top of page

TODA A VERDADE SOBRE O ASSASSINATO DE MARILYN

Reportagem



Treze anos de investigação acusam: Marilyn foi assassinada.

Suspeitos: os Kennedy e a máfia.


POR ANTHONY SCADUTO


Marilyn Monroe suicidou-se. É o que se supõe. As autoridades afirmam que ela se matou com barbitúricos, num acesso de desespero. Que ela fez isso porque "tinha mostrado, repetidas vezes, desejos de largar tudo, sumir e até morrer", conforme relatou a Equipe de Investigação de Suicídios de Los Angeles.


Porém, há uma crescente tendência a acreditar que esta explicação não passa de mera cortina de fumaça, ou, na melhor das hipóteses, de uma resposta mais cômoda. Após ter investigado essa morte durante meses, avaliando as insinuações e boatos, além de mergulhar profundamente no que considero um dos piores laudos de autópsia jamais feitos, também me juntei aos que questionam o veredicto oficial.


Na minha opinião, Marilyn não cometeu suicídio. Foi assassinada. E as provas do crime foram suprimidas.


Assassinato é uma acusação grave e não a faço levianamente. Mas, após 25 anos de experiência como repórter especializado em descobrir coisas, manipulando um número enorme de erros e de mentiras oficiais, não preciso dos documentos do Pentágono, do bombardeio secreto do Camboja ou de Woodward e Bernstein (os repórteres de Watergate) para me informarem que nos EUA os homens por nós eleitos nos governam freqüentemente através da mentira. Tantas questões foram levantadas sobre a morte de Marilyn por gente que investigou, tantos furos surgiram na versão oficial dessa morte, que deveria ser realizado um novo inquérito sobre ela.


Um repórter sozinho não pode fazer uma investigação oficial. Nem o escritor Norman Mailer, que continua a investir esforços e dinheiro na tentativa de descobrir provas apagadas; nem Robert F. Slatzer, escritor e produtor cinematográfico que conheceu Marilyn durante dezesseis anos e viveu algum tempo com ela; nem Milo A. Speriglio, chefe de uma agência de detetives da Costa Oeste que foi empregado por Slatzer para descobrir documentos e gravações escondidos. Mesmo que todos nós juntássemos forças, estaríamos em desvantagem, pois não somos funcionários públicos. Escritores, repórteres e investigadores não agem apoiados pela plena autoridade da lei. Não podemos arrancar a verdade. Sem a força de interrogar sob juramento, não podemos levantar todas as provas.


Porém, os indícios que temos sugerem que ela foi assassinada. Nas semanas anteriores à morte, ela começou a perceber que estava presa num sistema de complexos e superpostos jogos de poder que envolviam os Kennedy, a Máfia, os líderes sindicais que estavam sendo perseguidos e talvez incriminados falsamente pelo ministro da Justiça Robert Kennedy e, possivelmente, agentes de Fidel Castro, alvo de vários atentados patrocinados pela CIA.


OS KENNEDY TINHAM UM MOTIVO PARA MATÁ-LA: O MEDO DE UM ESCÂNDALO


É quase certo que tanto Jack quanto Bobby Kennedy foram seus amantes nos meses imediatamente anteriores à sua morte. Houve boatos sobre seu caso com Jack quando ela cantou na festa do 45.° aniversário do presidente, no Madison Square Garden, usando um vestido muito justo, transparente e cheio de lantejoulas. Ela cantou Parabéns a Você, Querido Presidente e, provavelmente, foi para a cama com ele, mais tarde. O presidente, então, aparentemente, deixou a cautela sobrepujar sua necessidade quase compulsiva de mulheres glamurosas. Bobby tomou o lugar de Jack, e Marilyn concentrou suas energias no irmão mais moço.


"Bobby Kennedy prometeu casar-se comigo. O que você acha disso?" perguntou ela a Bob Slatzer, poucas semanas antes da sua morte. E disse mais: "Você pode me imaginar como primeira-dama? Ele me disse que vai ser o próximo presidente — e só tenho de esperar até ele acertar algumas coisas".


Será que algum dia "as coisas" seriam acertadas? Bobby tinha mulher e vários filhos, um compromisso com a Igreja Católica e uma enorme ambição política, mas Marilyn não pareceu querer acreditar no que Slatzer dizia: estava sendo usada. Poucos meses após começar o caso com Bobby, ela foi assassinada.


Não é por acaso ou descuido que ligo, numa frase, sua morte e o caso com Bobby. Tenho certeza de que existe uma ligação direta entre os dois acontecimentos, De algum modo impossível de se entender com precisão, pois muitas provas foram distorcidas ou suprimidas, Bobby Kennedy esteve comprometido no assassinato. Mas por quê? Indícios que foram levantados até agora sugerem duas possibilidades: ela pode ter sido morta por Bobby ou pelos que protegiam de um escândalo os irmãos Kennedy e a futura dinastia presidencial Kennedy. Ou então pode ter sido morta por um grupo que desejava surpreender Bobby numa posição comprometedora, em casa dela, ou ainda fazer com que ele aparentasse ser um criminoso. Na verdade, como tantas provas ainda estão escondidas nos arquivos da polícia, não posso escolher uma das hipóteses — ou "enredo", como Mailer chama a sua reconstrução pessoal do assassínio de Marilyn — como mais convincente. Tudo que posso fazer é reunir a informação disponível e pedir uma investigação em ampla escala.


Marilyn disse a Slatzer, várias semanas antes de morrer, que estava pensando seriamente em convocar uma entrevista coletiva para denunciar que Bobby fingiu amá-la, prometeu se casar com ela e, depois, aparentemente deixou-a de lado. Ela disse que também havia discutido esse plano com alguém mais, que era um "amigo íntimo". Slatzer avisou-a de que poderia ser perigoso fazer tais ameaças e que era melhor não ficar espalhando isso. Mas, como veremos, os telefones da casa de Marilyn em Brentwood estavam sendo vigiados e muitas pessoas souberam de sua ameaça de expor os Kennedy a um escândalo. E entre os que souberam poderiam estar os próprios Kennedy.


Slatzer, após treze anos de investigações, acredita firmemente que Bobby ou seus assessores estiveram envolvidos na morte de Marilyn. E tem algumas provas interessantes para apoiar sua opinião — por exemplo, uma entrevista gravada com uma mulher que jogava cartas numa casa próxima, na tarde do sábado 4 de agosto de 1962, poucas horas antes de Marilyn morrer. A mulher conta que ela e seus amigos viram um carro parar na casa de Marilyn e que Bobby Kennedy e um outro homem, com uma maleta de médico na mão, desceram do carro. "Não", diz a mulher, "não tenho dúvidas de que era Bobby Kennedy."


Slatzer e uma fonte da polícia de Los Angeles (que se recusa a ser identificado devido à decisão oficial de chamar a morte de Marilyn de suicídio) dizem que Bobby prestou um depoimento à polícia após o corpo ter sido descoberto, mas acrescentam que esse depoimento foi suprimido. Nele, Kennedy teria realmente dito que foi correndo à casa de Marilyn após receber dela um telefonema histérico na casa de Peter Lawford, seu cunhado. Quando Bobby chegou, ela estava de péssimo humor, gritando: "Estou cansada disso tudo, de ser uma boneca". Bobby também teria dito, no depoimento, que estava com um médico, que deu a Marilyn uma injeção de pentotal. Ela se acalmou, eles foram embora.


Bobby, ao que se informa, disse à polícia que viera para a Costa Oeste falar com Marilyn, pois esta se queixava do seu irmão John. O presidente estaria começando a achar importunos seus telefonemas e estava preocupado com a possibilidade de um escândalo. Entretanto, ela dissera a Slatzer que seu caso mais recente fora com Bobby. Será que Bobby estava tentando jogar a culpa no irmão? Slatzer acredita que sim e pode muito bem estar certo. De qualquer forma, não havia melhor maneira de conseguir a cooperação policial do que sugerindo que o presidente poderia ser atingido pelos desatinos de uma mulher histérica.


Outras provas ligando os Kennedy à morte de Marilyn atraíram recentemente a atenção de Milo A. Speriglio, diretor da Agência de Detetives Nick Harris de Los Angeles. Consistem em três rolos de fita de gravação com 12,5 cm, que Speriglio acredita terem sido roubados da casa de Marilyn na noite da morte.


"Marilyn colocou um gravador no seu quarto para proteção pessoal", diz Speriglio. "Uma série de gravações foi feita clandestinamente com um microfone que parecia estar escondido a uns três metros de quem falava. Temos cópias recuperadas, obtidas não legalmente por minha fonte, de cerca de uma hora e meia dessas fitas."


As gravações são principalmente conversas com o presidente John Kennedy. "Às vezes", diz Speriglio, "Marilyn sabia mais sobre o que o presidente estava fazendo, pensando e planejando do que o público, a imprensa, o Senado, o gabinete e até mesmo o secretário da Justiça."


Será que ela foi morta, então, para que recuperassem as gravações, a fim de proteger o presidente? "Pelo que foi possível apurar até agora", diz Speriglio, "ela não foi morta pelo presidente, mas pode ter sido assassinada por gente que agiu por ele, não necessariamente sob seu conhecimento."


A tendência das provas de Slatzer, expressas com muitas minúcias no livro que publicou no ano passado, The Life and Curious Death of Marilyn Monroe, é de que Bobby Kennedy, ou alguém a seu mando, matou Marilyn para eliminar um escândalo em potencial, surgindo então toda a máquina do poder político local e nacional para apagar os indícios do homicídio. Norman Mailer, que parece ter ficado impressionado e respeita a detalhada investigação de Slatzer, discorda dessa tese.


"Sempre achei que não havia sentido em Kennedy ter feito isso", diz Mailer. "Os Kennedy tinham um sentido tão sofisticado de como a imprensa funciona que, se Marilyn revelasse publicamente seu caso com Bobby, os Kennedy teriam dito na verdade: 'Que pena, ela é uma atriz tão boa e tem estado sob tais pressões e tensões... mas temos muito respeito pelo seu talento e não iremos dizer nada sobre esse boato'. E os jornais enterrariam o caso."


A teoria pessoal de Mailer é muito mais elaborada. Sua "formulação de um roteiro" é a de que uma facção direitista da CIA — furiosa com o caso da Baía dos Porcos — poderia ter assassinado Marilyn e preparado tudo para parecer um suicídio, à primeira vista. Os jornais falariam da morte como suicídio e, então, haveria uma explosão dramática quando se descobrisse que ali ocorrera um crime. Os Kennedy seriam envolvidos, pois muita gente em Hollywood sabia das relações de Marilyn com Jack e Bobby. "Teria o efeito subterrâneo semelhante ao caso de Ted Kennedy em Chappaquiddick", diz Mailer.


Há outras possibilidades, sem dúvida, e eu não afastaria nenhuma por ser exagerada demais. A mais intrigante é a de que Marilyn poderia ter sido morta acidentalmente por homens que tentavam usá-la para atrair Bobby à sua casa e o surpreenderem numa posição comprometedora. Os conspiradores poderiam ter sido agentes americanos de Fidel Castro, tentando destruir publicamente os Kennedy, evitando assim outros atentados contra a vida de "Fidelito". Ou, então, mafiosos tentando conseguir vantagens comprometedoras contra Bobby, até mesmo para chantageá-lo e obter o fim da investigação de operações ilícitas em cassinos de Las Vegas. Ou ainda, capangas de sindicatos tentando chantagear Bobby para que ele abandonasse seus esforços para prender o controvertido líder sindical Jimmy Hoffa.


Alguns investigadores levantam outra hipótese, citando um amigo muito íntimo que, por pressão dos conspiradores, convenceu Marilyn a interpretar um falso plano de suicídio. Ela tomaria uma forte dose de barbitúricos; telefonaria a Bobby, que estava na casa de Peter Lawford, e diria que estava se matando. Então, Bobby correria para salvá-la e se tornaria vítima de chantagem. Marilyn teria garantias de que, se algo desse errado, teria à mão oxigênio e outros meios de assistência. Os que defendem essa teoria, advertem que poucas horas antes de sua morte, ela perguntara à empregada se havia oxigênio na casa. O plano só teria falhado porque Kennedy não reagiu com suficiente rapidez e pânico. Logo, ela teria morrido por acaso.


Na verdade, essa teoria não me convence. Simplesmente não tem o ritmo, o eco que surge na mente de alguém quando são feitas perguntas. Os elos não se ligam adequadamente. Mas, apesar disso, não posso dizer, nesta altura, que é impossível acreditar nessa hipótese.


A acusação de que Marilyn foi assassinada é baseada num acúmulo de indícios que até agora não foram considerados. Alguns deles são tão ralos quanto a sopa para os pobres dos tempos da Depressão, mas muitos são substanciais. O resultado total é uma indicação poderosa na direção do crime, que exige que a investigação, tão prontamente encerrada em 1962, seja reaberta.


Bob Slatzer começou a investigar a morte de Marilyn assim que ficou evidente que as autoridades de Los Angeles recusavam-se a ir além da superfície do caso. Começou a desconfiar de que eles estavam protegendo alguém. A Slatzer deve-se dar o crédito de ter descoberto a maior parte do que tem aparecido sobre o caso, desde então. Já gastou mais de 30 mil dólares do seu dinheiro para encontrar documentos, achar testemunhas e contratar detetives. Os direitos pelo seu livro ainda não começaram a saldar seus gastos.


"Conheci Marilyn em 1946", diz Slatzer, "quando ainda era Norma Jean Dougherty, um modelo fotográfico para revistas masculinas que tentava se tornar atriz." Tornaram-se amigos e amantes; até o dia em que morreu no quarto de sua hacienda em estilo espanhol, ela o consultou sempre e confiou nele. Até mostrou-lhe seu diário com anotações sobre Bobby Kennedy. "Se tivesse um milhão de dólares", afirma Slatzer, "gastaria tudo para obter a verdade sobre o assassinato. Quero limpar o nome dela da afirmação de que foi uma suicida."


Outros também querem a verdade sobre sua morte. Norman Mailer explica sua constante curiosidade desta maneira: "Se ela foi morta, e agora acredito que foi, e se for descoberto que se tratou de um crime político — o que parece muito possível — então não há fim para a possibilidade de que todos os outros crimes tiveram esse caráter. Significa que teremos de mudar nossas perspectivas históricas. Sugere a possibilidade de uma conspiração definida que poderia ser ligada a mais de um assassinato".


 

4 de agosto de 1962 foi um sábado, o último dia da vida de Marilyn Monroe. Ela não se comportou como alguém que estivesse pensando em se matar: todos os que falaram com ela nesse último dia — e ela ficou horas no telefone — concordam em que ela estava feliz, excitada, olhando com ânimo para a semana seguinte.


A Slatzer e outros amigos, ela disse que planejava encontrar seu advogado na segunda — o advogado, Mickey Rucin, confirmou, depois, para repórteres locais que marcara o encontro — e que tinha um jantar aquela noite com Ralph Roberts; seu massagista e velho amigo. Marilyn disse a todo mundo que estava vibrando com o novo impulso na sua profissão. Sua carreira parecia que havia terminado quando ela foi mandada embora da 20th Century Fox, entre outras coisas, porque tomou um avião para Nova York a fim de cantar na festa de aniversário do presidente, quando deveria estar trabalhando ante as câmaras. Agora porém ela arranjara as coisas e os executivos do estúdio estavam planejando recomeçar a filmagem. Melhor ainda, o compositor Jule Styne telefonara no dia anterior, pedindo-lhe que fizesse uma versão musical de Uma Árvore Nasceu em Brooklyn. Styne confirmou posteriormente essa última conversa em entrevistas com vários colunistas, inclusive Earl Wilson. Disse que contara a ela que Frank Sinatra iria ser o astro do musical e que Marilyn respondera que "estava morrendo de vontade de trabalhar com Frank" — um ex-namorado e ainda um amigo íntimo. Dissera, então, a Styne, que iria para Nova York na terça-feira e telefonaria para discutir o projeto.


Não, ela não estava pensando em suicídio. Falou com vários outros amigos sobre planos para a noite daquele sábado e para o futuro. Quando não esteve junto ao telefone, ficou zanzando pela sua nova casa. Sua governanta e enfermeira Eunice Murray e seu agente de imprensa Pat Newcomb estiveram ali a maior parte do dia, mas viram-na pouco durante o começo da tarde, porque ela ficou muito ao telefone. Mais tarde, após conversar um pouco com Pat, ela entrou na cozinha onde a sra. Murray estava trabalhando e perguntou: "Há oxigênio na casa?" O que pareceu uma pergunta muito estranha, segundo pensou a sra. Murray: pelo que ela soubesse, nunca houvera oxigênio antes naquela casa. Ela respondeu com uma pergunta: "Que espécie de oxigênio, Marilyn?" E Marilyn replicou: "Oh, não sei". Ficou silenciosa e pensativa, e a sra. Murray não insistiu.


Mas após pensar nisso, a sra. Murray telefonou para o psiquiatra de Marilyn, o dr. Ralph Greenson. "Que coisa é essa de oxigênio a que Marilyn se referiu?", perguntou. Greenson respondeu: "Bem, não tenho certeza, mas darei uma passada aí no fim da tarde". O médico não pareceu preocupado, escreveu depois a sra. Murray. E acrescentou: "Só anos mais tarde é que alguém me disse que o oxigênio às vezes é usado para restabelecer uma pessoa que tomou uma dose excessiva de soníferos".


O dr. Greenson apareceu mesmo, lá pelas cinco horas, segundo seus depoimentos e os da sra. Murray à polícia. Foi para o quarto principal onde Marilyn estava descansando e ficou com ela por quase duas horas. Cerca de seis e meia da tarde, Roberts, o massagista, telefonou para confirmar o jantar. "Um homem atendeu o telefone. Eu sabia que era o dr. Greenson, pois reconheci a voz. Pedi para falar com Marilyn. Ele disse: 'Ela não está aqui agora'." Roberts pensou que isso era muito estranho e depois falou aos repórteres: "Por que o psiquiatra de Marilyn estava na casa se ela tinha saído?"


Pat Newcomb saiu mais ou menos nessa hora e o dr. Greenson seguiu-o, minutos após. Por volta de sete horas, Marilyn recebeu um telefonema de Joe Di Maggio Jr. Ele fora seu enteado e ainda era amigo dela, do mesmo modo que seu pai. Ela usou o telefone do quarto menor, sentou-se no chão e falou uns 20 minutos, disse mais tarde a sra. Murray. Marilyn riu muito e falou alto, como fazia quanto estava excitada. Ela parecia, diz a sra. Murray, "feliz, alegre, alerta — qualquer coisa, menos deprimida".


Então, voltou a seu quarto, fechou a porta e ninguém mais a viu viva. Pelo menos, ninguém revelou isso.


Após a morte de Marilyn, repórteres de Los Angeles falaram num telefonema de Peter Lawford, por volta das sete, para lembrá-la de um jantar na sua casa de Santa Monica, ao qual ela dissera que não iria. "Ela disse que estava muito alegre e que iria para a cama", afirmou ele.


Esta declaração, feita após Marilyn ter sido encontrada, diverge do que o colunista Earl Wilson relatou algum tempo depois — que ela ainda era esperada no jantar e que quando Lawford telefonou a ela (por volta das oito, não às sete) notou que estava drogada e tentou avisar alguém para ajudá-la. Mas muitas histórias sobre as horas finais de Marilyn mudam bastante, especialmente quando os Kennedy são envolvidos.


 

Bobby Kennedy, diretamente responsável ou não pela morte de Marilyn Monroe, necessitava de proteção contra um escândalo em potencial. Embora os assessores de Kennedy tenham negado repetidamente que ele estivesse na Costa Oeste durante aquela semana, não é preciso investigar muito para determinar que isso é mentira. Na sexta, menos de 36 horas antes de Marilyn morrer, Bobby hospedou-se no hotel St. Francis em San Francisco, com mulher e dois filhos. Tinha uma palestra marcada naquela cidade, parte de uma viagem de duas semanas pelo Noroeste, junto ao Pacífico. Na tarde do dia seguinte, tomou um avião para Los Angeles, sozinho, e se hospedou num hotel. Isso segundo o sargento Jack Clemmons — o único investigador da polícia a declarar publicamente que o veredicto de suicídio era uma mentira — e segundo vários amigos de Lawford que falaram disso anonimamente a escritores. Nessa noite, Bobby aparentemente foi à casa de Lawford, esperando que Marilyn se encontrasse com ele. Passara muito tempo com ela na primavera em Los Angeles, quando ostensivamente estivera negociando um contrato para filmar seu livro O Inimigo Interior, mas na verdade para estar de caso com ela, conforme Marilyn contou a Slatzer.


Mas parece que Marilyn se tornara nervosa sobre a ligação com Bobby e a ponto de se envolver na trama política que o cercava. Três semanas antes de morrer, telefonou a Slatzer de uma cabine pública; disse que não usava seu telefone, pois achava que estava sendo vigiado. Pediu que Slatzer a encontrasse numa esquina a alguns quilômetros da sua casa. Ele a apanhou e foram até Point Dume, na rodovia da Costa do Pacífico, ao norte de Malibu. Sentaram-se na praia e Marilyn deu-lhe um livrinho de capa vermelha, com um registro do mais importante de suas atividades recentes.


A maior parte do registro era referente a Bobby Kennedy. Não havia detalhes íntimos do romance, que Marilyn já contara a Slatzer no passado, mas idéias de Bobby sobre política e as atividades criminosas de homens nos quais estava interessado como secretário da Justiça. Ela disse que começou a escrever o diário porque "Bobby gostava de falar sobre coisas políticas: um dia, ficou louco comigo porque eu disse que não me lembrava de nada do que ele falava; decidi, portanto, tomar algumas notas sobre conversas, para para que eu pudesse estudá-las antes de encontrá-lo novamente".


Entre as anotações havia uma linha sobre a Máfia. Slatzer perguntou o que significava. "Não entendo bem o que Bobby dizia", respondeu. "Mas lembro-me de que ele disse ser suficientemente poderoso para cuidar das pessoas se elas se metessem no caminho dele." (Isso foi, lembrem-se, treze anos antes das recentes acusações de que a CIA, no governo Kennedy, empregara pistoleiros da Máfia numa conspiração para assassinar Fidel Castro.) O caderninho continha conversas com Bobby sobre a Baía dos Porcos, o desejo intenso de Bobby "em pôr o f.d.p. do Jimmy Hoffa na cadeia não importa de que jeito" e outras indiscrições sobre a violência secreta do governo.


"É por isso que estou tão amedrontada e confusa", disse então a Slatzer. "Ele tem todas essas ligações com gangsters e me falou de tudo isso sobre o Hoffa e a Baía dos Porcos. Agora não sei o que irá acontecer. Bobby prometeu casar-se comigo. Mas será verdade? Ele está me ignorando. Tentei falar com ele pelo telefone, mas não posso chegar até ele."


TELEFONES VIGIADOS, A CASA ARROMBADA. O MEDO SEGUIA MARILYN


Marilyn tinha certeza de que seu telefone estava sendo vigiado. Além disso, um arquivo de aço na sua casa fora arrombado, com muitos papéis pessoais roubados. Estava convencida de que alguém estava atrás do seu diário. (O diário sumiu na noite da morte, do mesmo modo que, aparentemente, as gravações que ela fizera secretamente das suas conversas com Kennedy.)


O telefone de Marilyn foi realmente vigiado durante meses. O operador foi Bernard Spindel, geralmente considerado pelas autoridades como o melhor espião eletrônico dos Estados Unidos. A casa de Spindel em Nova York foi alvo de uma batida do promotor distrital de Manhattan, Frank S. Horgan, em 1966. Foram apreendidas ali enormes quantidades de equipamento e gravações. Spindel entrou com uma ação para retomar a posse das gravações, entre as quais estavam "gravações e provas referentes às circunstâncias que cercaram as causas da morte de Marilyn Monroe, que sugerem fortemente que as circunstâncias oficialmente expressas do seu falecimento são enganosas" (conforme ele disse no seu arrazoado, sob juramento).


Spindel morreu uns dois anos depois. Antes de sua morte, disse a amigos, repórteres, um executivo da segurança da Companhia Telefônica de Nova York e outros investigadores, que vigiara o telefone de Marilyn para Jimmy Hoffa, a fim de conseguir provas de que Bobby tentava prender Hoffa, e reunir informações que poderiam fazer Bobby desistir de sua campanha. Spindel também disse que a batida do promotor distrital fora principalmente um serviço para Bobby, destinado à recuperação das gravações incriminadoras. (Bobby era então senador por Nova York e estava planejando disputar a indicação à Presidência.)


Se Spindel fez um trabalho completo de espionagem eletrônica para seu cliente — o que sempre fez — então é lógico admitir que o telefone de Lawford e o de outros que tinham contato pessoal com Bobby também estavam sendo vigiados. Segundo Spindel, Bobby sabia que era observado por ele pouco antes de Marilyn morrer. Chegou até a oferecer 25 mil dólares a Spindel pelas gravações de suas ligações com Marilyn. Além disso, mudou seu número pessoal na Secretaria da Justiça e se recusou a atender qualquer um das dezenas de telefonemas que Marilyn fez para Washington nas semanas antes da sua morte, conforme ela confessou a Slatzer.


Spindel foi muito cauteloso ao falar com os investigadores a respeito da morte de Marilyn e não deu detalhes que pudessem eventualmente chamar atenção sobre si mesmo, pois ele estava sob constante investigação de dezenas de repartições do governo. Mas disse, em várias entrevistas, que uma das gravações que tentava recuperar do promotor distrital era de uma conversa telefônica na manhã de domingo, depois de o corpo de Marilyn ter sido encontrado, mas antes da sua morte ser anunciada publicamente. O telefonema foi feito de San Francisco para a área oriental de Los Angeles. Spindel não foi mais específico, mas deixou claro que foi recebido na área em que estavam todos os personagens principais do caso Monroe. O interlocutor de San Francisco perguntou: "Ela já morreu?"


 

Ela não estava morta na noite de sábado. Não foi se encontrar com Bobby Kennedy no jantar de Lawford, mas tentou falar com ele. Earl Wilson diz que Lawford ainda esperava Marilyn na festa, embora outros repórteres — citando Lawford — dissessem que Marilyn tinha falado que iria para a cama. Como ela não chegasse, às oito, uma hora após o prometido, Lawford (segundo Wilson) telefonou para ela: "Ei, Marilyn, o que aconteceu com você?"


Marilyn respondeu que estava cansada e não iria. Sua voz estava alterada; Lawford estava certo de que ela bebera ou estava quase dormindo sob o efeito de pílulas. Isso não era estranho, disse ele. Mas ficou alarmado quando Marilyn continuou: "Diga adeus a Pat, diga adeus ao presidente e diga adeus para você, porque você é um sujeito legal".


Nenhuma menção a Bobby. A ficção oficial de que Bobby voltara ao Leste ainda estava sendo mantida. Marilyn certamente deve ter pedido para falar com Bobby, e se eles realmente conversaram, é possível que ela o tenha ameaçado com um escândalo. Ela telefonara a Slatzer no dia anterior para dizer que ainda não conseguira falar com Bobby em Washington. Slatzer disse que Bobby estava em San Francisco, e ela replicou que iria telefonar a Lawford para conseguir o número do hotel de Bobby. Quando Slatzer repetiu seu conselho, que já dava há semanas — "Esqueça-o" —, Marilyn insistiu na sua idéia: "Isto é diferente", disse ela. "Se ele ficar me evitando, posso simplesmente convocar uma entrevista coletiva e falar sobre o assunto."


Slatzer preveniu-a de que não deveria ameaçar Kennedy, lembrou seus temores de três semanas antes e avisou que "ela sabia demais sobre Bobby Kennedy" e poderia ficar em perigo. Mas ela parecia decidida a se explicar com Bobby: "Se ele veio para cá, vou falar com ele".


Talvez nunca se saiba se ela falou com Kennedy naquela noite de sábado, nem se chegou a ameaçá-lo. De qualquer maneira, Lawford diz que ao perceber que Marilyn realmente estava dizendo adeus, telefonou para seu agente e pediu-lhe que fosse à casa de Marilyn com ele. Seu agente foi contra, avisando que poderia haver escândalo porque "você é o cunhado do presidente dos Estados Unidos". O agente iria entrar em contato com o advogado ou o médico de Marilyn. Depois de algum tempo, falou com Mickey Rudin, advogado dela que, por coincidência, é o advogado de Sinatra, bem como cunhado do dr. Greenson.


Enquanto procuravam alguém que pudesse ir à casa de Marilyn sem medo das manchetes, ela continuava procurando ajuda. Ligou para Ralph Roberts, seu massagista. Ele, porém, estava fora e seu serviço de atendimento anotou o chamado. Roberts depois recebeu uma mensagem sobre esse telefonema de "uma mulher que parecia desnorteada e com voz pastosa". Nunca se saberá se também falou com o dr. Greenson, nem se ela gritou chamando a sra. Murray, que estava no quarto ao lado (a menos que um grande júri reabra o caso e convoque ambos para testemunhar).


Entre nove e meia e dez horas, 90 minutos a duas horas depois de Lawford ter falado com Marilyn, Mickey Rudin telefonou. Perguntou à sra. Murray se Marilyn estava. A enfermeira disse que a atriz fora para a cama antes das nove e Rudin perguntou: "Ela está bem?"


A sra. Murray disse a Slatzer e escreveu nas suas próprias recordações que a pergunta foi tão normal que não lhe causou nenhum alarme. Ela respondeu que Marilyn estava ótima, pelo que ela sabia. "Devo acordá-la?", perguntou. "Oh, não, não precisa", disse Rudin. E desligou.


A sra. Murray disse que não se lembra da hora exata, mas que acordou durante a noite e foi para o corredor que separava seu quarto do de Marilyn. Viu o fio de um telefone aparecer sob a porta. Marilyn nunca teria ido dormir sabendo que havia um telefone no quarto, diz a sra. Murray, de modo que percebeu que algo não estava certo. Chamou o dr. Greenson. Ele perguntou-lhe se tentara entrar no quarto ou chamara Marilyn. Enquanto o médico esperava no telefone, a empregada voltou até o quarto de Marilyn, achou a fechadura trancada e não conseguiu resposta para seus gritos e batidas na porta.


"Então, saí para ver se conseguia enxergar algo pela janela e notei que havia luz no quarto — outra coisa impossível, caso ela tivesse dormido normalmente. Estava deitada de bruços. As cobertas jogadas para um lado e ela estava nua... Não era uma noite quente. Se estivesse dormindo estaria com as cobertas.


Quando ela voltou a falar com o dr. Greenson, ele disse que iria já para ali e mandou-a chamar o dr. Hyman Engelberg, médico de Marilyn. Greenson não sugeriu que se chamasse a polícia ou o pronto-socorro. Ele chegou em alguns minutos, quebrou uma janela do quarto, abriu-a e pulou por ela. A sra. Murray correu para dentro e, num instante, o médico abriu a porta do quarto e disse: "Nós a perdemos". Então, sentou-se na cama perto da de Marilyn. A sra. Murray diz que entrou no quarto, "observei que o rigor mortis já estava pronunciado... vi que o telefone estava sob ela... que ela estava deitada sobre ele", e depois saiu. (O dr. Greenson contou à polícia e ao colunista Maurice Zolotow que a mão de Marilyn estava no fone e um dedo da outra mão no disco, o que contradiz o que a sra. Murray e outros viram naquela noite.)


O telefonema informando da morte de Marilyn foi recebido às 4h25 da madrugada de domingo pelo sargento Jack Clemmons, na época comandante do plantão da delegacia da parte Oeste de Los Angeles. Em vez de mandar uma viatura atender o caso, Clemmons foi até a casa de Marilyn porque, segundo afirma, "Eu queria ter certeza de que não estavam fazendo gozação".


Clemmons disse então, e reafirma hoje, que ficou espantado com as discrepâncias do que lhe foi contado. A sra. Murray disse-lhe que começara a se inquietar com Marilyn por volta da meia-noite e telefonara então para o dr. Greenson. Meia-noite.


"Não há dúvidas na minha mente", diz Clemmons, "de que ela falou meia-noite. E os médicos disseram que estavam no local em meia hora." Perguntou-lhes por que deixaram para informar a polícia só quatro horas depois e recebeu uma resposta absurda. "Não havia um pretexto real para esse atraso", diz ele, e nunca haveria.


(Quando os detetives chegaram para investigar, e Clemmons voltou ao trabalho do distrito, segundo os relatórios oficiais da polícia, os médicos afirmaram não terem chegado senão bem depois de três horas, e que Marilyn só foi considerada como morta às 3h30 ou às 3h50, dependendo de qual das duas versões se levar em conta.) Após não conseguir uma explicação satisfatória para o atraso, Clemmons entrou no quarto e viu o corpo de Marilyn na cama, de bruços. Lembra-se muito bem da sua impressão: "Pareceu-me que o local fora preparado... e se eu fosse o detetive encarregado da investigação, teria feito com que explorassem essa preparação, porque Marilyn não iria se arrumar dessa forma e morrer... Suas pernas estavam completamente paralelas e ela parecia exatamente o que era: um corpo morto que alguém colocara naquela posição... Quando ela faleceu, não deveria estar nessa posição. Em mortos com barbitúricos, nos últimos minutos antes da perda de consciência, há dor e há contorção. É comum ver o corpo crispado. Nunca se vê um corpo com as pernas bem retinhas. Alguém a matou. Obviamente não foi suicídio, qualquer um poderia ver isso. Foi um evidente caso de assassinato. E o que finalmente impressiona é o fato de ela estar com uma dose excessiva e letal de barbitúricos na sua corrente sanguínea, mas ter o aparelho digestivo limpo. E quando se pensa nesse fato, é necessária uma explicação".


Nunca foi explicado, pelo menos não no relatório da autópsia que foi divulgado. Mais do que nada, o relatório da autópsia é que indica um crime encoberto.


A AUTÓPSIA DIZ: NÃO HÁ SINAIS DE NEMBUTAL. ENTÃO, COMO ELA MORREU?


A autópsia foi dirigida pelo dr. Thomas Noguchi que, ironicamente, faria a autópsia de Bobby Kennedy, seis anos mais tarde. No relatório, o dr. Noguchi afirma que descobriu que Marilyn foi morta por uma alta concentração de barbitúricos no sangue — o suficiente para matar várias pessoas. Além disso, um relatório suplementar, datado de uma semana após, mostrava um nível mais elevado de hidrato cloral. Os policiais de Los Angeles informaram que ela provavelmente engolira 47 comprimidos de Nembutal em alguns segundos.


Mas havia muita coisa errada. 1.°, Marilyn nunca engolia nem um comprimido sem beber água; normalmente dissolvia os comprimidos em leite porque tinha dificuldade de engoli-los. Porém, nenhum copo foi achado no quarto — embora oito frascos de pílulas estivessem alinhados no criado-mudo. 2.°, quando alguém engole uma enorme quantidade de cápsulas, normalmente se encontra resíduo no estômago: pílulas parcialmente digeridas, solução líquida contendo traços das pílulas, cristais refráteis da droga, que podem ser identificados num microscópio, até mesmo cápsulas cujo envoltório não se dissolveu. Sempre há um indício muito visível no estômago, dos barbitúricos que mataram a pessoa.


Contudo, no relatório da autópsia de Marilyn consta: "O estômago está quase completamente limpo. O conteúdo é um fluido mucoso marrom. O volume é estimado em não mais que 20 cm³. Não aparece nenhum resíduo de pílulas". Não havia nem mesmo traços dos cristais refráteis no estômago, nem indícios de qualquer espécie de resíduo das pílulas no duodeno, o estágio seguinte do processo digestivo.


Um patologista que procura a causa da morte e não encontra traços da droga no estômago estuda o intestino delgado em busca de sinais das pílulas que o suicida teria tomado. Freqüentemente, um patologista vai mais além, determinando se os restos das cápsulas que passaram pelo estômago se instalaram no intestino.


O dr. Noguchi, porém, afirmou que não foi feito nenhum teste do conteúdo do intestino delgado de Marilyn. Mailer, entre outros, estranhou essa curiosa omissão. E o dr. Noguchi respondeu: "Em 1962, não fazíamos testes em intestinos delgados. Não tínhamos os meios à disposição".


O relatório da autópsia afirma, entretanto, que o intestino delgado foi "guardado para posterior estudo toxicológico". O dr. Sidney B. Weinberg, que era e é o principal legista de Suffolk County, Nova York, e um dos seis famosos patologistas independentes do funcionalismo de Los Angeles que estudaram o relatório de autópsia, discorda completamente das conclusões. Ele afirmou numa entrevista recente: "Em 1962, poderíamos fazer o teste. O instrumental não era problema para uma análise toxicológica simples. O relatório sobre o intestino diz que começaram a examiná-lo e ele (o dr. Noguchi) diz que não podiam fazer isso. É um pouco estranho".


Pareceria lógico que, se o intestino delgado foi guardado para testes posteriores, esse teste foi feito mais tarde. Mailer, como o dr. Weinberg, acredita que foi ordenada alguma cobertura. Mailer assinala: "Se você é o inspetor e acha que a tendência oficial é achar provas de um suicídio, você não se orientará especialmente para descobrir um assassinato. Irá procurar provas do que aparentemente é uma morte violenta, embora auto-inflingida. Afinal, se você disser que foi assassinato e a coisa acabar como suicídio, então seu emprego, sua probidade e suas capacidades profissionais estarão em jogo. Portanto, é do seu interesse descobrir indícios de barbitúricos no intestino delgado. Nas circunstâncias, pode ter sido feito algum esforço no sentido de se examinar o órgão. Não é difícil cortar um intestino delgado para procurar indícios de corante de soníferos. Entretanto, se uma incisão dessas não mostrar traços que levem ao suicídio, bem, tire suas próprias conclusões".


A conclusão que deve ser tirada é a de que o relatório de autópsia divulgado é incompleto. Essa conclusão é apoiada por relatos de que nos arquivos policiais há outro relatório de autópsia: o relatório original ditado durante o exame post-mortem.


Numa das estranhas evoluções deste caso já peculiar, Slatzer e seus detetives particulares relatam que fontes de dentro da polícia de Los Angeles afirmam que o relatório original feito na época da autópsia desapareceu e foi substituído por um relatório feito de memória, omitindo muitos detalhes. Será que esse relatório, se é que existe — e não tenho nenhuma razão para pensar em alucinações a seu respeito — diz a verdade sobre o intestino delgado?


As conclusões divulgadas da autópsia também indicam que não havia indícios de cristais nos rins de Marilyn, nenhum sinal químico de os barbitúricos — que nos pedem que acreditemos ter ela engolido — haverem alcançado o aparelho urinário. Havia indícios suficientes de barbitúricos no sangue e no fígado, mas nenhum em outros órgãos. Para investigadores médicos, isso sugere que Marilyn pode ter recebido uma injeção com a dose fatal da droga.


Como diz o dr. Weinberg: "As conclusões do relatório de autópsia certamente não caracterizam uma ingestão oral de grande quantidade de barbitúricos... Deve-se considerar seriamente a possibilidade de uma injeção ou o uso de um supositório para se ajustar às descobertas toxicológicas".


Fica mais curioso e mais curioso, como alguém disse em Alice no País das Maravilhas. Embora o dr. Noguchi afirmasse no seu relatório de autópsia e insistisse em várias entrevistas posteriores que fez uma busca cuidadosa, mas sem sucesso, de marcas de agulha, o fato é que Marilyn, nos dias antes de sua morte, recebeu pelo menos duas injeções. Pode ter havido uma terceira injeção no sábado, quando Bobby Kennedy a visitou com um médico (o que foi confirmado), poucas horas antes da morte. Os sinais dessas injeções deveriam estar no corpo, após a morte, no sábado à noite.


"Se nossa crença é a de que ela pode ter recebido uma injeção", diz o dr. Weinberg, "então se deve perguntar: Quem a aplicou?" Não havia sinais de uma seringa, nem de uma hipodérmica no quarto dela, quando a polícia chegou, o que significa que ela não poderia ter se injetado a droga.


O dr. Weinberg diz que as conclusões da autópsia deixaram-no, como qualquer outro patologista ficaria, desconfiado a ponto de achar que o indicado seria uma investigação em busca de sinais de crime. "Deveria ter havido uma investigação um pouquinho melhor", diz. "Ou a investigação foi incompleta ou então não estão nos dizendo tudo o que descobriram."


Outros médicos legistas vão muito mais além que o dr. Weinberg. O dr. E. Forrest Chapman de Belleville, Michigan, após examinar o relatório de autópsia, disse: "As conclusões da autópsia no caso de Marilyn Monroe levantam muitas suspeitas, se não provas, de uma conspiração de crime".


É óbvio que não nos contaram tudo. Se Marilyn tivesse engolido os 47 comprimidos de Nembutal, o corante amarelo das cápsulas seria descoberto na sua garganta, no esôfago e no estômago. Nenhum indício foi achado. Se ela tivesse engolido tantas cápsulas, teria vomitado, pois os suicidas que usam barbitúricos vomitam sempre. Contudo, não há notícia de qualquer partícula de vômito no nariz de Marilyn, na garganta, nos lençóis ou no tapete.


Mesmo a nudez de Marilyn é inconveniente, pois nunca dormia nua. Antes de ir dormir, punha um sutiã, o que nunca fazia de dia, colocava abafadores de som nos ouvidos e máscara para dormir, além de um copo de água na mesa de cabeceira. Quando foi achada, não usava nada disso.


Parece-me bastante evidente, como resultado de minhas próprias investigações sobre a morte de Marilyn Monroe, que, nas primeiras horas após a polícia ter sido avisada, autoridades de Los Angeles ordenaram que todas as provas fossem orientadas no sentido de se encenar um suicídio. Todos os investigadores independentes — Slatzer, Speriglio, Clemmons, Mailer e um punhado de jornalistas — viram-se levados a adotar a conclusão de que ocorreu uma ação de encobrir o crime. Mailer resume a impressão de todos quando diz: "Foi dada a palavra de ordem para manter a coisa como suicídio, não torná-la assassinato".


Quem tinha o poder de dar tal ordem? E por quê?


Tudo indica o chefe da Polícia de Los Angeles William H. Parker, que morreu em 1966. Nas semanas antes da morte de Marilyn, o chefe Parker se vangloriou a muitas pessoas, que iria substituir J. Edgar Hoover como diretor do FBI, que o secretário da Justiça, Bobby Kennedy, odiava Hoover e estava agindo no sentido de derrubar o velho. Então Parker conseguiria o cargo. Quando Marilyn morreu, Parker imediatamente agiu com relação ao que ele achava que fosse garantir sua designação. Confiscou na companhia telefônica os recibos que discriminavam os telefonemas locais e interurbanos que Marilyn dera em julho e agosto de 1962. Parker até mostrou os registros para a colunista Florabel Muir, dizendo que elas iriam lhe dar a primeira brecha para a chefia do FBI. Disse a outros jornalistas que os registros mostravam que Marilyn telefonara repetidamente a Bobby durante sua última semana de vida fazendo oito ligações telefônicas para a Secretaria da Justiça.


Parker certamente tinha o poder de ordenar que parassem a investigação do assassinato. Quando o sargento Clemmons insistiu em que ela havia sido morta, foi pressionado para se calar. Clemmons não obedeceu e, pouco depois, viu-se em apuros e foi afastado da polícia.


Uma das muitas razões pelas quais é necessária uma nova investigação da morte de Marilyn é que nenhuma das muitas pessoas envolvidas diretamente com Marilyn nos seus últimos dias e meses de vida chegou a ser interrogada sob juramento. A Equipe de Investigação de Suicídios, criada pouco antes da morte de Marilyn, composta por psicólogos e psiquiatras, teve como primeiro caso exatamente a morte da estrela. A Equipe teve a missão de determinar, através de um perfil psiquiátrico, baseado no testemunho informal dos médicos e amigos de Marilyn, se ela poderia ter cometido o suicídio. O veredicto, sem dúvida, foi o de que ela poderia ter se matado. Entregar o caso para essa equipe, integrada por médicos e investigadores pouco experientes, teve evidentes vantagens para quem desejou esconder o fato do crime. A investigação da Equipe substituiu o inquérito normal, que toma testemunhos sob juramento, e seus documentos não foram publicados.


Os indícios necessários para provar que Marilyn foi assassinada, e, possivelmente, as provas que indicam quem a matou, provavelmente estão enterrados nos arquivos policiais. Slatzer, Speriglio e outros investigadores e jornalistas relataram que existe nos cofres do departamento de polícia de Los Angeles um dossiê de 723 páginas intitulado MARILYN MONROE-ASSASSINATO. Certos funcionários da polícia de Los Angeles admitiram em caráter pessoal a esses investigadores que existe tal dossiê e que foi microfilmado. Nele provavelmente está o relatório original da autópsia que nunca foi divulgado. Nele pode estar o longo depoimento de Bobby Kennedy. Nele pode estar material que até agora nenhum investigador particular descobriu ou ouvir falar.


Não há questão de limites em casos de homicídio. Um grande júri pode começar uma investigação sobre a morte de Marilyn a qualquer tempo. Pode exigir — e conseguir — sob pena de confisco, todas as provas que têm sido escondidas há treze anos. Slatzer escreveu ao grande júri 1974/75 de Los Angeles, pedindo consideração a respeito do caso. A resposta foi: "Estamos satisfeitos com o veredicto original e não vemos motivos para reabrir o caso".


Mas muitos de nós não somos tão fáceis de satisfazer, e continuaremos a pressionar para que haja nova investigação. Talvez ela não aconteça até o dr. Noguchi sair de seu cargo e algum policial mais corajoso decidir que o fantasma de Marilyn Monroe já nos assombrou por tempo demais.


ILUSTRAÇÃO JOE SAFFOLD


429 visualizações0 comentário

Commentaires


bottom of page