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CHARLES III

Perfil



Ele sempre amou como um príncipe

O futuro Charles III sobe ao altar com a missão cumprida: um cortejo de 50 mulheres ocupou o seu coração de ouro


Por GERALDO MAYRINK


Foi a derradeira viagem sentimental do príncipe Charles, o último amasso no portão, o adeus à boa vida. Numa manhã de novembro último, ele saltou do trem real onde passara a noite, estacionado num desvio a 100 quilômetros de Londres, e tomou o rumo do Castelo de Windsor, a mais fechada das sete residências da família real, para uma conversa a sério com seus pais. Estava com 32 anos, disse, e há pelo menos dois envolto em funda depressão. Queria casar. Já tinha uma candidata, mas não a certeza dos sentimentos dela. Mamãe não poderia, por favor, convidá-la para a passagem do ano em Sandringham, outra das residências reais, e ajudá-lo a convencer a moça de que ele, Charles, futuro rei da Inglaterra, era mesmo um bom partido? Sim, mamãe podia. E assim foi feito.


A alegria da rainha Elizabeth só foi perturbada quando os jornais publicaram que Charles passara a noite no trem justamente com a futura princesa, Lady Diana Spencer, então com 19 anos. Numa atitude sem precedentes nas suas três décadas de reinado, ela exigiu que os jornais desmentissem a notícia da noitada no desvio. Não foi atendida. "Como eu gostaria que vocês fossem embora!", desabafou num recado aos jornalistas que se apinharam em Windsor. Também não foi atendida. A rainha estava nervosa, mas não estava sendo sincera. Neste fim de mês, quando Charles finalmente dependurar as chuteiras, haverá não menos que 2.000 jornalistas na monumental cerimônia matrimonial de sete horas de duração, transmitida ao mundo por 60 câmaras da BBC. Realeza é showbiz. Todos os parentes e antepassados de Charles sempre souberam disso.


Para o gosto inglês, a festa será no mínimo impressionante. De um lado, o futuro Charles III, 21.º Príncipe de Gales, Conde de Chester, Duque de Cornuália, Duque de Rothesay, Conde de Garrick, Barão Renfrew, Lorde das ilhas e grande administrador da Escócia, Cavaleiro da Mais Nobre Ordem da Jarreteira, Cavaleiro da Mais Antiga e Mais Nobre Ordem do Thistle (a Jarreteira escocesa); Grande Mestre e Principal Cavaleiro Grande Cruz da Mais Honorável Ordem do Banho. De outro lado, Lady Di, ou Diana Frances Spencer, terceira filha de Edward John, visconde de Altharp e herdeiro do sétimo Conde Spencer, e Frances Ruth Burk Roche, filha mais nova do quarto barão de Felmoy. Do lado de fora da igreja, 2,5 milhões de desempregados. Quem se importa?


Abatido, o deputado William Hamilton, que há anos prega solitariamente o fim da monarquia, estará vendo a cerimônia pela televisão. Em 1936, quando Eduardo VIII, depois duque de Windsor, abdicou do trono pelo amor de Wallis Simpson, uma divorciada, metade da Inglaterra opinou que aquela seria uma boa ocasião para que o país renunciasse também ao seu apego à monarquia. Em 1969, quando Charles completou 21 anos, 86% da população da ilha achava que a monarquia era uma boa coisa. A aprovação à realeza atingiu nas semanas anteriores ao casamento espantosos 95%, cifra só comparável, por exemplo, às eleições de hoje em certos países do bloco socialista, que nos últimos 60 anos dizimaram suas famílias reais. Tempos atrás, com uma ponta de inveja, o ex-rei Farouk, do Egito, disse que "no fim só restarão os quatro reis do baralho e o rei da Inglaterra".


A monarquia britânica não apenas sobreviveu como se fortaleceu, muito embora algumas pessoas acreditem que ela não exista na vida real. O verdadeiro Teatro Nacional Britânico, dizem essas pessoas perfidamente, não está localizado na margem sul do rio Tâmisa, como os guias turísticos erradamente informam. O verdadeiro Teatro Nacional Britânico está encastelado nas cerimônias de Estado, com seus esplendores ancestrais e fantasmas em roupas de gala. "Por mais que Charles tente", disse o ácido escritor Malcolm Muggeridge, "a monarquia está cada vez mais distante da realidade, ficando portanto cada vez mais engraçada para as pessoas comuns." Não se pode tocar na tradição da monarquia, assim como não se pode tocar nas múmias. Acrescenta o cruel historiador Anthony Sampson: "Se alguém encostar na tradição, a monarquia se esfarela".


Charles nasceu marcado para casar: pelo menos uma dúzia de princesas destronadas lhe foi oferecida

É preciso levar em conta estas características para compreender a dificuldade e a grandiosidade do gesto do príncipe Charles depois de sua noitada no trem. Nos últimos dez anos, ele teve romances ou casos com cerca de 50 mulheres, um número modesto para quem era considerado o mais cobiçado solteirão do mundo. Mas ele, como todos os futuros reis que o precederam, nasceu para casar. A rainha não queria, de jeito nenhum, que se transformasse num novo Eduardo VII, que só assumiu o trono aos 59 anos, já avô, em 1901. Eduardo VII reinou nove anos em estado de embriaguez e mantendo romances com mulheres casadas, que levava para o palácio, sob o quieto sofrimento de sua mulher, a princesa Alexandra. Eduardo VII, ou "Bertie", tinha porém contas astronômicas a acertar com a vida, especialmente com sua mãe, ninguém menos que a lendária rainha Victoria, que viveu 82 anos e ocupou o trono por 64, recusando ao filho qualquer contato com os negócios da coroa. "Bertie" sofreu como ninguém o longo período que se chamou "era vitoriana". Desesperado e infeliz, afogou suas mágoas em licores e braços plebeus, produzindo pouco antes da morte da rainha, durante cerimônia numa igreja, notável frase de finíssimo humour inglês: "Sou um homem piedoso, não temo o Pai Eterno", disse ele. "Mas sou o único homem da nação aflito com sua mãe eterna".


O próprio Charles pode ter um castigo assim. A longevidade das mulheres da casa de Saxe-Cobrug-Gotha (hoje Windsor) é formidável (a rainha-mãe, Elizabeth, avó de Charles, vai muito bem de saúde e nos seus 80 anos). Na melhor das hipóteses, espera-se que Elizabeth II, ao completar 65 anos (e Charles 42), renuncie, mas o assunto é tabu no Palácio de Buckingham. Como foi a rainha quem disse não desejar para o filho a mesma provação de "Bertie", espera-se que cumpra a sua parte. Enquanto isso, Charles irá se aperfeiçoando na sua vida de casado.


Preparou-se para ela com dedicação. Pelo menos uma dúzia de princesas sem trono foram escaladas para casar com Charles, sem que ele jamais tivesse qualquer tipo de relacionamento com elas. O mais velho dos quatro filhos reais, Charles foi um menino tímido que aos quatro anos já exigia ser tratado de "príncipe". Pregou rótulos de "Reservado" nos 30 banheiros do Palácio de Buckingham e aos 9 foi descrito pelos jornais como "gorducho e pouco brilhante". Chorou muito, disse seu falecido tio, lord Mountbatten, e passou anos de cabeça baixa, provocando grande inquietação em seus tutores. Um deles, Rab Buthler, que foi mentor de Charles em Cambridge, disse que o futuro rei tinha "um curioso e paradoxal hábito de se portar em certas ocasiões como se fosse nosso inferior socialmente, e não o contrário".


A impensável tragédia familiar de ter um rei humilde só começou a ser afastada na adolescência, quando Charles foi mandado para a escola de Cheam, onde seu pai estudara. Cheam se orgulha, ao contrário de todas as escolas, de produzir rapazes felizes mais que estudantes brilhantes. Mas Charles não era feliz. Arrumava sua própria cama e recebia de casa uma mesada que chamou de "miserável". Para aumentá-la, vendeu autógrafos — um pecado mais leve que os de seus antepassados, que vendiam título de nobreza e transformaram as 150 famílias "uras", de antes da Revolução Industrial, numa pequena multidão de viscondessas e baronetes. Charles foi o capitão do time de futebol em Cheam, terminando o ano — e a carreira futebolística — com um saldo de 4 gols a favor e 82 contra.


Entrou num bar pela primeira vez aos 14 anos, no intervalo de uma corrida de barcos com sua turma, já em outra escola, Gordonstaun. A história apareceu nos jornais no dia seguinte e o príncipe Phillip, furioso, emitiu um notável juízo que durante anos envenenou seu relacionamento com os profissionais da imprensa: "Deus nos livre desses abutres sangrentos!" Charles, ao contrário, não se importou. Estava crescendo e perdendo a timidez. Aos 19 anos, já em Cambridge, foi beijado em público pela primeira vez por Cynthia Buxton, filha de um famoso naturalista inglês e amigo da família, Aubrey Buxton. Charles, um a zero.


Daí para a frente surgiu o mito do Maior Partido do Mundo. De tímido, passou, então, a ser rígido, pomposo e às vezes impertinente. Agrediu um oficial da Marinha que se dirigiu à sua mãe de maneira abrupta. Foi, porém, no mínimo grosseira a maneira como se referiu a Tricia Nixon, filha do então presidente americano: "Ela é muito artificial, de matéria plástica". Nixon, na verdade, tentara uma abordagem ao príncipe em favor de sua filha de maneira tão sutil como a que empregaria depois em Watergate, arrombando portas. Forçou o casal a passar uma tarde toda junto sem que os dois trocassem uma palavra, por absoluto desinteresse mútuo. Justiça seja feita: o casamento de Charles com Di parece ser o primeiro, de todos os dos príncipes de Gales, que não foi arranjado.


O beijo de Cynthia foi o sinal mágico. O príncipe, enfim, era um homem. As garotas gritavam na sua presença como se ele fosse um cantor de rock e Charles, solidamente envolto em sua deselegância, com suas calças de supensórios no meio da Londres de minissaia, era um anacronismo adorável. Ele era visto em público com mulheres casadas, como Farrah Fawcet, ou tidas como vulgares como Susan George, atriz de pouco sucesso mas de beleza considerável para uma comunidade hippie. Inevitável, porém, era o desfile real à sua porta. Muitos — especialmente o príncipe Rainier e a princesa Grace, de Mônaco — sonhavam vê-lo casado com a princesa Caroline, com quem Charles se encontrou uma única vez, banindo maus pensamentos da sua cabeça. Caroline é católica, e Charles está proibido desde 1689 de casar com uma católica. Ainda assim, teve um romance com outra católica, a princesa Marie-Astrid de Luxemburgo, em 1977. Acabou falando a respeito: "Se caso com ela, estou perdido. Não vou me sacrificar neste altar". O futuro chefe da Igreja da Inglaterra e Defensor da Fé voltaria a tocar no assunto no ano passado, quando explicou a jornalistas na Índia: "Vocês podem viver com uma moça sem casar com ela. Eu não posso".


Charles rendeu-se ao seu "terrível destino": ir namorando as plebéias, proibido de casar com elas

Portanto, Charles entregou-se de corpo e alma ao que uma vez chamou de "meu terrível destino" — ser rei. Conservador por educação e temperamento herdado da mãe, não tem a menor intenção de mudar leis e, impedido de casar com católicas e plebéias, foi namorando todas, amparado por um confortável bloqueio superior. De Cynthia Buxton, Charles saltou para os braços de sua irmã Lucinda Buxton, iniciando o hábito de namoro em família que culminou com lady Sarah Spencer, irmã de Diana e sua futura cunhada. Ela não gostava de Charles e declarou que se fosse pedida em casamento diria "não". Lady Leonora Grosvenor, filha do duque de Westminster, teve palavras duras para com o príncipe, depois que ele faltou a um encontro: "Ninguém me trata assim, nem mesmo você". Sua irmã, lady Dane Grosvenor, namorou porém sem dizer nada. Lady Victoria Percy, filha do duque de Northumberland, e sua irmã lady Caroline Percy dividiram igualmente em silêncio as atenções de Sua Alteza. Enfim, lady Charlotte Manners, filha do conde de Rutland, e sua prima Elizabeth "Libby" Manners, saíram com o príncipe em dias alternados, em 1978, provocando um certo mal-estar entre os colunistas da vida real, que não sabiam qual das duas era mais candidata ao trono.


Charles, o solteirão amado, ocasionalmente mandava pedir aos jornalistas que compreendessem a sua "situação especial". É compreensível. Até terminar seu longuíssimo serviço militar nas três armas inglesas, aos 28 anos, o príncipe não teve muito tempo para namoro, pois estudava ou viajava a serviço da Coroa até 18 horas por dia. A Marinha era o que mais o agoniava. Numa parada nas Bermudas, ele reclamou que as viagens pareciam não ter fim e que era muito difícil levar mulheres a bordo sem que a tripulação soubesse. Era uma situação penosa pois o próprio príncipe declarara-se um "sentimental", um homem "que se apaixonava facilmente". Com tanta facilidade para o amor, apesar da falta de tempo, não foi surpresa quando Charles passou férias no Caribe com Amanda Knatchbull, neta de lord Mountbatten e portanto sua própria prima. Janes Ward, secretária do clube de pólo freqüentado pelo príncipe, era divorciada e, ao contrário da maioria, sabia não ter nenhuma chance de chegar perto do trono. Por isso contou a quem quisesse ouvir seu namoro com o príncipe Charles. Sabrina Guinness, herdeira da famosa cervejaria, estava no ranking durante um par de corridas em Ascott, ao lado do príncipe, mas desapareceu na poeira depois que Camilla Parker Bowles, filha de lord Ashcombe, convenceu Charles a não mais atender seus telefonemas ou responder suas cartas. Camilla, hoje casada com Johnny Haskett, irmão de lord Ashkett, é íntima da família real e integrante de um "comitê privado" que faz a listagem final dos nomes aceitáveis para Charles, no qual o de Lady Di estava bem no topo.


Deste "comitê" também faz parte Dale Tryon, hoje casada com lord Anthony Tryon, e que em solteira tinha o selvagem apelido de "Kanga". Nascida na Austrália, era cicerone e anfitriã do príncipe quando ele visitava o país. Lúcia Santa Cruz, contemporânea das irmãs Buxton em Cambridge e filha do embaixador chileno em Londres, manteve um romance discreto mas relativamente longo (três anos), encerrado em 1972. Em 1974, porém, os ingleses levaram um susto quando souberam que Laura Jo Watkins, então com 20 anos e filha de um almirante americano, voara de San Diego, sua cidade natal, para Londres, a convite do príncipe. Pensou-se, então, que iria se repetir a grave comoção de 1936, quando Eduardo VIII renunciou por causa de Wallis Simpson — também de San Diego e que o rei conhecera na base naval da cidade. Charles conheceu Laura Jo numa recepção a menos de 3 quilômetros da mesma base. Com seus cabelos cor de mel e um olhar de admiração, Laura Jo ouviu então o príncipe Charles discursar para uma sonolenta Câmara dos Lordes a respeito da necessidade de aumentar as horas de lazer na sociedade, "indistintamente para todos". A festa para a qual Charles convidara Laura, porém, foi adiada, pois no fim da tarde morreu um tio-avô do príncipe, o duque de Gloucester. Depois do velório, o príncipe permaneceu de plantão no palácio Laura Jo foi consolá-lo, desaparecendo do noticiário nos dias seguintes.


Compreensivelmente, os assessores de imprensa de Buckingham começaram a se cansar destas coisas. Foram eles os encarregados de distribuir notas que numa pontualidade maníaca procuravam banir insinuações, interpretações, especulações e — por que não? — até mesmo notícias. Não, disseram eles, o príncipe não mantinha qualquer relacionamento com Fiona Mackessack, estudante londrina de arte dramática, nem com Rosaleen Bagge, australiana de sangue azul, nem com Jane Priest, manequim. Igualmente não conhecia lady Sarah Worsteland, Jocelyne Rouleau, Penélope Eostwood ou a princesa Elizabeth da Iugoslávia, embora todas essas damas tenham sido fotografadas, em ocasiões diversas, ao lado do príncipe. Jane Priest, por exemplo, roubou um beijo do atônito príncipe na praia de North Cottoesloe, Austrália, diante dos fotógrafos, e depois relaxou posando à vontade para PLAYBOY (dezembro de 1980).


Angelika Lazensky, condessa tcheca que passou férias com o príncipe no Palácio de Balmoral, provocou a ira de Buckingham ao declarar a um batalhão de jornalistas: "Sim, estive com o príncipe. Ele é a pessoa mais charmosa que conheci".


A SOMBRA QUE SEGUE O PRÍNCIPE

James Whitaker é um privilegiado. Trabalhando para o jornal Daily Star (circulação de 1.400.000 exemplares) com a única função de seguir o príncipe Charles onde quer que esteja, ele realizou o sonho de quase todos os ingleses, viajando pelo mundo e freqüentando castelos e recepções como se fosse um daqueles personagens sobre os quais escreve. Nesta condição, poucos segredos reais ficaram escondidos de Whitaker, que no entanto — e também como os personagens sobre os quais escreve — faz deles um uso parcimonioso. Ainda assim, publicou alguns num livro de 1978, Charles the Prince of Wales, e num outro, que lançará por ocasião das bodas com Lady Di, Settling Down. Neste, o príncipe aparece na capa ao lado de sua futura mulher, sentado num Rolls-Royce, em cujo teto estão encarapitados alguns dos antigos affairs que sua alteza colecionou pela vida afora. Whitaker, que tem 40 anos, escolheu a sua especialidade por uma única razão: já que como jornalista teria que trabalhar duro, preferiu então escrever sobre gente top, onde pelo menos poderia tomar champanhe em vez de cerveja. Nesta entrevista a Renata Bottini, para PLAYBOY, ele conta algumas de suas experiências ao longo de 14 anos de cobertura da família real.


PLAYBOY — O príncipe Charles gosta de companhia feminina. O sr. diria que ele fez muitas conquistas durante sua carreira como um dos mais cobiçados solteirões do mundo?


WHITAKER — Sim, fez muitas conquistas. Mas começou tarde, sexualmente falando. Não acredito que ele tenha ido para a cama com uma moça antes dos 19 anos. Acredito que a primeira tenha sido Lucia Santa Cruz, mas é impossível dizer com certeza. Estas coisas só podem ser garantidas por quem as fez. Mas, desde então, o príncipe não perdeu tempo. Não estou insinuando que ele seja um tremendo garanhão, mas sem dúvida teve uma porção de namoradas.


PLAYBOY — E elas se aproveitaram disso?


WHITAKER — Nenhuma delas se gaba disso. É excepcional. E é um sinal de grande respeito nenhuma delas ter jamais falado sobre "a noite com o príncipe". Eu sei com certeza que ele foi para a cama com uma atriz chamada Susan George, a quem foram oferecidas meio milhão de libras (quase 90 milhões de cruzeiros) para que abrisse o jogo. Ela não aceitou. Houve propostas deste tipo a umas duas dúzias de garotas com quem o príncipe dormiu, mas o silêncio foi mantido.


PLAYBOY — Embora herdeiro do trono, o príncipe Charles, de vez em quando, precisa sair por sua própria conta. Ele sai do palácio incógnito?


WHITAKER — Ele pode sair dos palácios sem cortesãos à volta, mas não se afasta jamais dos seus guarda-costas. Eles não podem deixar o príncipe se afastar nem ele tenta fazê-lo, pois seria estupidez. Em 1979, depois que o IRA (Exército Republicano Irlandês) assassinou o tio-avô do príncipe, Lord Mountbatten, o esquema de segurança cresceu muito. Os terroristas do IRA telefonaram à família real avisando que o seu próximo alvo era o príncipe. Desde então, o número de guarda-costas de Charles subiu de 8 para 75.


PLAYBOY — Como é possível namorar nessas condições?


WHITAKER — Quando o príncipe sai incógnito, certamente sai por conta dele. Mas pelo menos um detetive está por perto. Ele levou adiante todo o romance com Lady Di desse jeito. Houve meia dúzia de vezes em que eu não consegui localizá-lo. Ele não vai a lugares públicos com freqüência, mas gosta de freqüentar o restaurante Annabel's, onde tem uma sala exclusiva, mas mesmo assim as pessoas não param de encará-lo. De vez em quando desaparece num dos palácios reais, mas não adianta. Gente como eu acaba descobrindo o lugar.


PLAYBOY — O príncipe tem amigos?


WHITAKER — Sim, vários. Mas são discretos e não falam. Claro que os conheço e às vezes consigo algumas informações. Mas são basicamente discretos. Se não fossem, não seriam amigos do príncipe. Compreenda: o próprio temperamento do príncipe o impede de se esconder. Ele odeia ficar parado. Jamais fica sentado lendo um livro e, chova ou faça sol, está pescando, andando a cavalo ou treinando pólo.


PLAYBOY — Quais são os seus hábitos?


WHITAKER — Ele sempre guia seu próprio carro. Tem três: um Austin Martin azul-escuro, um Range Rover verde-garrafa (seu favorito) e um Ford Granada Estate azul-escuro, que está preferindo por consumir menos gasolina. Geralmente ultrapassa os limites de velocidade, mas jamais foi multado (como a princesa Ann, sua irmã, foi). No mais, pilota aviões e fez páraquedismo. Detesta o fumo. Bebe champanhe e vinho branco, e não gosta de chá nem de café. Está se esforçando para manter o peso — 75 quilos (mede 1,75 metro) — porque quando menino comeu tanto bolo que acabou sendo chamado por todo mundo de "gorducho". Nos últimos anos, não engordar se transformou quase numa obsessão para ele.


PLAYBOY — Ele é assim tão vaidoso?


WHITAKER — Está ficando careca. Em 1978, uma clínica de transplantes ofereceu-se para cuidar dele, mas o Palácio agradeceu alegando não ser necessário. Não era verdade. Recentemente, na Austrália, quando molhou os cabelos num banho de mar, deu para perceber isso. Mas não é verdade que esteja usando peruca.


PLAYBOY — Ele tem esperanças de que sua mãe renuncie para que ele suba ao trono?


WHITAKER — Absolutamente não. Sou taxativo sobre isso: a família real não suportaria uma outra abdicação como a do duque de Windsor. Isso ameaçaria o próprio trono.


PLAYBOY — O senhor noticiou o episódio do príncipe com Lady Di no trem real?


WHITAKER — O príncipe Charles estava no trem, mas Lady Di não. Ele pegou o trem à meia-noite, na estação Paddington, rumo ao Oeste do país, e ela ficou em Londres numa festa em honra à princesa Margaret. Saiu as 2h20 da manhã e foi para sua casa, dirigindo o próprio carro.


PLAYBOY — O sr. diria que o príncipe tem um tipo de mulher favorito?


WHITAKER — Louras, mignons, bem vestidas, mas não exatamente na moda. Lady Di é tudo isso. Em parte ela vai se casar com todos nós.


Charmoso e, aparentemente, incansável, Charles continuou a alimentar, também pontualmente, a lista de desmentidos de seus assessores. É possível que, hoje, atarefado com suas bodas, ele não se lembre de beldades como Betina Lindsay, filha de lord Balniet, ou Caroline Longman, filha do falecido editor Mark Longman. Também lady Cecil Kerr, filha do marquês de Lothian, Louise Astor, filha de lord Astor, e Rosie Clifton, filha de um coronel, passaram pela sua vida tão rapidamente quanto Georgiana Russell, filha do embaixador (inclusive no Brasil) sir John Russell e que hoje, casada, é repórter do Vogue. É possível. Mas Charles não se esquecerá de Davina Sheffield, das raras com que se deixou fotografar em maior intimidade (braços dados). Loura, expansiva, espirituosa, Davina acabou expulsa do páreo quando um de seus ex-namorados veio a público dizer que ambos já haviam vivido juntos numa cabana. Ninguém, é claro, pode ter vivido com a mulher do futuro rei da Inglaterra numa cabana. Como uma multidão de leitores também não pode compartilhar dá voluptuosidade de Fiona Watson, outra ex-namorada do príncipe que preferiu aparecer nas páginas de Penthouse que no álbum de família da Rainha.


De todas, Charles talvez guarde as melhores lembranças para lady Jane Wellesley, filha do duque de Wellington, sua conhecida de infância. Tinha pedigree de sobra e, dizem, um QI muitos pontos além do exigido para uma boa mulher de rei. O caso durou pelo menos cinco anos, a partir de 1973, e terminou porque Charles vivia viajando e a imprensa cobrava muito da talvez futura princesa. "Jane era inteligente demais para ficar sentada esperando", diz um jornalista da BBC, onde hoje ela trabalha. "Mesmo pelo rei da Inglaterra."


Como jornalista, talvez lady Jane tenha a missão de cobrir o casamento do príncipe Charles. Todas as outras ex-namoradas, firmes ou eventuais, deverão estar do lado de dentro da igreja, freqüentando o mesmo círculo social da realeza e assistindo, por sua vez, à chegada de Diana Spencer ao altar. O príncipe ansiava sinceramente por este momento. Quando fez 30 anos, recusou-se a qualquer tipo de comemoração. O povo dizia que ele só se interessava por mulheres casadas e era homossexual. Parecia abatido e solitário. Os ingleses, implacáveis na contabilidade de sua realeza, já diziam em toda parte que ele era o mais idoso príncipe de Gales solteiro desde James Stuart, em 1718, afora o seu tio-avô e duque de Windsor, que abdicou aos 40. Quando anunciou o noivado, os ingleses lembraram, com alguma maldade, que já houve uma Diana Spencer marcada para casar com um príncipe de Gales. Nasceu em 1708 e sua avó, a duquesa de Marlborough, estava determinada a vê-la casada com o então príncipe de Gales, Frederick Louis, filho de George II e da rainha Carolina. O príncipe, porém, era tão desprovido de encantos que todos os literatos da corte não encontraram nada melhor para o seu epitáfio do que esta frase: "Pobre Fred, que estava vivo e está morto".


Lady Diana deixou a avó furiosa, mas casou-se com outro. E é ancestral da atual Lady Diana, cuja família é mais britânica que a própria família real e cujos antepassados incluem sir Winston (Spencer) Churchill, Bertrand Russell, nada menos que sete presidentes americanos, de John Adams a Franklin Roosevelt, e os atores Lillian Gish e Humphrey Bogart. Já o príncipe Charles, com exceção dos sete presidentes americanos, tem uma árvore muito mais frondosa. Entre outros, consta que são seus ascendentes figuras tão disparatadas como Maomé e Gengis Khan, Carlos Magno e Shakespeare, El Cid e George Washington, além do conde Drácula.


A rainha já estava desiludida quando aconteceu o milagre: Lady Di, virgem, nobre e desconhecida

Diana veio salvar o príncipe de suas crescentes dificuldades. Ela nasceu e cresceu como se todos os dias de sua vida fossem como uma tarde de domingo. Três de suas ancestrais foram amantes de reis ingleses e a própria Diana, que veio ao mundo no Royal Palace de Sandrigham, residência alugada pelos seus pais à família real, desde pequena teve intimidade bastante com a rainha para chamá-la de "tia". Por questão de idade, era mais chegada ao irmão do príncipe Andrew, e ignora-se a data precisa do estreitamento de sua amizade com Charles. Seja como for, eles há dois anos já freqüentavam a casa que o príncipe tem no centro de Londres, em Highgrove. No meio do ano passado, Charles foi ao Himalaia meditar. Como os reis do tempo da Inglaterra colonial, não ouviu o povo que o vaiava nas ruas nem tomou conhecimento do fato que três pessoas haviam morrido nos tumultos à sua passagem. Quando desceu, notaram no seu rosto "uma estranha calma". Acontecera, finalmente.


Foi nesse estado de graça que Charles embarcou no trem real, naquela noite de novembro, e acordou de manhã para dizer aos pais que finalmente se casaria. Como por milagre, Charles encontrara uma jovem "sem passado" — alguém da mais pura linhagem inglesa e de quem não se sabia nada, sequer se já teve algum namorado de escola. Como em Minas, na Inglaterra também é importante que ninguém saiba o que se passa atrás dos muros. Lady Di submeteu-se ao seu destino — isto é, a um discreto exame ginecológico, revelado pela sua avó adotiva, a escritora Barbara Cartland (que escreveu Noiva para o Rei, em 1979, além de 34 outros livros). "Ela é a própria pureza", disse.


Esse exame é para saber de duas coisas — virgindade e fertilidade. Na manhã de 24 de novembro, quando o anúncio do noivado foi feito para uma Londres gelada de frio, dois detetives chegaram à porta do apartamento de Lady Di, em Chelsea, para começar uma vigília que durará enquanto estiver viva. Perdeu ali o anonimato, a independência, o emprego (como professora, ela é a primeira princesa inglesa que trabalhou para viver) e a identidade. Jamais poderá chamar o marido pelo seu nome cristão em público e, esteja onde estiver, estará um passo atrás dele. Ela e o marido viverão às custas do Estado, mas terá que conversar, até o fim dos seus dias, com prefeitos de pequenas cidades e demonstrar paixão por escolas femininas, cães e cavalos. Declarará coisas abertas para, em seguida, declarar coisas fechadas. Jamais esquecerá um nome. E não poderá nunca — mas nunca mesmo — parecer menos que radiante, graciosa e feliz. Deve valer a pena.


Com a retirada de Charles, está aberto o caminho de outro solteiro cobiçado: o príncipe Andrew

Sem dúvida era com uma mulher assim que o príncipe sonhava. E sem dúvida é com uma posição como a de Lady Di que passam a sonhar agora as namoradas do irmão e talvez herdeiro de Charles, o príncipe Andrew. Ele tem 21 anos, é ator, piloto, músico, orador, marinheiro, solteiro — e futuro rei da Inglaterra. Se Deus quiser.


A FORTUNA DE CHARLES

Quando o inconsolável deputado republicano William Hamilton sugeriu que o casamento de Charles e Diana fosse, como todos os outros casamentos, pago pelos pais da noiva, quase foi agredido no Parlamento inglês. "Quem pensar como a vociferante minoria republicana", esbravejou o conservador Geoffrey Finsberg, "deve acompanhar o sr. Hamilton para fora desta casa." Os ingleses não se cansam de pagar as contas de seus reis. Por isso, quando Lady Di recebeu no dia do noivado um anel de safira e 14 diamantes, encravados em ouro branco, avaliado em mais de 5 milhões de cruzeiros, ela estava dando o passo definitivo para se tornar a mulher de um dos homens mais ricos do mundo.


Ignora-se a extensão dos bens da família real, mas sabe-se que em 1981 a Civil List — o dinheiro público votado no Parlamento para as despesas da Coroa — é de 4 milhões de libras, quase 700 milhões de cruzeiros, cinco vezes mais, por exemplo, que a Prefeitura da cidade imperial de Petrópolis, brasileira, tem para gastar este ano no conforto urbano dos seus 250.000 habitantes. A família possui meia dúzia de Rolls-Royce bordô e 18 outros carros, 7 aviões, 2 helicópteros, o transatlântico Britannia e dois trens, um com 12 vagões e outro com 6, para viagens mais curtas. Charles é possivelmente o maior proprietário da Inglaterra, pois suas terras incluem até mesmo o solo da prisão de Dartmoor e uma criação de ostras no rio Helford. Embora seja muito difícil saber o que é de Charles, estima-se que seus bens não devem ser inferiores a 450 milhões de dólares, cerca de 37 bilhões de cruzeiros. Além disso, ele recebe por ano um salário de 1,25 milhão de dólares ou 102 milhões de cruzeiros, dos quais devolve voluntariamente metade aos cofres públicos. Charles está isento do imposto de renda: se fosse apenas um cidadão inglês comum com um salário incomum, o leão britânico devoraria 60% desse dinheiro.


O poder de Charles não está à altura de sua fortuna. Embora não seja exatamente um desocupado, o futuro rei da Inglaterra não tem o direito de criar leis. Sua função, acreditam os ingleses, é encarnar e incorporar em si uma certa "idéia nacional", sem a qual a sólida democracia do país estaria ameaçada. Três anos atrás, ganhou um importante presente da mãe: o direito de mexer nos seus papéis e freqüentar gabinetes, privilégio de que nem o príncipe Phillip desfruta. Charles já é, na prática, um vice-monarca.


Mas, como se encontra freqüentemente com parlamentares do mundo inteiro, sente-se frustrado pelo fato de seu cargo ser tão explicitamente apolítico. Procura alguma "forma de liderança" e tem se empenhado, como nenhum outro príncipe antes dele, em ser um vendedor da indústria britânica. Nesta condição, ale esteve no Brasil em 1978 e foi visto no subúrbio carioca do Bonsucesso, debaixo de calor infernal, visitando uma fábrica inglesa de lubrificantes. Ele perguntou então aos operários, em inglês, se ganhavam' bem e se moravam perto, mas não obteve resposta. Não se abalou e seguiu impávido em sua programação comercial.


ILUSTRAÇÃO BENÍCIO



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