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GUGU LIBERATO | JULHO, 1984



Aos 25 anos, esse ex-office-boy ganha mais de 30 milhões de cruzeiros por mês, anda com milionários e é um novo campeão de audiência


POR OSMAR MENDES JÚNIOR

FOTO LUÍS CRISPINO


Louras espetaculares, em maiôs insinuantes, atendendo telefones, auxiliando nas gincanas. Gostosíssimas mulatas seminuas, rebolando freneticamente na disputa do título "Melhor Passista da Noite". Casais de gordos desengonçados, se sacolejando dentro de uma cabine indevassável, ao som de músicas ligeiras, para ver quem consegue ficar mais tempo dentro do ritmo. Grupos de garotos uniformizados fazendo evoluções no melhor estilo Michael Jackson. Garotas altas, em biquínis mínimos, participando de concursos de beleza ou simplesmente fazendo pose para compor o visual do programa.


Com elementos assim, Antônio Augusto Moraes Liberato, um ex-office-boy paulista, de 25 anos, consegue todos os sábados o que até há pouco parecia uma tarefa impossível: ameaçar com o seu "Viva a Noite" um programa popular, de baixo custo, com auditório e ao vivo — o sólido ibope da Rede Globo de Televisão. E com isso faturar muitos milhões de cruzeiros.


Corinthiano, a favor das diretas já ("Acho que o brasileiro tem o direito da escolha, como os povos civilizados"), Gugu é adorado por um enorme e variado contingente de fãs. Mas ainda está longe de ser uma unanimidade nacional, embora todos reconheçam que ele é dono de uma das mais rápidas, felizes e rendosas carreiras dentro do panorama artístico brasileiro. Tem gente que simplesmente se irrita quando topa com ele no vídeo. Talvez porque sua imagem lembre aquelas crianças-prodígios que fazem tudo certinho, que parecem carbono dos adultos. Mas Gugu Liberato não liga para essas coisas. E continua fiel ao gênero que escolheu, por sinal o mesmo do seu atual patrão, Sílvio Santos.


Dono de uma incontestável simpatia, Gugu é um homem de pouco tempo e múltiplas atividades. Entre seus feitos, por exemplo, constam fatos como acompanhar a comitiva presidencial do general Figueiredo numa de suas freqüentes visitas ao exterior. Gugu foi como repórter (e ele é jornalista mesmo, formado pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo). Ou convites quase diários para participar das festas dos milionários paulistas e cariocas (foi ele quem comandou o histórico leilão das roupas íntimas da atriz Matilde Mastrangi no Clube Gallery). Ou, ainda, apresentações em todos os programas musicais da televisão, defendendo seu mais recente sucesso no disco, o Baile dos Passarinhos. Ele fatura de todos os lados. E gosta de lembrar que está só no começo.


Para esta entrevista, nosso editor Osmar Mendes Júnior foi encontrá-lo durante dois dias, em dois locais diferentes. O primeiro encontro aconteceu nos estúdios da Rede LC de Rádio, em São Paulo, onde Gugu grava seu programa diário de rádio (que aliás também é campeão de audiência). A segunda conversa aconteceu nos estúdios da Rádio América de São Paulo, onde ele também tem um programa diário.





1. Quem assiste regularmente ao seu programa, que chega a ser popularesco, jamais poderia imaginar que você é um dos artistas mais requisitados para animar as festas dos milionários em São Paulo e no Rio. Como você explica isso? Não tenho uma explicação lógica. Talvez seja porque atinjo as crianças e as mulheres. Mas tenho sido convidado com uma certa freqüência para essas festas. Tudo começou quando acompanhei a comitiva do presidente Figueiredo numa de suas viagens internacionais. De lá para cá sempre surgem esses convites.


2. A mais famosa dessas festas foi a do Gallery, na época do último Natal. É verdade que você incentivou a Matilde Mastrangi naquele leilão de peças íntimas? Eu estava apresentando aquela festa, quando ela propôs leiloar as peças de roupa. Então topei animar a platéia, como costumo fazer no meu programa de televisão. Andaram dizendo por aí que eu fiz até uma cena de ciúmes por ela ter roubado o espetáculo e que no fim acabei arrematando a calcinha dela. Tudo fofoca. Não fiquei enciumado em nenhum momento e quem acabou ficando com a calcinha dela foi um outro louro, publicitário, dono de uma grande agência aqui de São Paulo. Aliás, também disseram que acompanhei o presidente Figueiredo na base da mordomia. Outra fofoca. Fui como repórter do Sílvio Santos.


3. Por falar nisso, como é o seu relacionamento com o Sílvio Santos? Dizem que ele elegeu você como sucessor. Meu relacionamento com ele é muito bom, de empregado para patrão. Ao contrário do que muita gente pensa, não somos amigos íntimos. Se muito, fui duas ou três vezes à casa dele, mesmo assim em ocasiões especiais, como quando ele se casou pela segunda vez. Quanto ao fato de ser seu sucessor, não acredito. Acho impossível alguém substituir alguém. Principalmente uma pessoa como o Sílvio Santos, que mantém seu programa há 25 anos no ar. A tarimba e a experiência que ele acumulou nesse tempo todo são difíceis de ser igualadas.


4. Mas você começou com ele, no programa dele, não foi? Trabalhei durante dez anos no Programa Sílvio Santos, sempre na produção. Eu escrevia quadros, como o "Só Compra quem Tem", "Quem Sabe Mais: o Homem ou a Mulher?" e outros. Comecei cedo, aos 13 anos. Eu gostava de assisti-lo e admirava o estilo dele. Admiro até hoje, aliás. Então ficava observando tudo e achando que o programa poderia melhorar em alguns aspectos. Escrevi várias cartas para ele, sempre enviando sugestões. Nunca obtive respostas. Na época eu era office-boy de uma firma e trabalhava o dia inteiro. Num domingo, incentivado por minha mãe, fui pessoalmente entregar uma das cartas. Foi duro, mas consegui furar todas as barreiras e chegar até ele. Entreguei o envelope em mãos, como bom office-boy. No domingo seguinte voltei para saber a resposta. O programa era ao vivo, direto do auditório da Rede Globo na praça Marechal Deodoro, aqui mesmo em São Paulo. Fora os seguranças, havia uma muralha de gente em volta do Sílvio. Eu já estava quase desistindo quando ele me viu e me deixou entrar. Não lembro bem quanto, mas sei que, naquele tempo, o que ele me pagou por quatro das sugestões que mandei era quase o dobro do meu salário. Fiquei trabalhando com a equipe de produção.


5. A sua formação, portanto, é toda do Sílvio e seu programa? Não é bem assim. Eu sempre estudei, sempre fiquei atento a isso. Sou jornalista profissional formado pela Faculdade Cásper Líbero, de São Paulo. Só apareci no vídeo quando acompanhei a comitiva do Figueiredo. Depois houve aquele problema com a TV Tupi e fiquei uns tempos sem fazer televisão. Quando a TVS nasceu, fui escolhido para apresentar a Sessão Premiada, onde nos intervalos eu telefonava para os telespectadores e dava prêmios. Saí dali direto para o Viva a Noite.


6. O Viva a Noite é idéia sua? O programa foi inspirado no Dance Fever americano e no Fiebre argentino. Claro que algumas adaptações — como as mulatas — foram criadas aqui mesmo no Brasil. Hoje o Viva a Noite tem características próprias, graças às renovações constantes por que tem passado.


7. Você está no comando do Viva a Noite há pouco mais de um ano e meio. Deu para enriquecer em tão pouco tempo? Eu ganho 6 milhões de cruzeiros por mês na televisão, o que não deixa de ser um salário razoável. Mas minha maior fonte de renda é o rádio, onde tenho outro programa que é retransmitido por uma cadeia de 45 emissoras. Ali faturo uma média de 18 milhões de cruzeiros. No total dá 25 milhões mensais, fora os rendimentos das minhas duas empresas, a Promoart, de shows e propaganda, e a Gugu Representações, que comercializa a minha imagem.


8. Como é feita essa comercialização da imagem do Gugu? Como grande parte do meu público é composta por crianças, as atividades da Gugu Representações se voltam basicamente para elas. Já lancei um disco, O Baile dos Passarinhos, onde canto e ensino essa dança, que é mesmo muito divertida. Brevemente devo lançar uma série de revistas em quadrinhos; um boneco com roupas (parecido com a Suzie da Estrela); uma coleção de roupas infantis e algumas excursões para a Disneyworld, na linha "Viaje com o Gugu".


9. Pelo jeito você não é um candidato ao Retiro dos Artistas. Aprendeu bem a lição do Sílvio Santos, não? Estou me cuidando porque sei que, de uma hora para outra, posso deixar de ser interessante na televisão. Já tenho dois apartamentos, um automóvel Monza do ano, dinheiro no open market, etc. Como sou um rapaz de origem humilde, sei valorizar o que ganho.


10. Você disse "rapaz de origem humilde"? Isso mesmo. Minha família, composta de imigrantes portugueses, sempre teve pouco dinheiro. Meu pai era caminheiro, ficava dias fora de casa. Então era aquela história de educação rígida, muita religião, economia forçada. Minhas maiores diversões eram as revistas em quadrinhos — até hoje curto — e a televisão. Hoje me considero privilegiado. Não só pelo meu trabalho, mas por ter tido sorte também. Acho que encontrei meu momento certo.


11. Você leva jeito de quem não bebe, nem fuma, nunca viu drogas de perto. Foi por causa da educação rígida? Bebo cerveja e vodca, de vez em quando. Mas pouco, geralmente em festas ou em um ou outro almoço e jantar. Já vi algumas drogas, sim. Maconha, principalmente. Algumas pessoas já fumaram perto de mim alguns cigarros de maconha. Também conheço as famosas "bolinhas", embora nunca tenha experimentado nada disso por puro medo. Aliás, depois que li o livro e vi o filme Christiane F., sobre uma garota de 13 anos que é drogada e prostituída, fiquei mais medroso ainda. Não aconselho ninguém a isso, mas também não critico. A decisão depende de cada um.


12. E sobre sexo? Qual a sua posição? A minha posição? Bem [rindo e vermelho de vergonha], eu sou um sujeito normal. Quero dizer [encabulado], eu acho que o sexo é uma coisa tão íntima que qualquer coisa que se faça com ele é normal. Tenho, porém, algumas manias. Por exemplo: não gosto de transar pela manhã. Agora, sou muito curioso pelo assunto. No exterior, sempre que posso, vou dar uma espiada nas sex shops, só para ver se descubro alguma novidade.


13. Mas dizem que você é um rapaz tão ocupado, que nunca tem tempo para o amor. Que é isso? Está certo que tenho o dia todo tomado por compromissos ligados à minha profissão e que durmo apenas seis horas por noite. Mas para o sexo sempre sobra tempo. Se bem que agora as coisas ficaram um pouco mais complicadas para mim. Sabe como é: quando a gente fica famoso, é preciso selecionar um pouco mais. É preciso estar alerta sempre, para não correr certos riscos. Eu faço sexo desde os 14 anos — comecei com uma vizinha, mas não espalha, por favor — e gosto muito. Gosto mesmo. Por isso, pelo menos umas duas vezes por semana dou um jeito de arranjar um tempinho.


14. É verdade que você quase foi obrigado a se casar no Japão, acusado de ter deflorado uma recepcionista? Pura mentira, boataria. Eu fui noivo, de aliança e tudo, aqui mesmo no Brasil. Acabei com tudo quando entrei para a faculdade. O que aconteceu no Japão foi que eu fiquei atraído por uma garota japonesa. Tivemos um rápido caso, que terminou quando vim embora. Mas foi fulminante. Quase que a menina vem comigo para o Brasil.


Sou fascinado por garotas orientais: elas sabem como ninguém fazer um homem se sentir um verdadeiro rei.

15. Foi apenas uma coincidência ou você tem alguma preferência pelas orientais? Sou fascinado por garotas orientais. Tive várias namoradas nisseis. Acho superexcitante aquele jeitinho meigo delas, aquele ar de quem quer ser protegida. Gosto de mulheres bem femininas e cheirosas. As orientais são sempre assim. O sexo, com elas, chega a ser melhor do que com outras mulheres. Elas sabem, como ninguém, fazer um homem se sentir um verdadeiro rei.


16. Dizem que você tem até um chinelo chinês e um quimono, guardados no armário. É para alguma emergência? Tenho alguns objetos que trouxe do Oriente. Mas nada de chinelos e quimonos. Aí já seria um exagero meu, né?


17. E fora da linha oriental, qual o seu tipo de mulher? Eu gosto muito da Suzane Carvalho, irmã da Simone. Mas a Kátia Pedrosa, Miss Brasil do ano passado, também me chama atenção. Talvez por causa dos olhinhos puxados dela.


18. Parodiando o Chacrinha: com qual delas você casaria? Eu casaria com as duas, lógico.


19. E aquelas lourinhas que ajudam você no Viva a Noite? O que há com elas?! São muito simpáticas, muito interessantes, têm uma participação importante no programa...


20. Você já saiu com alguma delas? Não! Que é isso? Eu não quero me envolver com ninguém do meio. Só dá confusão.


MAQUILAGEM MÁRCIO DA GRAÇA MARTINS


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