viagra é uma supernotícia para os homens, né? E quando for necessário estender a minha carreira, vou usar. [Risos.] Pena que não tenha o Viagra do atleta.


7. Mas você já broxou? Claro que aconteceu, mas por diferentes motivos. Nada que precisasse de remédio, ou que fosse irremediável num outro dia, numa outra hora. Isso é natural. É normal que você às vezes tenha menos apetite, ou que o ambiente não seja o ideal ou que a pessoa não mexa com você.


8. Você morou muitos anos na França e já se declarou um bebedor de vinho. O que mais você gosta de beber? Eu sou um apaixonado por caipirinha, tem até uma história engraçada: uma vez, numa festa na França, eu fiz caipirinha para uns amigos franceses e eles não acreditavam que era só limão, açúcar e cachaça. E eu sou de Ribeirão Preto, né? Gosto muito de chope...


9. Seu irmão Sócrates morreu em decorrência do alcoolismo. Você já teve medo de perder o controle com a bebida? De certa forma, isso me ajudou a tomar mais cuidado. E eu nunca tive muita resistência para bebida, nunca consegui beber vários dias seguidos. Se conseguisse, teria mais medo.


10. O Sócrates era um cara muito politizado. Você gosta de política? Sim. Acompanho e sinto que estou cada vez mais envolvido com política. Essa é uma coisa que ainda deve crescer para mim. Não sei de que forma, com certeza não como candidato, mas quero participar cada vez mais. E sinto que está para acontecer algo grande. Uma hora dessas algum desses movimentos de esquerda vai ter uma sacada que pode se transformar em uma inovação global em termos de política. O Brasil tem esse ambiente, apesar de todos os nossos pesos históricos.


11. Você está lançando a fotobiografia Raí Auto_Fotobio. Por que não fazer um relato mais tradicional? Já tive várias propostas para uma biografia, mas nunca quis. Acho que é cedo, que tenho muita coisa para produzir. Minha vida pode ser muito mais rica, e vou ter mais sabedoria no futuro para fazer um recuo. A fotobiografia é algo simpático, um registro bom para os fãs. E me ajudou a recuperar muita coisa. Eu sou péssimo para guardar coisas, desde medalha até camiseta.


12. Você não tem mais as suas medalhas? Nada! Minha medalha da Copa de 1994 eu achei outro dia por acaso numa gaveta, meio perdida. Um tempo atrás eu precisei de umas para colocar no meu camarote no Morumbi e tive de pedir emprestado ao Zetti. Eu não guardo. É um desapego, mas também um exagero. Minhas netas vão achar ruim. Mas deve ter coisas guardas com algum irmão, não é desprezo. É desorganização. Nunca tive um armário para ter essas coisas guardadinhas.


13. Sobre 1994, ficou alguma mágoa por ter perdido a titularidade? Não. Até porque teve um contexto, não foi algo do dia para a noite. Eu passei três anos no auge e, em 1994, não estava mais. Acho até que poderia ter continuado como titular, fiz uma grande partida no primeiro jogo, mas não foi uma coisa injusta. E tenho orgulho de ter feito parte daquele grupo. Tive uma importância para aquele time que vai muito além do mês da Copa do Mundo e dos três jogos dos quais participei.


14. Quem foi o melhor capitão daquela seleção, você ou o Dunga? Todas as equipes vitoriosas pelas quais passei foram equipes que tinham diferentes estilos de liderança. Eu sempre brinco que o Dunga foi um supercapitão, mas se tivesse mais três dele, ninguém ia aguentar. E se tivesse três do meu estilo, um cara mais agregado, que estoura menos, também não ia funcionar. A complementariedade de estilos fazia daquele um grupo bem liderado.


15. E em 1998, você ficou triste por não ter ido? Eu sempre falo para os franceses: "Sorte de vocês que eu não fui chamado. Joguei uma Copa só e ganhei uma. Estou 100%". Mas, sem brincadeira, em 98 eu fiquei triste. Estava em uma boa fase, a Copa do Mundo era na França e, vendo hoje, minha carreira merecia ter tido pelo menos duas Copas. O Giovanni, que foi no meu lugar, jogou meio tempo e nunca mais, então eu poderia ter tido um papel mais efetivo. Mas, de novo, foi algo inesperado. Entre 1994 e 1998, acho que fiz só um jogo pela seleção. Não me surpreendi.


16. Na fotobiografia você fale rapidamente sobre racismo na França. Como foi isso? Comigo não aconteceu nada, mas eu me lembro do Valdo, que jogou comigo e é negro, negro mesmo, me contar histórias terríveis. Uma vez na imigração ele tinha uma fruta na mala e os caras abriram a fruta para ver se tinha coisa dentro. E sempre o paravam, mesmo depois que ele ficou conhecido. Ele contava que o atendimento nas lojas era diferente, as pessoas não davam tanta atenção. É triste, e vai criando uma tensão social.


17. Você jogou por muito tempo no Paris Saint-Germain. O que acha da dupla de zaga deles? O Thiago Silva é o melhor zagueiro do mundo e o David Luiz, um dos melhores. Eles tiveram falhas, mas acho que a qualidade deles é incontestável. Eu não deixaria de convocar. A defesa não é o nosso problema. O problema é organização e fazer os jogadores se sentirem seguros.


18. O que deu errado no 7 a 1? Foi uma mistura de pressão gigantes com uma equipe que não se encontrou taticamente, não se sentiu pronta. A Copa foi chegando, aconteceram as primeiras partidas, e o time não se sentiu pronto para esse desafio. E a consequência foi um desequilíbrio, porque essa pressão, quando o time está bem leva para cima. Mas quando o time está mal...


19. O Rogério Ceni recentemente ultrapassou você na artilharia histórica do São Paulo. Rola um ciúme entre vocês? Não! O Rogério Ceni foi meu calouro, eu o conheço e admiro. Essa questão de recordes é parte da vida de qualquer um que quer tirar o máximo da sua carreira. O Messi quer ser o maior artilheiro de todos os tempos, quer ser o maior da Liga dos Campeões, e o Rogério também quer ser o maior. Se ele estivesse jogando mal, seria outra coisa. Mas não está.


20. O São Paulo vai ter problemas quando ele se aposentar? É difícil. O time teve uma mudança de gestão e vai em breve perder o seu líder, o líder que marcou época. É um momento crítico, muito mais complicado do que quando passou a geração do bi Mundial. Naquela época, o São Paulo investiu na base, e apareceram o França, o Denílson, o Dodô... Hoje você não consegue puxar cinco ou seis moleques da base. Até porque o clube tinha uma hegemonia que não existe mais. Hoje os grandes rivais têm estádios novos, têm novas receitas. A competição daqui para a frente vai ser ainda maior.


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