VERA ZIMMERMAN | MAIO, 1991

Verão de 1980. O cantor e compositor Caetano Veloso rodava o Brasil com a turnê do LP Cinema Transcendental. Em São Paulo, Caetano foi apresentado, nos camarins do show, a uma adolescente de 16 anos chamada Vera Alice. Já a vira antes, de relance, em meio aos seus músicos, na Bahia, onde ela costumava passar as férias. Ali, no camarim, pôde olhar atentamente seus olhos azuis, seus cabelos de trigo e sua pele dourada do sol. Embevecido com a jovem, apenas exclamaria: “Beleza Pura”. Depois do êxtase inicial, o baiano logo convidaria Vera para seu próximo espetáculo, em Americana (SP) e ambos viajaram no ônibus da turnê com músicos e produção. O que aconteceria depois inspiraria a canção Vera Gata.

Era uma gata exata

Uma vera gata

Das que não tem dúvida

Éramos fogo puro

O amor total

A música fez sucesso no país inteiro e todos se perguntavam quem era a Vera da canção de Caetano. O jornal Folha de S.Paulo estamparia a história em sua primeira página e Vera Alice ganhou projeção nacional. Esses versos, que iniciam a canção, transformariam a livre adolescente Vera Alice na hoje conhecida atriz Vera Zimmerman. Alçada à celebridade, Vera que já havia estreado no teatro, chegou a participar de montagens do célebre Antunes Filho e logo estaria na TV e nas campanhas publicitárias.

Os anos se passaram, Vera foi se firmando cada vez mais na carreira de atriz, até ser convidada para o papel que seria o divisor de águas da sua carreira: Magda, que era sempre reverenciada por seu fiel e apaixonado mordomo, Porfírio (Guilherme Karam) como ‘Divina Magda’, na novela Meu Bem, Meu Mal, de Cassiano Gabus Mendes, no ar em 1990. O sucesso da personagem levou a redação da PLAYBOY a convidar Vera para estrelar um ensaio de capa. O ritmo alucinante das gravações da trama adiouo sonho dos leitores somente em maio de 1991, mês em que foi exibido o último capítulo da novela, o ensaio chegou às bancas.

As fotos foram produzidas pelo badalado Klaus Mitteldorf durante três dias em Garopaba, litoral de Santa Catarina, sugestão do fotógrafo. Ali, em meio às dunas de areias alvas e o mar de azul estonteante, Vera estava livre novamente. Como a menina da canção de Caetano. Divinamente nua, em meio a tecidos transparentes na cor rosa que, agitados pelo vento, ora brincavam com seu corpo nu, ora pareciam reverenciar sua beleza estonteante. Klaus conta que a ideia de usar os tecidos vieram da sua imaginação e fantasia, transformando Vera em uma miragem encantadora. Ele ainda relembra a parceria com a estrela: “Tivemos muita interação e o ensaio rendeu muito. Foi tudo absurdamente fácil e natural. Vera é uma atriz e uma pessoa maravilhosa.”

E Caetano, não poderia deixar de ser, esteve presente em mais esse importante momento da vida de Vera Zimmermann, assinando o texto que emoldura o ensaio:

A verdadeira é a Vera.

A divina gata.

A gata das gatas.

"Há alguns anos conheci Vera deixando de ser menina. Pouco depois fiz uma canção de sexo sobre ela. Não gosto de canções de sexo mas dessa, minha, eu gostei. No entanto, me orgulho muito mais de ter conhecido Vera e de manter até hoje sua amizade do que da canção." — Caetano Veloso.

Vera é firme.

De corpo e alma.

Você pode confiar na pele, no músculo, na mucosa, na palavra, na atitude, no sentimento.

Vera é paulista.

Gaúcha alemã.

Mas, pra mim, ela nasceu em Porto da Barra,

Onde a vi pela primeira vez.

Sexo é simples.

Curiosidade: Vera Zimmerman estrelou um dos comerciais mais polêmicos da década de 80. O anúncio das Duchas Lorenzetti, tornou-se icônico por mostrar Vera em nu frontal, por apenas seis segundos, em pleno horário nobre, com o Brasil ainda sob a Ditadura Militar, ainda que agonizante. O frisson provocado alçou Vera às páginas da PLAYBOY, em ensaio publicado na edição de setembro de 1985, com Claudia Raia na capa. Os cliques, a cargo de Bob Wolfenson, amigo de longa data, não poderiam deixar de ser, mostravam a estrela no banho, relembrando o comercial que parou o Brasil.