top of page

XICO SÁ | AGOSTO, 2015



No nosso aniversário de 40 anos, o grande cronista brasileiro

da condição masculina relembra os melhores momento de sua longa história com PLAYBOY


POR JARDEL SEBBA

FOTO DARYAN DORNELLES





1. Onde você estava quando PLAYBOY nasceu, em agosto de 1975? Eu ia fazer 13 anos, estava em Juazeiro do Norte (CE), onde meus pais moravam. Já era um revisteiro, mas não de PLAYBOY, obviamente. Um programa da minha turma da Rua São Luiz era ir para a frente do Cine Eldorado, o grande cinema da cidade, folhear e trocar revistas.


2. Hormônios à flor da pele? Sim, hormônio total. No cinema onde passava pornochanchada tinha um gay chamado Heudes que nos colocava para dentro, e em troca tínhamos de prestar serviços a ele. Tinha um rodízio, até chegarem mim demorava. [Risos.] Era um libido total e uma dificuldade gigante, não só por ser interior, mas pelos costumes mesmo. Na época, para uma punheta às vezes bastava um biquíni de uma revista feminina.


3. Você lembra qual foi sua primeira PLAYBOY? Teve uma que foi muito marcante, a da Denise Dummont [agosto de 1980]. Eu já tinha um puta tesão por ela, aquela coisinha mignon, linda. Ela era uma tara de caras esquisitos, era bonita, estrela da TV, mas não necessariamente uma gostosa. PLAYBOY consolida Denise também como gostosa — o que foi o papel da revista ao longo desse tempo, levar a gostosa mais óbvia mas também consolidar as que estavam a caminho disso. E essa concretiza pela primeira vez o meu sonho da PLAYBOY própria, e ali passa a ser um hábito.


4. Tem alguma foto clássica que ficou na sua memória? Várias. O ensaio da Alessandra Negrini [abril de 2000], Lapa, eu acho o grande ensaio de PLAYBOY, um dos maiores tesões de todos os tempos. E conhecer e conviver com uma capa de PLAYBOY estabelece todo um diálogo maluco. Por exemplo, eu trabalho com a Maitê Proença. Não tem como olhá-la sem ter em mente a PLAYBOY dela [fevereiro de 1987]. Há um diálogo esquisito, que eu acredito que seja do homem brasileiro em geral, não só de quem trabalha em TV. Com a Negrini foi a mesma coisa. Quando eu a conheci, namorando Otto, meu amigo, fui direto para a PLAYBOY dela. Depois é que eu fui vestindo a roupa. [Risos.] É uma mitologia mesmo, uma mitologia nacional, uma mitologia importante nas nossas vidas.


5. E além dela? O ensaio todo da Sonia Braga [setembro de 1984] e da Claudia Ohana [janeiro de 1985], que é um clássico. A Xuxa [dezembro de 1982] é genial. A Maitê é um clássico também. A Adriano Galisteu [agosto de 1995] do Prestobarba é uma foto inesquecível. E Luciene Adami [janeiro de 1991], na época Pantanal, fez uma grande PLAYBOY.


6. Você tem capas de PLAYBOY no currículo? Cara, tenho, mas sempre dentro da minha tese de que se a mulher foi capa de PLAYBOY e você teve um desejo por ela sem limites, ela pode ter 100 anos que, se eu ficar com ela, para mim estou com a minha capa de PLAYBOY. Nesse sentido tenho, peguei depois, e o desejo era esse, a tara era essa.


7. Qual foi a grande transformação que PLAYBOY trouxe para o seu universo? Como cronista, eu busco muito a observação da transformação do corpo, do que é o corpo hoje e do que já foi, e esse histórico está todo em PLAYBOY. Por exemplo, quando escrevo sobre tamanho de peito. Peito pequeno era a maior tara do mundo em PLAYBOY, e depois virou quase uma obrigação o peito grande na revista. PLAYBOY tem esse histórico, está tudo lá.


8. Qual fase da revista te agrada mais? A gente é muito nostálgico precocemente, mas eu gostei muito dos anos 1980, porque eu já tinha a minha PLAYBOY própria, foram os anos de ouro. Mas, se buscar fora dali, vou lembrar da Nanda Costa [agosto de 2013], da Negrini, da Isabel Fillardis [novembro de1996]. Mas a década de 80 conversa como meu histórico de formação de homem.


9. Alguma mulher te surpreendeu muito? A Luma de Oliveira [setembro de 1987], embora eu já a achasse um tesão, foi uma dessas PLAYBOYs por quem eu não tinha uma tara, e a revista me fez ter. Outra com quem também aconteceu isso foi a Monique Evans [julho de 1985], depois do ensaio passei a ter por ela um tesão sem tamanho. A Luciana Vendramini [dezembro de 1987] foi uma das invenções da revista que eu cultuo até hoje, ela é incrível, linda, elegante, maravilhosa. A Ana Paula Oliveira [julho de 2007] foi uma PLAYBOY muito importante para os costumes do país. O mundo do futebol é mais machista do que o resto da sociedade, e a revista desmitifica e erotiza, bota na cabeça do torcedor que ela pode ser gostosa e estar ali, correndo em campo com abunda para a torcida.


10. Fora as mulheres, lembra de alguma entrevista de que gostou muito? Consigo lembrar infinitamente mais das mulheres. Mas a de Lula [julho de 1979] é uma puta entrevista, a do Romário [março de 1995] é sensacional, e a do Gilberto Freyre [março de 1980] eu usei muito no livro de crónicas Modos de Macho e Modinhas de Fêmea. Uma belíssima entrevista, ela foi guia não só no livro, mas na minha vida como cronista.

11. Que mulher valeria muito a pena ver de novo? A Negrini valeria muito um revival. A Maitê também. Convivo com ela, sei quanto vale. [Risos.]


12. Você guardou suas PLAYBOYs? Eu sou um recomprador. Essa da Monique Evans eu recomprei outro dia. A gente acaba jogando fora nas mudanças. Sonia Braga eu recomprei várias vezes. Uma revista dessas é uma viagem muito interessante, que aconselho a todos os homens. Você refaz a trajetória de como via as mulheres, faz um mapeamento incrível da história. A da Roberta Close [maio de 1984] também recomprei.


13. Roberta Close foi emblemática para você? Foi sensacional, porque havia uma tara ambígua. Tem uma negociação mental como desejo. O cara pensa: "Sou gay se levar um travesti pra cama? Vou ser mulher ou sou ser homem?" Tem essa dualidade, mas há uma tara gigante nisso no Brasil, por isso o sucesso da revista da Roberta Close.


14. Você tinha tara nela? Total, com pau, sem pau, do jeito que fosse. Nisso estamos mais caretas. Uma transexual hoje talvez não tivesse essa celebração toda. E eu queria muito ver a Lea T. em PLAYBOY, ela é linda.


15. Você lembra de ensaios que te deram um tesão louco? A Sabrina Sato [maio de 2003] me despertou esses instintos mais primitivos. Para gastar a revista, para as vias de fato, para ir para a ação. Eu já a tinha visto, mas não como PLAYBOY mostrou. Era como se tivesse me assustando com minha primeira PLAYBOY, de tão foda que foi.


16. Você a encontrou depois? Sempre quem pega é um amigo, né? O João Vicente, que faz comigo o Papo de Segunda, da GNT, namorou com ela. Para ajudar, tive uma namorada na época que, até onde sei, não tinha história com mulher, mas, do nada, começou com uma tara maluca por ela também. Virou um case caseiro "playboyzístico", todo mundo pegou a Sabrina lá em casa.


17. Você tem lembranças boas de mulheres não tão famosas? As gostosas dos escândalos. A amante de PC Farias, lembra dela? [Wanya Guerreiro, junho de 1992.] No meio daquela pularia toda, fui entrevistar PC Farias e ele estava orgulhoso dos amigos saberem que ele estava comendo aquela gostosa. Lembro de uma funcionária dele na hora comentando que as crianças que estudavam com os filhos dele em Maceió levaram a PLAYBOY para a sala de aula. Na sociedade local, isso foi mais forte do que o próprio escândalo. Eu estava lá com o PC na hora em que isso virou um assunto de família, e um assunto complicado. Os alunos levaram para constranger os meninos e conseguiram. Os melhores escândalos são sempre os que têm mulheres gostosas, então esse capítulo da história de PIAYBOY é muito importante. Hoje você não tema gostosa do petrolão, do mensalão petista, do mensalão tucano ou do trensalão de São Paulo para fotografar no metrô. Podia colocar uma toda suja de óleo da Petrobras, mas não tem... [Risos.]


18. Quem seria a sua capa de 40 anos? Seria alguma mulher escolhida pela curiosidade que despertaria. Algo como Patricia Poeta, Renata Vasconcellos, uma mulher de um ramo mais sério, do telejornalismo.


19. PLAYBOY fez de você um homem melhor? Não só homem melhor, mas até um cronista melhor, por escrever sobre mulher, pensara mulher, tomar um gosto até exagerado pelas mulheres... [Risos.] PLAYBOY me deu uma noção muito importante da luxúria. Sou um velho rapaz do interior, sem dinheiro no bolso, que depois construiu uma trajetória. Homens como eu são muito agradecidos à PLAYBOY nesse sentido.


20. Cometemos injustiças ao não citar alguma capa nesta entrevista? A da Juliana Alves [outubro de 2009] é inesquecível. A PLAYBOY da Mara Maravilha [fevereiro de I990] também é fantástica. E Isadora Ribeiro [janeiro de 1988] eu não posso deixar de citar, recomprei pra caralho essa edição!


200 visualizações0 comentário

Comments


bottom of page