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SHIRLEY MALLMANN | MAIO, 1998


A SUPERMODELO FALA SOBRE O GLAMOUR DA PROFISSÃO

E CANTADAS DE (OUTRAS) MODELOS.


POR: ALEXANDRA FARAH FOTO: MARCOS ROSA


Numa situação destas, não há o que fazer senão olhar bem para não esquecera imagem da perfeição. O cenário é o banheiro de uma laja de roupas na Rua 40, ao lado do Bryant Park, em Nova York. A personagem, Shir­ley Patrícia Mallmann, 21 anos, a modelo brasileira de maior sucesso internacio­nal dos últimos anos. Um conjunto de olhos azuis, voz rouca, cabelo brilhante naturalmente loiro e, claro, corpo: 1,81 melro, 56 quilos. "Tenho peito e bunda, coisa rara entre as modelos", ela observa, nua, apalpando as parles citadas. Desta­cam-se também suas pernas e seus braços finos e compridos revestidos por uma ca­mada de pelinhos castanho-claros — a mesma cor, diga-se, de seus pêlos pubia­nos. As medidas são exalas: 88 de busto, 63 de cintura, 88 de quadris. "Quando eu era criança, queria ser miss."


Shirley foi muito além do sonho. Não há nenhum vestígio da menina nascida em Santa Clara, pequena cidade gaúcha de 6.000 habitantes. Mais velha de qua­tro irmãs, ela passou a infância entre as galinhas da granja do pai, Paulo Mall­mann, e a adolescência atrás de uma má­quina de costura da fábrica de sapatos lo­cal. A transformação começou há três anos, logo depois de ser descoberta em um cursinho de modelo. Viveu um ano em São Paulo e há dois chegou a Nova York. No segundo dia na cidade, já estava po­sando para a revista Vogue, um dos tem­plos fashion mundiais.


Shirley agradece à dona da loja o em­préstimo do banheiro, usado para vestir a roupa das fotos de PLAYBOY, e atravessa a rua em direção ao parque, onde o fotógra­fo a espera. Começa a juntar gente em volta, incluindo turistas brasileiros, rapa­zes pasmados e senhoras que perguntavam o segredo de tanta beleza. "Não como doce", é a resposta, direta e gentil. Mais tarde, no carro que a levou para almoçar com uma de suas agentes, Shirley contaria que nunca sabe o que dizer aos curiosos e, por isso, inventou a mentira. Ela come doces, sim, principalmente chocolate.


Shirley recebeu PLAYBOY vestida com um moletom folgado no seu recém-comprado apartamento da Rua 38, de frente para o East River, antes de almoçar com a tal agente e viajar para Paris, onde iria desfilar e encontrar o novo namorado, o cabeleireiro Zaeya Latt, de 28 anos. "Às vezes acordo em Paris e tenho um traba­lho aqui à tarde, aí pego o Concorde", conta. Esta entrevista à repórter Alexan­dra Farah começou no quarto de Shirley, continuou no banco traseiro da van que a levou ao Bryant Park e, de lá, ao almo­ço de negócios. E ficou mais interessante quando, para deleite do motorista, Shirley revelou os detalhes de um ensaio fotográfi­co que a revista inglesa The Face acaba de publicar. Nele, pela primeira vez, ela posou do jeito que veio ao mundo.





1. É verdade que, para as fotos da The Face, você teve de depilar tudo? Tudinho, não sobrou nada! Eu mesma me depilei, dói menos. O ensaio foi produzido por Alexandre McQueen [designei da Maison Givenchy] e fotografado por Nick Knight, dois gênios. Eles me puseram deitada, nua, sobre uma cama de pregos — claro que os pregos sob o meu corpo eram de borracha. Também tive que fazer nu frontal. [Rindo.] Ai, meu Deus! Não gosto de ficar aparecendo nua. Em Londres, até evito fazer certos desfiles, como o do Hussein Chalayan, com medo de ele me colocar pelada. 2. Os estilistas são muito exigentes? São com o horário de chegada. E, principalmente, querem que a gente entre nas roupas deles e que in­terprete a roupa na passarela, para que o público entenda o espírito das rou­pas, o que é mais difícil.

3. E quanto às exigências das modelos? [Rindo.] A gente não quer ter de chegar 3 horas antes do desfile, mas quer rádio, champanhe e comida. A maioria dos desfiles só tem junkie food, eu como chocolate e bala. Em Pa­ris, eles nos tratam melhor e tem desfi­le que serve até jantar. 4. Como manter a forma desse jeito? Minha vida é tão corrida que não dá pra sentar e comer um almoço. Descobri que se comer um bagel [o tra­dicional pãozinho judaico] de manhã só vou sentir fome no meio da tarde. Aca­bo mantendo a forma sem querer. 5. Como é o relacionamento com celebridades como Naomi Camp­bell e Kate Moss? Elas já não fazem muitos des­files. Quando a gente se encontra é só: "Oi, tudo bom?" É outra turma. 6. Você recebe muita cantada? Quando estou andando na Rua 14 [rua de comércio barato no bairro do Village], é uma a cada 2 minutos [risos]. No bastidores dos desfiles, só um pouco porque, você sabe, tem muito homossexual nesse meio. Geralmente os modelos masculinos perguntam: "O que você vai fazer esta noite?" Mas procuro ficar longe e fazer só o meu trabalho. Mesmo saindo com o Zaeya, que é cabeleireiro, só ficamos juntos em casa. 7. Como vocês começaram a namorar? A gente se conhece há um ano e meio, fizemos alguns desfiles juntos. Sempre achei ele lindo. Um dia perguntei para outro cabeleireiro como ele se chamava sem imaginar que os dois eram superamigos. Claro, o Zaeya ficou sabendo que eu estava in­teressada. A gente começou a conver­sar, depois saímos para dançar e, como os dois estavam livres, acabou rolando.

8. Você e o Richard McLoughlin, operador da Bolsa de Valores de Nova York, tinham terminado? Mais ou menos. Eu estava sozinha em Paris e ele aqui. A gente brigava feito gato e cachorro. Comecei a sair todas as noites com os meus amigos, incluindo o Zaeya. Só esperei voltar a Nova York para terminar, o que aconteceu em janeiro. Comecei a namorar o Zaeya uma semana depois.


9. O que a deixa tensa? Namorado novo, quando ainda não tenho certeza de que ele gosta de mim.


10. De quem você mais gostou até hoje? Isso é delicado... Gostei de vários, mas com todos por quem me apaixonei acabei me decepcionando. As relações que rolaram foram com homens por quem, a princípio, eu não tinha grande interesse. Aos poucos, por eles ficarem comigo, serem todos queridinhos, passei a gostar deles. 11. Quantos namorados você já teve? Alguns, não muito. Não sou de sair com muita gente ao mesmo tempo. E, quando termino, não tem volta. 12. Como foi sua primeira vez? Foi lá em Santa Clara, eu tinha 16 anos. Ele trabalhava na fábrica comigo, era 10 anos mais velho. Não era namorado, só um caso. Matei aula e fui pra casa dele. Foi bom. Quer dizer, mais ou menos, foi muito rápido. 13. É comum receber cantada de mulher? Uma modelo perguntou se eu gostava de mulher. Eu falei: "Em que sentido?" E ela: "Estou perguntan­do se você gosta de mulher". Conti­nuei firme: "Gosto como amiga". Ela insistiu: "Eu gosto". E eu: "Bom para você". Imagina! [Rindo alto.] Gosto de homem, sexo masculino!


14. Como você dorme? De calcinha e camiseta larga. Às vezes, com um macacão bem folgado. Outras vezes, só de calcinha. 15. Que modelo de calcinha? Uso aquelas que têm só um fio atrás, por causa dos desfiles e das fotos. De resto, prefiro as brasileiras, que não são nem grandes nem pequenas. 16. O que você faz quando não está trabalhando? Procuro organizar minha vi­da, meus papéis, ver meu advogado, falar com o banco, ter almoços e jantares com os agentes, retocar o cabelo, cuidar da pele, ir ao médico. Pra me divertir, vou dançar no Divas ou em clubes bem hip-hop no Brooklyn. E gosto de beber, mas não exagero. Trouxe uma garrafa de cachaça da minha última viagem ao Brasil. Vou levar para Paris e fazer a noite da caipirinha no apartamento em que eu, o Zaeya e uns amigos ficaremos hospedados. 17. Quais os momentos mais glamourosos da sua carreia? Com os fotógrafos maravi­lhosos com quem trabalhei, como Helmut Newton. Ele tem 80 anos, é um professor, um gênio. Passei três dias com ele em um hotel na região do La­go Cuomo, na Itália, para Fazer uma foto para a Vogue Itália. Fiquei tão nevo­sa! Outra foto foi com o Herb Rito, pa­ra a campanha do perfume Allure, da Chanel. Fomos para o estúdio 9 da Universal, em Los Angeles, uma coisa imensa, o máximo! E os desfiles, principalmente de [John] Galliano e [Alexander] McQueen [costureiros ingleses]. O Galliano põe a gente para dançar, correr de um lado para outro. Descer as escadas da Opera de Paris, com mil pessoas assistindo, gente brigando para entrar e eu vestindo um dos trinta ves­tidos... Eu penso assim: "Meu Deus, es­tou aqui dentro, estou aqui dentro!"


18. Você já foi vítima da histeria de algumas estrelas? Ah, já. Uma vez trabalhei com dois fotógrafos superfamosos, pa­ra revistas diferentes. Foram quatro dias intercalados, cada dia com um. A primeira sessão, com a [fotógrafa holan­desa] Ellen von Unwerth, não teve problemas. No segundo dia, o [fotógrafo americano] Steven Meisel mandou cor­tar o meu cabelo. Quando apareci diante da Ellen de cabelo curto, no ter­ceiro dia, a mulher virou um onça.


19. Você é quem decide quan­do cortar a cabelo? De jeito nenhuma! Consulto a minha agência, o melhor cabeleirei­ro do mundo, o melhor maquiados e os fotógrafos. Só posso fazer alguma coisa com o consentimento deles.


20. Você recebeu uma proposta para fazer novela na Globo. Vai aceitar? Não agora, porque ainda es­tá muito bom como modelo. Sei que a carreira é cada vez mais curta, mas ain­da tenho algum tempo pela frente. Do meu futuro, só sei que terei um sítio na praia e um monte de cavalos cor­rendo por ali.


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