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PAULA LAVIGNE | AGOSTO, 1998


A senhora Caetano Veloso fala da primeira vez com o marido, corpo, negócios e inveja


POR IVAN MARSIGLIA

FOTOS NANA MORAES

Durante muito tempo, Paula Lavigne foi "a mulher de Caetano Veloso". E o Brasil se inquietava querendo saber com que, afinal, a menina carioca conquistou o baiano de Santo Amaro da Purificação. Hoje, todo mundo sabe quem é, o que faz e do que é capaz Paula Mafra Lavigne, 29 anos, empresária e produtora musical e de cinema. Até o "coração vagabundo" de Caetano apressou-se em marcar território, proclamando "Você É Minha" na canção presente em seu último álbum, Livro.


Desde que, há seis anos, Paula passou a tomar conta das finanças do casal, a família adquiriu um imóvel no East Village, em Nova York, e está pronta para mudar do Leblon para um apartamento mais confortável em Ipanema, no Rio de Janeiro. "Sou organizada, só isso", pisca Paula, modesta. Mas, na verdade, Paula Lavigne sabe muito bem o seu valor. Nativa de Áries com ascendente no mesmo signo, ela nasceu, segundo as estrelas, para comandar: "Sou ótimo general, mas sei ser soldado", diz.


Filha do advogado Arthur Lavigne e da psicanalista Irene Mafra, Paula recebeu uma educação considerada liberal para os padrões brasileiros. Tanto que teve sua vontade respeitada quando, aos 17 anos, decidiu morar com Caetano, 27 anos mais velho. Paula tem uma irmã, Cristiana, de 30 anos, e dois meio-irmãos do segundo casamento do pai, Pedro, 19, e Esperança, 5.


Além de sociedade na Uns, empresa que coordena a produção e a divulgação do marido, Paula tem parte do selo fonográfico Natasha Records, que lançou as trilhas sonoras dos filmes O Quatrilho e Tieta, compostas por Caetano. Ainda administra, ao lado de Renata Almeida Magalhães, mulher do diretor Cacá Diegues, a Rio Vermelho Filmes. "Não entendo nada de cinema", avisa ela. "O que faço é business."


Paula Lavigne conversou com o editor de PLAYBOY Ivan Marsiglia numa rotisserie do Leblon. Diante da beleza e da determinação de Paula, dá para entender o zelo nos versos de Caetano: "Ninguém se atreva, porque nós dois somos um time campeão".





1. Das músicas que Caetano lhe dedicou, de qual você gosta mais? Não gosto de nenhuma. Gosto das que ele fez para as outras [ri]. A que ele fez para a Sônia Braga, "Trem das Cores", é linda. Aquela, antiga, para a Dedé [Gadelha, primeira mulher de Caetano], "Qualquer Coisa", também. E a que ele fez para uma menina da Bahia, "Você É Linda", então! As minhas acho mais ou menos. Até quis negociar, sabe? Falei para a Vera Gata [a atriz Vera Zimmermann, para quem Caetano compôs "Vera Gata"]: "Vamos trocar?" [Risos.]


2. Como você o conheceu? Conheço o Caetano desde os 13 anos. Eu tinha um grupo de teatro com a peça Capitães de Areia, e Caetano foi assistir. Ele adorou o grupo todo e ficou chamando a gente para ir ao show dele, ficou meio amigo da rapaziada, entendeu? Era eu, Alexandre Frotta, Maurício Mattar, Felipe Camargo, Malu Mader... Se você vir uma foto do elenco, 98% das pessoas deram certo. Daí a gente foi ficando amigo. E com 15 anos eu já tinha mais alguma coisa com ele.


3. Namoro ou amizade? Quer dizer, ele era casado. Eu era meio... Sei lá, namorada dele. O Caetano era muito galinha na época. Não tinha compromisso, mas a gente se gostava. Enfim, perdi minha virgindade com ele. Aí foi ficando, né? Sabe a música "Você É Minha"? Ele fala que, logo que me conheceu, sentiu algo diferente, um carinho. Não é uma história de paixão, é mais como a outra música [cantarola]: "Então tá combinado, é quase nada, é tudo somente sexo e amizade..."


4. Como foi a primeira vez em que vocês transaram? [Levanta as sobrancelhas e sorri.] Ah, foi ótimo. Mas não vou contar porque aí sim vai ser bom negócio para PLAYBOY, que vai vender mais revista... Só posso dizer que foi na festa de 40 anos dele. Foi presente de aniversário. Mais não vou contar. Meu pai me ensinou a ser discreta. [Pausa.] Já falei demais.


5. Seus pais nunca se incomodaram por você se envolver com um homem mais velho? Meu pai nunca nem falou nesse assunto. Só dizia que confiava em mim. Isso é a maior arma: ouvir que ele confia em você. Ele devia escrever um livro sobre como educar um filho [ri]. Tem um lado mineiro, de não falar as coisas, que surte muito efeito. Mas, veja: com 15 anos eu tinha contrato na Globo e cachê mais alto que o do Felipe Camargo. Era uma coadjuvante ganhando mais que o protagonista. Tem uma história engraçada: minha mãe tem um relatório do colégio e eu, com 7 anos... [Falando consigo mesma:] Como vou contar isso? [Ri.] Pegava a minha irmã e cobrava para ela levantar a saia para os meninos olharem. Eram 10 centavos a bunda e 20 a frente. [Risos.]


6. Você dava uma porcentagem para ela, pelo menos? Não dava nada pra ela! No máximo, um lanchinho [risos]. Até que ela se irritou com aquela exploração e não quis mais. A professora notou que eu descia da sala e já tinha um monte de garotos esperando na porta. Para onde eu ia no recreio era uma multidão de meninos atrás de mim. Minha mãe me confessou que achou muita graça, mas nunca me reprimiu. Então sempre tive jeito para os negócios. [Risos.]


7. É verdade que sua administração multiplicou por seis o patrimônio do Caetano? [Sorri.] Tem uns folclores... Na verdade, o que acontecia com o Caetano é que o dinheiro não chegava até ele. Me lembro que ele ligava para a Tia Léa [a empresária Léa Millon] e pedia: "Tia, tem um dinheirinho aí para eu fazer não sei o quê?" A Tia Léa é ótima pessoa, sempre tomou conta das coisas dele. Mas eu não ia conseguir viver uma vida assim, tendo que me submeter a informações de outros. Comecei a organizar as coisas. A Ivone [Salgado], nossa produtora, está lá para fechar os shows. Se você for falar de imprensa, tem a Gilda Mattoso, a secretária particular dele é a Virgínia Casé. Eu faço o que ele não tem paciência de fazer, que é ser a pessoa que dá a última palavra.


8. E a carreira de atriz, você abandonou de vez? Até segunda ordem, sim. Mas não vou dizer: "Nunca mais". É bobagem botar culpa no papel, ou no diretor, mas o fato é que não me senti bem adaptada ali. Entrei em crise. Não me gostava no vídeo. Odiava fazer televisão. Até que a [autora] Glória [Perez] me deu um papel diferente de todos os que já tinha feito, em que eu era "a" gostosona. Porque até então tinha vergonha da minha bunda, do meu corpo.


9. Sério? Só na tela ou também na vida real? Na vida real. É verdade! Eu fazia a linha chique, sempre botando roupa larga. E a Glória teve essa sacação. Se agora PLAYBOY está aqui me entrevistando, é tudo culpa da Glória. Ela falou: "Vou fazer um papel para você mostrar todos os seus dotes". Achei que fossem meus dotes de atriz [risos]. Aí ela fez a Soninha Contratempo, que era uma safada, uma gostosa de subúrbio, toda espevitada. Foi a única novela [Explode Coração, em 1996] que fiz me divertindo.


[Até a novela Explode Coração] "eu tinha vergonha da minha bunda, do meu corpo"

10. Você acha que as críticas ao seu trabalho como atriz eram direcionadas mais "à mulher do Caetano" do que à Paula Lavigne? Acontece o seguinte: eu não era muito boa, mas se não fosse mulher do Caetano não haveria tanto espaço para falar mal de mim. Porque nem condizia com o tamanho dos papéis que fazia. Pensa aí, sei lá, alguém que faz um papelzinho secundário na novela das 7. Você não vê colunista importante falando dessa pessoa. A não ser que ela tenha algo a mais. Eu tinha: era mulher do Caetano.


11. Agora que você descobriu vocação para os negócios, que dica de investimento daria para o leitor de PLAYBOY? [Ri.] Eu não gosto muito de dar dica. Mas, vejamos, para as leitoras: invista no seu corpo. Pode render. Ué! Você pode vir a ter uma boa proposta para fotografar nua...


12. E você, investe na forma física? Sempre tive esse corpo, só que não aparecia. Depois, tive o primeiro filho com 22 anos e engordei 26 quilos. Me lembro chegando em casa, toda costurada, e o Caetano: "Nossa, acho que você embarangou para sempre!" [Risos.] O Caetano é cruel! Aí pensei: "Assim não vai dar para ficar". Eu já fazia alongamento, balé, aquelas coisas, mas tinha que ser um plano de emergência. Saí que nem louca procurando academias. Hoje em dia faço ginástica todo dia. Pelo menos duas horas. E corro. Costumo subir a Vista [Chinesa, no caminho para a Floresta da Tijuca] todo fim de semana. São 6 quilômetros e meio de ladeira. O Caetano vai com o motorista, de carro, atrás. Bota um CD e vai ouvindo música. Adora, acha lindo. O Caetano é o melhor parceiro para qualquer coisa.


13. E você cuida da sua pele? Toma vitaminas? Cuido. Cuido porque tenho tendência a ter espinha. Não posso passar creme. Só uso produtos oil free. E tomo uns aminoácidos. Tem um negócio agora que se chama HMB, que é um catalisador dos aminoácidos que você tem no corpo. Parece que é superbom. E tomo outras paradinhas dessas. Bomba, não. [Ri.]


14. Essa malhação toda surtiu efeito com os homens? Eles estão olhando mais para você? [Pausa.] Claro que todo mundo gosta. Você é... Não vou dizer assediada, porque não chega a tanto, mas, enfim, elogiada. Sempre ouvi elogios na rua. Por causa da bunda. Em Nova York, por exemplo, ando na rua e só os latinos e pretos mexem comigo. Não sou dessas que se ofendem. Costumo parar, agradecer... No Rio não acontece muito. Até porque todo mundo sabe que sou casada com o Caetano.


15. Ele sente ciúme de você? [Rápida.] Não, não. Acho que tenho mais dele do que ele de mim. Mas eu também não sou ciumenta, não. Para a gente ter ciúme precisa de motivo. Se tiver motivo, aí tenho muito.


16. Já que Caetano não é ciumento, quando é que você vai posar para PLAYBOY? [Pausa.] Não tenho a menor idéia. [Pausa.] Acho que não é um bom negócio para PLAYBOY. Porque eu seria um cachê muito alto, por ser a mulher do Caetano. Me lembro que uma vez fui fechar um cachê para uma novela e o cara perguntou quanto eu estava pensando em ganhar. Falei e ele disse: "Nossa, que absurdo, você está fora da realidade! Isso é só porque você é mulher do Caetano". E eu: "Então chame a mulher de outro". Tenho noção do meu valor. Eu seria um cachê muito alto, enfim, por não precisar de dinheiro, e por não agradar a meu pai essa idéia. Como falei, meu pai não manda em mim. Mas não tenho por que dar um desgosto para ele.


17. À parte então a questão financeira e a familiar, você acha que do ponto de vista visual o resultado seria lucrativo, digamos assim? [Sorri.] Ah, acho que sim. Meu corpinho é direitinho, tá tudo no lugar. Não sou tímida para fotografar, o que também ajuda.


18. Como você imagina esse ensaio? Não tenho essas fantasias. [Pausa.] Na verdade, tenho uma idéia, mas seria complicado. Porque sou muito radical. Nessas coisas, gosto de ir fundo. Não me vejo fazendo caras e bocas, carinha de bonitinha ou a chique nua: aquela que está vestida de preto só com um pedaço aparecendo, atravessando a rua. Se fosse fazer, queria uma coisa escrachada, quase... Quase não, totalmente pornográfica. Mas isso é tão distante... Sei lá!


19. A Paula Burlamaqui, que já foi capa de PLAYBOY, tornou-se sua amiga inseparável. Qual das duas faz mais sucesso quando vocês vão à praia? Ah, ela, claro! Imagina, aquela loura maravilhosa. A Paula tem luz própria. Independentemente de ser muito bonita, tem uma leveza! Ela é aquela pessoa que você pode chamar "do bem", sabe, assim? Ela é muito divertida, muito engraçada, bom astral.


20. E a fama de mal-humorada da Paula Lavigne? É verdadeira? Não sou nada mal-humorada. Mas, por favor, não desminta essa minha fama, porque ela me é muito útil. [Ri.] Na verdade, é como aquele velho ditado: dou um boi para não entrar numa briga e uma boiada para não sair. Quando precisa, sou boa de briga. Sou geniosa, explosiva... E fechada também. Sou... [Hesita.] Eu sou fofa. [Risos.]


PRODUÇÃO BEBEL MORAES E CRISTINA FRANÇA CABELO E MAQUIAGEM TON HILL



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4 Comments


Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
Aug 19

Estranho ela dizer que ganhava mais que o protagonista,deve ser naquela minissérie ''Anos Dourados'' que tinha o casal Malu Mader e Felipe Camargo como personagens centrais.

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Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
Aug 19
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Aliás,o Caetano deve ter gostado muito,mesmo,do grupo de teatro que a Paula fazia parte,há quem diga que Maurício Mattar é o muso inspirador da canção ''Eclipse Oculto'',não sei se procede.

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Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
Aug 19

Os tempos são outros,ela hoje não contaria sobre o ''relatório do colégio'',rs.

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Ademar Amâncio
Ademar Amâncio
Aug 19
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Ela deixa bem claro que quando começa ''namorar'' Caetano Veloso,já tinha 15 anos e,não 13,como Olavo de Carvalho e outros espalharam - Sim,faz toda diferença,fazer sexo com menores de 14 anos configura crime,mesmo quando há consentimento é qualificado como estupro de vulnerável.

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