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GERALD THOMAS | ABRIL, 1995

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com o diretor de teatro sobre triângulos sexuais, muitas mulheres, alguns homens e, antes que alguém pergunte, polêmicas


Onde há fumaça, há Gerald Thomas. E a observação não se aplica apenas aos enevoados espetáculos que esse diretor teatral anglo-germano-brasileiro-americano costuma levar ao palco, quase sempre com reflexos de página inteira nos jornais. Fora do teatro, ele também vive permanentemente envolto na neblina, seja a dos quarenta cigarros "politicamente incorretos" que consome a cada dia. Seja a da queima interminável de idéias que exala sem se importar muito se estão semi-usinadas. Por mais que se deseje fugir do clichê, Gerald vive num palco, entre as polêmicas — e as mulheres. Nada mau, portanto.


Junto com a carreira teatral, ele edificou um currículo amoroso capaz de matar de inveja. Com o coração grande demais para um único amor — e, conforme diz, também com outro predicado desproporcional ao físico quase franzino —, já esteve apaixonado por Bete Coelho, Giulia Gam, Beth Goulart, Daniela Thomas e Fernanda Torres, sua mulher atual, para falar apenas de algumas brasileiras. Discreto sobre as virtude; de cada parceira, é incapaz de enumerá-las em ordem e até de distinguir com quem casou ou apenas teve um envolvimento passageiro. Já se definiu como "adúltero honesto'', do ti o que gosta de "trazer novos parceiros para casa".


Aos 40 anos de idade e 26 de interesses artísticos multimídia — numa trajetória que começou a lápis e pincel, sob a batuta do pintor Ivan Serpa, no Rio de janeiro, foi adiante com genuflexões literárias na biblioteca do Museu Britânico, em Londres, e desaguou num dos mais off-Broadway dos teatros de Nova York, o La Mamma. Gerald Thomas Sievers se expressa, via palco, como liquidificador erudito. Ele junta, por exemplo, o dramaturgo Samuel Beckett com o músico ex-minimalista e seu amigo Philip Glass, acrescentando a ambos um pouco do escritor James Joyce e do filósofo Emmanuel Kant, além de suas próprias impressões existenciais.


Disso tudo resulta uma definição que, na voz de Gerald, dá ganas de enviá-lo ao "Curso Madame Natasha de Piano e Português", celebrizado pelo jornalista Elio Gaspari nos jornais O Estado de S. Paulo, O Globo e Zero Hora: "A descontextualização, aquele momento humorístico, é a coisa mais importante. O fato de o público poder presenciar o que acontece no interior de uma cabeça e se manifesta fisicamente no palco através de vários ingrediente. Quando se consegue uma linha bem especificamente distinta entre o intelectual e o emocional, os dois conseguem ser diferenciados e, no entanto, conseguem correr paralelamente. Isso para mim é a coisa mais importante no teatro. Trazer lembranças humanísticas para a platéia sobre a cultura em todos os sentidos. A cultura humanística, sublime, metafórica, religiosa, monoteísta ou multiteísta. Que a platéia consiga reconhecer a escravidão da qual ela mesma é fruto. Literariamente, religiosamente, em todos os sentidos."


Quem não teve ainda a oportunidade de ver uma das peças escritas, cenografadas, iluminadas, sonorizadas, enfumaçadas e dirigidas por Gerald, já pode fazer uma boa idéia, a partir dessa definição, dos desafios a que ele submete o público. Para esta entrevista, porém — que demandou ao repórter sênior Marcos Emílio Gomes sete horas de conversas com o diretor, em três encontros realizados no Hotel Eldorado Higienópolis, em São Paulo, onde ele ocasionalmente aterrissa em meio à frenética atividade em que está periodicamente envolvido —, o que interessa, mais do que o teatro Gerald, é sua personalidade multinacional, sua extensa lista de conquistas amorosas e sua incrível capacidade de provocar discussão a respeito de tudo.


Gerald nasceu no Rio de Janeiro absolutamente por acaso. Seu pai, o alemão Hans Günther, pedreiro e operário até a II Guerra Mundial, ganhara um emprego de corretor de seguros da Coroa Britânica, por ter colaborado com os Aliados. Viajava a negócios com a mulher, a inglesa de origem judaica Ellen Sievers, quando veio ao mundo o único filho do casal. Sete anos mais tarde, a família mudou definitivamente para o Rio. Mas Gerald voltou para Londres aos 14 anos, sozinho, atrás de informação e sucesso como artista plástico. Trabalhou para a Anistia Internacional, fracassou na primeira grande experiência teatral e partiu para Nova York, onde sobreviveu fazendo ilustrações para o The New York Times até ganhar dinheiro com teatro. Há três anos, naturalizou-se americano, mas se considera, com justiça, um homem sem pátria — ou "um judeu acertante", como gosta de definir-se, juntando suas raízes religiosas à carreira bem-sucedida.


Apesar disso, e também de trabalhar ainda mais transnacionalmente, dirigindo óperas em Viena, Paris e Stuttgart, Gerald enxerga muitos dos problemas mundiais como um legítimo e confesso eleitor democrata americano. Considera a Europa um autêntico mundo velho, treme diante da voracidade econômica oriental e adora aquele cinema de ação de Arnold Schwarzenegger e Jean-Claude Van Damme. "São péssimos atores, mas ficam ótimos na tela, porque o cinema americano corta exatamente aqueles segundos que poderiam revelar a mediocridade", ele explica. "Um ator não é ruim quando diz 'me dá um copo d'água', mas sim quando respira para dizer isso ou quando não sabe o que fazer com as mãos logo depois de falar."


No teatro isso não é possível, naturalmente, e Gerald se destaca por ter trabalhado com elencos mais talentosos, à exceção, segundo sua própria avaliação, de Antônio Fagundes, um "mau ator" — mas um ator importantíssimo na vida do diretor. Foi com Fagundes, em Carmem com Filtro I, que Gerald foi reconhecido como estrela até mesmo pelo La Mamma, que só depois do sucesso brasileiro, em 1985, deu-lhe verba para um trabalho mais ousado em Nova York. Antes disso, ele colecionava montagens de Beckett e Franz Kafka que muita gente tinha vergonha de dizer que não entendeu. Depois, e até no caso de maior sucesso — a peça The Flash and the Crash Days, que levou ao palco do Lincoln Center a atriz Fernanda Montenegro, no começo da década de 90 —, aumentou muito a quantidade de envergonhados.


Quase tudo o que Gerald faz dá discussão, confusão e, sobretudo, notícia. Foram idéias desse diretor que tem medo de baratas e desmaia à toa, em meio a crises de hipoglicemia, levar Gal Costa a exibir os seios no seu último show, acender um cigarro no restaurante Massimo, em São Paulo, na estréia da lei antifumo do prefeito Paulo Maluf, lacrar todas as entradas de luz em um teatro e comprar todo o amendoim da bom-bonnière para evitar barulho durante a exibição de uma peça. Gerald também dispara opiniões desconcertantes sobre o teatro, os críticos e a própria carreira: "Odeio muito do que fiz e adoraria fazer outra coisa." Assumidamente imodesto — e, portanto, "desenvolto", "arrogante" e "indecente", segundo o dicionário Aurélio —, ele só recusa o adjetivo que mais se vê acoplado a seu nome. "Polêmico, eu?", questiona. "Nada disso. Apenas tenho opiniões." Onde há Gerald lhamas, há fogo.


PLAYBOY — Quando mudou para a Inglaterra, aos 14 anos, você já queria ser Gerald Thomas?


GERALD THOMAS — Na época, eu achava que ia ser um grande pintor, o novo Marcel Duchamp. Tive pequenos empregos, para sobreviver, mas sabia que era um serviço temporário, que mais cedo ou mais tarde seria algo de muito importante em algum lugar.


PLAYBOY — E você acha que conseguiu? Existe AT — Antes de Thomas — e DT — Depois de Thomas — no teatro?


GERALD — Acho que existe nitidamente. O teatro no Brasil deu uma aproximada do século XX. A questão da modernidade foi avaliada. E aquele lado da luz ruim, com o ator berrando, foi eliminado ou passou para segundo plano, porque o nível de exigência ficou muito mais alto depois de minha atividade. Sem a menor dúvida. Praticamente acabou aquela sala de jantar, aquela cozinha. Virou muito mais um teatro metafórico, de espaços abstratos. Portanto, a mente se expandiu. No teatro no Brasil e nas óperas na Europa e nos Estados Unidos tive a audácia de trazer a experimentação de volta para um plano oficial. Não mais em buraco de garagem.


PLAYBOY — Você se considera modesto?


GERALD — Modesto? Não. Sou imodesto. Seria uma falsa modéstia me dizer modesto.


PLAYBOY — E gosta de tudo o que faz?


GERALD — Odeio a maior parte das coisas que fiz. Às vezes, durante a realização já não estou gostando. Fiz uma peça que custou 145.000 dólares, durou cinco espetáculos e saiu de cartaz [Saints and Clownes, que teve três apresentações em Hamburgo, na Alemanha, e duas em Lausanne, na Suíça, em 1992]. Metamorfose foi outra que considero ter jogado fora. Mas nunca aconteceu de parar um espetáculo antes da estréia.


PLAYBOY — Preferia ter parado algum?


GERALD — Muitos. Nomes? Malvisto, Malquisto, de Beckett, Teatro I e Teatro II, também do Beckett, Carmem com Filtro I, aqui no Brasil, Metamorfose [silêncio de 5 segundos]. Acho que vou ficar nisso [risos].


PLAYBOY — Mas se não estava gostando desses espetáculos, por que fez?


GERALD — Porque não tem outro jeito. Estou sendo pago, tem data de estréia, a companhia está ensaiando. Mesmo sabendo que vai ser um fracasso não se pode dizer, 145.000 dólares depois: "Desculpa, mas não deu, viu?"


PLAYBOY — Como você reage quando esses fracassos acontecem?


GERALD — Em geral, mal. Fico mal do estômago, do intestino, com insônia. cabeça baixa, olhos pela metade.


PLAYBOY — Você não acha estranho que tanta gente diga que não entendeu seus espetáculos?


GERALD — Não acharia ruim se acreditasse nisso, porque arte tem outro efeito sobre a pessoa, que vai além do mero entendimento. Alguém entende a música de Beethoven? O que isso quer dizer? Quem sabe quais são as notas e as harmonias? No entanto, você não deixa de se emocionar com aquilo. Não acho que arte é entendimento. Quem faz paralelos entre arte e entendimento está partindo de uma premissa tão imbecil que não merece resposta. Se a intenção é entender linearmente, é melhor ir para a rua, que é muito mais interessante. Vai para a Lapa, no Rio de janeiro. Esse é um teatro muito mais coloquial. muito mais real.


PLAYBOY — O que você ainda pretende fazer em teatro?


GERALD — Estou fazendo agora urna adaptação de Hans Christian Andersen [o autor dinamarquês de histórias infantis]. Mas não estou usando os textos dele. Estou usando o que me lembro do que minha mãe contava e do medo que me metiam as histórias de Andersen. É como a Trilogia Kafka. De Kafka tinha muito pouco.


PLAYBOY — E esse também vai ter fumaça e aquelas marcas de Gerald Thomas?


GERALD — Olha: fumaça é um recurso tão usado no teatro quanto a luz elétrica [irritado]. Por que não se espantam com o fato de haver luz elétrica no teatro? Por que singularizam a fumaça? Por que não perguntam se tem figurinos, se tem cenários? Fumaça é usada para fazer o ar ficar um pouco mais condensado e delinear o desenho de luz. Isso é coisa pinçada pela imprensa para dar uma marca registrada a alguém. Não tem um show de rock que não tenha fumaça há pelo menos 25 anos.


PLAYBOY — Você talvez tenha usado um pouco mais do que os outros...


GERALD — Não. Está lá, como qualquer outro elemento de teatro usado por quase todos os outros diretores: luz elétrica, refletores, trilha sonora, figurino...


PLAYBOY — Então, resumindo: o Andersen vai ter fumaça?


GERALD — Não sei [desanimado]. Pode ser que não tenha. Não está ainda nessa fase de concepção. Outra coisa que estou fazendo é um espetáculo chamado Western Union, uma brincadeira com aquela companhia de telégrafo do Velho Oeste. É a história de duas pessoas que, numa época, são índios americanos e, noutra, são cowboys lutando contra os índios que já foram. Depois, em outra época, são dois super-heróis lutando contra os cowboys do passado. Talvez não seja encenada no Brasil. O Andersen é para Copenhague.


PLAYBOY — Agrada a você o rótulo de cult?


GERALD — Me agrada o fato de ter conseguido trazer o teatro de novo para esse ponto, que ele não ocupava no Brasil há muito tempo. Claro que faz bem para o ego. Nada é pior para um artista do que virar mediano. Ser aquela coisa que flutua anonimamente. Seria hipócrita ou imbecil se dissesse que quero fazer meu trabalho anonimamente. Não, claro que não. Gosto de ver cada estréia comemorada como um grande evento.


PLAYBOY — E um sujeito cult tem vida real como as outras pessoas? Coisas como trocar lâmpada, pneu, você sabe fazer?


GERALD — Bem, quanto a lâmpadas. sou iluminador. Mas nunca tive que trocar pneu. Estou no meu sexto carro [um Toyota Celica novo, que dirige nos Estados Unidos]. Dirijo desde os 17 anos e nunca tive um pneu furado. Incrível, né? É tanta sorte que tenho até de bater na madeira [vira-se para o armário a suas costas e bate no tampo com o nó do dedo médio direito]. Já me vejo hoje à noite fazendo isso pela primeira vez [risos].


"Nunca troquei um pneu. Estou no meu sexto carro, dirijo desde os 17 anos, mas nunca tive um pneu furado"

PLAYBOY — Mas a teoria da troca de pneu você conhece?


GERALD — Acho que não sei. Tem uma coisa inflável para botar sob o carro, não tem?


PLAYBOY — Não. Em geral é um macaco mecânico, mesmo. Você nunca foi apresentado a um desses?


GERALD — Não. Nunca tive que usar. Graças a Deus!


PLAYBOY — Mas uma coisa mais doméstica, digamos, pregar botão, você faz, não é?


GERALD — Também nunca preguei botão. Pode ver, tem um botão faltando aqui há anos [vira o cós da calça para o avesso, mostrando a ausência de um dos botões do lado de dentro]. Ainda bem que esse não faz falta, porque tem outro que segura.


PLAYBOY — E quando cair o outro, você joga a calça fora?


GERALD — Jogo. Acho que jogo [risos]. [A essa altura, desiste de uma omelete que pediu junto com uma porção de fritas. As batatas comeu com uma farta cobertura de catchup]. Isso é uma esponja cheia de óleo.


PLAYBOY — Você come sempre tão pouco?


GERALD — Está muito ruim. Não tem nada de ovo aí. Eu deveria comer melhor. Não ligo muito para quantidade, mas gosto de comer bem. Trato cozinha como uma arte. Admiro o Laurent [Suaudeau, dono do restaurante Laurent, em São Paulo] como a um músico, um pintor. Não faço minha comida, mas tenho fixação por algumas coisas. Por exemplo, azeite de oliva, sei onde buscar um biológico prensado a frio, virgem, na Toscana. Adoro um óleo de semente de abóbora torrada que é uma especialidade da Áustria. já fiz a loucura de levar tudo isso para restaurantes. em potinhos, para fazer meti próprio tempero. Mas parei. Era absurdo, completamente doente [risos]!


PLAYBOY — E a Fernanda Torres o acompanha na frugalidade?


GERALD — A Fernanda é completamente maluca. Em restaurantes, ela se cerca de alguns pratos, um arsenal. É magra por maldade pura. São três pratos, que ela defende com uma espada [simula usar um garfo com a mão direita como se fosse espada. Risos]. Evidentemente, apesar disso, a primeira coisa que ela faz quando chega a comida é experimentar a dos outros e ficar com inveja imediata frisos".


PLAYBOY — Como começou o relacionamento de vocês?


GERALD — Ambos se interessaram. Num intervalo das apresentações da peça Flash and Crash, voltei para minha casa em Nova York enquanto ela foi ver um ex-namorado em Londres. Era Ano Novo e ela estava muito triste. Através de conversas e faxes, a gente se aproximou de maneira extratrabalhista. Na volta, claro que estávamos com uma cumplicidade muito maior. Quando esse canal está aberto, pouquíssimos fatos são necessários para o relacionamento finalmente acontecer.


PLAYBOY — Ela não é a primeira mulher que você conquista durante o trabalho. O que acontece? Pinta envolvimento durante os ensaios?


GERALD — Pinta, evidente que pinta. As pessoas estão indefesas. O trabalho técnico é aquele que vai para o palco. O trabalho básico é de quebra e troca de personalidade, de maleabilizações e flexibilizações. E quebrando a conduta humana você chega muito mais perto da vulnerabilidade em todos os sentidos, psicológicos, sexuais etc.


PLAYBOY — Quantas vezes você já foi casado?


GERALD — Acho que legalmente estou no quinto ou no sexto. No sexto.


PLAYBOY — Como você conseguiu acabar com tantos casamentos?


GERALD — Nunca foi rapidamente. É que vou me relacionando com uma outra pessoa, que acaba entrando, e aquela situação fica insuportável para quem está casada comigo. Foi sempre assim, infelizmente. Mas foi por pequenez da cabeça de quem estava casada comigo no momento. Não acredito em monogamia. A civilização é assim. A gente é que muito mal resolvido. Nossas leis e religiões é que impregnaram a gente de porcaria, mas o processo tribal, de coexistência, é perfeitamente natural. Confesso que tenho esbarrado em milhares de problemas por pensar assim. Eu penso assim, mas geralmente a pessoa com quem estou casado não concorda [risos].


PLAYBOY — Mas nunca aconteceu o contrário, de um casamento seu acabar pela infiltração de outro homem no relacionamento?


GERALD — Não. Acho que nunca houve outro homem se infiltrando. Nunca tive conhecimento disso. Mas se tivesse acontecido eu provavelmente não teria acabado o casamento por causa disso. Acho que quem está sendo monógamo é basicamente hipócrita e não está fluindo de acordo com a sociedade, que tem a atração constante, flerte constante. Não só no nível homem-mulher ou mulher-mulher ou homem-homem. É tudo, é a propaganda, é a vida em geral, é sedução permanente.


PLAYBOY — Dá para explicar melhor?


GERALD — A inconstância é a própria vida moderna. Tem os produtos que a gente compra e quebram um ano depois. Já parei há muito tempo de fingir que isso não acontece. Não juro monogamia mesmo. O artista sempre teve a função de ponta social. Somos uma espécie de cobaia da sociedade. As grandes mudanças sociais aconteceram porque os artistas experimentaram talvez vinte ou trinta anos antes. Respeito meu papel na sociedade.


PLAYBOY — Então quem não é adepto da poligamia está se castrando?


GERALD — Que nada! Acho é que todo mundo trepa adoidado. Só que todo mundo mente. É secretária com patrão no motel, tudo escondido. Todo mundo transa feito um cão. É uma galinhagem fenomenal. A diferença, comigo, é que não minto. Quem quiser saber, sabe. E amo a Nanda [Fernanda Torres] profundamente. Até mais do que em outras circunstâncias, porque não me vejo limitado àquela aura da mentira e do constrangimento. Não tenho essa culpa e não preciso ficar em casa morrendo de medo do próximo telefonema.


PLAYBOY — Que tipo de problema essa forma de pensar já lhe causou?


GERALD — Vejo que mulher é um outro bicho. Mulher não gosta muito desse tipo de coisa. Ou poucas mulheres gostam disso. Mulher é muito possessiva por natureza. Isso tem a ver com um óvulo por mês e os 400 bilhões de espermatozóides que a gente tem. Um óvulo é muito caro. Espermatozóide é muito barato. Tem uma lógica biológica, vamos dizer. O homem é por natureza um cachorro en-lou-que-ci-do. Mas essa voracidade sexual não é compartilhada pelas mulheres. A não ser que esteja transando com uma cuja atividade sexual é na maior parte lésbica. Aí, sim, porque ela tem o mesmo prazer que eu caçando, digamos assim.


"Mulher é possessiva por natureza. Um óvulo é muito caro. Espermatozóide é barato. Tem uma lógica biológica"

PLAYBOY — A Fernanda, por exemplo, se você fizer a proposta de constituir um triângulo, ela bota você para fora?


GERALD — A Fernanda é o ser mais inteligente e o mais conversável que já encontrei. Por isso esse casamento é tão bom. Não tem tabu, briga nem discussão. Só tem riso. Qualquer assunto é abordado pelo lado engraçado dele e discutido. Ela é de uma geração de procuras e buscas e qualquer experimento é um experimento, não dramaticidade. Fico atônito principalmente porque com minha mulher anterior [a atriz italiana Silvia Passeio] era uma barra-pesada. Era tipo O.J. Simpson [o ex-astro do futebol americano acusado de matar a ex-mulher e um suposto amante].


PLAYBOY — Um casamento como esse deixou você monogâmico?


GERALD — Primeiro, sou inteiramente honesto com ela. Tudo o que acontece é sabido. E vice-versa também. Não. Não me deixou monogâmico.


PLAYBOY — Você disse que tudo no seu casamento é discutível. Mas se discute para convencer, certo? Ela concorda então com as suas opiniões sobre a transa a três, por exemplo?


GERALD — Não. Não concorda. Por isso não é feito.


PLAYBOY — Se acontecer, não ocorre a você a hipótese de sentir ciúme?


GERALD — Não. Não sinto ciúme e não tenho saco para isso. Adoro sacanagem. Sou um ótimo voyeur participador. Não sou só de ficar olhando. Não fico atrás de um buraco de fechadura me masturbando. Acho horrível isso. Gosto de estar no lugar onde as pessoas estão fazendo aquele negócio. Sem regras. Se quiser entrar, entro. Também adoro saber de intrigas sacanas. Prefiro olhar a sacanagem do que fingir que não existe.


PLAYBOY — Como você faz para seduzir?


GERALD — Geralmente sou direto. Uso uma frase simples: "Vamos foder?"


PLAYBOY — É a que dá mais certo?


GERALD — É a que eu uso. Não posso dizer se outra daria mais certo.


PLAYBOY — Você já tirou fotos nu, não?


GERALD — Já.


PLAYBOY — A partir dessas fotos espalhou-se no mercado a teoria de que você é um sujeito bem-dotado. É verdade?


GERALD — É verdade [sem titubear]. Acho que pelas estatísticas sou bem-dotado.


PLAYBOY — Já mediu?


GERALD — Não. Acho isso simplesmente ridículo. É o fim da picada. Como fazer isso? Pega uma régua [risos]... Eu sei que tenho o pau grande. Comecei a perceber quando as mulheres diziam que doía.


PLAYBOY — Então isso às vezes é um complicador?


GERALD — Sem dúvida. Às vezes é um complicador. Muitas vezes, aliás, posso dizer que foi complicado. Basicamente, depois que você começa a ouvir: "Nossa, como você tem o pau enorme!"


PLAYBOY — Isso te leva a tomar cuidados especiais?


GERALD — Ah, sim. Não chego a ter uma grande preocupação, mas claro que não posso ser violento. Tenho de tomar um certo cuidado, porque pode ser meio barra-pesada.


PLAYBOY — Mas você já machucou alguém?


GERALD — Por querer, não. Por acidente, já. Evidentemente é muito desagradável. Aquela acaba ali.


PLAYBOY — Muita gente se interessa em conferir isso? Você leva muitas cantadas?


GERALD — Levo.


PLAYBOY — Quais são as melhores?


GERALD — A cantada que mais respeito também é simples. De novo aquela frase: "Vamos Poder?"


PLAYBOY — E você ouve esse tipo com freqüência?


GERALD — É [hesitante], ouço. Tem algumas mais subliminares. Tipo: "Gostaria tanto de me aproximar do seu teatro" [risos]. Essas coisas.


"A cantada que mais respeito é simples: 'Vamos foder?' Algumas são mais subliminares: 'Gostaria de me aproximar do seu teatro'"

PLAYBOY — Quem passou uma dessas cantadas em você?


GERALD — Ah, não posso dizer. Isso é tão comprometedor...


PLAYBOY — Então vamos por outro caminho. Você seduziu todas as mulheres que se propôs a seduzir?


GERALD — Não. Algumas mulheres dão medo. Inicialmente me propus a seduzi-las, depois achei melhor não.


PLAYBOY — Qual tipo de mulher dá medo?


GERALD — Não posso dizer que exista um tipo. Elas são todas diferentes entre si...


PLAYBOY — As agressivas, as peruas?


GERALD — Não. Eu gosto das peruas. Não sei como classificar isso. Houve momentos em que percebi que a mulher talvez fosse causar problemas...


PLAYBOY — De que tipo?


GERALD — Os problemas? Ah, então tá. Vou ser bem específico com um tipo de mulher. A diretora de um festival em Paris. É muito bonita e me mandava recados bastante específicos...


PLAYBOY — Queria se aproximar do seu teatro?


GERALD — É [risos]. Exatamente. Mas comecei a perceber que dentro da política de um festival de teatro francês, que é o mais intrigueiro do mundo, talvez não fosse uma boa a gente ser visto, ou suspeitado ou qualquer tipo de coisa. Ela é também a mulher de um grande diretor de teatro da Alemanha, um cara muito decadente, alcoólatra, fodido, gordo, caindo pelas tabelas. Percebi... A palavra é enrascada. Também, na época em que isso aconteceu, estava começando com a Nanda e pensei o que nunca tinha pensado antes: "Não vou complicar minha vida."


PLAYBOY — Mas o que o afasta não é saber que a mulher é ciumenta, devoradora de homens, ninfomaníaca...


GERALD — Ah, não. Ninfomaníaca é ótimo. Podem atacar à vontade [risos].


PLAYBOY — Você já encontrou muitas?


GERALD — Existem muitas, sim. Realmente existem. Mas não sei, também, o limite da normalidade e da ninfomania. O que é considerado ninfomania? Dizem que é quando quer trepar o tempo todo. Mas o que é o tempo todo? De hora em hora, de duas em duas horas, de quatro em quatro, todo dia?


PLAYBOY — No seu critério?


GERALD — Ah, não sei. Acho que todo mundo que começa uma relação passa uns dias trepando. Fica aquele banho de suor e você é tomado por aquele útero. Acorda no meio da madrugada e continua trepando. Não sei o limite.


PLAYBOY — Você se iniciou cedo sexualmente?


GERALD — A primeira vez foi aos 12 anos, em Nova York. Foi uma professora....


PLAYBOY — Então você realizou aquele sonho de todo estudante...


GERALD — Ou ela realizou o sonho de comer um menino. Foi mais assim. Eu não estava muito preparado para aquilo, não...


PLAYBOY — Não foi bom?


GERALD — Olhando hoje em dia, foi. Mas na época eu não sabia muito bem como lidar com isso...


PLAYBOY — Você não sabia se tinha sido bom? Foi perguntar para alguém?


GERALD — Não. Fui tomar banho. Foi num hotel onde eu estava com meus pais. Ela não era minha professora. Eu tinha um amigo num grupo de turistas chefiado por essa mulher. Nós nos conhecemos e ela acabou tomando a iniciativa. Era bonita, mas muito mais velha do que eu. Para mim, uma mulher de 23, 24 anos, na época, era uma senhora. Acho que lucrei muito mais em relações que tive com pessoas mais velhas do que eu, mas não nesse caso. No início sempre fui casado com pessoas mais velhas. Aos 16 estava casado com uma mulher que tinha 24. Nessa idade a diferença pesa. Com 19, casei de novo, com uma mulher de 23.


PLAYBOY — Você tentou explicar isso freudianamente alguma vez?


GERALD — Não. Mas também não eram quarentonas! Aí seria um problema freudiano. No meu caso, talvez fosse só um problema lacaniano [risos]. Acho que era uma questão de maturidade. Eu era intelectualmente muito desenvolvido naquela idade, e uma menina de 16 ou 17 anos queria era ir para discotecas. Então a defasagem etária era compensada intelectualmente. Também eram mulheres que tinham a sexualidade mais bem resolvida. Sempre me irritou muito em mulher a sexualidade mal resolvida. Sempre me agradou muito a consciência das próprias necessidades, as mulheres determinadas. Detesto a idéia de mulherzinha.


PLAYBOY — As lolitas não o interessam?


GERALD — Não, mesmo. Não tenho saco pra guiar ninguém. Não me interessam nem plasticamente. Gosto de um corpo mais trabalhado, mais sofrido. Um rosto mais maduro.


PLAYBOY — Do tipo que vai atrás do guie quer, não é? Você já resistiu a alguma cantada?


GERALD — Claro, claro.


PLAYBOY — Por quê? O que te levou a isso?


GERALD — A Aids.


PLAYBOY — Mas você não usa camisinha?


GERALD — Uso, claro. Mas a camisinha restringe a coisa. Até esse problema ser resolvido, o aspecto promíscuo da trepada fica reduzido a um mínimo, mínimo. Então resisto muito pensando nisso. Para que vou entrar na cama agora com uma outra pessoa, sempre cheio de paranóias, medos e, em última instância, coberto de látex? A camisinha é muito necessária, mas quero que me apresentem alguém que ache ela boa. Tem que ser maluco [risos]. Tira o seu poder sensorial. Ela aperta. Tem um cheiro horrível.


PLAYBOY — Entre as mulheres que lhe causaram problemas, houve alguma que você evitou por causa do marido?


GERALD — Não que me lembre. Nunca houve relacionamento com mulher de amigo, por exemplo. Acho que não. Se tivesse que ter medo seria do diretor artístico dos teatros da Baviera [estado no sul da Alemanha], cuja mulher e eu fomos fotografados por um jornal num quarto. Era amigo, era meu chefe, e estava com as rédeas na mão. Mas nem assim tive medo.


PLAYBOY — Espere um momento. Você e uma mulher fotografados num quarto? Conte melhor essa história.


GERALD — Um jornal alemão, chamado AZ. [Risos. Ri e apóia a testa na mão direita.] Ai, meu Deus! Publicaram uma foto: eu transando com a mulher do diretor geral dos teatros da Baviera. Por um acaso incrível, ele não tinha essa informação até o jornal publicar [risos]. E eles tentaram uma chantagem: para a foto não sair, eu teria que dar uma entrevista exclusiva, mas acabei achando que era blefe. Eu caí nessa [risos]. Não atendi mais aos telefonemas e, dois dias depois, abri o jornal e estava lá. Foi horrível, terrível. Isso foi no inverno de 1990.


PLAYBOY — E as conseqüências?


GERALD — Bom. Para mim, evidentemente pegou muito mal. Houve um embaraço nos lugares onde costumava aparecer. Mas não durou muito tempo. Eles se separaram. Foi muito ruim para eles também. Mas hoje em dia estão juntos de novo. Não tem problema.


PLAYBOY — Nada de marido traído na sua porta?


GERALD — Não, não. Tudo resolvido assim... [procura a expressão adequada]...


PLAYBOY — ...germanicamente?


GERALD — E... germanicamente... Ou melhor, não sei se germanicamente [risos], porque a gaseificação de 6 milhões de judeus também se pode dizer que foi feita germanicamente.


PLAYBOY — Então, apesar desses percalços, pode-se dizer que seu trabalho é cheio de compensações sexuais?


GERALD — Não consigo dividir essas coisas. O centro da minha energia é uma divisão homogênea entre racionalidade e sexualidade. Não tenho nenhuma outra atividade senão a racional e a sexual. Não corro de manhã, não levanto peso, não colho repolho. O que me mantém em forma é a atividade sexual. Me sinto muito bem depois de uma trepada.


PLAYBOY — Você já disse mais de uma vez que as mulheres também gostam de sacanagem. De que sacanagem elas gostam?


GERALD — O homem trepa muito mal. Mulher é muito mais sensualizável. Perguntei para milhões de pessoas como é uma trepada com um machão e dizem que o peito não existe para esse homem. O cu também não. Ele tem o pau e a boca, e é isso. A mulher tem milhões de zonas erógenas. Você sente que a mulher, seja qual for o extrato social de onde ela vem, trepa muito mais sensualmente. Já ouvi queixas de muitas mulheres que brincaram de botar o dedo no cu de um homem e levaram porrada. [Engrossa a voz, imitando um machão:] "Ei, que isso? Tá me chamando de veado? Que história é essa?" Ou que uma lambida no peito do homem faz ele broxar. Isso é total desconhecimento do que é o corpo.


PLAYBOY — Então o relacionamento entre mulheres dá certo?


GERALD — Claro, evidente. Mas a relação entre homens também dá certo. O homossexualismo dá certo. Eu espero, um dia, não ouvir mais a diferenciação entre homossexual e heterossexual. Um dia a gente vai ter que ser assim. Vamos dizer esse é o João, essa é a Maria e estar nos lixando para a preferência sexual. Juro que não gostaria de entrar no ano 2000 ainda discutindo a questão racial e a homossexual. É uma chatice isso. A gente tem de dar por encerrado um assunto.


PLAYBOY — Em várias entrevistas você fez a defesa da bissexualidade. Você foi bissexual?


GERALD — Fui durante alguns anos. Mas não levantei uma bandeira e disse que a partir de determinado momento não ia mais transar com homem. Não cheguei a essa conclusão até hoje. Amanhã, sei lá, pode acontecer alguma coisa. Mas achava que aquilo era uma solução na minha adolescência.


PLAYBOY — Você deixou a bissexualidade por quê?


GERALD — Não posso dizer que tenha optado. A coisa, se progrediu, foi organicamente. Não analiso o gosto. Por que gosto mais de uma coisa que de outra eu não sei.


PLAYBOY — Você tinha prazer numa relação passiva?


GERALD — Não posso responder.


PLAYBOY — Por quê? Você nunca teve ia relação passiva?


GERALD — Não. Nunca tive.


"Fui bissexual Mas nunca tive uma relação passiva. Não cheguei à conclusão de que não transaria mais com homem"

PLAYBOY — A Aids teve algo a ver com opção heterossexual?


GERALD — Acho que sim. Mas tenho paixão por mulher. E sexualidade é uma coisa, mas convivência diária é outra. Não conviveria com um homem. Não consigo me ver compartilhando um quarto com um homem. Porque o vulto não casa. O meu corpo gruda no corpo de uma mulher. Só posso explicar a coisa de uma maneira tão primária quanto


PLAYBOY — Aquela história de acordar abraçadinho, com homem você não consegue conceber?


GERALD — Não conceberia. Nem a questão do cheiro dá certo. Aí não tem explicação. A convivência diária tem de ser com mulher.


PLAYBOY — Diária no sentido figurado, suponho?


GERALD — Como assim? Se trepo muito? Trepo. Todo dia, por exemplo. E num exemplo maior ainda algumas vezes por dia.


PLAYBOY — E nunca falhou?


GERALD — Já.


PLAYBOY — Quantas vezes?


GERALD — Três. Com duas pessoas diferentes.


PLAYBOY — A primeira foi muito difícil?


GERALD — A primeira foi. Mas as três foram muito ruins.


PLAYBOY — Sim, mas na segunda você já está um pouco mais preparado...


GERALD — Não está, não. Aliás, a segunda é pior, porque ela é repetitiva e você fala: "Meu Deus, será que é isso, então, agora?" A primeira é um evento casual. Mas a pior mesmo foi a terceira, porque é cumulativamente ruim. Mas é muito constrangedor. Acabo rindo e, graças a Deus, foram com pessoas compreensivas.


PLAYBOY — Na primeira, como é que você resolveu o problema?


GERALD — Com a boca. Com o dedo e com a boca.


PLAYBOY — Não digo esse problema. Digo o problema da incerteza sobre o futuro.


GERALD — Fui trepar com a minha mulher na mesma noite, para confirmar se aquilo era geral ou com uma pessoa só.


PLAYBOY — Faz tempo isso?


GERALD — Foi em 1989.


PLAYBOY — A possibilidade da impotência agora ou na velhice preocupa você?


GERALD — Na primeira vez, não sabia se aquilo era para sempre. Além do mais, tem a sensação estranha de que o pau fica a 6 quilômetros e meio da cabeça. Parece outro ser humano que não quer fazer o que você quer. Mas não fiquei obcecado com isso. Também não acho que é cientificamente provado que a velhice leva à impotência. Já perguntei a muitas pessoas. Tenho muitos amigos acima da minha idade. O [compositor] Philip [Glass, um de seus melhores amigos] está com 57 anos e anda trepando adoidado. Diz, inclusive, que trepa mais hoje do que trepava antes. Um outro amigo está com 46 ou 47, por aí. Os anos o tornaram um tarado sexual. Fala as coisas mais escatológicas. Portanto, não acho que isso seja verdade, não. O que existe é a auto-estima, que está ligada à sexualidade.


PLAYBOY — Como assim?


GERALD — O ser humano que vai envelhecendo e engordando, ficando nojentão, perdendo a energia, olha-se no espelho e aquilo tem efeito subliminar muito grande. Ele vê que está virando aquela coisa e está se tornando não-atraente. Isso já cria problema. Para mim, em primeiro lugar, o sexo é um exercício egocêntrico. Antes de trepar com outra pessoa, você está trepando com você mesmo. A medida que vai vendo a barriga crescer, perde o tesão por si mesmo e também por outra pessoa. Mas, no fundo, me preocupo tanto com isso quanto com câncer. Fico pensando que toda Coca-Cola, todo hambúrguer e todo chocolate que eu já engoli têm que dar alguma porcaria. Devo ter alguma coisa que cresce dentro de mim. Então eu fico esperando. Estou com 40 anos. Deixa eu bater na madeira de novo [bate com o nó dos dedos no tampo da mesa].


PLAYBOY — Você tem medo de adoecer?


GERALD — Tenho, tenho. Realmente tenho. Mas não tomo esses antioxidantes que as pessoas todas tomam, não. É loucura se empanturrar com essas coisas. Quando você pensa, vê que a vida da pessoa não vale porra nenhuma. Por que um engenheiro quer se preservar tanto? Quem ele acha que é frente aos outros 5 bilhões de pessoas? Que narcisismo é esse? Por quê? Ele tem, mais é que morrer. Ele é um bosta [risos]. Acho isso muito engraçado.


PLAYBOY — E a sua vida vale a pena preservar?


GERALD — Não. Tanto que eu não preservo. Não faço esse exercício todo de zinco, súlfur não sei o quê. Esses dois negócios [mostra a xícara de café e o maço de cigarros da marca francesa Gitanes], eu vivo deles. Eles tiram vitamina C. Não faço nenhum culto à saúde.


PLAYBOY — Mas como é sua preocupação com a possibilidade de ficar doente?


GERALD — Penso nisso. Vejo a quantidade de doenças que existem. A gente pode ser vítima de tudo.


PLAYBOY — Você já fez teste de HIV?


GERALD — Faço teste de HIV duas vezes por ano. Meu seguro me obriga a um. Mas o seguro da cadeia de teatros estatais onde trabalho exige outro. Um tem de ser feito nos Estados Unidos. O outro, em algum país da Comunidade Européia.


PLAYBOY — Você ficou ansioso quando esperava o resultado do primeiro teste?


GERALD — Fiquei. No primeiro, segundo, terceiro, quarto...


PLAYBOY — Fica sempre ansioso?


GERALD — É, mas hoje em dia menos. Porque não vejo como é que poderia contrair o vírus. Não me considero de risco. Mas já fui muito. Meu primeiro HIV fiz em 1986. E naqueles dez anos anteriores eu fiz tudo. Pensava comigo: "Estamos todos fodidos." Agora faço HIV e esqueço o dia em que o resultado ficou pronto. Antes ficava ligando para o médico para saber se o laboratório mandou de volta o resultado.


PLAYBOY — Então você também tem medo de morrer?


GERALD — Tenho. Realmente tenho. Falar em medo é subestimar o que sinto. É pânico. Minhas peças não são sobre outra coisa. Teve até uma chamada de morte [M.O.R.T.E., que esteve em cartaz em 1991]. Não tem outra coisa que me afete tanto. E não é nem medo de eu morrer. É da morte. É o fato de outra pessoa de repente não estar mais lá. E tudo o que ela viveu? Para quê?


PLAYBOY — Você acredita em Deus?


GERALD — Não. Quer dizer, acredito em algo. Isso deve ter sido por alguma coisa...


PLAYBOY — Vida depois da morte, tem?


GERALD — Eu me pergunto todo dia se tem. De certa forma, torço para que haja, mas não gostaria de voltar como um refugiado em Ruanda, por exemplo. Adoraria saber que sou a reencarnação de um Beethoven, mas não sei se sou. Então de que adianta? Me pergunto se tudo isso é para uma vez só. Será?


PLAYBOY — Já passou por alguma situação próxima da morte?


GERALD — Passei por um pouso forçado. Achei que ia morrer. Mas acho que vou morrer todo dia. Não é por causa do avião. Acho que vou morrer a qualquer momento. Vejo a fragilidade com que os carros brasileiros são fabricados e vejo a violência do trânsito. Vejo como um ônibus é construído e como ele é dirigido. É por um acaso incrível que se consegue chegar de A a B. Toda vez que entro num edifício penso que, se aquilo foi construído como o resto do Brasil é feito, é um milagre que aquele negócio esteja em pé.


PLAYBOY — E quando você constata que o tal edifício talvez não seja confiável?


GERALD — Entro do mesmo jeito. Minha vida é ao acaso. Eu sei como é frágil voar, mas vôo assim mesmo. Sempre acho que o avião vai cair. Fico imaginando o impacto como será. Se vai cair assim, assim, ou assim [sinaliza, com a mão direita, quedas de frente, na horizontal e de traseira]. Que tipo de porrada é. Como a parte de metal daquele assento vai me penetrar, como meu corpo vai ser espatifado. Não me vejo nem como sobrevivente.


PLAYBOY — Naquela pouso forçado, o que aconteceu?


GERALD — O avião desceu de barriga, sem trem de pouso. Os bombeiros encheram a pista com espuma e a gente desceu as 4h30 da manhã em La Guardia [o aeroporto de vôos domésticos de Nova York]. Eu era o único passageiro da classe econômica. Havia seis japoneses na primeira. Só. Era um vôo da Air Canada que saía às 3h30 de Montreal. Ninguém pegava aquela merda. Eu tinha 17 anos e berrei feito um louco. Achava que estava sendo punido porque fiquei um mês no hotel em Montreal e saí sem pagar. Deixei a inala para trás. Depois do pouso forçado nunca mais pensei em fizer isso. Prometi que não ia fazer mais. [risos].


PLAYBOY — Se você estava sendo punido, o que os japoneses tinham com isso?


GERALD — Quem sabe não eram uns grandes filhos da puta? Quem sabe eles não eram os primeiros caras da Honda que foram invadir o mercado automobilístico americano?


PLAYBOY — Mas, já que você tocou no assunto, essa invasão não foi boa para os japoneses?


GERALD — Bem, ultimamente pode ter sido bom até para os Estados Unidos, porque os carros americanos melhoram muito. Mas eu não me interesso em que as coisas corram bem para os japoneses. Eu não torço para os japoneses. Ao contrário: eu morro de medo dos japoneses.


PLAYBOY — A frase do Romário a PLAYBOY, desejando saúde para os outros mas muito mais para ele mesmo, aplica-se a você?


GERALD — Não. Não me preocupo com a minha saúde.


PLAYBOY — Mas se for para a saúde dos americanos andar melhor que a dos japoneses...


GERALD — Aí, sim. Aí se aplica [risos].


PLAYBOY — O que você tem contra eles?


GERALD — Tenho muita coisa contra a cultura japonesa. Porque são apropriadores, ladrões, há anos. Fecharam o Japão durante muitos anos. Apropriaram-se de rituais chineses e reciclaram aquilo tudo em nome de um cooperativismo, de um anonimato, de um coletivismo que realmente dá medo. Não sou por essa nivelação absoluta do ser humano. Eles também não são, mas vendem essa imagem para eles próprios. E dentro disso tudo tem uma hierarquia absurda, um sistema de castas, como na índia. Reconheço o perigo dessa massa vestida de terno que dedica doze horas do dia para o trabalho em favor da sua corporação, ao contrário daqueles países onde se luta para haver cada vez menos horas de trabalho.


"Os japoneses são ladrões, apropriadores, há anos. Vendem a imagem da nivelação absoluta, mas têm um sistema de castas"

PLAYBOY — Essa é a sua versão do "perigo amarelo"?


GERALD — Mas sei que os produtos deles são mais eficientes do que os de uma sociedade que se duvida o tempo todo, que entra em crise, que faz greve. E só olhar para aquele lado do mundo. A China hoje é o maior produtor do mundo. A revolução serviu para ter um exército de produção. Como o operário americano está enlouquecido para ganhos pessoais e sonhos de classe média, evidente que não há competição possível com aquela loucura que está sendo feita na Ásia.


PLAYBOY — Então você é contra essa competição mundial que o Brasil está começando a experimentar?


GERALD — Não. Sou pela livre competição, pela abertura do mercado, pela livre iniciativa. Acho o capitalismo saudabilíssimo. Deixa até os japoneses concorrerem e quem puder que reaja. Admiro o Lee Iacocca [ex-presidente da Ford que revolucionou a empresa e depois, no mesmo cargo, tirou a concorrente Chrysler do rumo da falência], que deu a volta por cima melhor do que eles. Tenho certa antipatia ao corporativismo dos japoneses, à subserviência deles em relação às empresas. Mas fizeram o que tinha de ser feito. Quem dera o Brasil entrasse numa dessas.


PLAYBOY — E isso tem alguma relação com sua vida e sua atividade?


GERALD — Minha vida é contrária a qualquer nacionalismo. É muito compacta. Em um mês, tenho vivências que outras pessoas demoram três anos para ter. Aprendi a vivenciar cinco minutos com uma intensidade que as outras pessoas não alcançam. Por isso não tenho paciência com mentalidades curtas, pequenas, com nacionalismos, o que chamam de "nossos problemas internos". Não entro nesse tipo de conversa: "A gente aqui está assim ou assado." Mas aqui e para mim é indiferente. Às vezes, ouço: "Mas nós atores no Brasil ainda estamos num estágio de trabalho..." Então muda de estágio, vai para outro lugar. Esse provincianismo me irrita muito...


PLAYBOY — O que mais é capaz de deixá-lo irritado?


GERALD — Já falei sobre a questão racial e a questão do homossexualismo. É loucura que a década de 60 não tenha domado o final do milênio, que esses assuntos não tenham sido encerrados.


PLAYBOY — Falando em racismo. Tem racismo contra os judeus no Brasil também?


GERALD — Não há um racismo que eu consiga detectar. Mas tem um estranhamento, um falta de conhecimento. Em São Paulo existe uma comunidade judaica, mas ninguém sabe muito bem o que é. Corno quase tudo que acontece no Brasil, preferem ignorar o assunto, quando em Nova York é tão característico quem é judeu, o que pensa, quem é negro. Como tem italiano, irlandês. Os quatro brincam muito com suas etnias. Isso é muito saudável. No Brasil, dizem: "Ah, você é judeu, que interessante. Conheço um outro judeu, deixa ver quem é..."


PLAYBOY — Isso é uma forma de racismo?


GERALD — Isso é racismo, e acaba explodindo mais cedo ou mais tarde. Por exemplo, pesa para os negros no Brasil quando você vê uma televisão e um país que é pardo na rua aparecer todo branco na tela.


PLAYBOY — Você não foi educado como judeu?


GERALD — Não. Fui à sinagoga algumas vezes, mas não se pode dizer que foi uma educação de judeu.


PLAYBOY — Mas se sente judeu?


GERALD — Me sinto, sim. É uma cultura. Há uma irreverência frente à cultura das outras pessoas, em relação à seriedade delas. Não sei se isso é por ser judeu ou por ser multiétnico, mas brinco muito com a linguagem das pessoas. Vejo a efemeridade do que se diz. Para mim, nada é catastrófico. Isso é um pouco judeu.


PLAYBOY — Você se sentiu discriminado alguma vez por ser judeu?


GERALD — Só no colégio. Por ser chamado de judeu, de alemão, de inglês, de estrangeiro.


PLAYBOY — Você se sentia diferente das outras crianças?


GERALD — Claro. Falava outra língua em casa. Sempre fui desenturmado em todos os lugares onde estive. Quando visitava minha família na Alemanha, em Berlim, via que não tinha nada a ver com aqueles primos. Na Inglaterra era a mesma coisa. Eu chegava com uma superioridade incrível, sabendo o que estava acontecendo no mundo. Os da Alemanha não tinham noção do que estava acontecendo na Inglaterra. Os da Inglaterra não sabiam nada do Brasil. Então eu era um outsider, sempre deslocado, mas me sentia superior porque sabia tudo que eles conheciam e eles não sabiam tudo o que eu conhecia.


PLAYBOY — No Brasil. o que acontecia?


GERALD — Tinha uns 7 anos. Comecei a falar português com um sotaque bravo. Me excluíam da turma, do grupo de brasileiros. Do grupo dos que comiam feijão. Eu não comia. Achava estranho. Estava louco para comer feijão. Pedia para minha mãe, mas por um motivo estranho na minha casa se comia muita batata. Eu odiava batata. Via aquela fartura na mesa dos brasileiros, classe média alta. milhões de pratos e variedades, mas em casa era aquele comportamento europeu, a batata com bife. A comida vem no prato. Não se monta o prato à mesa. A minha mãe nesse sentido não era judia. A comida era muito escassa. Costumo dizer que era uma realidade de campo de concentração [risos].


PLAYBOY — E você ia bem na escola?


GERALD — Não. Muito mal. Repeti não sei que ano. Saí da escola com 14 anos, nem lembro em que série estava. Nunca mais voltei. Ia muito mal em Matemática, em Física, em Ciências. Meu português era péssimo.


PLAYBOY — Você guarda recordações desse tempo de sala de aula?


GERALD — Guardo. Principalmente do dia em que um grupo de alunos jogou uma mesa do andar e quase matou um cara lá embaixo. Era uma barra-pesadíssima. Reunia estudantes vindos da favela com o pessoal de Botafogo. Era uma coisa terrível.


PLAYBOY — Você brigou alguma vez na escola?


GERALD — Não me lembro de terem tentado brigar comigo. Vi grandes turmas se encontrando depois da aula para brigar. Não entendia o propósito daquilo. Se isso faz parte da formação do homem brasileiro, ou não sou homem ou não sou brasileiro [risos]. Mas os ingleses também brigam pra burro. Nesse sentido o Brasil não difere do resto do mundo.


"Se brigar na rua faz parte da formação do homem brasileiro, ou não sou homem ou não sou brasileiro"

PLAYBOY — Você fez teatrinho na escola?


GERALD — Na escola, nada. Mas meus pais me levaram para ver My Fair Lady. Não sei se foi a primeira coisa que vi, mas foi uma das que mais marcaram. Vi sete vezes. Adorei. O palco me fascinava, aquele mundo artificial. Aquelas pessoas cantando, a empostação, as luzes.


PLAYBOY — Como você acabou se envolvendo com teatro?


GERALD — Quando fui para a Inglaterra, na adolescência, eu me relacionava com um grupo de artistas multimídia. Era um grupo meio hippie e realizávamos happenings. Aos poucos, fui me convencendo de que eu seria um pintor medíocre, porque não conseguia reduzir minhas idéias a um único ponto de vista. Comecei a fazer ilustrações e depois me profissionalizei nisso em Nova York. Comecei, também, a montar algumas coisas com esse pessoal e acabei convidado para uma experiência no National Teather [de Londres]. Aí fiz uma adaptação de A Tempestade, de Shakespeare.


PLAYBOY — Aquela que foi um fracasso...


GERALD — Um desastre de crítica. Mas depois repeti essa experiência em Nova York e foi muito bem recebida. Por aí se vê como as coisas são subjetivas. Os ingleses não têm realmente jeito para o meu teatro [risos]. Mas não estou sozinho. Bob Wilson, por exemplo, que se apresenta em todos os lugares do mundo, só não entra na Inglaterra. Pina Baush também não. Deu muito errado aquela experiência. Estreou, foi criticada e saiu de cartaz em dez dias. O meu prejuízo foi não trabalhar mais na Inglaterra. Com essa idade, chegando ao National Teather, se sair de lá não tem mais o que fazer. É o melhor e o pior dos mundos ao mesmo tempo. A sorte foi ter aparecido um produtor americano dizendo que se quisesse ir para os EUA não seria ruim. Fui imediatamente.


PLAYBOY — Adolescente morando sozinho na Inglaterra no início dos anos 70. Havia todo tipo de droga à disposição naquele período em que você diz ter feito tudo, não é?


GERALD — Naquela época todo mundo experimentou. Até o [presidente dos Estados Unidos, Bill] Clinton, mesmo que diga que não tragou.


PLAYBOY — Você provou tudo o que havia em circulação?


GERALD — Não. Tudo, não. LSD e maconha. Fora isso, nada. Lembro de uma viagem de ácido, no Norte da Escócia. Estava com um grupo de pessoas. Enquanto dirigia, achava que estava passando horas olhando para o retrovisor, e não para a estrada. Não devia ser verdade, mas a sensação era essa. Lembro de ter me fixado num carro que estava para me ultrapassar e que levou umas catorze horas [risos] para conseguir. Aí falei: "Essa viagem termina aqui." Desci para mijar e prometi a mim mesmo que o ácido sairia na urina. Então vi as estrelas saindo e achei que era o ácido indo embora [risos]. Nunca foi nada muito divertido. Se fosse, teria continuado, porque a época era propícia e minha idade era adequada para isso.


"Prometi a mim mesmo que o ácido sairia na urina. Então vi as estrelas saindo e achei que era o ácido. Nunca foi muito divertido"

PLAYBOY — Você se drogava freqüentemente?


GERALD — Não. Especificamente: fiz quatro viagens de ácido. E não devo ter fumado maconha mais do que durante uns quatro ou cinco meses da minha vida.


PLAYBOY — No seu círculo de trabalho, nunca aparece ninguém drogado para ensaiar?


GERALD — Não. Na minha companhia, não. Se fizeram isso alguma vez, passou sem que eu percebesse. Senão haveria problema. Essa pessoa não ensaiaria. Atrapalharia o meu trabalho e o de todo mundo. Parece moralismo, mas não é. Acho que a droga devia ser liberada totalmente. A única maneira de combater a criminalidade associada à droga é torná-la legal, cobrar taxas, vender na rua. Todo mundo toma mesmo. Não tem mística nenhuma. Veja a Holanda, por exemplo, que tem o mais baixo índice de criminalidade associado à droga, justamente porque tudo é permitido.


PLAYBOY — Mas é inegável que tem um lado deprimente...


GERALD — Mas isso é problema das pessoas, ninguém tem nada com isso. É menos deprimente do que a pobreza que tem embaixo dos viadutos no Brasil. Lá, os drogados são geralmente adultos, não se vêem crianças entre eles.


PLAYBOY — Falando em coisas do Brasil, você torce para algum time de futebol?


GERALD — Torço para a Seleção Brasileira em Copas do Mundo. E só. Choro feito um louco, agarro quem estiver perto de mim. Na última Copa, no dia em que o Branco fez o famoso gol em [sinaliza, com a mão direita, a trajetória de uma bola curva]... quase quebrei o braço de um amigo. Adotei um raciocínio: como americano, estou cagando para a imagem dos Estados Unidos, porque eles não têm de se provar perante o mundo. O Brasil é um país pequeno, pobre coitado, católico, que tem muito que provar. E o esporte é uma das poucas coisas que rendem noticiários internacionais favoráveis ao país. Mas não sei a diferença entre centroavante e avante esquerdo [ponta-esquerda]. Só sei que o Romário é um cara que dá entrevistas grossas e não aparece no treino na hora que deve [risos].


PLAYBOY — Mas já foi a estádio a alguma vez?


GERALD — Levei o Philip [Glass] ao Maracanã. Fui com a desculpa de mostrar o futebol para ele, mas também estava vendo ao vivo pela primeira vez. Menti, disse que já tinha visto. Isso faz muito tempo. Era Flamengo e alguma coisa. Lembro que sentei mal e concluí que pela televisão o jogo é melhor.


PLAYBOY — Estava na geral?


GERALD — O quê [indignado]!? Na geral, em pé, levando mijo na cara? Não. Era uma cadeira de metal meio escangalhada. Acho que era cadeira especial.


PLAYBOY — Além dessa mentira sobre experiência em estádios, você já disse muitas outras?


GERALD — Minto quando é necessário. Se chego estupidamente atrasado a um encontro e a culpa foi minha, falo alguma coisa sobre o trânsito, o carro, que errei o caminho. É a chamada white lie [mentira branca].


PLAYBOY — E para suas mulheres, você mentiu alguma vez?


GERALD — Muito. Quando via que o ciúme era indomável, e que ia causar muito problema, evidente que inventava histórias. Eu me acostumei a mentir e pronto.


PLAYBOY — Mas, quando flagrado, você fazia falsas promessas, como a de nunca mais repetir aquele comportamento, por exemplo?


GERALD — Claro. Disse isso mais de 500 vezes. Já passei por todos os rituais da sociedade. Dos mais porcos aos mais ricos. Já cometi todos os clichês da esquerda, do centro e da direita.


PLAYBOY — Você nunca se sentiu corar numa situação dessas?


GERALD — Acho que só quando era criança. Uma vez estava roubando dinheiro na carteira do meu pai e a porta abriu. Fiquei vermelho...


PLAYBOY — Você roubava sempre?


GERALD — Não, sempre não. Mas de vez em quando ia lá e pegava alguma coisa, o bastante para comprar chocolate. Tinha 8, 9 ou 10...


PLAYBOY — Então a porta abriu...


GERALD — Foi. Me lembro de congelar e de ficar quente segundos depois, uma mistura de medo com o embaraço natural de ser pego. Devolvi o dinheiro, mas acho que dessa vez não apanhei.


PLAYBOY — Em outras ocasiões, então, apanhou?


GERALD — Apanhei. Por causa de alguma coisa em relação à escola. Mas foram duas ou três vezes, no máximo. Lembro que uma vez botei uma almofada embaixo da roupa. Era uma surra planejada. Meu pai disse: "Agora você vai para o quarto que eu daqui a cinco minutos apareço lá com o cinto [risos] ". E ele apareceu cinco minutos depois, mas eu já estava todo forrado [risos]. Fingia os berros que dava [risos]. Acho que ele me avisou sabendo que iria me precaver. Só que tinha de passar por aquela praxe. Tudo um jogo muito simpático. Ele era um cara muito legal.


PLAYBOY — Sua família era rica?


GERALD — Não. A gente estava longe até de ser classe média alta. Era classe média baixa. Quando criança, tudo que gastava era em equipamento de pintura. Papéis, pincéis, tintas caras.


PLAYBOY — Mas hoje você ganha um bom dinheiro, não é?


GERALD — Ganho por espetáculo.


PLAYBOY — E o que seria um valor razoável? No caso de D. Juan, por exemplo? [Em cartaz em São Paulo desde 15 de fevereiro deste ano.]


GERALD — Não sei quanto vou ganhar. Isso não foi discutido ainda. Por uma ópera na Europa recebo entre 65.000 e 105.000 dólares, dependendo do que faço, se só dirijo ou faço cenário também. Só no Brasil trabalhei com participação em bilheteria, nos meus espetáculos. Nunca se ganha como na Europa.


PLAYBOY — Você pode, então, gastar bem com roupas, sapatos, relógios...


GERALD — Não compro nada caro. De vez em quando entro numa loja em Nova York, a GAP. Isso aqui é tudo da GAP [indica as roupas que está vestindo: camiseta, calça e sapato, tudo preto]. Nem experimento. O relógio é Timex [estende o braço, mostrando o relógio de pulseira preta], 10 dólares. Tenho só esse há vinte anos. Não quebra. Na semana passada, tive um jantar com o diretor da ópera de Paris, para falar de um convite. A Nanda falou: "Você não pode ir de jeans. É impossível." O Válter Rodrigues, um estilista que trabalha comigo, me levou no Barney's para comprar uma roupa Comme des Garçons. Mas me recuso a gastar 1.000 dólares numa porra de um terno. Meu negócio é jeans [bate a mão direita na coxa]. Custa 38 dólares. Com taxas, dá 42. Camiseta que custa 5 dólares [mostra a camiseta]. E sapato é Timberland [levanta o pé quase à altura da mesa], que dura dez anos, e pronto! Então fui para o jantar assim como estou. Passei na loja, achei lindo, mas decidi não gastar 1.000 dólares de jeito nenhum.


PLAYBOY — Se você gasta tão pouco, deve sobrar um dinheirão. O que você faz com esse excedente?


GERALD — Tenho um agente. Já tentei administrar. Não foi fácil. São muitos lugares, muitos cartões de crédito, carro, viagens, milhagem de avião com a Delta, a TWA, a United. Mas não sobra um dinheirão, não. Tenho gastos absolutamente astronómicos. Três telefones, um fax, um computador ligado por modem a um satélite, só esse negócio são 7.000 dólares por mês...


PLAYBOY — Mas para quem faz três óperas por ano...


GERALD — Mas não recebo tudo de uma vez! [Divertidamente indignado.] Se estivesse nessa situação não estaria neste hotel. Tem que ver que os pagamentos não são feitos de uma vez. São parcelados, às vezes ao longo de alguns anos. E não faz tanto tempo que estou no ramo de óperas. Além disso, estou pagando uma dívida de 30.000 dólares com amigos, por causa de uma multa pela saída do teatro estatal de Munique.


PLAYBOY — Quais outros trabalhos você já teve?


GERALD — Aos 17 anos, fui motorista de ambulância, em Londres, mas fiquei só uns sete meses nisso, porque o barulho da sirene era muito estressante. Depois fui provador de café na Bolsa de Londres e larguei o emprego, porque era muito nojento. Ficava um monte de gente num salão enorme, provando café e cuspindo o tempo todo. Em seguida, tive emprego num restaurante francês metido a besta, onde também fiquei enojado porque o cozinheiro ficava limpando aves do meu lado.


PLAYBOY — Então vamos falar de seus colegas de trabalho atuais. O que, afinal, você tem contra a diretora de teatro Bia Lessa, de quem tanto fala mal?


GERALD — Ela é uma forte enfraquecedora do teatro brasileiro. Integra uma legião de imitadores que empobrece o teatro. Eles conseguem ser uma mistura de Antunes Filho comigo. São nossos filhos bastardos. Bia Lessa se pendurou em mim quando cheguei no Rio, em 1985. Conseguia detectar sempre onde eu estaria e vou dizer urna coisa franca: prefiro que haja pessoas talentosas trabalhando numa área, porque todo mundo lucra com isso. Gostava muito da Bia Lessa naquela época. Achava que ela prometia muito nos primeiros trabalhos. Depois ela foi se mediocrizando de uma forma brutal e caiu no meu desgosto. Hoje em dia não há outra maneira de dizer: ela é medíocre e infantilóide. Além dela, tem no teatro brasileiro um certo empobrecimento com um realismo retrógrado, mas isso é generalizado. Não vou citar outros nomes porque estou falando de umas quinze pessoas.


PLAYBOY — Quais diretores de teatro são melhores do que você?


GERALD — Sou muito bom diretor de teatro. Não me comparo a ninguém porque as pessoas vêm de círculos de informação diferentes. Eu, por exemplo, entrei pela pintura e pela filosofia. Sou um autor que dirige seus próprios espetáculos. Diretor é o cara que pega o texto de outra pessoa e bota no palco. Estou fazendo isso também, agora, porque já está tão conhecido o teatro de Gerald Thomas que é interessante pegar algo de outro autor. Mas em princípio não tem muita gente no mundo que concebe suas histórias e encena.


PLAYBOY — Você não responderia, por exemplo, se é ou não melhor do que o Antunes Filho?


GERALD — Acho que a gente é tão absurdamente diferente... Tenho grande admiração pelo Antunes. Ele é um diretor. Pega um texto do [Ariano] Suassuna ou do Guimarães Rosa ou do Mário de Andrade, faz uma adaptação e coloca no palco. Eu, não. Pego as minhas verdades e faço uma coisa ali que só eu sei de onde vem.


PLAYBOY — E quanto aos críticos? Você acha, por exemplo, que a Barbara Heliodora, chamada de primeira-dama da crítica, entende de teatro?


GERALD — Entende do teatro careta. É uma das devotas em torno da Royal Shakespeare Company. É uma das suburbanas de Idaho, que compram essa falsa cultura. Chamar a Royal Company de Royal Shakespeare é uma loucura porque Shakespeare era antimonarquista. É como entregar fezes para pessoas antiescatológicas. A alta sociedade vai dizer: "Meu Deus! Que cheiro de cocô." E Shakespeare era um vidrado em escatologia.


PLAYBOY — Mas a Barbara elogia você como diretor.


GERALD — Isso para mim é pior do que qualquer coisa. Eu preferia que ela me odiasse de cabo a rabo. Um elogio da Barbara Heliodora pega mal pra burro.


PLAYBOY — Os jornalistas brasileiros entendem de teatro?


GERALD — São muito vivos. Tem mais informação na imprensa do que entre as pessoas que fazem teatro.


PLAYBOY — Mas existe algum em quem você não confia, a quem não daria entrevista?


GERALD — Não [pensa por uns dez segundos]. Não consigo lembrar de nenhum. Tem um que não é entrevistador. É apenas uma pessoa muito maléfica, que é o Arthur Xexeo [colunista do Jornal do Brasil]. É um mentiroso, um invejoso e transforma coisas particulares da vida dele em assuntos profissionais. Ele namora uma pessoa que já trabalhou comigo e saiu por absoluta incompetência. Claro que ele comprou a briga dessa pessoa e transferiu isso para um plano aberto. Então ele se manifesta contra mim toda vez que pode. O que, no entanto, é contraditório, porque quando ele foi editor do Caderno B [do mesmo Jornal do Brasil] falava muito bem de mim. É só um ranço. É um xexelento, como o Caetano [Veloso] diz. Mas ele jamais pediria uma entrevista a mim. Esse risco eu não corro.


PLAYBOY — Que tal um crítico que fala mal de você? O ex-ministro Mário Henrique Simonsen entende de ópera?


GERALD — Ele entende da academia em torno da música. Mas de encenação em ópera, absolutamente nada.


PLAYBOY — Quando ele falou mal da montagem Navio Fantasma, você o chamou de ladrão. Você ficou sabendo de algo que ele roubou?


GERALD — Não foi nesse sentido. Acho que existe uma ladroagem direta e a indireta. Um grande conchavo brasileiro permite que figuras A, B e C não sejam incriminadas e continuem atuando. Existe um complô para que elas continuem aí. Isso é uma forma de ladroagem. A ladroagem a que me refiro não é especificamente de dinheiro. Esse é talvez o menor aspecto do problema. Acho que o Simonsen não roubou um centavo, até porque vem de uma família riquíssima e não precisava roubar. Agora, ele era ministro de um governo militar que não devia explicações a ninguém. Depois, tentou me processar. Acho que ele tirou o corpo fora logo porque queria evitar uma grande investigação em torno de sua vida. Ele sabia que com isso estaria comprando uma briga publicitária a respeito da própria vida.


PLAYBOY — Para não deixar a briga apenas nos bastidores, tem muita gente medíocre querendo ser ator?


GERALD — Todo mundo que é reprovado em Direito ou Medicina e não consegue ser músico acaba querendo ser ator. Tem muito ator medíocre.


"Todo mundo que é reprovado em Direito ou Medicina e não consegue ser músico quer ser ator. Tem muito ator medíocre"

PLAYBOY — E quem é ruim no Brasil?


GERALD — Ah, não. Nessa você não vai me pegar, não. É injusto me colocar na posição de julgador e talvez não desse o nome do pior simplesmente porque no Brasil não tenho tempo de ver quase nada. Eu diria um ou dois. Mas coitados. Para que esse tipo de provocação?


PLAYBOY — Você tem elogiado alguns artistas de gerações mais novas e trabalhado com atores mais populares. Isso é um processo de popularização?


GERALD — Possivelmente. Mas não conscientemente. Da mesma maneira como não procuro o processo de popularização nunca tentei o de erudição. Se fui colocado nesse lugar é porque a cultura local não sabia muito bem o que fazer com as coisas que eu estava falando. Hoje em dia se está discutindo a filosofia nas artes muito mais abertamente e eu sou um dos grandes responsáveis por isso. Tendo feito isso, evidentemente reconheço que havia outro lado que não interessava à imprensa, que é de eu falar bem da Regina Casé, por exemplo. Mas já trabalho com atores conhecidos há muito tempo. Trabalhei com a Tônia [Carrero] em 1986. O [Antônio] Fagundes também é popular e trabalhei com ele.


PLAYBOY — Falando nisso, ele é bom ator?


GERALD — Não. Não acho.


PLAYBOY — Então por que trabalhou com ele?


GERALD — Porque ele me convidou para vir ao Brasil e me deu a oportunidade de fazer Carmem. Não foi bom, mas não por culpa dele. Foi por culpa minha. Não gostei da montagem. A única coisa boa que saiu dela foi que peguei três pessoas e consegui montar a companhia de Opera Seca. O problema não residia com o Fagundes. Eu não sentia empada por aquela montagem. Se não há uma troca de simpatias, pelo menos que haja uma troca de empatias, mas é necessário que exista isso. E não rolou isso entre a gente. Mas admiro o Fagundes pelo que ele montou em termos de companhia de repertório. Tem pretensões saudáveis em relação a teatro.


PLAYBOY — Já que o assunto é empatia ou não, é verdade que você chamava a Ruth Escobar de mãe?


GERALD — Chamei muitos anos depois de conhecê-la, quando trabalhava com a Anistia Internacional. Ela era muito envolvida nisso. Não me lembro por que, mas havia, sim, uma brincadeira de chamá-la de mãe. Até pouco tempo atrás fomos amigos.


PLAYBOY — Vocês romperam?


GERALD — Acho que rompemos. Houve uma festa na casa dela para o [então ministro das Relações Exteriores] Fernando Henrique Cardoso, há mais de um ano. Mas não meço muito o que digo, não tenho o menor respeito por autoridades. Ela me apresentou como filho maldito dela ao [prefeito de São Paulo] Paulo Maluf e ao presidente da Varig, Rubel Thomas, que apesar do sobrenome não é parente meu. E eu brinquei: "Pois é. Um filho incestuoso, porque a gente já trepou. É uma loucura." Mas o Rubel Thomas estava com a filha e ela ficou chocadíssima com aquilo. Foi aquele mal-estar. Depois a Ruth não falou mais comigo. Li na coluna da Joyce [Paseowitch, na Folha de S.Paulo] que foi muito pesado. Para a Ruth soltar isso para a Joyce é porque realmente pegou muito mal.


PLAYBOY — E você fez para escandalizar ou estava falando apenas unia verdade?


GERALD — Imagina! Não é verdade. Eu nunca trepei com a Ruth. Foi uma brincadeira. Eu nunca sei o que dizer quando as pessoas vêm com essas histórias de meu filho, nos conhecemos assim ou assado. É bobagem. Tenho uma relação engraçada, de pegar no peito, na boceta, ficar alisando o dia inteiro. Imagine! Mas a Ruth também não é nenhuma puritana. Cada filho dela tem um pai diferente.


PLAYBOY — E você, com tantas mulheres, quantos filhos pôs no mundo?


GERALD — Nenhum. Tenho um meio filho, Fernando. Criei como se fosse, mas não é meu. É filho da [produtora de vídeo] Dudu [Continentino] com quem vivi na época. Ele tinha 6 meses de idade. Ficou sendo meu oficialmente até ter uns 12 ou 13 anos. Um tempo viveu mais comigo do que com a mãe. Ela estava com a vida meio confusa. A gente tem se falado pouco ultimamente, mas até uns dois anos atrás era bastante intenso meu relacionamento com ele. Agora é ator de peças infantis e também ajuda a mãe.


PLAYBOY — Ele é bom ator?


GERALD — Nunca vi. Quando tiver uma oportunidade, vou vê-lo.


PLAYBOY — Quando é que você vai ter tempo sobrando para esse tipo de coisa?


GERALD — Minha agenda tem compromissos até 1998. Para 1999 não estou pegando nada agora. Estou tentando ver se em 1999 ou 2000 não faço nada, a não ser escrever. Ou talvez não faça porra nenhuma mesmo. Pode ser que volte a desenhar. Quem sabe tire férias, se é assim que se chama isso. Mas não sei se fico em casa ou vou para a Ásia sem compromisso nenhum, só para ver essa explosão econômica.


PLAYBOY — Você pensa em parar de fazer teatro?


GERALD — Adoraria parar de fazer teatro. Não é que odeio. Mas você não imagina o estado mental e nervoso a que chego depois de um dia de trabalho.


PLAYBOY — O que você gostaria de fazer que não esteja relacionado à arte?


GERALD — Gostaria de ter acesso a decisões políticas...


PLAYBOY — Como assim?


GERALD — Adoraria integrar um conselho qualquer. Adoraria que me ligassem da Casa Branca pedindo minha opinião sobre uma decisão: "Você pode pegar o próximo avião?" [Risos.] Tenho opinião sobre tudo. Desde a embalagem do açúcar até quantas faixas deveriam ser pintadas na rua. Seja o melhor horário para coleta de lixo, seja qualquer coisa.


PLAYBOY — Então, se o Jô Soares ficar por algum motivo sem assessor para assuntos aleatórios, você está às ordens?


GERALD — [Risos.] Aquele cara é muito engraçado.


PLAYBOY — Talvez seja por ter tantas opiniões que o chamem sempre de polêmico. Você gosta de ser "o polêmico"?


GERALD — Mas eu não faço polêmica nenhuma! Digo o que penso, e isso às vezes fere. É muito desconfortável a polêmica porque ela distrai do trabalho e o foco fica sendo uma discussão. E o ponto em discussão raramente importa. Importa é quem conseguiu ganhar a discussão, quem conseguiu usar melhor a semântica. Trabalho pra caralho e o foco principal devia ser meu trabalho, não a polêmica. Mas digo o que acho. Cheguei no Brasil, vi peças de teatro e achei muito ruins. Se me perguntam, digo que achei o teatro brasileiro muito ruim. Aí vira polêmica.


PLAYBOY — De certo modo, suas opiniões alimentam sua fama. Você é reconhecido na rua?


GERALD — Sou, mas porque apareço no jornal, ou na Marília Gabriela ou no Jô Soares ou num documentário da TV Cultura. Mas não porque viram uma peça minha. Houve uma situação engraçada uma vez no trânsito em São Paulo, em 1987. Eu tinha participado de um programa de televisão uns dias antes. Numa blitz de trânsito, mandaram eu parar. Estava com passaporte acho que inglês, carteira de motorista inglesa e carro de aluguel. O cara não entendeu nada. Minha carteira nem era internacional. Ele chamou o superior dele, um coronel, acho. E veio o coronel, ainda sem ver os documentos, dizendo, quando me viu: "Você não é aquele polêmico? [risos]... Como é mesmo?... O polêmico..." [risos]. Perguntei se ele estava falando de um diretor de teatro chamados Gerald Thomas. E ele: "É isso aí, o polêmico Gerald Thomas." Isso me deixou livre.


POR MARCOS EMÍLIO GOMES

FOTOS CACALO KFOURI



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