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DEBORAH SECCO | AGOSTO, 2005

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com a estrela de América sobre a infância pobre, a despedida de solteira em que se vestiu de coelhinha e o namoro com o cantor Falcão


Tec. "Eu sou uma moleca." Tec. "Inventam muitas coisas sobre mim." Tec. A atriz Deborah Secco tem o tique de estalar a alça do sutiã contra a pele enquanto fala. Também puxa a armação para baixo, como que para acondicionar melhor os seios turbinados por 235 mililitros de silicone. Deborah ainda mexe as pernas, cruzando-as e descruzando-as freneticamente, leva as mãos atrás do pescoço e junta os cabelos para, em seguida, esparramá-los sobre os ombros. Aos 25 anos, a carioca nascida no bairro de Cidade de Deus diz que chegou ao auge da carreira. Em América, na Globo, sua 12º novela, vive pela primeira vez a protagonista do horário das 8, a heroína Sol, uma garota deslumbrada com os Estados Unidos que sonha em ganhar a vida pôr lá. Deborah também ocupa a telinha no começo da tarde, na reprise da novela Laços de Família, no papei de íris, uma vilã safadinha que joga charme para um homem com idade para ser seu pai. Na tela grande, despertou suspiros ao aparecer de biquíni sumário em seu quinto filme, Meu Tio Matou um Cara, de Jorge Furtado.


Deborah diz ter dado seu primeiro autógrafo aos 9 anos, enquanto comia pão com requeijão numa padaria do Rio de Janeiro. Havia poucos dias que estreara na novela Mico Preto, das 7 horas. Conseguiu o papel depois de convencer a mãe, dona-de-casa, a deixar fotos suas na Rede Globo. "Eu falava que ia ser atriz de novela das 8, mas ninguém acreditava." Ela conta que. após assinar o contrato para a primeira novela, ficou tão nervosa que desmaiou no corredor da emissora. A atuação da garotinha magricela convenceu e rendeu-lhe outros trabalhos. Conquistou a crítica no seriado Confissões de Adolescente, na TV Cultura. Mas foi em 1999 que ela deslanchou, com o papel de uma maria-chuteira sexy na novela Suave Veneno. O ensaio para PLAYBOY naquele ano ajudou a transformá-la de simples garotinha em uma das mulheres mais desejadas do Brasil. Foi uma das edições mais vendidas da história da revista.


Em 2001 a atriz terminou o casamento com o diretor Rogério Gomes — iniciado quando ela tinha 18 anos, e ele, 18 a mais — e começou a namorar o ator Maurício Mattar. seu par na novela das 6. Em 2002, após a cirurgia para aumentar os seios, posou novamente para PLAYBOY, firmando sua merecida imagem de mulher fatal — que ela, no entanto, insiste em não reconhecer. Depois engatou romances com os atores Dado Dolabella e Marcelo Faria. ganhando fama de namoradeira. A fase atual, mais pacata, coincidiu com o início de seu relacionamento com o cantor Falcão, líder da banda O Rappa. Os dois namoram há pouco mais de um ano e, desde essa época, Deborah mudou de estilo. Os cabelos louros voltaram ao tom natural. castanho. As saias curtas, vestidos justos, saltos agulha e decotes foram substituídos por calças de tecido molinho, batas e sapatinhos sem salto. Ela nega a mudança no vestuário: "Minhas roupas são as de sempre. Antes ficavam mais justas porque eu estava mais gorda". Fora o trabalho, vem se dedicando a estudar história e filosofia. Também tenta, como sua personagem da novela, melhorar o inglês. "Falo que nem índio. Mim, comida", brinca.


Nesta nova fase, Deborah está mais comedida em suas declarações. Ela chegou a contratar a empresa H2M, que tem como sócio o jornalista Rodrigo Paiva, um dos responsáveis pela construção da imagem de Ronaldo, o Fenômeno. Mas aceitou de pronto o convite para falar com PLAYBOY. "Compro a revista todo mês por causa da entrevista", disse. A única dificuldade foi encontrar tempo para as conversas em sua agenda lotada de gravações da novela, fotografias para publicidade e eventos. Na primeira sessão, a atriz recebeu a repórter Adriana Negreiros em sua casa no condomínio fechado no bairro carioca do Recreio dos Bandeirantes, onde mora sozinha. A segunda sessão foi na ponte aérea São Paulo—Rio de Janeiro, às 6h45 da manhã, quando, mais tranqüila e um tanto sonolenta, não estalou o sutiã contra a pele. Estava sem ele. De All Star, bermudão jeans, camisa e coletinho, contrariando o frio do inverno paulistano, não chamou a atenção no aeroporto. Já no Rio, um motorista de táxi ofereceu-lhe os serviços, para só depois de alguns segundos dar-se conta de que ela era a Sol da novela. "As pessoas demoram a me reconhecer, sou pequenininha", diz, modesta.


PLAYBOY — Você se diz tão moleca... Então de onde vem essa fama de furacão sensual?


DEBORAH SECCO — Não sei! Eu não sou nada disso! Olha a quantidade de feridas na perna da pessoa [levanta a calça e mostra as cicatrizes de ferimento]. Sou uma moleca, cara! Eu sou toda machucada, sou a pessoa mais estabanada deste mundo, olha isso [agora mostra os braços feridos]. Tenho marcas por todos os lados, onde eu cruzar as pernas tenho marcas.


PLAYBOY — Como você se machuca tanto?


DEBORAH — Eu não sei andar de salto alto, caio que nem uma louca. Caio muito gravando a novela. Porque na época da Darlene o desequilíbrio ajudava a compor a personagem, mas agora é diferente. Aquilo era totalmente meu. Eu tento me equilibrar, mas sempre caio. Não sou elegante, não tem jeito. Nasci pra andar de All Star. Já faço a maquiagem antes de gravar, não tenho paciência pra ficar duas horas me maquiando. Eu sou muito... [pensativa].


PLAYBOY — Prática?


DEBORAH — É, não tenho muito apego a essa coisa de ser bonita, porque nunca me achei bonita, sabe? Eu tenho a consciência de que não sou bonita.


PLAYBOY — Hã, hã...


DEBORAH — É sério, eu sou um ser humano normal. Não é que eu seja feia, sou bonitinha. Mas sexy é uma coisa que eu tenho certeza que não sou. Talvez a voz seja sensual, porque é rouca. Ou talvez minha espontaneidade me faça ser um pouco diferente.


PLAYBOY — Quando citam suas qualidades, muitos homens falam de sua cara de safada.


DEBORAH — [Risos] Aaai! Quando fiz o primeiro ensaio para a PLAYBOY, o J.R. Duran dizia: "Sua cara está ótima". E eu dizia: "Mas parece cara da revista Capricho".


PLAYBOY — Por que você colocou silicone? Não foi para parecer mais mulher?


DEBORAH — Ah, essa também foi uma decisão completamente criança. Decidi que se meu peito não crescesse eu ia colocar silicone. Porque a minha irmã é mais nova do que eu e o peito cresceu. Aí levei-a para o consultório e disse: "Doutora, quero esse peito. Ela tem e eu não tenho, e isso não é justo". Foi uma coisa de admirar a Bárbara, que é linda, tem 1,78 metro, é uma das mulheres mais bonitas que eu já vi. É uma beleza forte, ela é toda grandona. A doutora disse: "Esse peito você não vai ter; mas vamos tentar chegar perto". Acho que ficou muito bom.


"Minha irmã é mais nova do que eu e o peito dela cresceu. Levei-a ao consultório e disse: 'Doutora, quero esse peito'"

PLAYBOY — Quanto silicone você pôs?


DEBORAH — Foram 235 mililitros. As pessoas falam que colocaram menos, pessoas que têm o peito muito maior que o meu. Eu sempre falo a verdade: 235 é muito mais do que a Feiticeira e a Danielle Winits dizem que colocaram.


PLAYBOY — As duas são bem peitudas...


DEBORAH — É, elas devem ter posto mais. Às vezes eu vejo a novela e acho meu peito superpequeno. Eu falei para a doutora: "A única coisa que eu não quero é que pareça que botei silicone. Quero peito pra baixo". É uma coisa de criança, sabe? Eu demorei à beça pra ter corpo. Eu me vejo em Laços de Família. Eu tinha 21 e corpo de 13. Se não tivesse colocado peito, ia ter o mesmo corpo até hoje.


PLAYBOY — Suas migas contam que, na época, você as chamou ao banheiro, levantou a blusa e mostrou os peitos novos.


DEBORAH — Eu queria mostrar pra todo mundo! Todo mundo quer ver, até hoje as pessoas pedem pra ver. Mulher gosta disso, né?


PLAYBOY — Elas pegavam pra sentir a textura?


DEBORAH — Completamente! [Apalpa o próprio peito] E o meu é molinho, normal.


PLAYBOY — Você não usava sutiã e agora usa. Teve que se render a ele?


DEBORAH — Na verdade, eu não uso sutiã até hoje. Só uso quando é uma coisa obrigatória.


PLAYBOY — Por isso o tique de puxar a alça?


DEBORAH — É, eu não gosto de nada me apertando. Sempre achei que calcinha e sutiã marcavam. Desde criança, já esticava o elástico da calcinha pra não marcar. Até hoje faço isso. Elas ficam todas horríveis, mas isso é o que menos importa.


PLAYBOY — Não seria mais prático simplesmente eliminá-las de vez?


DEBORAH — Mas com calça jeans não dá pra ficar sem calcinha, incomoda. E também não dá pra usar vestido sem, né? Às vezes eu compro mais largas. Sabe aquelas calcinhas de bichinhos da íris na novela Laços de Família? Eram todas minhas.


PLAYBOY — Quer dizer que sua criancice se aplica às lingeries.


DEBORAH — [Faz que sim com a cabeça] Eu durmo com um pijaminha que a minha mãe e a minha sobrinha têm um igual, escrito "Eu te amo". Por isso é que eu falo: não sou nada sexy. Não tenho essa de "ah, durmo sem roupa". Não sou essa coisa Marylin.


PLAYBOY — Esse jeito estabanado se aplica ao seu dia-a-dia?


DEBORAH — Eu não dirijo muito bem, e por isso tenho um motorista. Quando estou com sono, costumo bater muito de carro.


PLAYBOY — Quantas vezes você já bateu?


DEBORAH — Várias vezes. Eu sou muito distraída. Só nessa voltinha aqui do condomínio bati o carro duas vezes. Uma vez no poste e outra no carro do vizinho. Eu mudo o som, escuto música e decoro texto dirigindo. Enfim, não passo dirigir, né? Tenho que ter um motorista.


PLAYBOY — Além de motorista, quantos funcionários você tem em casa?


DEBORAH — Para ter uma casa funcional, eu preciso de pelo menos três pessoas. Tem a Alice, que faz a comida do pessoal, e a Ana, que é minha secretária. Também tenho seguranças. Eu faço um trabalho para milhões de pessoas, e em alguns eventos a gente não sabe que tipos de pessoa vão estar lá. Eu sempre fico com um certo receio, afinal o John Lennon foi assassinado por um fã. Quando estou no meio de muita gente desconhecida eu fico aflita. As pessoas não enxergam que eu sou só um ser humano assustado, sou só uma menina de 25 anos.


PLAYBOY — Como você era na infância?


DEBORAH — Eu era muito calma e observadora. Gostava de ver os adultos conversarem, ficava observando o jeito de cada um. Eu prestava mais atenção no jeito da professora que na aula. Acredito muito que as pessoas nascem com um propósito, e felizes são as pessoas que descobrem cedo o propósito de suas vidas. Desde que me entendo por gente quero ser atriz. Eu brincava de interpretar, criava meus personagens e amigos imaginários.


PLAYBOY — É verdade que você levava a interpretação tão a sério que chegou a pedir esmola na rua?


DEBORAH — Meu pai fala que se eu não fosse atriz seria esquizofrênica. Essa história é a seguinte: eu tinha uns 6 ou 7 anos e perto da minha casa tinha um sinal onde ficavam umas crianças. Elas dormiam ali. Um dia eu disse: "Pô, vou ficar amiga dessas crianças e ficar ali com elas". Comecei a ir lá e elas me perguntavam onde eu morava. Eu respondia: "Eu moro mais pra lá, tal, mas não está dando muito dinheiro e me falaram que aqui vocês ganham bem". Fui me chegando, ficando, e um dia um vizinho falou pra minha mãe: "Ó, a Deborah está pedindo dinheiro lá no sinal [risos]" . Mas essa não é a única história.


PLAYBOY — Então conta outra.


DEBORAH — O que eu queria era me testar, ver se eu convencia bem. Da primeira vez que fiz isso, fingi que tinha perdido a memória. Caí, bati com a cabeça, todo mundo ficou preocupado, minha mãe tentou falar comigo e eu disse: "Quem é você?". "Como, quem sou eu?", ela disse. "Eu só sei que você é minha mãe, mas não sei seu nome e não sei quem é ela, aquela também, ele". Isso durou um mês e meio [risos]. Eu não ia ao colégio. Minha mãe falava que tirou a prova quando fui à aula de balé, que eu adorava. Se eu não soubesse a coreografia é porque o negócio era sério. Quando cheguei lá, não dancei, fiquei muda. Até que chegou o dia em que eu cansei e disse: "Mãe, era mentira".


"Fingi que perdi a memória. Minha mãe falou comigo e eu disse: 'Quem é você? Isso durou um mês e meio'"

PLAYBOY — Você foi levada ao médico?


DEBORAH — Fui e o médico falava que eu aparentemente não tinha nada, mas que perda de memória era daquele jeito mesmo. Eu conseguia convencer os médicos de que o negócio era sério. Outra vez, andando de patins, eu caí, mas não aconteceu nada. E eu chorava, chorava, dizia que tinha quebrado o braço e precisava engessar. Minha irmã já tinha quebrado braço, perna, e eu nunca tinha botado gesso. Fomos ao médico, o cara tirou radiografia, viu que não tinha nada e falou pra minha mãe: "Melhor engessar. Não quebrou nada, mas pode ter sido uma luxação". Agüentei a mentira até a hora em que vi todo mundo indo à praia e eu não podia ir por causa do braço. "Mãe, era mentira." Aí foi aquela confusão, pegamos uma bacia, jogamos água e tiramos o gesso. A minha mãe foi vendo que o negócio era sério, que eu realmente tinha problemas [risos].


PLAYBOY — Quando essas mentiras passaram a ser vistas como mérito?


DEBORAH — Minha irmã sempre fala que eu era uma mentirosa. Mas era interpretação, sabe? Quando a Ana morreu [a irmã mais velha de Deborah, Ana Luiza, morreu aos 4 anos, depois de uma cirurgia que deu errado], minha mãe foi fazer teatro como forma de terapia. Ela acabou produzindo algumas peças, e eu curtia isso muito mais do que ela. Eu sabia as falas de todo mundo na peça. As pessoas falavam que era uma maldade não me incentivar a fazer isso. E a gente foi levar umas fotos para um lugar que produzia comerciais.


PLAYBOY — Você conseguiu descolar algum trabalho?


DEBORAH — Na verdade, meu pai e minha mãe encaravam aquilo como uma brincadeira. A gente levou uma foto de casa, com máquina de retrato da minha mãe, e disseram que não podia, que tinha que ser foto produzida. Mas a gente não tinha grana pra pagar o fotógrafo. Então voltamos para casa e, quando chegamos, tinha um recado da produtora dizendo que a garota de um comercial de um shopping tinha desistido e que eu poderia substituí-la. Gravei no dia seguinte e com esse dinheiro do comercial consegui fazer as fotos.


PLAYBOY — Como foi a gravação do comercial?


DEBORAH — Chegamos às 8 da manhã e começamos a gravar às 3 da madrugada. Minha mãe estava de saco cheio e falava: "Não queeeeero maaais, não venho com você para cá nuuuuuunca mais na vida!" E eu estava fascinada com aquele mundo de estúdio, luzes, câmeras. Foi o Carlos Manga que dirigiu o comercial. Eu ficara enlouquecida olhando para aquelas pessoas e falei: "Não quero nunca mais deixar de fazer isso". O que para os outros parecia muito chato para mim era fascinante. Minha mãe também levava a Bárbara, minha irmã, que era mais alta e tida como mais bonita. Mas ela odiava. Para ela, ficar esperando tanto tempo era um tormento. Viam as fotos da Bárbara, ela era chamada para os testes, eu ia junto de intrometida e ficava com a vaga. Ela até hoje fala: "Esse lugar era meu [risos]'."


PLAYBOY — Você estreou em novelas ao 9 anos, em Mico Preto. Como foi a transição dos comerciais para a Rede Globo?


DEBORAH — Quando eu comecei, ainda não havia essa ânsia pela fama que existe hoje. Não tinha isso de querer ser famoso, de todas as meninas quererem virar atrizes e modelos. Então não era tão difícil, não havia tanta concorrência. Nesse primeiro comercial, minha mãe conheceu mães de outras meninas que deram dicas de agências, sugeriram que a gente deixasse fotos na Manchete e na Globo. Eu era chamada para testes e numa dessas fiz o teste para a novela Mico Preto. Na verdade, eu nem tinha sido chamada para o teste. Mas fui até lá e, como não tinha muita gente, me deixaram fazer. Eu me lembro muito bem: a Denise Sarraceni e o Alexandre Avancini [diretores da Rede Globo] me separaram e falaram: "Você se incomoda de esperar até a gente terminar o teste?" Eu falei: "Não, de jeito nenhum". Fiz o teste novamente e foi quando eu passei para minha primeira novela.


PLAYBOY — Qual é a lembrança mais viva que você tem do início na televisão?


DEBORAH — Eu me lembro da exata hora em que recebi a notícia de que ia fazer a novela. Desci no elevador, passei mal e desmaiei no hall da TV Globo. Minha mãe ficou desesperada, porque eu tinha pressão baixa, desmaiava com uma certa facilidade quando estava calor: "Ai, ninguém pode descobrir que esta menina é frágil, podem querer terminar o contrato agora!" Me levaram para uma salinha, eu acordei. Mas foi uma loucura. Também me lembro de como fiquei feliz quando recebi o crachá da TV Globo. Eu podia entrar direto. Tinha crachá, camarim e arara com meu nome.


PLAYBOY — Você era a estrela do colégio por trabalhar na televisão?


DEBORAH — Ninguém acreditava que ia dar certo. Era aquilo de "olha a menina que quer ser atriz, tadinha". As pessoas nunca ficaram deslumbradas. Quando eu fiz Confissões de Adolescente, perdi quatro meses de aula por causa das filmagens. Eu estudava em casa e só fazia prova no colégio. O seriado só passava em São Paulo e as pessoas me perguntavam: "Onde você estava?" Eu respondia: "Estou gravando um programa baseado na peça da Maria Mariana". Ninguém acreditava.


PLAYBOY — Você foi uma adolescente típica, com agendas de clipes e fotos de ídolos no quarto?


DEBORAH — Eu queria me casar com o Patrick Swayze, era meu sonho. Eu sempre adorei dançar e o vi dançando em Dirty Dancing. Fiquei loucamente apaixonada. Meu pai falava: "Minha filha, ele é casado, tem dois filhos". Eu falava: "Pai, mas tudo muda. Se um dia ele se separar, pode me encontrar". Eu tive uma fase completamente de ídolos, fui apaixonada pelo New Kids on The Block, escrevi 22.000 cartas para o Gugu, para o Viva a Noite, para o Sonho Maluco. Tudo para conhecer o New Kids on The Block. Mas eu não era uma adolescente normal. Nunca fui à boate, nunca saí de noite, não gosto de música em inglês, acho chato, porque não consigo entender a letra.


PLAYBOY — Seu inglês é como o da Sol?


DEBORAH — Sempre odiei inglês. Eu tinha muita facilidade para decorar; ia muito bem na prova, mas na prova oral eu ia muito mal. Eu decorava a palavra como era escrita. E na hora de falar eu falava do jeito que se escrevia. Eu penava muito.


PLAYBOY — No treinamento para interpretar Sol, você trabalhou numa lanchonete nos Estados Unidos e deu-se mal por causa do inglês. Como foi a experiência?


DEBORAH — Na verdade, eu não falo inglês. Eu estava num McDonald's onde só trabalhavam negros. Eu era a única pessoa branca e já comecei a trabalhar no caixa, que é o lugar onde todo mundo almeja chegar. As pessoas começam lavando o chão, depois embrulhando o sanduíche, depois fritam batata para em seguida trabalhar no caixa. Eu já comecei a trabalhar no caixa e não entendia o que as pessoas falavam.


PLAYBOY — Em que momento você se deu mal?


DEBORAH — Eu tinha que falar para um cliente que o troco dele era 5 dólares e 16 centavos. E eu não lembrava como era o 16. Fiquei contando: ten, eleven, twelve, thirteen, fourteen, fifteen, sixteen! Sixteen! Sixteen! [risos] Foi na hora que a gerente falou: "Chega! Vai limpar o chão!" Eu tenho uma facilidade grande de entender o que as pessoas falam comigo, mas acho que é mais pela entonação que pelas palavras. Eu digo que a Sol tem que melhorar, vamos lá, ela está há dois meses nos Estados Unidos! Aí eu falo: "Como é que fala isso?" "I... want... that". Eu sou daquelas de dizer palavras soltas.


PLAYBOY — The book is on the table.


DEBORAH — The book. Eu sempre brinco com isso. Quando fui pra Disney com minha irmã, meu irmão e meu pai, dizia pra Bárbara: "Se a gente encontrar o Brad Pitt, já sei o que vou falar para ele: 'Brad, the book is on the table! I'm the table, you are the book'" [risos]. Meu pai falava: "Minha filha, você não quer casar com o Patrick Swayze? Então estuda inglês. É a única chance que você tem com ele".


PLAYBOY — De que outras matérias você não gostava?


DEBORAH — Você vê como são as coisas. A matéria em que eu menos me dava bem no colégio era interpretação de texto. Até briguei com a professora seriamente. Ela me deu zero na interpretação de Pais e Filhos, do Renato Russo, que terminava assim [cantando]: "Você culpa seus pais por tudo. E isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer". Ela perguntava o que ele queria dizer com a última frase. Eu disse que temos que ter paciência com nossos pais e avós, porque no futuro seremos assim, ditadores de regras dos nossos filhos. Ela me deu zero porque, segundo achava, aquilo era apenas uma pergunta e eu devia responder se queria ser médica, atriz.


PLAYBOY — Teve que enfrentar a professora?


DEBORAH — Eu falei pra ela que, na letra do meu disco, aquilo era uma afirmação, não uma pergunta. E que teríamos de chamar o Renato Russo para ele explicar o que quis dizer com aquilo.


PLAYBOY — Você tinha agendinha com clipes?


DEBORAH — Eu gostava de comprar a Capricho, cortar aquelas frases legais e colar na agenda, mas não ia muito longe. Dava trabalho. Logo eu descobri que era muito mais legal tirar as frases dos discos do Chico Buarque e do Caetano. Nessa época eu virei amante de MPB e sou até hoje. Nunca fui de ler revista e acreditar no que ela falava, sabe? Essa coisa de "como ter um abdômen perfeito". Eu lia, tentava acreditar, mas não passava disso. Até que ouvi Cálice pela primeira vez e falei: "Nossa, como eles são inteligentes. Fizeram uma metáfora de cálice com ca-lar-se!". E comecei a entrar numa piração de querer ter tudo deles. E hoje tenho tudo de Chico e Caetano.


PLAYBOY — Já os conheceu pessoalmente?


DEBORAH — Eu conheci o Caetano, mas confesso que fico extremamente nervosa quando o vejo. Eu o encontrei várias vezes e uma vez disse que gostaria que a música Você É Linda tivesse sido feita pra mim. Imagina um homem escrever pra mim "Fonte de mel, nos olhos de gueixa, cacho de acácias". É muita poesia. E ele falou: "Sinta-se como se a música fosse pra você, ela já é sua". Mas eu fico muito nervosa. O Chico, quando encontrei, não tive coragem de falar com ele, de tão trêmula que fiquei.


PLAYBOY — Você faz parte do imenso time de mulheres que ama o Chico?


DEBORAH — Eu o acho maravilhoso, maravilhoso, maravilhoso! Ele é um homem lindo por fora, mas muito mais lindo por dentro. Ele é um homem infinito. Se eu vivesse uma vida inteira ao lado do Chico não conseguiria chegar ao fim dele, sabe? Eu troquei um "oi" muito discreto com ele e fiquei morrendo de vontade de falar: "Chiiiiico, eu amo você!"


PLAYBOY — Quando soube que você seria entrevistada por PLAYBOY, o Falcão te deu alguma dica [o líder do Rappa foi entrevistado pela revista em maio de 2004]?


DEBORAH — Nenhuma! Ele fala muito melhor que eu, tem o dom da palavra, por escrever, por compor. Ele sabe se expressar. Mas, como a gente é muito diferente, qualquer dica dele soaria artificial para mim. Às vezes ele fala de um jeito incompreensível. Eu me lembro de que no começo do namoro eu tinha quase que usar um dicionário [risos]. Ele falava: "Pô, esse cara é a maior comédia". Eu achava que era um elogio, que o cara era engraçado. Mas não. Significa que o cara é um babaca, um idiota, um palhaço.


PLAYBOY — O Falcão é o homem da sua vida?


DEBORAH — Hoje prefiro não falar sobre isso publicamente. Esse foi um erro que eu cometi e uma lição que aprendi. Antes, eu falava sobre todas as minhas ânsias e meus sonhos, as pessoas perguntavam e eu não sabia dizer não. Acho que isso é uma coisa que eu tenho que falar para ele. Ele é uma pessoa de quem gosto muito, que amo muito e que me faz muito feliz. Recentemente, vi uma pesquisa numa revista americana sobre os atores em decadência. Você sabia que o Tom Cruise é o primeiro da lista? São pessoas que falam sobre sua vida pessoal. O público não tem a menor curiosidade sobre a nossa vida pessoal. Eu sei disso porque ando na rua e as pessoas me perguntam se a Sol vai ficar com o Ed ou com o Tião. Ninguém me pergunta do Falcão. A nossa relação é de duas pessoas. Se não for, não é um casal. Aí vira multidão.


"O público não tem curiosidade sobre nossa vida pessoal. Na rua, só me perguntam se a Sol vai ficar com o Ed ou o Tião"

PLAYBOY — Quando vocês se conheceram?


DEBORAH — Eu conhecia o Falcão como artista, muito antes de conhecê-lo como pessoa. Eu era fã do Rappa. Eu o vi no Carnaval da Bahia, num camarote. Eu estava morrendo de sono, com a minha mãe, e aí o vi. "Mãe, o Falcão do Rappa'" E minha mãe: "Quem é Falcão, minha filha?" "O Falcão do Rappa, mãe. É um grupo muito bom que tem aquela música tal." E minha mãe não conhecia. Falei pra minha mãe esperar porque eu queria ir lá tirar uma foto. Ele estava com uma Polaroid, tirou uma, ficou com outra e passamos três anos sem nos ver. Depois a gente se reencontrou num show dele, fui ao camarim, a gente se conheceu melhor e começamos a namorar.


PLAYBOY — Você vai a praticamente todos os shows do Rappa.


DEBORAH — Agora que estou trabalhando, não tenho ido tanto, mas tento ir a todos que posso.


PLAYBOY — Quando vocês começaram a namorar, muita gente estranhou. Era o cara largadão com a atriz patricinha. Você sentia que as pessoas avaliavam a relação de vocês dessa maneira?


DEBORAH — Eu senti que as pessoas não levavam nosso namoro muito a sério. Mas elas não me conheciam. Ninguém pode falar sem me conhecer. Ele tem uma imagem muito forte e eu estava na fase da Darlene, que era o ápice do estereótipo da futilidade. Mas ninguém sabe como nós somos de verdade. Eu sempre ignorei as críticas.


PLAYBOY — Sentiu que os fãs dele ficaram chateados?


DEBORAH — Deve ter havido alguma manifestação contra mim em sites ou reuniões de fãs-clubes, mas ele nunca me passou nada. E hoje sou muito bem tratada pelas presidentes dos fãs-clubes.


PLAYBOY — O que explica você se envolver com homens tão diferentes, como Dado Dolabella e Falcão?


DEBORAH — Nada explica, talvez nem eu consiga entender.


PLAYBOY — Você se arrepende de alguma coisa?


DEBORAH — Já me arrependi de milhões de coisas que fiz na vida. Acho que nada explica por que você se envolve com alguém num momento. Para mim, esse envolvimento não tem explicação.


PLAYBOY — Você se refere ao Dado?


DEBORAH — É, ao Dado, a muitos outros. Quando passa, não faz muito sentido.


PLAYBOY — Fisicamente, o que te chama a atenção em um homem?


DEBORAH — Eu olho bastante para a mão. Gosto de mão de homem. Não gosto de unha tratada. Aquela mão de homem que faz unha e não tem nenhum calinho não me atrai. Mas isso de beleza é muito superficial. Eu sempre digo que os meus namorados mais bonitos são os que as pessoas consideram mais feios.


"Gosto de mão de homem, não de unha tratada. Aquela mão com as unhas feitas, sem nenhum calinho, não me atrai"

PLAYBOY — Tamanho é documento?


DEBORAH — Não. Em nenhum aspecto. A qualidade não depende do tamanho. Você pode ter uma coisa enorme e não saber usar e ter uma coisa média ou pequena e asar bem. Eu nunca tive essa preocupação de olhar para saber como era. Se for grande ou pequeno, não importa, cada pessoa é de um jeito e não vai alterar muito.


PLAYBOY — Você já foi a uma sex shop?


DEBORAH — Só para comprar um presente para uma amiga, de brincadeira, numa despedida de solteiro.


PLAYBOY — E não aproveitou para ver uma oferta para você?


DEBORAH — Não, era uma brincadeira com as minhas amigas. Eu e mais duas fizemos uma coreografia vestidas de coelhinhas [envergonhada]. Mas só havia mulheres presentes, graças a Deus.


PLAYBOY — Nunca usou um vibrador, nem por curiosidade?


DEBORAH — Não. Uma vez ganhei umas bolinhas de presente, mas nem sei para que servem.


PLAYBOY — Filmes de sexo explícito te abrem o apetite?


DEBORAH — Não vejo a menor graça neles. Já vi de bobagem, de adolescente, mas acho ridículo. tenho vontade de rir. Não me excitam.


PLAYBOY — Virou moda meninas se beijarem na boca. Você compartilha dessa tendência?


DEBORAH — Na época da minha adolescência, o bacana era fumar maconha. Mas isso virou careta e então inventaram outra coisa. Eu acho isso uma falta de tempo, uma vontade de se afirmar perante um grupinho. Não preciso disso. Não vou fingir que gosto de mulher, que gosto de fumar maconha. Desculpa, não gosto, mas também não vou fingir o contrário só pra agradar. Não sei se as meninas fazem isso pra conquistar o namorado ou se é pra chocar a mãe. Eu acho que é válido se for verdadeiro, Mas não é válido se as agride. Eu já vi muitas meninas frustradas em analistas, com a cabeça confusa, porque não sabem direito o que estão fazendo e depois se arrependem, ficam com nojo.


PLAYBOY — Você já experimentou drogas?


DEBORAH — Nunca e sempre repito a mesma frase: "Não me peça para usar, que eu não peço para você parar de usar". Tenho todo o respeito por qualquer escolha que as pessoas façam.


PLAYBOY — Rodinhas de baseado te incomodam?


DEBORAH — Me incomodam pelo cheiro e pela fumaça. Fico enjoada. Mas também não me incomodo de ficar esperando um pouquinho [risos].


PLAYBOY — Tem algo que você se recusa a fazer na cama?


DEBORAH — Ah, isso é tão meu, fico tão reticente de falar... Só vai me conhecer na cama quem de fato tiver essa oportunidade. O sexo tem que ser prazeroso para ambas as partes. É um prazer necessário, como tomar banho, comer, dormir. É uma das necessidades da vida.


PLAYBOY — Pelo visto, você não curte um sexo casual.


DEBORAH — De jeito nenhum. Se o cara passar uma noite comigo é porque vai namorar comigo. Pode ser que namore uma semana, mas vai ter que me dar satisfação no dia seguinte. Não tem isso de não ligar. Se vai rolar, eu falo: "Olha, por mim a gente namorava, vem pra cá, vamos ficar juntos de novo". Eu não consigo mentir.


PLAYBOY — Você fala nesses termos — namorar, ficar junto?


DEBORAH — Claramente nesses termos. Quando eu era mais nova, em termos piores: casar, ter filhos.


PLAYBOY — Como foi seu primeiro beijo?


DEBORAH — Eu tinha medo de beijar. Minha irmã treinava num copo com gelo, tentando buscar o gelo com a língua. Eu não. Eu gostava do meu vizinho, ele gostava de mim, mas eu tinha medo de ser ruim. E de fato foi horrível olhar para ele depois, eu não sabia beijar; eu achava que tudo era mais lindo quando a gente não se beijava. Namoramos um mês sem beijar e éramos tão felizes! Foi um caos, era uma coisa meio liqüidificador, uma coisa rodando, muito confim. Eu achava que podia rodar menos e a língua ficar mais mole.


PLAYBOY — O namoro sobreviveu a isso?


DEBORAH — Depois disso, a gente nunca mais se beijou. O cara me deu um beijo e sumiu! Quer dizer que ele só queria me beijar? E o pior é que foi no Réveillon, no portão da minha casa. Meu irmão filmou e no dia seguinte reuniu a família pra mostrar a fita. Foi horrível! Minha bisavó vendo a fita e de repente apareço eu beijando. Ficou um gosto ruim na minha boca e depois disso eu fiquei um ano sem beijar.


PLAYBOY — Como você perdeu a virgindade?


DEBORAH — Foi com meu primeiro namorado, o Erick. Eu tinha 14 anos e ele era um pouco mais velho, uns três anos. Se eu comparar com hoje, não foi bom. Mas para uma primeira vez não foi ruim. Para o que eu conhecia de relacionamento sexual, foi bacana.


PLAYBOY — Você tinha medo?


DEBORAH — Tinha medo de sentir dor, e meu ginecologista, graças a Deus, é meu tio. Eu já namorava fazia um ano e meio e comecei a tomar pílula seis meses antes de ter a minha primeira relação, porque eu podia ter a qualquer momento. Meu tio me dizia: "Se doer, pára, tenta no outro dia, vai com calma". Eu tive muita orientação da família.


PLAYBOY — Para quem você contou que transou pela primeira vez?


DEBORAH — Na mesma hora eu contei pra minha mãe. "Mãe, perdi a virgindade." E ela: "Ah, já não é mais uma menina, é uma mocinha. Vamos comprar uma calcinha nova". E no outro dia a gente foi comprar calcinhas. Foi uma coisa bonitinha. Quando eu falei para o meu pai, ele ficou todo emocionado e falou: "Minha filha, eu queria que todos os homens do mundo soubessem o quanto você é especial e que jamais te magoassem" [emocionada].


PLAYBOY — Muitas pessoas se surpreendem quando sabem que você nasceu na Cidade de Deus. Que lembranças tem do período em que viveu lá?


DEBORAH — Eu fiquei lá só até minha irmã falecer, quando eu tinha 1 ano e meio. A gente mudou pra Jacarepaguá, que era quase a mesma coisa. Mas eu nunca vi aquela violência que tem no filme Cidade de Deus. Eu estava muito mais preocupada com minhas bonecas e minhas brincadeiras. Tráfico e drogas sempre foram muito distantes da minha realidade.


PLAYBOY — Sua família era de classe média?


DEBORAH — Classe média baixa. Outro dia eu estava conversando isso com a minha mãe, sobre o quanto a gente se achava rico, sabe? Mas isso acontecia porque a gente desconhecia as coisas que existiam. Só vim conhecer marcas de roupa, de carro, de uns tempos pra cá. Para mim aquilo era desconhecido. Logo, quando você não conhece, você não pode nem desejar essa coisa.


PLAYBOY — Seus pais tinham carro?


DEBORAH — Meu pai teve carro quando eu era mais adolescente. Eu tinha um único vestido para fazer teste. Era um vestido emprestado de uma amiga, que a gente acabou não devolvendo. Era um vestido de boneca, listrado, branco, azul e rosa, com um lacinho pro cabelo.


PLAYBOY — O que seus pais faziam?


DEBORAH — Minha mãe era dona-de-casa e meu pai sempre foi um cara que se virou. Até hoje não sei dizer qual é a profissão dele. Ele faz de tudo um pouco. Trabalha numa cooperativa, dá aulas, tem umas empresas de construção, enfim, se vira. Cada hora ele está com um trabalho diferente.


PLAYBOY — Como vivem os seus irmãos?


DEBORAH — Minha irmã é advogada e meu irmão vende máquinas de tirar cópias.


PLAYBOY — Você ajuda sua família financeiramente?


DEBORAH — Eu os ajudo financeiramente e eles me ajudam afetuosamente. Eles me ajudam muito mais do que eu os ajudo.


PLAYBOY — Você é rica?


DEBORAH — Rica com certeza, não. Eu vivo muuuuito bem. Mas perto dos números que a gente vê na televisão eu sou muito pobre [risos].


PLAYBOY — Como a menina bonitinha das novelas virou um dos maiores símbolos sexuais do país?


DEBORAH — Para mim foi uma grande surpresa. Porque até então eu era feia. Eu fiz a menina de rua, a gordinha, a garota que ninguém queria namorar. Sempre ouvi que, na minha carreira, nunca ia fazer mocinha. Ia fazer os tipos. Até que o diretor da novela, o Daniel Filho, me escalou para o papel da Marina, que era sexy e gostava de jogador de futebol. Ele falou assim: "A partir de hoje você não usa mais tênis e bota. Só minissaia e sapato alto". Saí de lá e no outro dia voltei de jeans e tênis. A primeira pessoa que eu encontro é o Daniel. "Deboraaaaaaah! Pode voltar pra casa e botar uma saia e um salto alto que a partir de hoje você vai aprender a ser bonita!"


PLAYBOY — Como você se acostumou com o papel?


DEBORAH — Foi um trabalho muito difícil. Nas primeiras cenas, eu tinha que dançar na boate, em cima de uma mesa, supersexy. Eu não me acho sexy e pra mim aquilo foi um choque! Pra mim eu estava fazendo um papel de ridícula, de palhaça ali em cima daquela mesa. A gente cancelou a gravação, repetiu várias vezes, e não ficava bom. Naquele momento, o Daniel falou pra mim: "Deborah! Você vai ser a mulher mais sexy do Brasil se acreditar nisso!" Depois de repetir muitas vezes, eu me irritei e falei: "Quer saber? Eu vou fazer tuuudo, vou virar uma loooouca, e se ele não gostar, falo que vou embora e que não faço mais esta novela". Então subi à mesa, alguma coisa tomou conta de mim e eu fiquei maluca.


PLAYBOY — Foi nessa época que você apareceu em PLAYBOY pela primeira vez.


DEBORAH — Recebi o convite e fiquei surpresa. Não acreditava que estava com essa bola toda. Eu tinha feito cenas de nudez na novela, que eram muito mais difíceis. Porque, além de estar nua, você tem que interpretar. O Daniel falava: "Deborah, relaxa, todo mundo já viu, ou a gente vai ficar aqui até amanhã. Quanto mais rápido você fizer a cena, mais rápido você se veste". Mas foi um choque. Fui do camarim até o estúdio de roupão, tremendo. E de fato as primeiras cenas de nudez ficaram muito ruins. O Daniel só deixou passar porque viu que eu não conseguia melhorar.


PLAYBOY — Como foi a experiência do primeiro ensaio em Los Angeles?


DEBORAH — Eu queria fazer uma coisa Pretty Woman, mas tivemos dificuldades com a locação e não conseguimos fotografar em Hollywood Boulevard. Tivemos que mudar os planos em cima da hora. Eu entrei no personagem da novela e por isso consegui fotografar.


PLAYBOY — A foto em que você toma uma mamadeira é uma das clássicas da história da revista.


DEBORAH — O Duran foi sugerindo milhões de coisas e eu não tinha maldade nenhuma. Juro por Deus. E acho que o grande barato dessa foto é que você vê que a menina não tem a menor maldade. Eu era uma menina que se achava magrela e desconfiava que ninguém ia comprar a revista. Eu tinha total encanação com meu corpo, não me sentia nada bonita. No segundo ensaio, eu já sabia me posicionar como mulher:


PLAYBOY — Em 1999, seu pai foi dar aula num cursinho e encontrou fotos suas com os alunos. Como ele reagiu?


DEBORAH — Na verdade, minhas fotos estavam pregadas no quadro. Ele falou: "Minha filha é linda, não?" Aí tirou as fotos e começou a dar aula. Lá em casa ninguém tinha muitos problemas com isso, porque sempre deixei claro que não ia deixar de fazer nada na minha carreira.


POR ADRIANA NEGREIROS

FOTOS EDUARDO MONTEIRO


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