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ROSANA | MAIO, 1990



Um papo aberto com a intérprete de Direto no Olhar

e O Amor e o Poder sobre a inspiração de Janis Joplin,

o título de deusa brega e o prazer sexual de cantar


POR LINDINHA SAYON

FOTO SERGIO NEDAL


No palco, a deusa se sente criança. Livre para soltar a voz de soprano-lírico-ligeiro "até o ponto da emoção" e para se movimentar com toda a graça que a natureza lhe deu. Quando abre seus fartos lábios vermelhos para dizer que "sem limite, sem trégua, vou sempre onde o amor me leva", a paulistana Rosana Fiengo, 28 anos, leva os fãs ao delírio, deslumbrados com o mágico contraste de seus estreitos 63 cm de cintura e generosos 98 cm de quadris. Feliz com o sucesso, a moça não se abala com os críticos que consideram sua música melosa, e vai em frente. Com a certeza de quem já lutou muito (começou a carreira aos 13 anos, como crooner do Casanovas, um grupo de rock do pai, Aldo Fiengo) e hoje sabe o que quer. Não arreda pé do caminho que de três anos para cá — a partir do estouro de Nenhum Toque, um dos temas da novela global Roda de Fogo — só a tem levado aos primeiros lugares das paradas. Já com três LPs gravados, soma em torno de 1 milhão de cópias vendidas, com hit-parades como Direto no Olhar e O Amor e o Poder, mais de mil shows feitos por todo o Brasil e o lançamento de sua própria griffe. De quebra, há menos de um ano uniu-se a Fábio José Oliveira dos Santos, seu produtor e agora companheiro. Com a vitória estampada nos negros olhos brilhantes, a cantora recebeu a editora Lindinha Sayon em sua casa na Barra da Tijuca, Rio. E sem maquilagem ou efeitos — não menos bonita por isso — é que mostra um pouco mais da Rosana-mulher.





1. Em março passado você surpreendeu com um belíssimo cover de Janis Joplin, no Dama Xoc, em São Paulo. Qual sua ligação com o blues de Joplin e as outras fontes de inspiração de sua carreira? Janis Joplin tinha uma coisa parecida comigo: era inquieta cantando. E sua voz era supermetálica, ou seja, ela não empostava. Existe uma influência disso em mim, não porque ela foi a maior roqueira de todos os tempos, mas pela identificação entre minha voz e a dela. Tem também a Gladys Knight, a única cantora que me faz chorar. Ela passa uma emoção incrível. Admiro a Anita Baker pela técnica vocal. Tem ainda a Elis Regina...


2. Com essa inspiração no rock e blues, por que você optou pelo gênero romântico? Porque sinto que existe uma identificação com o povo... É o que ele quer ouvir. As pessoas querem o que faz sonhar. Hoje há um tremendo espaço para o romantismo. E escolhi isso porque sei cantar — esse estilo é para quem sabe. Antes de cair nele, precisei passar pelo blues. É difícil cantar um baladão. Abrir a boca, dizer "eu te amo" e todo mundo desmaiar, não é para qualquer um. Se disser mal fica ridículo. Precisa ter gogó.


3. E como você encara os críticos que a chamam de deusa brega? Adoro isso. Já pensou se falassem, como já escutei algum tempo atrás: "Essa garota nunca vai fazer sucesso. Do jeito elitizado que canta, vai ser injustiçada". Para que ser uma coitadinha? Eu quero ser é a maldita poderosa. Enquanto me chamarem de deusa brega, é sinal que faço sucesso. Prefiro ver 30 mil pessoas cantando comigo do que tocar blues em casa sozinha.


4. Além de cantar, você incentiva a imaginação do seu público, com os jeans rasgados e miniblusas sexies. Como funciona esse apelo sensual? Todos nós temos uma dose de sensualidade, dentro ou fora da roupa. Depende do nosso espírito, creio. Então, se o que visto, e minha maneira de ser e me mexer, passa sensualidade às pessoas, é porque estou bem comigo. E eu me sinto mesmo sensual. Como uma criança, que é assim naturalmente. Levanta a perna, se espreguiça, faz beicinho. Sou natural. E acho que a gente só não é sensual quando está de mal com a vida.


5. E os resultados disso no campo pessoal? Você recebe, por exemplo, muitos telefonemas eróticos? Eu me protejo, deixo a secretária eletrônica ligada. Mas quando ouço os recados... Altas propostas, que nem consigo contar. Teve um cara que ligou às 3 da manhã e eu atendi. "É a Rosana?", perguntou. "Sou altamente apaixonado, quero te conhecer. Pareço com o McGeiver, tenho 1,80 m, ganho bem. Quem sabe a gente se casa." E esse, me oferecendo aluguel, comida e roupa lavada, foi o mais suave dos telefonemas...


6. Falando em erotismo, qual é o momento que faz sua temperatura subir? Existe uma coisa sexy, dentro de mim, quando canto. É como fazer amor! Dependendo do meu conforto, sinto um verdadeiro prazer sexual.


7. Existe alguém que "como uma deusa te mantém"? Meus fãs. Meu namorado Fábio conheceu a deusa antes de ser deusa. Ele acha tudo isso um barato, até me trata como uma deusa. Só que faz um trabalho sério — o da produção — e não pode tirar os pés do chão.


8. E você, já endeusou alguém? Nunca. Tive paixões, mas acho que a paixão está muito próxima da reversão. Se ela não ultrapassar o período crítico transformando-se em amor, pode virar ódio. E se gosto de uma pessoa que não me corresponde, aquilo simplesmente vira pó.


9. O que mais te chama a atenção num homem? Na personalidade, gosto da cordialidade. Já no físico, o tipo masculino. Homem não pode ter narizinho arrebitado, boquinha, unhas feitas... Quer coisa mais sensual que um mecânico, com aquele peito aberto, a barba malfeita, os olhos pretésimos?


10. E em você, o que mais mexe com os homens? Falam da minha boca, e curtem mesmo é o corpo. A cintura, o bumbum. Os homens têm essa coisa de imaginar, eles pesquisam — e sabem onde é que tem de verdade! Isso não me incomoda, procuro até valorizar meu tipo. Por que não assumir?


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1 commento


Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
28 mag

Rosana conseguiu ser popular sem ser brega,o que é impossível hoje,vide as sertanejas.

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