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SERGINHO GROISMAN | SETEMBRO, 1998

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com o apresentador do SBT sobre bastidores do Programa Livre, ética na TV, assédio dos fãs e namoradas mais jovens


"Meu pai morava no interior da Romênia, lá perto da Transilvânia, a terra dos vampiros", conta Sergio Groisman. Coincidência ou não, este paulistano do bairro do Bom Retiro há mais de 25 anos parece alimentar-se da juventude que o cerca para mostrar, aos 48 – completados no dia 29 de junho –, não apenas uma forma invejável como a enorme disposição para lidar, todos os dias, com centenas de adolescentes e sua energia muitas vezes apavorante. E, para dificultar, no comando ao vivo do Programa Livre, no SBT, às 15 horas, 15h30, 16 horas... Bem, o horário do programa é uma outra história, que mais para a frente vamos tentar esclarecer, ajudados por Serginho. O fato é que é longa a lista de personalidades que já enfrentaram aquela arena efervescente dos estúdios do SBT, entre elas o escritor Paulo Coelho, os cantores Gilberto Gil e Caetano Veloso, os políticos Paulo Maluf, Luíza Erundina e Fernando Collor, astros internacionais como a atriz Sandra Bullock e o jogador de basquete Magic Johnson, a primeira-dama Ruth Cardoso e o presidente Fernando Henrique. Serginho dá os números: "Em agosto completaram-se sete anos. São quase 2.000 programas, quase 500.000 adolescentes".


Serginho teve uma infância cheia de brinquedos – o avô materno era representante da Trol, fábrica de brinquedos que pertenceu à família do falecido ex-ministro da Fazenda Dilson Funaro – e embalada por muitas sessões de cinema ao lado do pai, o romeno Luís Groisman, ex-dono de confecção, e da mãe, a dona de casa polonesa Ana. Morando primeiro no Bom Retiro e depois na Barra Funda, bairro paulistano para onde se mudou aos 3 anos de idade, Serginho era ele próprio um adolescente quando começou o seu treino diário no trato com meninos e meninas na idade da dúvida. Era o início dos anos 70 e, na indecisão entre fazer uma prova na Faculdade de Direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) ou assistir a um jogo do Corinthians, escolheu a segunda opção, desistindo definitivamente do curso naquele dia. Disposto a investir em nova carreira, ele foi se preparar no Equipe, na ocasião um curso pré-vestibular e hoje respeitada escola de primeiro e segundo graus da Zona Oeste de São Paulo. Na época, o Equipe tinha na sua lista de chamada nomes como Marcelo Fromer, Branco Melo e Arnaldo Antunes, que mais tarde brilhariam com o grupo de rock Titãs, Bob Wolfenson, badalado fotógrafo que tem recheado com seu trabalho algumas das mais belas páginas de PLAYBOY, Paulo Henrique, Luciana e Beatriz Cardoso, filhos do presidente Fernando Henrique – além, é claro, de Serginho Groisman, que acabou fazendo da escola sua casa e por ali ficou durante nove anos, período em que reinou como organizador de shows de sucesso da MPB.


Caetano Veloso, Gilberto Gil, Raul Seixas, Elba Ramalho, João Bosco, Adoniran Barbosa e Cartola foram alguns dos astros que fizeram do Equipe um palanque para apresentação de suas músicas, numa época em que escasseavam palcos e liberdade. Foi também naquela escola, então instalada na Rua Caio Prado, no centro de São Paulo ("uma construção antiga, maravilhosa, daquelas com pé-direito enorme"), que Serginho experimentou sentimentos intensos, como o medo de ser preso pelo regime militar, a exemplo do que acontecia com alunos e professores, e ­ um pouco tarde, conforme ele próprio admite ­ as inquietações de suas primeiras experiências sexuais.


Enquanto foi coordenador cultural do Equipe, organizando e apresentando agitadas sessões de cinema e os grandes shows de música, que chegaram a receber 3.000 pessoas, Serginho se formou em Jornalismo na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), em 1977. Incansável, tinha ingressado dois anos antes no curso de História na Universidade de São Paulo (USP), que acabaria freqüentando apenas por dezoito meses, tempo suficiente para juntar-se a um grupo de estudos marxistas e participar do Centro Acadêmico da faculdade.


Antes, porém, de cair naquela agitação político-musical, a formação de Serginho passou por duas escolas da comunidade judaica a que sua família pertence, ambas no Bom Retiro: primeiro na Schloem Aleichman e logo depois no Colégio Renascença, em que ficaria até completar o segundo grau. "Ali fui me politizando, me candidatei ao grêmio e fui eleito presidente", relembra Serginho, que naqueles tempos vivia entre aulas de hebraico e contatos com grupos clandestinos de esquerda, chegando a distribuir panfletos em bairros da periferia de São Paulo.


Em 1979, o início da redemocratização do Brasil e a sofisticação da estrutura dos shows mais profissionais arrefeceram o sucesso do projeto Equipe e Serginho, que já trabalhava no Departamento de Jornalismo da Rádio Bandeirantes FM, foi convidado a dar aulas de Rádio e TV na FAAP, curso que chegou a dirigir por dois anos. Na mesma época, recebeu convite para apresentar na Rádio Cultura AM um programa que foi batizado Matéria Prima e serviu de matriz do programa homônimo que ficaria no ar na TV Cultura em 1990 e 1991. Foi só então que o apresentador ganhou segurança ­ e dinheiro ­ para sair da casa dos pais e passar a viver num flat, onde morou por quatro anos até mudar-se para seu apartamento de dois quartos no Jardim América, bairro de classe alta. Foi ali que recebeu a editora especial Goretti Tenório Nunes para esta entrevista. Ela conta:


"Tranqüilo, Serginho não lembra o irrequieto apresentador que não pára 1 minuto durante o programa. Nas nossas 8 horas de conversa, divididas em três encontros, ele se manteve sentado em frente ao gravador, apelando para goles de água quando a garganta fraquejava e a voz falhava. Queixando-se da falta de tempo, Serginho, que até recentemente tinha apenas o auxílio de uma faxineira uma vez por semana, contratou uma assessora para poder se organizar melhor. 'Precisava de alguém que me ajudasse a pendurar os quadros', diz. 'E aquela TV ali está no chão há um tempão.' Morando a poucas quadras dos pais, Serginho tem uma irmã, Ita, dois anos mais jovem, e duas sobrinhas, Raquel, de 16 anos, e Ester, 14, ambas freqüentadoras fiéis dos programas comandados pelo tio. Além da família, ele diz ter poucos amigos, somente "aqueles de muito tempo". Um deles é o fotógrafo Bob Wolfenson, com quem formou durante mais de uma década, ao lado do diretor de teatro Cacá Rosset e do arquiteto André Vainer, uma mesa de pôquer, jogo que começou a praticar no Equipe e ainda é uma de suas paixões, embora há tempos não pegue nas cartas.


"Serginho é franco e não se recusa a tocar em nenhum assunto, mas foi muito discreto quanto aos nomes dos personagens de algumas histórias que contou e manteve-se firme na decisão de não fazer críticas diretas a programas de TV – mesmo quando foi lembrado de que Hebe Camargo, sua colega de SBT, já criticou abertamente, por exemplo, o programa de Márcia Goldschmidt, apresentado na emissora. 'É, a Hebe fala o que pensa', diz o apresentador. 'Mas ela é uma personalidade na TV, não é?' Serginho, aliás, credita a Hebe sua transferência, em 1991, para o canal de Sílvio Santos. Afinal, o convite para a mudança veio após sua participação, como convidado, no programa Hebe. 'Levei as escolas e uma banda e foi como se fizesse meu programa dentro do dela', relembra. 'Aí acho que viram a audiência, avaliaram o desempenho e...'


"Vivendo hoje um momento de decisão no SBT, Serginho conta que recebeu um 'convite superficial' de outra emissora de TV, mas adianta que não vai dizer o nome. 'Eu trabalho assim: se receber um convite oficial, vou comunicar ao SBT', avisa. Até lá ele continua desmentindo especulações. 'Outro dia, saiu na Folha da Tarde uma declaração que não dei: 'Serginho quer sair já. Em vista da desorganização, do caos...' E o mais louco é que muita gente lá do SBT veio me cumprimentar: 'Você está falando tudo o que a gente gostaria de falar e não teve coragem', diz, sorrindo.


"Enquanto negocia um projeto que lhe é muito caro, o de apresentar também um talk show na CBS, emissora americana que transmite, para assinantes da TVA, programas em português voltados para o mercado brasileiro, Serginho segue entusiasmando a platéia com seu 'Fala, garoto', bordão que usa para estimular a participação dos adolescentes nas perguntas a seus entrevistados. No ar há mais de quinze anos ­ ele começou como repórter da TV Bandeirantes no programa 90 Minutos, em 1981, passando também pela TV Gazeta, onde apresentou o TV Mix em 1988 ­, Serginho ganhou experiência suficiente para enfrentar com segurança os riscos de um programa ao vivo. Mesmo quando imprevistos o obrigam a chegar ao estúdio apenas 3 minutos antes de entrar no ar, contrariando sua rotina de iniciar os trabalhos com pelo menos meia hora de antecedência e fazer um aquecimento da platéia. Foi o que aconteceu na tarde em que o craque de futebol Raí era o convidado do Programa Livre. Recebendo em cima da hora as instruções da produção – da qual faz parte sua namorada, a jornalista Valéria Lopes, bela morena de 24 anos­, o apresentador conduziu o programa com o desembaraço de sempre e, atencioso, aproveitou os intervalos para acertar com PLAYBOY o seguimento da entrevista iniciada naquela semana.


"Durante a longa conversa, um assunto deixou Serginho Groisman particularmente cuidadoso: seu relacionamento com a atriz Ana Paula Arosio, a linda protagonista da minissérie Hilda Furacão, da Rede Globo. É que Ana Paula passou pela tragédia de assistir, em novembro de 1996, ao suicídio do noivo, o empresário Luiz Carlos Tjurs, e, para desgosto de Serginho, seu nome apareceu no noticiário como um dos motivos do ciúme que teria provocado o ato desesperado do rapaz. Ele falou com bastante cautela sobre a história, e bem menos reserva sobre outras histórias, como se verá."


PLAYBOY – Você namorou a Ana Paula Arosio?


SERGINHO – Não, nunca.


PLAYBOY – Eram muito amigos, então?


SERGINHO – Também não muito amigos. Éramos amigos. É que as pessoas acham difícil que tenha sido só uma amizade porque ela é uma pessoa muito bonita, muito legal.


PLAYBOY – Os rumores de um possível romance incomodavam vocês?


SERGINHO – Não, porque foi em épocas em que eu não estava namorando e ela também não. Daí comecei a namorar a Valéria e soube que ela começou um namoro também. A gente já não se falava havia cinco, seis meses quando aconteceu o episódio [o suicídio do noivo de Ana Paula].


PLAYBOY – Vocês não falaram sobre isso nunca?


SERGINHO – Não. No dia... [pensa] A gente falou por telefone depois de um tempo. Mas não dava para ficar falando muito especificamente sobre o que aconteceu. Ela sempre foi reservada. Quando soube do suicídio, fiquei muito chateado pelo acontecido e por ela, sabia que ia ser uma exposição muito forte. Mas não esperava ter meu nome vinculado àquilo. Foi uma coisa absurda, que não tinha sentido nenhum. O tempo foi passando e a gente nunca mais se viu. Se antes as pessoas já falavam, depois a amizade ficou quase inviável.


PLAYBOY – Vocês deixaram de lado a amizade?


SERGINHO – É verdade. De qualquer modo, a gente já não estava mais se vendo. E a gente não tinha intimidade, não freqüentava a casa um do outro. Foi uma amizade muito valorizada pela imprensa.


PLAYBOY – Você entrevistou Ana Paula para a revista Trip. Como foi o reencontro?


SERGINHO – Foi ótimo. Claro, ela não é a mesma pessoa, eu também não. Passaram-se quase dois anos e as coisas se modificaram para os dois. Ela hoje já é uma atriz, uma pessoa requisitada, tem um namoro aparentemente bem sólido, demonstra estar contente. Com isso fiquei superfeliz.


PLAYBOY – Retomaram a amizade?


SERGINHO – Retomar, não. O que foi bom foi a gente poder se aproximar e ver que pode conversar. Que, se precisar, eu posso ligar. Se ela precisar ou quiser pode ligar para mim.


PLAYBOY – Você já escondeu um namoro com alguém conhecido?


SERGINHO – Não. Nunca namorei ninguém conhecido.


PLAYBOY – Esconderia, se namorasse?


SERGINHO – Não. Nunca. Primeiro, não teria motivo. Segundo, teria que deixar de ir a lugares públicos com quem eu gosto. A não ser que fosse uma mulher casada [risos].


PLAYBOY – As suas namoradas você apresenta sempre?


SERGINHO – Apresento. Mas, por exemplo, se no Dia dos Namorados as revistas ligam querendo tirar fotos, aí, não. Claro que, se a gente vai a um show, as pessoas tiram fotos. Outra coisa é você escancarar e expor intimidades sexuais, intimidades afetivas, gostos, fantasias [risos].


PLAYBOY – É coincidência você ter namorado garotas muito mais jovens?


SERGINHO – É uma coincidência e um pouco também por causa do universo em que vivo.


PLAYBOY – Namorar uma menina mais jovem dá insegurança?


SERGINHO – Não, não. Essa idéia de que, por ser mais velho, você leva vantagem ou desvantagem é besteira. A Beatriz [Rudge, tradutora com quem viveu um ano e meio, num namoro que durou oito anos] era da minha idade. Não bem da minha idade, era oito anos mais jovem. Este meu namoro de agora é que é assim, com uma pessoa mais nova. Mas não é uma obsessão nem um critério. Não fico perguntando: "Quantos anos você tem?"


PLAYBOY – Como foi o início da sua vida sexual?


SERGINHO – Eu achava que tinha que ser com alguém de quem gostasse. Aconteceu já meio tarde, com 19, 20 anos. Estava no Equipe e como era [ri] o dono da chave do teatro, aconteceu no palco, numa tarde. A gente já estava namorando há um tempinho. Tinha uns colchões lá no palco, eu tinha certeza de que ninguém entraria, estava tranqüilo. Foi bem legal.


PLAYBOY – Você não foi cobrado nem pela sua família nem por amigos por não ter transado antes?


SERGINHO – Não, não cobravam. E, se me perguntavam, respondia que não. Não tinha vergonha. Tinha curiosidade e perguntava aos meus amigos que já haviam transado.


PLAYBOY – Mas você não tinha nem chegado perto de transar antes de se apaixonar pela tal garota?


SERGINHO – Tinha acontecido uma coisa engraçada. Uma menina ia se casar e me falou que transava com o namorado, ia se casar com ele e, se tudo desse certo, não ia mais transar com outra pessoa. Em princípio, não. Então queria, ainda solteira, transar comigo para ter outra experiência. Mas não rolou. Quase... Fiquei muito tentado, porque ela era muito bonita.


PLAYBOY – E não topou por um problema moral?


SERGINHO – Não, não. Eu pensava: "Pô, mas sempre quis transar a primeira vez com uma pessoa de quem gostasse..." Não estava achando a menina vulgar, não. Teve outra com quem também aconteceu uma história louca. Ela tinha 15 anos, eu quase 20, e se apaixonou por mim. Um dia falou: "Vou me casar". Depois me ligava de ano em ano. Quando se passaram [pensa] três anos, fui fazer História e ela estudava lá na USP. Eu já tinha transado, estava sem namorada e ela me deu uma cantada: "Vamos até minha casa?" Fui, começou a criar um clima, até que ela perguntou [fala meio de supetão]: "Que horas são?" E eu: "Por quê?" "Porque meu marido pode chegar". Falei: "Bom, então tchau [ri], tchau mesmo".


PLAYBOY – Achou melhor escapar?


SERGINHO – Ainda bem, porque ia ser um rolo. Só que um dia eu estava no Equipe e tocou o telefone. "Serginho, aqui é a ..." Bom, não vou falar o nome dela. "Estou na maternidade, acabei de dar à luz um filho e a primeira pessoa para quem estou ligando é você." Respondi [reticente]: "Legal. Foi tudo bem?" Passaram-se mais uns dois anos e recebo novo telefonema. A mesma coisa: da maternidade. Até que um dia a encontrei numa festa e ela veio correndo [imita o jeito animado]: "Divorciei, divorciei!"


PLAYBOY – E não rolou nada?


SERGINHO – Não, porque seria... Já tive uma pessoa que me perseguiu e foi horrível. Me perseguiu durante muito tempo, descobriu o telefone da casa dos meus pais, ficava me esperando na frente do flat em que eu morava. Mas isso já foi por causa do programa na TV, já é uma outra história. Com fãs, acontece.


PLAYBOY – Acontece muito?


SERGINHO – Um monte, não. Mas tem histórias como a da menina que me falou: "Hoje faço aniversário, gostaria que você fosse o meu presente". E eu dei um livro pra ela [ri].


PLAYBOY – Você já foi assediado por homem?


SERGINHO – Nunca pessoalmente. [Pensa.] Pessoalmente, só na brincadeira. Mas teve um cara que ficou ligando um tempão, falando baixaria.


PLAYBOY – Você atende ao telefone ou faz uma triagem pela secretária eletrônica?


SERGINHO – Às vezes atendo. Por exemplo, quando o [cantor americano] Jon Bon Jovi foi ao Programa Livre no ano passado era um inferno, um inferno, um inferno... Mãe ligando pedindo para a filha ir...


PLAYBOY – Quando vão atrações internacionais, como são feitas as entrevistas? Você domina bem o inglês?


SERGINHO – Não. Tem intérprete. Mas fico tão ansioso que com o pouco que sei fico me metendo. Sou o terror dos intérpretes [risos].


PLAYBOY – Foi assim com o Magic Johnson?


SERGINHO – Ele chegou um pouco mal-humorado, estava vindo direto do Aeroporto de Cumbica. Fui encontrá-lo quando ele estava almoçando, já no SBT. Ele enorme, uma figura muito bonita. Falou que ia ficar só 15 minutos. Eu disse: "Isso fica a seu critério. Tem 1 hora para você". Quando veio o primeiro intervalo, perguntei: "E aí?" E ele: "Vou ficar". Ficou 1 hora, não queria ir embora.


PLAYBOY – Já aconteceu o contrário: tudo programado para 1 hora e o entrevistado desistir logo no início?


SERGINHO – Já. A [atriz americana] Sandra Bullock veio com o [ator] Jason Patrick para o lançamento do filme Velocidade Máxima 2. Iam ficar o programa inteiro, que seria ao vivo. O Jason Patrick já chegou e falou: "Não vou". Com a Sandra Bullock a gente combinou 1 hora. Só que a assessora me impediu de falar com ela antes, de explicar tudo. Ela estava amando o programa, mas deu o intervalo e a assessora a tirou.


PLAYBOY – E como você faz nesses casos?


SERGINHO – Sempre tem um segundo programa que vai ser gravado em seguida. Naquele dia tinha os Virgulóides [banda paulistana]. Então eles entraram e fizeram a festa. A audiência foi altíssima.


PLAYBOY – Qual foi o melhor programa que você já fez?


SERGINHO – O programa mais bacana que fiz foi na Casa de Detenção de São Paulo [Carandiru], ao vivo. Todo mundo da produção estava muito receoso. Falavam: "Eles [os detentos] podem te seqüestrar a qualquer hora, lá no meio do programa ao vivo, você é louco". Mas fui um dia antes para ver a montagem de tudo. Sentei com vários deles e fiquei mais tranqüilo, vi que não tinham motivo nenhum para fazer isso comigo.


PLAYBOY – O massacre na Casa de Detenção, em 1992, em que morreram 111 presos, aconteceu logo depois, não foi?


SERGINHO – Foi um pouco depois e fiquei arrasado. Foi terrível. Eles tinham dado lições incríveis. Quando, por exemplo, perguntei sobre drogas, fizeram aquele silêncio. Daí veio um fortão: "A droga aqui existe e é o único meio de não explodir isso aqui". Aí todo mundo [bate palmas]. No dia seguinte um pessoal do [extinto programa policial] Aqui Agora disse: "Sabe aquele cara que falou sobre droga? Mataram ele". Daí fiquei... [se esparrama na cadeira como se estivesse desmaiando]. Pensei: "Foi por minha causa". Mas, quando fui confirmar, não era. Tinha sido um outro cara.


PLAYBOY – Que tipo de pergunta você mais teme nos programas?


SERGINHO – Nunca temi por pergunta nenhuma. Fico mais chateado quando as perguntas são repetitivas. Existe uma previsibilidade grande em certas áreas no telejornalismo, coisa que no programa não tem.


PLAYBOY – Mas que ao mesmo tempo faz você assumir um risco, sempre. Você nunca fica tenso?


SERGINHO – Não.


PLAYBOY – Nem quando o convidado é alguém como o presidente Fernando Henrique Cardoso?


SERGINHO – Aí tem uma certa tensão.


PLAYBOY – Como foi a negociação para levá-lo ao programa?


SERGINHO – Uma vez encontrei a Bia Cardoso [Beatriz Cardoso, filha do presidente] e falei que seria legal. Porque a mãe já havia estado no programa, já tinha sido polêmica por causa da maconha [ocasião em que a primeira-dama se declarou favorável à descriminação do uso da maconha]. E eu sabia que ele poderia topar, pela disposição que tem.


PLAYBOY – Você se preocupou em preparar a platéia para recebê-lo?


SERGINHO – Como o presidente já havia estado no programa quando era senador, parti do pressuposto de que já conhecia bem o esquema. Eu não podia chegar para a platéia e orientar: "Por favor, não falem sobre isso ou aquilo". O presidente da República se dispôs a conversar com uma platéia que é totalmente imprevisível. Isso foi uma coisa que pouco se comentou e que acho que foi muito legal da parte dele. Só que no final um garoto falou: "Você está falando que respondeu tudo, tudo bem, tudo bem" [imita, levantando o braço, o gesto de impaciência do garoto]. E fez uma pergunta que não lembro exatamente como era: "Como é que uma pessoa que carimba dinheiro ganha mais do que um professor?" Daí o Fernando Henrique respondeu: "Estou aqui há quase 1 hora, com o maior gosto. Você está fazendo uma pergunta sem pé nem cabeça". Ficou irritado.


PLAYBOY – O que você sentiu nesse momento?


SERGINHO – Durante todo o programa eu estava [faz cara de nervoso e dá uma risadinha] preocupado com a platéia, com o presidente... Esses programas o Brasil inteiro vai ler no outro dia [ri]. A maioria lê sobre ele nos jornais. O garoto que fez a pergunta se transformou numa celebridade.


PLAYBOY – Qual é sua opinião sobre a postura do estudante?


SERGINHO – Ele foi ousado, mas não desrespeitoso. Podia até estar com a premissa errada [ao dizer que o presidente não respondeu nada], porque o presidente respondeu a muita coisa. Mas não foi deselegante.


PLAYBOY – O presidente pediu mesmo para interromper a entrevista?


SERGINHO – A questão foi a seguinte: a gente combinou 1 hora. O programa começou mais cedo. Ele ficou 1 hora e 5 minutos. Só que faltavam 5 minutos para acabar quando ele falou que tinha que ir embora.


PLAYBOY – É verdade que a Bia Cardoso ficou magoada com você?


SERGINHO – A gente teve um contato no dia. Ela falou: "Não sei direito o que aconteceu, preciso falar com meu pai". E depois não falamos mais.


PLAYBOY – Você é amigo da Bia Cardoso?


SERGINHO – Tenho pouquíssimos amigos. Mas me considero amigo dela. Teve até uma ocasião em que namorei uma menina que tinha uma casa em Ibiúna [interior de São Paulo], vizinha à [casa de campo] do Fernando Henrique, e a gente chegou a jogar pôquer com ele [na época em que FHC era senador].


PLAYBOY – Ele joga bem?


SERGINHO – Joga bem. Não sei se joga ainda. Jogava para se divertir, evidentemente.


PLAYBOY – Você continua jogando pôquer?


SERGINHO – Não mais. Comecei no Equipe. A gente jogava com os professores, por 12, 14 horas [seguidas]. Foi ali que formei com o Bob [Wolfenson], o Cacá Rosset e o André Vainer uma mesa que durou anos. A gente fazia um jantar. Jogava, parava, jantava, ria muito. O Cacá é um hipocondríaco total. Ele levava a água mineral dele, lavava o copo umas dez vezes. Ele e o Bob são os maiores conhecedores de bula de remédio.


PLAYBOY – Se eles fossem falar de você, como o descreveriam nesse jogo?


SERGINHO – O ratão. Ratão é o que joga bem, é o que ganha tudo. Uma vez conheci uma menina que me levou para jogar com a família dela. Era uma coisa quase profissional. E me convenceram a ir com eles para Assunção, no Paraguai, para jogar num cassino, num hotel maravilhoso. Encontrei lá o Paulo Maluf com o Roberto Marinho. E o Maluf é aquela coisa [imita, bem alto, o jeito de falar do ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf] "Serginho! Vem conhecer o dr. Roberto!" Assim, alto, no meio do cassino. Foi a única vez que cumprimentei o Roberto Marinho [risos].


PLAYBOY – Você já entrevistou algum desses seus amigos?


SERGINHO – Uma vez entrevistei o Cacá no TV Mix, na TV Gazeta, e ele chegou bêbado. Porque na peça O Doente Imaginário ele tinha que beber. E bebia mesmo. Era época de eleição e o Cacá foi ao programa para falar sobre o assunto logo depois de uma apresentação da peça. Só que olhava para mim, dava risada e eu não conseguia entrevistá-lo. Segurei a onda do Cacá naquela noite.


PLAYBOY – Você ouve reclamação de amigos que acham que mudou porque ficou famoso?


SERGINHO – O que mais odeio é quando falam: "Você mudou". É claro que a gente muda, muda a vida. Um dia, por exemplo, esqueci o aniversário de um amigo. Na mesma época eu estava no programa com as Paquitas e coloquei a Xuxa no ar pelo telefone. Ela faria aniversário naquele fim de semana e pediu: "Queria que você viesse ao meu aniversário". Fui, não ia perder. Depois, aquele amigo me ligou: "Quer dizer que na minha festa você não vem, mas vai na da Xuxa? É isso que é você hoje".


PLAYBOY – Você consegue levar uma vida normal? Vai ao supermercado, à fila do banco?


SERGINHO – Preciso de uma pessoa que faça essas coisas. Por exemplo: ia viajar para Nova York e o visto estava expirado. Liguei para a assessoria de imprensa do Consulado [americano] e falaram que podiam resolver se levasse tudo no dia seguinte às 7 da manhã. Já tarde da noite ainda me faltavam as fotos. Saí pela madrugada correndo atrás de uma máquina para tirar foto 5 x 7. Achei uma banca e daí valeu o fato de ser conhecido. A banca estava fechada mas apelei: "Pelo amor de Deus". O cara deu uns cutucões na máquina e saiu uma das fichas. Na foto fiquei com um sorriso deste tamanho [risos]. De alívio.


PLAYBOY – Nesse caso foi bom ter sido reconhecido. Quando é ruim?


SERGINHO – Quando, por exemplo, na final [do Campeonato Paulista de Futebol de 1998] Corinthians e São Paulo, no meio do jogo, veio um cara: "Tenho uma banda, será que dá para a gente conversar agora?" Uma vez, eu estava na Broadway, no meio de uma peça, alguém berrou [grita]: "Fala, garoto". O que que é isso? [Afunda na cadeira, imitando a reação que teve na ocasião.] Mas é preciso aprender a conviver com isso e não ser mal-humorado.


PLAYBOY – E a opinião da crítica deixa você mal-humorado?


SERGINHO – Toda crítica que fala mal me deixa chateado. Mas, dependendo do crítico, dou uma importância maior ou menor. Tem pessoas que são destrutivas por natureza.


PLAYBOY – Quem são esses críticos a que você se refere?


SERGINHO – Nem quero falar. Porque, na verdade, não alterou minha vida em nada.


PLAYBOY – Na sua opinião existem bons críticos de televisão?


SERGINHO – Na Folha de S.Paulo tem duas pessoas de quem gosto. O Fernando de Barros e Silva, que faz uma análise político-ideológica dos programas. Não é do tipo de crítica que fala: "A roupa dele estava horrorosa". O outro cara, que já não faz críticas específicas sobre televisão, é o José Simão. Mesmo quando ele fala mal, é generoso, engraçado. Só agora está se criando um crítico de televisão que não seja um crítico das fofocas da televisão. Hoje a gente tem a pior e a melhor televisão do mundo. A gente tem coisas muito legais e tem coisas horríveis, que dão vergonha.


PLAYBOY – Do que, por exemplo, você tem vergonha?


SERGINHO – Não quero falar, mas são coisas que agridem o ser humano. Usar pessoas para conquistar alguma coisa em cima da ignorância, do despreparo, da violência.


PLAYBOY – Até onde você acha que o nível da televisão vai chegar?


SERGINHO – Até que tenham critério inverso: está na hora de fazer alguma coisa que não está todo mundo fazendo. Por isso estou lá, escondidinho. Se fizer o que eles fazem vou acabar, porque não vou saber fazer desse jeito.


PLAYBOY – O que, na sua opinião, levou a televisão a esse ponto?


SERGINHO – Acho que cada povo tem a TV que merece. Não estou acusando o povo de merecer essa televisão, mas tudo o que é feito na TV, e nas outras mídias, busca a vendagem. Se você não assistir a um programa, ele desaparece da televisão comercial. Claro, não é fácil assim: "Ah, então desliga". Existe uma certa cumplicidade, mas, se você liga, é obrigado a ver, porque não tem poder de transformação na programação. Às vezes restam ao público poucas opções.


PLAYBOY – Você acredita que esse tipo de programa pode começar a perder audiência?


SERGINHO – Não. É uma tendência na TV brasileira, mas não só da brasileira. Nos Estados Unidos, à tarde, está todo mundo se esbofeteando. Do que o jornalismo americano gosta? De pegar um helicóptero, ver uma perseguição de um automóvel nas estradas até ele se esborrachar.


PLAYBOY – Como você avalia as coberturas mais recentes da TV, como a Copa do Mundo, por exemplo?


SERGINHO – Nessa Copa nunca vi uma cobertura tão grande em cima da criação dos heróis brasileiros. Cada jogador foi esmiuçado na sua vida. A gente sabe as manias, como a família se comportava na derrota e na vitória. O evento jornalístico do futebol se transformou num grande evento comportamental.


PLAYBOY – Alguma emissora fez uma cobertura melhor?


SERGINHO – Globo conseguiu uma recuperação de audiência extraordinária. Mandou uma equipe incrível. Trabalhou a questão esportiva, a questão, vamos dizer assim, geográfica, e a questão comportamental. Virou a obsessão nacional. Cada vez mais vejo que o aspecto emocional é fundamental para conseguir audiência. As grandes alegrias e tragédias devem estar radicalizadas. Na Copa, os personagens foram muito procurados. Entrevistou-se muito o Zagallo e, quando ele chorava, era realmente aquilo que a TV estava buscando.


PLAYBOY – E na sua opinião é isso que tem que ser feito?


SERGINHO – Não. Mas a gente não pode também se eximir daquilo que está acontecendo. Na morte do [cantor] Leandro [em junho deste ano], por exemplo, teve uma tristeza nacional. Naquele dia eu estava com um problema. Tinha o jogo da Seleção [contra a Noruega] e uma tragédia. Foi muito difícil trabalhar. Porque, independentemente da cobertura jornalística, as pessoas esperam que um apresentador demonstre as suas emoções: "Ele vai se debulhar em lágrimas". Mas tenho uma característica, não sei se boa ou ruim: quando trabalho, fico um pouco imune a isso. Estava chateado, tinha acabado de vir do velório, mas tenho uma concentração no trabalho muito forte.


PLAYBOY – Você assistiu à entrevista que as TVs transmitiram logo após a prisão do serial killer que ficou conhecido como maníaco do parque?


SERGINHO – Não vi, estava na hora do meu programa. Como espectador, tenho muita curiosidade de saber quem é o serial killer brasileiro.


PLAYBOY – É correto fazer esse tipo de entrevista?


SERGINHO – Isso é outra coisa. Ele era um acusado. Nos Estados Unidos as batidas policiais são acompanhadas por jornalistas, mas os rostos são desfocados. Vai que o cara não é culpado... A polícia convocar uma entrevista antes de ter um julgamento...


PLAYBOY – Tem alguma coisa que devia ser proibida na TV?


SERGINHO – Proibida, acho que não. Nada. Deve haver em cada emissora uma discussão ética a respeito daquilo que se deseja. O público tem que ser o grande juiz.


PLAYBOY – O que achou da cobertura do nascimento da filha da Xuxa?


SERGINHO – Foi uma questão da empatia que ela tem com o Brasil. Mas a imprensa supervalorizou. Se você tem uma revista e acha que isso não é importante, delimite o espaço. A pessoa pode querer ser uma edição completa de uma revista, cabe a você decidir se ela merece ou não.


PLAYBOY – Você está satisfeito com seu papel na TV?


SERGINHO – Estou. De um modo geral. Devo ter feito algumas coisas que não gostaria de fazer de novo. Uma vez, quando interpretava alguns personagens no programa, fiz um apresentador machão que só recebia convidadas gostosas e uma delas era um travesti, que, deliberadamente, veio com uma roupa para deixar cair a blusa e aparecer o peito. Pensei: "O que eu faço?" Subi no palco e, com gestos, pedi a ela para arrumar. Ela fez que não entendeu e então fui lá e arrumei. Aquilo é uma coisa que poderia ter sido prevista. Num sentido mais pesado, não me lembro de ter feito alguma coisa que me ofendesse.


PLAYBOY – Mesmo tratando de temas polêmicos, você não é um pouco uma unanimidade, no sentido de que todo mundo gosta de você?


SERGINHO – Não sei... É que talvez eu não carregue bandeiras de temas específicos. Como sou uma pessoa que mais coordena os debates, claro que sempre colocando informações que eu tenha, questionando, então acho que me vêem como um organizador, não como uma pessoa como o Ratinho, por exemplo, que tem aquelas idéias muito claras, muito definidas, a respeito de certos temas.


PLAYBOY – Você assiste ao programa Ratinho Livre, da Rede Record?


SERGINHO – Claro. Eu vejo como espectador, às vezes.


PLAYBOY – Não se sente à vontade para criticar outros programas?


SERGINHO – Não. Não me sinto à vontade para falar mal de uma pessoa que trabalha em TV. Nem é minha função. Acho muito estranho uma pessoa que é objeto de crítica se tornar um crítico. Mas tem algumas coisas que falo, claro.


PLAYBOY – O que você já criticou sem se sentir antiético?


SERGINHO – O suicido de uma adolescente que foi noticiado pelo Aqui Agora [programa que mostrou uma garota se jogando de um edifício em julho 1993] não deveria ter sido mostrado. Fiquei me perguntando qual foi a contribuição jornalística daquilo. E o que será que aquela garota pensou quando chegou a TV? Será que não houve uma interferência do jornalista na notícia?


PLAYBOY – Na condução do programa, você já disse que não teme nenhuma pergunta feita pelos adolescentes, mas ficou irritado com um dos jovens quando a entrevistada foi a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, não é?


SERGINHO – Fiquei muito irritado. Uma garota perguntou se a prefeita não poderia impedir a vinda de nordestinos para São Paulo. A pergunta, feita para qualquer um, já seria preconceituosa, fascista. Ainda mais para Erundina, que é nordestina. Cheguei para a menina: "No Carnaval você vai para onde? Gosta de ir atrás de trio elétrico, não? Você lê Graciliano Ramos, Jorge Amado? Gosta do Caetano, do Gil, do Raul Seixas? Como pode fazer uma pergunta dessas?" Essa foi a coisa mais grave que aconteceu. Já me segurei. Sou contra a pena de morte, por exemplo, mas se as pessoas defendem não posso usar o poder que tenho de cassar a voz da pessoa e ficar fazendo editorial.


PLAYBOY – E quando é o convidado que extrapola? A Roberta Close, por exemplo, criou problemas quando foi entrevistada.


SERGINHO – Isso teve a ver com a platéia também. Uma menina fez a primeira pergunta para a Roberta Close: "Como você se sentiu ao cortar o seu bilau? Ficou parecendo mesmo uma perereca?" Todo mundo riu e eu ri também. E ela: "Vocês estão achando que eu sou uma palhaça?" Expliquei: "Calma. As pessoas não estão rindo de você, mas de como foi feita a pergunta". Mas mesmo assim foi muito tenso. O tempo inteiro ela falou: "Vou levantar e vou embora. Brasileiro é inculto!" Ela criou o conflito.


PLAYBOY – Você se lembra de um fora muito grande que tenha dado?


SERGINHO – Nunca tive problema por desinformação, mas já troquei nome. Uma vez estavam a [cantora] Elza Soares e a [atriz] Patrícia Pillar sendo entrevistadas ao mesmo tempo. Nossa, a Patrícia Pillar estava linda. A Elza Soares foi cantar, eu estava olhando para a Patrícia Pillar e falei: "Com vocês, agora, a Ângela Maria".


PLAYBOY – Você se confundiu porque ficou admirando a beleza da Patrícia Pillar?


SERGINHO – É, acho que foi isso [risos].


PLAYBOY – Comandando a equipe de produção do programa, você é um chefe exigente?


SERGINHO – Sou um pouco exigente, mas também sou tolerante. Às vezes discuto, mas com um bom argumento mudo de idéia.


PLAYBOY – O fato de sua namorada fazer parte da equipe nunca atrapalhou o trabalho?


SERGINHO – Está tudo bem separado. Acho que não foi fácil para ela no começo. Muita desconfiança... Mas os outros produtores são meus amigos e às vezes a gente tem conversas mais duras sobre trabalho. E assim faço com a Valéria também. Já aconteceu, já chamei, ela já pediu desculpas. O que a gente tenta evitar, e às vezes é difícil, é, quando acaba o trabalho, continuar falando sobre ele.


PLAYBOY – A Valéria não tem ciúme das garotas da platéia que o cercam durante o programa?


SERGINHO – É. Às vezes as meninas deixam o telefone... Mas ela reage bem. O que acontece mais é as pessoas brincarem com ela. Porque se, por exemplo, uma capa de PLAYBOY vai ao programa, não paquero, mas dou a entender que sim. Brinco, falo "Uau!", "Nossa!" E daí as pessoas falam para ela: "Cuidado, viu?" Ela sabe que não tem conseqüências. Mas já a vi brava algumas vezes: "Tem que ficar olhando daquele jeito?"


PLAYBOY – Você se preocupa em ficar atualizado em relação a gírias para se entender com os jovens?


SERGINHO – Nada disso. A última coisa que quero é tentar me sentir um adolescente, me comportar como um adolescente e conseqüentemente ser ridículo. A idéia de chegar aos adolescentes não é achar que sou igual a eles e que eles me entendem porque sei qual é a última gíria. Acho mesmo que um dos erros de alguns apresentadores que trabalham com essa faixa é querer mostrar a própria juventude, usar isso como único argumento para poder fazer o programa.


PLAYBOY – O Luciano Huck, que apresenta o programa H na Rede Bandeirantes, é seu concorrente?


SERGINHO – Não. Na verdade, a fórmula do programa já teve outras parecidas com o Marcelo Rubens Paiva [na TV Cultura, com o programa Fanzine], a Radical Chic [na Globo]. E sempre que aparece um programa novo as pessoas comparam com o meu. Agora é o [do] Luciano.


PLAYBOY – Por que, afinal, muda tanto o horário de seu programa?


SERGINHO – Porque não é um programa de alta audiência. Tem 5, 6, 7 pontos de média [no Ibope]. Já teve estouros, já ganhamos da Globo algumas vezes. Mas, de um modo geral, não é um programa popular. Só que, para onde vai, mantém essa audiência e mantém o retorno comercial.


PLAYBOY – E você não pode interferir nas mudanças de horário?


SERGINHO – Não posso deixar de topar. A não ser que eu fale: "Então chega, me tire do ar". Não trato de programação com o Sílvio Santos porque seria a mesma coisa de o jogador de futebol que está na reserva dizer para o técnico como o time deve jogar. Mas é o seguinte: estou insatisfeito com as mudanças freqüentes e também com algumas coisas bem internas, de estúdio. Outro dia tive que gravar no refeitório do SBT.


PLAYBOY – Você já conversou com o Sílvio Santos sobre a insatisfação?


SERGINHO – Na entrega do Troféu Imprensa [em maio] teve uma situação engraçada. Durante um intervalo, o Sílvio me viu e falou: "Ô, Serginho, poxa, o que você tem? Estão falando que você está insatisfeito com as mudanças". Respondi: "O problema não são as mudanças, tem um monte de outras coisas, a gente precisa conversar". E ele: "Estou indo viajar. Quando voltar, a gente conversa". Aí, na hora de receber o troféu, ele me chamou e, na frente de onze jornalistas, perguntou para a [jornalista] Sônia Abrão: "Quantas vezes ele já mudou de horário?" Ela respondeu: "Trinta e seis vezes". Ele perguntou para mim: "É isso?" Respondi: "Acho que é. Também leio jornais e fico sabendo" [risos]. "Você podia me avisar dois dias antes, pelo menos."


PLAYBOY – Vocês conversaram depois da volta dele?


SERGINHO – Não. A gente não conversou. Houve uma mudada para melhor em algumas coisas, uma reestruturada. Tem um pessoal mais jovem na programação. Parece que as coisas vão melhorar. Mas é muito imprevisível.


PLAYBOY – Qual é o horário ideal para seu programa?


SERGINHO – Depois das 6 da tarde, que acho difícil conseguir hoje no SBT. Os programas lá são mais populares, tem Márcia, tem Moacir Franco, pode ter um programa com a Carla Perez, tem Fórum Popular.


PLAYBOY – Que canal de televisão o convidou recentemente?


SERGINHO – Isso ainda não posso falar. Mesmo porque espero que as coisas se resolvam logo. Não quero sair do SBT. Mas não quero ficar do jeito que está. Três da tarde é o fim da picada. Porque [nesse horário] tem pouco daquele público que eu gostaria de atingir. Estou num horário que vigia noturno assiste, dona de casa, garçom. Então sou muito bem tratado nos restaurantes [risos].


PLAYBOY – Você negociou diretamente com o Sílvio Santos sua ida para o SBT?


SERGINHO – Nós tivemos uns cinco encontros, porque toda vez eu falava não. Tinha medo de sair da Cultura, de perder a característica do programa. Mas ele foi me convencendo e tinha toda razão, porque é muito bom trabalhar lá.


PLAYBOY – Como são as conversas com o Sílvio Santos?


SERGINHO – Ele trata muito bem as pessoas, é bem-humorado. Mas é uma pessoa mais séria, claro, do que aquela idéia do cara sempre sorridente. Tem uma personalidade muito curiosa na relação com os artistas. Depois que assinei contrato e passei a trabalhar lá, rarissimamente falo com ele. E isso tem um lado bom, porque não tem nenhuma interferência dele no conteúdo do programa.


PLAYBOY – E qual é o lado ruim?


SERGINHO – O lado ruim é você não ter tanta referência do que ele acha do seu trabalho. Você sabe mais ou menos o que o Sílvio quer, ele tem uma ou duas orientações. Seria bom ter um pouco mais de contato. Ele tem a vantagem de fazer televisão e entende problemas que acontecem durante um programa.


PLAYBOY – Você já levou até o presidente da República ao seu programa. Quem não conseguiu levar?


SERGINHO – Bom, o Sílvio [Santos] não vai. Foi a primeira coisa que tentei quando já estava tudo certo para eu ir para o SBT. Falei: "Vou com a condição de que você seja o primeiro entrevistado". Ele falou: "Então não vai dar. Se for ao seu programa vou ter que ir ao Jô [Soares], vou ter que ir à Hebe [Camargo]".


PLAYBOY – Será que ele não vai por medo de dar entrevista?


SERGINHO – No caso dele não é medo. O Sílvio é uma Greta Garbo. Acho que preserva uma mística. Estou pensando por ele aqui: talvez quebrasse um pouco isso o fato de responder a respeito dele, da vida, dos negócios.


PLAYBOY – O seu programa daria certo na Globo?


SERGINHO – Quando estava na Cultura, as pessoas me falavam: "Se você for para o SBT, está ferrado, porque quem manda lá é o Sílvio Santos". Então é evidente que se eu tivesse na Globo o primeiro elemento, que é a liberdade, imagina!, iria com todo o prazer.


PLAYBOY – Já foi convidado?


SERGINHO – Não. Houve só uma história, até mais ou menos recente, de que teria havido uma conversa lá, mas nem chegou a mim. Nem oficialmente, nem extra-oficialmente.


PLAYBOY – Você já ficou rico?


SERGINHO – Não... Rico... É difícil ter um parâmetro. Ganho muito bem. Meu salário inclui o de diretor, porque também dirijo o programa. Mas não é comparável ao de outros apresentadores do SBT. Alguns ganham mais. E não faço subprodutos do programa. Não tem brinquedos, não abri um restaurante. Antes fazia mais comerciais, só que não quero mais fazer propaganda de escolas. Já fiz e não me senti bem. Eu mexo com esse público, não quero que haja essa identificação. E, por princípio, não faço comercial de bebida e de cigarro. Mas tudo isso tem muito a ver com o que você quer materialmente.


PLAYBOY – E o que você quer?


SERGINHO – Não sei. De bens, tenho este apartamento. E um Fiat Uno que é outro bem imóvel [risos]. Está parado na rua e não ando com ele há um ano e meio. Tenho um Audi [pensa] 1997. Vou comprar um apartamento para meus pais e estava querendo ter uma casa na praia.


PLAYBOY – Você sabe quanto dinheiro tem guardado no banco?


SERGINHO – Sei mais ou menos.


PLAYBOY – Em que você aplica?


SERGINHO – Em coisas do banco que nem sei direito quais são.


PLAYBOY – Você tem dinheiro guardado para ter uma vida tranqüila se, por exemplo, ficar sem trabalhar?


SERGINHO – Dá para segurar um tempo, não muito.


PLAYBOY – Você já fez alguma loucura com dinheiro?


SERGINHO – Nunca.


PLAYBOY – E quando está apaixonado, você faz loucuras?


SERGINHO – Quando estava no Equipe fiquei tão apaixonado por uma garota que entrei para o coral por causa dela, que cantava lá [risos]. [Pensa.] Gosto de fazer surpresas: a pessoa está viajando e quando volta tem uma bicicleta na casa dela. Ou como quando a Valéria estava na Disney e mandei flores para ela lá.


PLAYBOY – Qual foi a grande paixão da sua vida?


SERGINHO – Todos os meus namoros foram grandes paixões. Nunca namorei desapaixonadamente.


PLAYBOY – Você é fiel?


SERGINHO – Sou. Não só pelo princípio, mas pela vontade. Tem gente que é fiel porque acha errado ser infiel. Outra coisa é você não ser infiel porque não quer. As pessoas acham que eu transo com as meninas do auditório que quero, tenho esse estigma. E com as pessoas famosas também. A questão não é poder ou não, mas querer investir ou não nisso. Não quero parecer um santo, mas não posso inventar histórias.


PLAYBOY – E você já foi traído?


SERGINHO – Que eu saiba, não.


PLAYBOY – Você é passional, daqueles que choram por causa de uma mulher?


SERGINHO – Tenho uma coisa muito chata: não choro.


PLAYBOY – Você não chora nunca?


SERGINHO – [Pensa.] Uma vez minha mãe estava fazendo uma cirurgia e eu estava no ar, superpreocupado. A cada intervalo ligava para o hospital. Era uma operação delicada, de emergência. Eu estava no hospital na hora em que ela entrou para a cirurgia, lá pelas 8, 9 horas da manhã. Só que foi demorando, demorando, e tive que ir para o estúdio. Mas começou o programa, chegou o intervalo e ela não saía da cirurgia. Aí eu chorei.


PLAYBOY – Qual foi o momento de maior alegria na sua vida?


SERGINHO – [Pensa bastante.] Olha, vai ser uma coisa meio de workaholic porque minha vida é muito ligada ao trabalho. A primeira vez em que apresentei e dirigi o programa foi uma coisa muito esfuziante.


PLAYBOY – Na sua vida particular não tem nenhum momento assim?


SERGINHO – No dia em que o Corinthians foi campeão depois de 23 anos, em 1977, saí pela rua que nem um maluco. Adoro futebol.


PLAYBOY – E um momento de enorme tristeza?


SERGINHO – [Novamente pensa bastante.] Tenho muito medo de perder as pessoas... Meu pai perdeu a mãe dele quando eu tinha uns 6, 7 anos. E essa é uma imagem que não esqueço: ele na cama chorando muito e não querendo me dizer por quê. Aquilo foi muito desesperador para mim.


PLAYBOY – Você já fez terapia?


SERGINHO – Não. Logo que fui para o Equipe, o grupo de teatro dava uns cursos, uns laboratórios, e resolvi fazer. Na segunda aula aconteceu: "Cada um pega uma pessoa que está ao lado". Peguei uma menina muito bonitinha, que estava com o namorado, que pegou uma outra. "Agora vamos tocar os corpos, um tocando o corpo do outro". E o cara puto. Quando fui chegando perto da cintura da menina, ele: "Pára com essa palhaçada. Que é isso de ficar tocando na minha mulher?" [Risos.] Ele pegou a garota e foi embora. Era uma coisa muito desinibida, anos 70. Foi a coisa mais próxima de uma terapia que me lembro de ter feito [risos].


PLAYBOY – Quando você começou a organizar shows no Equipe, quem foram os primeiros convidados ?


SERGINHO – Começaram a ir uns sertanejos até que o empresário do [cantor] Dori Caymmi me procurou dizendo que ele estava a fim de se apresentar. Como não tinha som para ele, um grupo de heavy metal propôs: "A gente toca no sábado e deixa o som para o Dori no domingo". Na ocasião estava em cartaz uma peça em que havia um caixão no cenário. O vocalista do grupo de heavy metal disse que queria começar o show saindo de dentro daquele caixão. Como não tinha cortina, ele teve que entrar 1 hora e meia, 2 horas antes do show. A banda entrou, começou a tocar e, na hora de cantar, nada. Corremos todos para o caixão, abrimos e o cara já estava quase sem oxigênio, quase morto [risos].


PLAYBOY – Antes do Equipe você estudou num colégio judaico. Você segue as tradições da religião?


SERGINHO – Na escola eu não tinha aula de religião, tinha aula de hebraico e aprendia pro gasto, para ler nas festas religiosas. Meus avós por parte de mãe faziam aquelas cerimônias, como o Dia do Jejum. Jejuei umas três vezes na minha vida. Mas a coisa de que eu gostava mesmo era das comidas. Minha avó fazia um vinho caseiro que era delicioso, adocicado. Na época de completar 13 anos, quando fiz o bar-mitzva, uma espécie de primeira comunhão, vinha um rabino em casa para ensinar, porque você tem que ler uns textos em hebraico, cantando [imita em voz alta]. E eu cantava, tinha uma voz legal. Os vizinhos ficavam enlouquecidos, não sabiam o que era aquilo. Eu também não entendia nada do que estava cantando [risos].


PLAYBOY – Você vai à sinagoga?


SERGINHO – Não tenho ido. Mas me considero judeu. Toda vez que acontece alguma coisa com judeus eu me detenho mais. Me preocupo com a questão política do Oriente Médio, do terror, do Estado de Israel. A religião te dá alguns princípios de orientação, mas não tenho dogmas.


PLAYBOY – O que você herdou de seus pais?


SERGINHO – Uma coisa que herdei é gostar de ir ao cinema. Todo dia eles iam. Quando morava na Barra Funda, ia ao Cine Paris. Gostava tanto que pedia para ir à tarde, quando não tinha filme. Ficava lá, imaginando a cena na tela, o cinema vazio...


PLAYBOY – O que mais você fazia além de ir ao cinema?


SERGINHO – A Barra Funda era um bairro de infância na rua, de jogar bola. E também jogava futebol de salão, mas não era um craque. Parei de jogar quando fiquei conhecido. Parei de correr...


PLAYBOY – Você parou de correr porque ficou conhecido?


SERGINHO – Futebol foi por falta de tempo e porque não podia me contundir, porque me movimento muito durante os programas. E correr... Eu gostava de correr na rua pelo bairro de Pinheiros. As pessoas começaram a me reconhecer e a gritar: "Ô, Serginho". Até que um dia ouvi: "Ô, Serginho, ô Serginho... Pega ladrão!" [Risos.] Agora estou sem correr e faço exercícios aqui porque tem espaço [aponta para a ampla sala].


PLAYBOY – Como é essa história de ter largado o curso de Direito por causa de um jogo do Corinthians?


SERGINHO – Foi. A PUC [Pontifícia Universidade Católica] é perto do [Estádio do] Pacaembu. E tinha um jogo, Corinthians e Ceará...


PLAYBOY – Nem era um jogão...


SERGINHO – Mas era um jogo importante. A gente precisava ganhar para ir pra semifinal [do Campeonato Brasileiro] contra o Botafogo.


PLAYBOY – Ah, bom!


SERGINHO – Foi no dia de um exame de Direito Romano. O professor estava demorando e decidi: "Vou pro jogo". E nunca mais voltei para o curso de Direito. Eu tinha 18 ou 19 anos, odiava estudar. Em duas, três aulas que tive na PUC, percebi: "Me equivoquei". E já tinha voltado para o Equipe para fazer cursinho.


PLAYBOY – Como era sua vida no Equipe?


SERGINHO – Ali tinha os militantes, os maconheiros, os ricos. Eu ficava lá flutuando. E tinha também uns personagens. Muita gente enlouquecia lá por causa de drogas.


PLAYBOY – Como você passou pela experiência com drogas?


SERGINHO – Fumei maconha. Pouquíssimo. Mas experimentei só maconha, nunca quis experimentar LSD.


PLAYBOY – E cocaína?


SERGINHO – Não. Nem bebo. Não tenho histórias de porre, de drogas, não tenho mesmo. Mas muita gente cheirou, muita gente tomou ácido. O Equipe era uma mistura. Gente que se envolvia com droga, gente de [diferentes] tendências [políticas] estudantis. Tinha a tendência dos loucos e tinha o pessoal mais intelectualizado.


PLAYBOY – Você conviveu com o pessoal do movimento estudantil que hoje está na política?


SERGINHO – Não. Mas aconteceu uma coisa engraçada com o Zé Dirceu [José Dirceu, ex-líder estudantil em São Paulo, ex-deputado federal e hoje presidente nacional do PT]. Eu participei da maior passeata que teve em São Paulo, que começou em frente ao [colégio] Caetano de Campos, na Praça da República, e foi até a [Rua] Maria Antônia. O Zé Dirceu discursava. Ele tinha um sobretudo branco ou bege, com aquele sotaque caipira... Era uma imagem. Uma hora falaram: "A PUC está precisando da gente, vamos!" Entramos num ônibus eu, Zé Dirceu e mais uns vinte, e o ônibus foi seqüestrado. "Desvie sua rota para a PUC!" [Risos.]


PLAYBOY – Em sua opinião, o que o governo Fernando Henrique fez de mais importante?


SERGINHO – Ele é uma pessoa esclarecidíssima no sentido político. Não estou falando no sentido de saber francês ou de ter sido professor da Sorbonne. É um homem político esclarecido que resolveu ser presidente e não incorrer no erro em que incorreu o Fernando Collor. Ou seja, é impossível você no Brasil governar sozinho. Ele tem que ter uma base parlamentar que sustente as coisas que possa fazer. E isso tem um custo para ele e para o país. Tem o custo do desgaste daquilo que ele não pode fazer e tem o custo porque o país não avança do jeito que poderia.


PLAYBOY – Na questão social este governo avançou?


SERGINHO – Avançou no seguinte sentido: existe um poder aquisitivo maior. As pessoas estão consumindo mais. O grande enigma a ser desvendado é: tem uma parte já feita, bem-feita; é possível conciliar isso que já se conquistou com avanço social? A questão é que até agora as oposições não ofereceram uma alternativa econômica ao Real.


PLAYBOY – O que você acha do programa do PT?


SERGINHO – Precisa ser mais bem esclarecido. É muito vago. Acho que existem possibilidades dentro da esquerda. Claro que há movimentos paralelos que interferem na questão econômica e que são movimentos políticos. Movimento dos Sem-Terra, Movimento dos Sem-Teto, as ONGs [organizações não governamentais], tudo isso, ainda bem, mexe com as questões básicas do país. Todos são movimentos legítimos.


PLAYBOY – Você é filiado a algum partido político?


SERGINHO – Não.


PLAYBOY – Em quem ou em que partido você vota?


SERGINHO – Já votei em partido, mas não digo [risos].


PLAYBOY – Você não diz nem em quem votou para presidente?


SERGINHO – Não digo.


PLAYBOY – Por que não?


SERGINHO – Não digo porque na hora em que o cara for entrevistado por mim, ele já vai achar: "Esse cara é meu inimigo, ou meu aliado."


PLAYBOY – Ninguém nunca vai saber em quem você vota?


SERGINHO – Só falei para as pessoas em quem votei. Elas sabem.


PLAYBOY – Mas se essas pessoas forem ser entrevistadas por você podem achar que você é um aliado. Não parece coerente.


SERGINHO – Na verdade falei isso para duas pessoas. Porque também não tenho papo com presidente e governador para ligar e falar: "Alô, olha, votei em você" [risos]. Falei para uma pessoa que está no Senado e para outra que é deputado federal. Falei porque gostei que essas pessoas tivessem sido eleitas. Mas não sou militante, não vou subir nunca num palanque.


PLAYBOY – Está certo que tratar de política é complicado. Mas você não esconde que é corintiano. Se for um palmeirense ao seu programa também não vai achar que o seu tratamento estará vinculado ao fato de você ser corintiano?


SERGINHO – Por isso é que não dá para eu ir a jogo de futebol. Mas imagina! Se um palmeirense vai lá e o Palmeiras ganhou do Corinthians, ele vai rir de mim, e aceito. É outro nível de relação. Mas não deixa de ser também problemático em algumas circunstâncias. Quando fui cobrir um jogo final, em Porto Alegre, Grêmio e Corinthians, chegaram a jogar pedra.


PLAYBOY – Você teve problema com as torcidas uniformizadas durante a gravação de um de seus programas, não foi?


SERGINHO – É. Tive a brilhante idéia de reunir as torcidas [Gaviões da Fiel, do Corinthians, e Independente, do São Paulo]. Foi grave, quebrou o maior pau. Fiz uma bobagem porque estava iludido. Eles tinham me dado todas as garantias e acreditei.


PLAYBOY – E você não conseguiu gravar o programa?


SERGINHO – Não. Nossa! Foi gente para o hospital. Tinha 100 pessoas brigando naquele estúdio. Os seguranças do SBT salvaram algumas pessoas. No outro dia vieram os pais de dois meninos das torcidas que tinham ido parar no hospital. Tive que ouvir os pais chorando. Depois tive que ir explicar nas escolas .


PLAYBOY – Alguma vez você teve problemas com a direção do SBT por causa de um programa?


SERGINHO – [Enfático.] Nunca. Nunca tive. Nunca, ao contrário de outras emissoras em que já trabalhei, ouvi algo assim: "Por favor, não entreviste tal pessoa". Ou então: "Não deveria ter entrevistado, não deveria ter tocado em tal assunto".


PLAYBOY – Isso acontecia na Cultura, por exemplo?


SERGINHO – Isso aconteceu em todos os lugares em que trabalhei. Pedidos de um favor ou outro. Nunca interferência direta. Sempre trabalhei com muita independência.


PLAYBOY – Você gosta de se ver na televisão?


SERGINHO – A primeira vez que me vi foi a coisa mais esquisita. Era um programa ao vivo, na TV Cultura. Deixei gravando [em casa] e, quando fui ver a fita, falei: "O que que é isso?" [Risos.] Era uma coisa muito esquisita eu me vendo em casa na televisão.


PLAYBOY – Você chegou a dar aulas de Rádio e TV na FAAP. Gostava de ser professor?


SERGINHO – Adorava. Quando aceitei dirigir o curso, depois de dois anos, reuni os professores e disse que aceitava dirigir se reformulássemos todo o curso, estabelecendo inclusive algum critério pelo qual se pudesse avaliar os professores. A gente fez um projeto muito legal, mas a direção não aceitou e pedi demissão.


PLAYBOY – A FAAP é conhecida como um celeiro de mulher bonita. Você se sentia à vontade para namorar as meninas mesmo sendo professor?


SERGINHO – Ficava à vontade, mas namorei pouco, lá. Namorada, mesmo, não tive nenhuma da FAAP. Tive uma ou outra história. Porque é um pouco problemático você chegar a um lugar e ficar empolgadíssimo com um monte de mulher bonita. No começo fiquei maravilhado. Achei que tinha caído no céu. Aí aconteceu uma história. Mas é assim: a menina conta para a amiga, que conta para o amigo, e daqui a pouco a classe toda sabe. Não fica bem.


PLAYBOY – Nesses anos todos convivendo com adolescentes você nunca se cansou de lidar com eles?


SERGINHO – Fico com a parte boa dos adolescentes, com a alegria deles. Eles não vêm para mim para fazer as reclamações normais que se tem em casa: "Minha mãe não me deixa sair. Quero ficar no telefone e não me deixam". Mas, no meio do programa, quando a coisa está muito grave, está atrapalhando, peço: "Olha, por favor..." Já chegou gente bêbada, aí tem que tirar do estúdio. Mas mesmo quando as pessoas extrapolam tem que saber trabalhar com isso.


PLAYBOY – Os pais o procuram como consultor quando têm dificuldades com os filhos?


SERGINHO – Não. Mas participo de palestras no Colégio Arquidiocesano [tradicional escola particular na Zona Sul de São Paulo] há oito anos e outro dia teve uma conversa com os pais sobre drogas. Eu propus: "Queria que a gente falasse sobre uma coisa de que normalmente não se fala, que é a questão do prazer". Porque nunca vi ninguém se viciar em tapa na cara, nem se viciar em injeção só pela picada. A droga as pessoas agüentam e se viciam porque dá prazer. Um dos pais reagiu: "Parece que está defendendo a droga". De jeito nenhum. Mas não adianta insistir só com o temor. Um dia a pessoa experimenta e fala: "Pô, mas ninguém falou que era tão bom!" O jovem tem que saber que é bom mas que tem um preço alto a pagar.


PLAYBOY – E a garotada costuma pedir conselho a você?


SERGINHO – Não. Ninguém pede conselho. Eu é que meto o bico às vezes. Cada vez sou mais favorável às garotas, por exemplo. Os garotos podem ter uma experiência sexual maior, mais rápida, mas elas têm mais lucidez.


PLAYBOY – Se tivesse um filho, acha que se entenderia tão bem com ele quanto com os adolescentes que leva ao seu programa?


SERGINHO – Espero que sim. E vou ter um filho. Quando achar uma pessoa da qual possa falar: "Esta é a mãe do meu filho".


PLAYBOY – Você namora a Valéria há quanto tempo?


SERGINHO – Há dois anos. Mas a gente não tem falado sobre isso [ter filhos]. Vou esperar um pouquinho mais para ver o que vai dar.


PLAYBOY – Por enquanto você só tem a certeza de que quer ser pai?


SERGINHO – Absolutíssima. Tem um seguimento, uma perpetuação.


PLAYBOY – Mas aí você não vai poder só lidar com a parte boa das crianças.


SERGINHO – Claro, claro. Mas agora tenho aprendizado [ri]. Tenho um treino de anos, que vem desde quando eu era adolescente.


PLAYBOY – A sua aparência é de uma pessoa bem mais jovem do que a idade que tem. Como é que você se cuida?


SERGINHO – Eu sou assim mesmo [risos]. Não tomo aquelas pílulas suíças, não [risos].


POR GORETTI TENÓRIO NUNES

FOTOS CACALO KFOURI


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