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MV BILL | MAIO, 2006

Playboy Entrevista



Uma conversa franca com o polêmico rapper

sobre discriminação, violência, drogas, sociedade, visita à Daslu

e o filme Falcão — Meninos do Tráfico


Pichada nos muros, a inscrição "Saudades, Telo. CV" marca a entrada do bairro. Diz a história que Telo trabalhava para o Comando Vermelho. Até ser capturado por policiais e obrigado a passar a noite amarrado na laje de onde vigiava o movimento. O plano era usá-lo como escudo humano em uma emboscada contra o pessoal do CV. E foi o que aconteceu: quando amanheceu, os policiais abriram fogo contra os traficantes. Quatro ou cinco caíram mortos, enquanto os outros responderam ao ataque. Telo, que estava na linha de tiro, morreu pelas baias de seus companheiros.


A cena não integra um hipotético Cidade de Deus 2, mas faz parte da realidade dos 120 mil moradores da verdadeira Cidade de Deus, bairro pobre da zona oeste do Rio que se tornou famoso graças ao filme de Fernando Meirelles. "Cidade de Deus estigmatizou a Cidade de Deus. A polícia ficou mais violenta e muita gente perdeu o emprego", diz Alex Pereira Barbosa, 32 anos, o rapper MV ("Mensageiro da Verdade") Bill, porta-voz alçado à condição de herói dessa comunidade com a realização do documentário Falcão — Meninos do Tráfico.


Considerado um dos registros mais crus já feitos sobre o submundo das drogas, Falcão acenou em cheio o estômago da sociedade brasileira ao ser veiculado em horário nobre pela maior emissora do país: em 19 de março, ganhou três blocos (38 minutos) no Fantástico. Da noite para o dia, MV Bill passou a conviver com a rotina de entrevistas e programas de TV. Instantaneamente famoso, o rapper da periferia surpreenderia mais uma vez ao lançar o livro homônimo na Daslu, famoso templo do consumo de luxo, e posar para uma revista de celebridades ao lado de Eliana Tranchesi, dona da badalada loja paulistana.


Para produzir o documentário, Bill e seu parceiro — o produtor e empresário Celso Athayde — passaram oito anos percorrendo favelas de todos os estados brasileiras e filmando a vida dos jovens que ingressam no tráfico de drogas. Dos 17 entrevistados, apenas um permanece vivo. No dia 12 de outubro, urna versão de uma hora e meia do documentário chega aos cinemas.


A convivência com os garotos do tráfico forneceu ainda material para o terceiro CD de Bill: Falcão — O Bagulho É Doido, que chega às lojas neste mês sucedendo Declaração de Guerra (2002) e Traficando Informação (1999).


MV Bill é um sujeito que usa o seu 1,94 metro de altura e o jeitão mal encarado para encobrir a timidez, que o faz sorrir sem jeito e olhar para o chão quando o assunto é sexo. No braço direito, traz um microfone tatuado com a inscrição "Minha Arma". No esquerdo, "Jesus é a justiça". "Um dos músicos que tocam comigo até mudou de igreja. O pastor achou que eu era coisa do diabo", conta, afirmando que não é evangélico.


Os temas contra os quais esse mensageiro da verdade gosta de pregar são outros: injustiça social, racismo e guerra. Nos momentos de maior exaltação, Bill deixa escapar seu lado "revolucionário" e conclama os moradores da favela a parar de se matar e olhar para os "inimigos comuns".


Para conversar com PLAYBOY, o rapper recebeu o repórter Fernando Barros de Mello na sede da Cufa (Central Única das Favelas), ONG que investe em aulas que vão de produção de vídeo e computação à basquete de rua. Foram duas sessões de entrevista na Cidade de Deus. No primeiro dia, Bill chegou urna hora atrasado porque a todo momento era parado pelos moradores. No dia seguinte, chegou 15 minutos antes.



PLAYBOY Você lançou o livro Falcão — Meninos do Tráfico na Daslu. Por que escolher a butique de luxo da classe AAA?


MV BILL Foi um pedido meu. Eu discuto a favela há anos com a própria favela. Nós não temos a solução e, quando temos, falta dinheiro. Não se diminui a pobreza sem o auxílio da riqueza. Não fui à Daslu fazer show, como alguns do rap. Fui dizer que, ou eles dividem a riqueza, ou vão ter de continuar a sofrer as conseqüências da pobreza que eles ajudam a gerar.


PLAYBOY Valeu a pena?


MV BILL Claro. Quero ir à Fiesp e à Firjan [federações das indústrias de São Paulo e do Rio de Janeiro]. Quero levar a discussão aonde puder. Vi interesse de parte da mídia em buscar contradição no fato de a gente estar na Daslu.


PLAYBOY Você ficou sem graça quando uma socióloga falou sobre a Daslu como o "templo do consumismo"?


MV BILL Não era uma pergunta. Ela disse que se sente culpada quando sabe que um moleque mata ou morre por um tênis enquanto ela vai à Daslu fazer compras. As pessoas que compram ali, de certa forma, podem financiar a violência mostrada no filme. Mas outra menina fez uma defesa correta: por mais que tenham críticas à Eliana [Tranchesi, proprietária da loja], ela se dispôs a ir à favela para fizer alguma coisa. Para mim não foi perguntado nada.


PLAYBOY Como você se sentiu lá?


MV BILL Porra, incomodado! Rolava um mal-estar. Eu faço parte do extremo daquilo. Mas, como eu levantei a bola, não posso ficar debaixo do edredom vendo o que vai acontecer.


PLAYBOY Você soube que um funcionário das Casas Bahia reclamou que um segurança o olhou dos pés à cabeça?


MV BILL Olharam para mim também. É o olhar de segurança, que nos identifica como marginal-padrão. Mas não falaram nada porque sou "incolor", sou famoso. É mais fácil discriminar o sujeito das Casas Bahia. Só que, quando eu fui à Comissão dos Direitos Humanos do Senado para exibir o filme e participar de um debate, só dois senadores apareceram. O Cristovam Buarque [PDT-DF], que presidiu a sessão, e o Mão Santa [PMDB-PI].


PLAYBOY Na Daslu, você conheceu o Olavo Setubal, um dos donos do ltaú. Vocês conversaram sobre investimentos em projetos sociais?


MV BILL Ele era o primeiro da fila de autógrafos e fez um comentário que pode significar alguma coisa: "Fica difícil pensar o social da mesma forma depois de ouvir você falar". "Do ca(*)lho! Obrigado", assinei o livro e ele foi embora. Agora, não ia conseguir atingir um dos donos do baú ficando na favela. Foi uma estratégia para chegar até os milionários.


"Não ia conseguir atingir o dono do Itaú falando só na favela. Ir à Daslu foi uma estratégia"

PLAYBOY Qual a concessão ao dinheiro que você faz?


MV BILL — [Silêncio] Gasto dinheiro com disco, DVD, livro. Não sou de entrar em butique e gastar com roupa. Até porque os caras me mandam roupas. Também tem os familiares e a Cufa, que dependem da minha ajuda.


PLAYBOY Logo depois da exibição do documentário Falcão — Meninos do Tráfico no Fantástico, o escritor Ferréz escreveu na Folha de S.Paulo: "Tupac morreria de novo, se realmente estivesse vivo, vendo um irmão de cor falando como branco na cara dura", O que você achou?


MV BILL É o fortalecimento da cultura da ignorância. O que é saber falar como um branco? Falar o português correto? Fui na Daslu e fui no presídio porque eu falo "favelês" e português. Sobre as críticas que ele fez por eu ter ido à Globo, ele esqueceu que participou de um quadro no mesmo programa apresentando a literatura dele. E estava súper à vontade. Um beijo pra ele.


PLAYBOY Você acha que o hip hop tem um papel transformador da realidade?


MV BILL Ninguém precisa andar de mãos dadas, mas cada um tem que fazer a sua parte. Eu queria manter o bagulho na resistência, porque o hip hop sempre foi música marginalizada, de bandido, mas, quando vi que muitos grupos não estavam nem aí pra isso, disse: "F(*)da-se". Tenho afinidade com aqueles que estão envolvidos com a Cufa, não acredito em uma organização de todas as pessoas que fazem hip hop no Brasil. Também não quero que nego venha pelo oba-oba Tem gente do asfalto que é milionário, e a miséria da favela deixa o cara cada vez mais rico. Só que tem muita gente dentro da favela, inclusive nego que canta rap, que não quer que a miséria acabe pra não ficar sem assunto.


PLAYBOY Você canta essa realidade.


MV BILL Mas eu queria cantar outra, porra! Não quero ser a palmatória do mundo, mas acho que usar a minha arte e a minha visibilidade para expor esse problema do jeito que ele é, de uma forma que possa render uma discussão, é bom pra ca(*)lho. Hoje a favela está em pauta no Brasil. A gente mostrou os moleques do tráfico, mas nego tá falando de todo o resto, porque falar desses moleques é falar do que acontece em torno deles.


PLAYBOY Em 2003, você indagava se os autores dessa "música da favela" sabiam o que queriam. Hoje você sabe?


MV BILL Muita gente começou a falar m(*). E, aí, surgiu essa cultura da ignorância na periferia. A gente não pode ter vergonha de morar na favela, de ter origem humilde, de não saber falar o português correto. Mas também não dá pra ter orgulho disso. A ponto de nego dizer que universidade é coisa de branco, de boy. São caras que têm música no rádio, falam para crianças e adolescentes. Mesmo agora, depois que saiu o documentário, vejo nego do rap falando: "Ca(*)lho, Bill, não sabia que o bagulho era assim". Aí ouço a música do cara e ela fala justamente daquilo. "Ca(*)lho, então tu tá cantando o quê, maluco?"


PLAYBOY O que você acha do exemplo do presidente Lula, que se orgulha de não ter lido na vida?


MV BILL Acho ruim. Mas também não adiante ele dizer que lê pra cacete sem ler. A gente vê o reflexo da leitura na hora que o Lula fala. Aqui na Cidade de Deus, vi uma porrada de gente com o Falcão na mão. Dá uma felicidade do ca(*)lho saber que aquele pode ser o primeiro de muitos livros.


PLAYBOY São por idéias como as do livro que você passou a se chamar de MV Bill, o Mensageiro da Verdade?


MV BILL O Bill veio da Copa de 82, quando um amigo viu na TV o mascote da Nova Zelândia, um rato feio pra ca(*)lho chamado Bill. A sigla MV surgiu quando descobri nas leituras um tipo de verdade que eu desconhecia. As pessoas me viam como o "garoto da mensagem" ou como o "cara da verdade".


PLAYBOY Essa verdade vinha de onde?


MV BILL Da história do Zumbi dos Palmares, da biografia do Malcolm-X, de um livro sobre a Revolta da Chibata e de Quatrocentos Contra Um: Uma História do Comando Vermelho. Fui me transformando em ativista, não em artista. Até parecia um pastor, que ficava pregando sobre o hip hop nos trens. Mas hoje, MV está mais para "minha verdade".


PLAYBOY E o seu início no hip hop?


MV BILL Eu vi a revista Bizz que tinha letras traduzidas do filme Colors — As Cores da Violência. Foi aí que me identifiquei com a cultura hip hop. Um amigo me apresentou o disco do Public Enemy. Comecei a pensar em fazer a minha versão brasileira e formei o Geração Futuro. Mas, quando a gente chegava, o público falava: "P(*)a que pariu..."


PLAYBOY Por quê?


MV BILL A gente acabava com a festa, né? Todo mundo escutando funk e a gente chegava com aquelas batidas quadradonas, arrastadas, esbravejando sobre problemas sociais. Naquela época eu era o encalhadão. Não pegava ninguém.


PLAYBOY Era tímido?


MV BILL Não sou santo, mas "devagarzão", enquanto os meus amigos eram do tipo "atiradão". Conclusão: todos arrumaram filho muito cedo, alguns pegaram doenças venéreas. Na favela, a gente aprende que homem é quem come a menina aos 14 anos, mas a gente nessa fase ainda é criança.


PLAYBOY Como foi a sua primeira vez nessa outra área?


MV BILL Foi tarde, com 20 anos. Mas eu tive tempo suficiente até chegar à prática. A teoria me garantiu bom aprendizado, e o treinamento, também [risos].


PLAYBOY O rap brasileiro é americanizado?


MV BILL Acho que o rap brasileiro está mais brasileiro até que o rock. Curto poucas bandas, tipo Pitty ou Catapulta. Já o rap tem buscado caminhos diferentes. Tem uns que até querem ser americanos, botam chapéu igual ao Tupac, camisa de futebol americano. Mas é o Brasil que está se tornando uma tendência mundial. Não vai demorar para os produtores americanos começarem a fazer rap com música brasileira. E a gente não pode ficar esperando os caras descobrirem um bagulho que está no nosso quintal.


PLAYBOY Quando compõe seus raps, você se policia nas letras?


MV BILL Não chega a ser uma autocensura, mas uma autocrítica. Principalmente depois que comecei a ver o tipo de gente que estava atingindo. Em suma, você ter visibilidade também significa perder um pouco de liberdade. Até rimou essa porra.


PLAYBOY Seu primeiro disco é Traficando Informação (1999). Tinha menos autocensura nessa época?


MV BILL No primeiro, eu era um Bill; no segundo, outro; e no terceiro, sou outro. Não existe esse negócio de serei sempre o mesmo. Nos anos 90, era fácil mandar todo mundo pra p(*) que pariu, se f(*) , falar que toda a polícia é corrupta. Já conheci uma porrada de policiais honestos também. E, como você não quer ser generalizado, também não pode ficar generalizando.


PLAYBOY Por que seu novo disco se chama O Bagulho É Doido?


MV BILL Ele, assim como o livro [Falcão], me dá a oportunidade de mostrar outras coisas que eu sentia enquanto fazia o documentário. "O bagulho é doido" é uma expressão que serve tanto para demonstrar uma situação de perigo como uma situação legal. Depende da entonação.


PLAYBOY Antes do documentário você achava que as crianças eram, de alguma forma, poupadas pelo tráfico?


MV BILL Sim. Mas elas são punidas pra ca(*)lho: muitas nem conseguem chegar à fase adulta ou, quando chegam, é tirando cadeia. Também quebramos um pouco da idéia de salários milionários. Porra, com 8 reais se consegue sexo oral com as viciadas. Vi pessoas com eletrônicos comprados a 3 reais. O mais louco é saber que o videogame que o pai viciado está tirando do filho acaba virando a alegria de outra criança. A droga é o PIB da favela.


"O videogame que o viciado tira do filho é a alegria de outra criança. A droga é o PIB da favela"

PLAYBOY Você acredita na expressão "aquele cara tem sangue ruim"?


MV BILL Acredito. Tem sangue ruim dentro e fora da favela. Mas tudo depende de classe social e do delito cometido pelo sangue ruim.


PLAYBOY Se existem os "sangues ruins'; a saída para os "falcões" é uma questão pessoal ou depende de uma engrenagem sobre a qual eles não têm controle?


MV BILL A idade deles é a do impulso, da adrenalina. E o que eles têm fora do crime não os satisfazem. Por isso, sou da teoria que é mais fácil, ou menos difícil, falar com o jovem que ainda não entrou. Mas ele precisa fazer a parte dele. Os "falcões" tinham consciência de que podiam ser exemplo para outros, mas preferiram viver pouco como reis e não viver muito como ninguém.


PLAYBOY Você chorou nas filmagens?


MV BILL Pra ca(*)lho. O cara que faz rap tem a imagem de durão, mas sou emotivo. Tem momentos que não dá para segurar. Passei a valorizar as coisas que eu tenho, parei de reclamar pelo que ainda não tive.


PLAYBOY Chegou a ficar deprimido?


MV BILL F(*), cara. Acho que Falcão consegue justificar por que eu sou um cara sério. Já sofri crítica do próprio hip hop: "Ah, o Bill faz cara feia para impressionar". Imagina. Mesmo quando estou cantando as minhas músicas, muitas falam daquele assunto. E disso não dá pra tratar dando gargalhada.


PLAYBOY Vocês viram a morte de perto várias vezes. Qual foi a pior situação?


MV BILL Morte é morte. Mas pega a história do Sabugo, que era fogueteiro numa favela e sempre dormia em serviço. O cara dava mole, os homens entravam e prendiam os malucos da boca. No dia que a gente foi conversar com ele, o moleque dormiu. Os caras estavam de saco cheio e decidiram matá-lo. A gente tentou interceder. O Celso [Athayde] entrou no meio, mas o cara que tava com o celular na mão recebeu a ordem: dois tiros na cara do Sabugo. Depois colocaram fogo. Na nossa frente! Nas situações que a gente pôde, a gente tentou. Só que em várias houve infelicidade. Se eu tiver que ser indiciado por crime de omissão de socorro, teria que ser por todos eles.


PLAYBOY Você já deve estar acostumado a se meter em confusão. O que pretendia quando tirou a camisa e mostrou que carregava uma pistola na cintura no Free Jazz Festival de 1999?


MV BILL Não entro num assunto pensando na polêmica que vai render, mas são poucos artistas que se dispõem a colocar sua carreira em risco para falar sobre uma coisa que ninguém vai falar. No Free Jazz, eu era o primeiro artista brasileiro a cantar no palco principal. E tinha toda uma discussão sobre desarmamento. Mas a favela nunca é consultada. Queria mostrar que a favela também era a favor do desarmamento, mas não queria reproduzir a camisa branca e a vela na mão, como a classe média estava fazendo. O que repercutiu foi a arma na cintura, mas fiz um discurso, cantei Soldado do Morro, tirei a arma e coloquei numa toalha. No final, todos fizeram o sinal da paz. Se aquilo foi crime, tem que prender todos que estavam na platéia gritando "mais um".


PLAYBOY No Natal de 2000, você lançou o clipe da música Soldado do Morro, que trazia cenas de traficantes armados e você mesmo segurando um fuzil AR-15. O que sentiu quando foi acusado de apologia ao crime?


MV BILL Fiquei surpreso. A noite era de festa. Natal, milhares de pessoas, artistas famosos. No dia seguinte ninguém considerou isso, só falou que eu tinha que ser preso porque estava incentivando o crime. Foi uma demagogia do ca(*)lho. Se fosse, por exemplo, o Gabriel, o Pensador, que fizesse o clipe, talvez não fosse acusado da mesma forma.


PLAYBOY Você se achou injustiçado?


MV BILL Fiquei puto, mas superei.


PLAYBOY O filme Cidade de Deus (2002) retrata uma guerra aberta pelo controle do tráfico. Isso ainda existe?


MV BILL Rolavam guerras como aquelas que o filme meio que mostra [faz sinal de aspas]. Aconteciam por causa de droga, de mulher, de roupa de marca. Naquela época não existiam facções, e a Cidade de Deus era dividida. Quando chegou a facção criminosa [Comando Vermelho], houve um basta. Até hoje os tiroteios são confrontos do crime com a polícia. Ou seja, se a polícia não entra, não tem guerra, só os malucos vendendo os bagulhos deles, e vai lá quem quer. Existe comércio de drogas.


PLAYBOY O que você acha disso?


MV BILL É paradoxal. A polícia deveria trazer alento, segurança, acabar com o tiroteio. E é o contrário. Para mim, morar na Cidade de Deus é importante. Gosto pra ca (*) lho. Às vezes, quando viajo, sou tratado como celebridade e começo a flutuar. Mas, quando volto, meu pé afunda no chão. A Cidade de Deus não deixa pintar nenhum tipo de deslumbramento. Mas não sei até quando vou conseguir morar nela.


PLAYBOY Você tem vontade de sair?


MV BILL Não. Só que eu tenho uma namorada há mais de quatro anos. Daqui a pouco quero ter um filho e não quero que seja na Cidade de Deus. Meu aprendizado, as coisas que passei, meu filho não precisa passar. Meu planejamento era ter um filho aos 28, 29 anos. Aí, por causa desse documentário, comecei a pensar que seria uma irresponsabilidade colocar uma criança em um mundo como este. Mas não me arrependo de ter adiado.


PLAYBOY Você criticou o filme Cidade de Deus por mostrar o "preconceito de que a favela é a grande causadora da violência". O documentário Falcão acaba fazendo o mesmo?


MV BILL — Cidade de Deus estigmatizou a Cidade de Deus. Se tivesse um nome fictício, eu nem falava nada. Mas não existiu uma contrapartida para essas pessoas que foram estigmatizadas. A polícia ficou mais violenta lá, muitas pessoas perderam o emprego. Isso aconteceu mesmo. A gente tomou cuidado para não estigmatizar uma comunidade. Mas, se acharem que todo mundo na favela é "falcão", aí é ignorância. Aqueles jovens são minoria. Mas eles têm o poder pelas armas.


PLAYBOY Você já se sentiu ameaçado pelo poder dessas armas?


MV BILL Das armas daqui de dentro, não. Só que, quando a bala está comendo, não dá pra ficar de bobeira. Nesses momentos fica todo mundo unido por um único pensamento: sair vivo.


PLAYBOY No que Falcão difere de Cidade de Deus, ou de Notícias de uma Guerra Particular, de Jõao Moreira Sanes?


MV BILL Nós somos de dentro. Não tem câmera escondida, não tem ficção, são os personagens da vida real. Eles estão falando abertamente para a câmera. Não tivemos dinheiro público. O incentivo foi do nosso bolso. Cidade de Deus teve incentivo. A gente não ganhou nada, mas gastamos pra ca(*)lho.


"O filme Cidade de Deus teve verba pública, nós não tivemos. Nosso incentivo foi o nosso bolso"

PLAYBOY Quanto?


MV BILL Perdemos a conta. Não gosto de falar para não parecer coitado. Nos desfizemos de alguns bens, sem falar na indisposição com a família. Mas não espero retorno. Senão a gente vendia para alguma emissora. Mas, se gerar algum dinheiro, não é contradição. Nós investimos. Estamos falando sobre miséria e somos parte dela. E, se não pudermos fazer dinheiro nem com a miséria que nos restou, porra.... Distribuam cordas pra gente se enforcar.


PLAYBOY Já foi publicado que a Globo investiu 20 milhões de reais para divulgar Falcão. Vocês estão sabendo usar a força da mídia, não?


MV BILL Na veiculação do documentário eles tinham os interesses deles, e a gente, os nossos. Porra, a Rede Globo cedeu espaço e estamos aqui. Tudo que foi acordado foi cumprido. Tanto da parte deles quanto da nossa.


PLAYBOY Em 2003, vocês cancelaram a exibição de Falcão alegando "questões de foro intimo". Chegou a se falar de ameaça dos traficantes. O que ocorreu?


MV BILL Rolou uma história de ameaça, mas era justamente o contrário. "Porra, Bill, porque tu não passou?" Eu conversei com mais de 150 jovens. Separei 17 que tinham mais consciência, que conseguiam falar, porque muitos se drogavam tanto que não conseguiam nem isso. A medida que os moleques iam morrendo, vinha uma ansiedade do ca(*)lho. Quando ficaram só dois vivos, decidi passar na TV. Aí, um morreu quando a gente estava finalizando o filme e o outro na semana do lançamento. Quando me disseram que o 17º tinha morrido, eu parei e disse para o Celso: "Para mim, não tem mais razão de ser. Não vou saber defender esse projeto, não vou saber ir para a frente das câmeras". Fiquei fraco.


PLAYBOY Por que retomou?


MV BILL Em 2005, descobri que o 17º estava vivo e preso. E esse moleque dizia que queria ser palhaço! Uma palavra pejorativa. Quando a gente foi encontrá-lo na cadeia, a primeira coisa que eu queria saber era se o sonho dele estava mantido. Ele disse que sim.


PLAYBOY Esse garoto era o Serginho Fortalece, que trabalhou com você antes de sumir e ser preso, certo?


MV BILL Isso. Ele ficou dois meses na Cufa antes de sumir. Não rolou adaptação, por causa do pouco dinheiro que a gente tinha para pagar e pela imaturidade dele. Rolavam proibições do tipo: "Não vai ficar na rua, vai colocar calça, trabalhar, ter disciplina, aprender isso". Ele se sentiu sufocado. A gente viu que não era só empregar o moleque, precisava reeducar mesmo.


PLAYBOY Durante as filmagens, você esteve em um prédio usado como ponto-de-venda e consumo de drogas. O que aconteceu quando a polícia invadiu o lugar?


MV BILL Eu só tinha visto algo parecido no filme New Jack City. Na porta desse predinho, os caras vendiam as drogas, principalmente crack. Lá dentro, tinha os que vendiam cachimbo, nego que oferecia isqueiro, as "boqueteiras", que ofereciam seus serviços sexuais por uma tragada. Nego mijava, cagava, transava, fazia tudo ali. Percebi que, se os homens entrassem, eu não ia ter para onde correr. Pensei nas fitas, que podiam transformar nosso trabalho em delação. Aí f(*)eu: delação é imperdoável. E ainda tem nego de rap que acha que a gente fez isso para aparecer. Vou me promover colocando a vida em risco? Isso é idéia de filho da p(*) que não tem o que falar. Quando a polícia apareceu distribuindo borrachada, protegi a costela, mas levei no crânio. Sabia que não dava para dialogar com policial dentro da favela.


PLAYBOY Por quê?


MV BILL No começo, tinha decidido não correr. E foi frustrante. No Centro-Oeste, fiquei 40 minutos de cara para a parede; no Sul, rolaram umas porradas; no Nordeste, ameaças. A polícia dizia que, se ficássemos na cidade, ia sumir com a gente. Falavam que a gente dava voz a criminoso e que quem dá voz ao criminoso é criminoso. Passei a correr junto com os moleques e a me esconder com eles. Foi a forma de resguardar nosso material e a nossa vida.


PLAYBOY Você foi preso?


MV BILL No Centro-Oeste. Fiquei do lado de fora com nossos produtores locais. O do meu lado direito respondia por homicídio; o do lado esquerdo, por porte ilegal de arma. Os policiais chegaram e puxaram a DVC [ficha de antecedentes criminais]. Viram que eu não tinha porra nenhuma, mas começaram a achar que era, sei lá, uma "conexão Beira-Mar" com a cidade. Na hora que eles se interessaram pelo filme, menti. Disse que era sobre pessoas que conseguiram ser alguém no meio da adversidade. O policial, pretão, forte pra ca(*)lho, disse: "Então tu tá no lugar errado. Aqui ninguém venceu na vida".


PLAYBOY E na Cidade de Deus? Você já foi abordado por algum PM?


MV BILL Num certo dia de 2001, estava indo para a casa da minha mãe almoçar quando o pessoal começou a soltar fogos, o que na favela pode significar muita coisa: se está chegando polícia, inimigo, se vai chover [risos]. Só que eu não sou bandido. Tenho direito de ir e vir. Saí, não em tom desafiador, mas porque estava com pressa, ia para São Paulo. O policial, moleque novinho, estava nervoso e me perguntou aonde eu ia, onde eu morava, o que eu fazia. "Deixa ver sua carteira." Mostrei e ele viu um montão de notas de 1 real. "Este dinheiro é de boca!", disse.


"O policial viu minha carteira cheia de notas de 1 real. 'Isto aqui é dinheiro de boca', disse, todo nervoso"

PLAYBOY Ele chegou a apontar a arma para você?


MV BILL Na carteira, também tinha uma passagem de avião. "E essa passagem?", perguntou. "É pra viajar", respondi. Ele achou uma afronta e me mandou acompanhá-lo. Perguntei: "Está me prendendo? Se eu ficar dando rolê com policial na favela, me complico". Ele pegou a pistola e colocou nas minhas costas: "Agora você vai andar, seu filho da p(*). Só porque tu é forte, cheio de marra?" Rodei uns 20 minutos, até que chegou a viatura. O sargento me reconheceu e reprovou a atitude dele. Mandei uma carta com a história para os jornais. No dia seguinte, veio a imprensa. O comandante ofereceu a punição do policial. Falei que ele não devia ser punido, mas reeducado. Nem todo favelado é bandido.


PLAYBOY A reação foi diferente quando a polícia invadiu a casa da sua mãe?


MV BILL Aqui não existe mandado de prisão. Os policiais colocaram o fuzil na cara da minha coroa: "Tia, posso entrar?" Ela deixou. Quando viram um retrato meu na parede, perguntaram sobre a foto e ela falou que era a minha mãe. Os caras: "É a mãe do Bill, p(*) que pariu. Desculpa aí. Fala pra ele não fazer nada não, foi sem querer..."


PLAYBOY Sua exposição na mídia garantiu que nada acontecesse?


MV BILL Sim, mas não me deslumbro. Talvez os policiais não voltem à casa da minha mãe ou à minha. Mas com a maioria das pessoas continuam a mesma coisa: pé na porta.


PLAYBOY Depois de famoso, você passou a se considerar um exemplo?


MV BILL Entro em pânico com isso. A partir do momento que me torno um exemplo, passam a achar que não tenho defeitos. Eu erro pra ca(*)lho.


PLAYBOY E seu pai? Foi um exemplo?


MV BILL Meu pai deve ter tido oito ou nove filhos fora do casamento. Ele se separou da minha mãe quando eu tinha 14 anos e eu me transformei no homem da casa. Viver com a ausência dele foi um aprendizado. Era o exemplo que eu não deveria seguir. Geralmente o pai é a referência. O meu não foi.


PLAYBOY Como é a relação hoje?


MV BILL Tranqüila. Na época tinha ódio por ter sonhos adiados. Mas hoje até compreendo. Foi f(*). Tive que assumir um papel para o qual não estava preparado. Minha mãe ficava mais feliz quando eu trazia dinheiro da rua do que quando mostrava o boletim com boas notas. Foi um momento confuso. Não cheguei a trabalhar no tráfico, mas cheguei a pensar no mal.


PLAYBOY Qual foi seu primeiro emprego?


MV BILL Flanelinha, né? Na época nem tinha esse nome. Larguei os estudos na quarta série. Depois fui e voltei, até completar a oitava. Trabalhar era a forma de comprar uma bermuda de marca ou uma camisa. Comecei a virar escravo do consumo. Depois fui trabalhar em um supermercado de madame, de onde acabei sendo demitido.


PLAYBOY Por quê?


MV BILL Fui levar as compras de uma mulher e a filha dela, loirinha, ficou olhando. Bagulho de adolescente. Olho no olho, nem falei nada. Achei que ela tinha me dado condição, né? A mãe dela voltou ao mercado dizendo que alguém tinha tentado agarrar a filha. Fez escândalo, falou que não ia mais comprar ali enquanto a pessoa — no caso eu — trabalhasse lá. Perdi o emprego. Depois recuperei, mas fiquei com a fama de tarado regenerado.


PLAYBOY Depois você foi ser entregador de jornal, certo?


MV BILL Sim. Um dia, vi uma comparação na primeira página: em cima, uma foto com um montão de escravos com correntes no pescoço e um senhor de engenho; embaixo, outra foto com negros com a corda amarrada no pescoço e policiais com metralhadoras nas mãos. Olhei aquilo e senti um choque.


PLAYBOY Você se transformou em um ativista. Não acha que projetos da Cufa e do AfroReggae correm o risco de reforçar o estereótipo de que o negro só dá certo pelas vias cultural e esportiva?


MV BILL Com certeza. Na Cufa, eu dou mais ênfase ao curso de informática, ao teatro e ao vídeo. O hip hop foi o meu caminho, mas não pode ser o único.


PLAYBOY O que você acha do sistema de cotas nas universidades?


MV BILL Nas universidades públicas tem uma porrada de carro do ano. Os lugares destinados aos pretos estão na cozinha, na segurança e na limpeza. Acho que as cotas não precisam se perpetuar, mas também não vejo outra solução.


PLAYBOY A solução não seria garantir a mesma condição de concorrência, ou seja, ensino básico igual para todos?


MV BILL O Brasil é o país das desigualdades, não dá para esperar que todos tenham as mesmas oportunidades.


PLAYBOY E qual a sua opinião sobre a legalização da maconha?


MV BILL Não concordo que um maluco detido com um baseado vá para a cela junto com seqüestrador e estuprador. Mas será que o baseado tem o mesmo significado quando é pego na mão de um moleque branco e universitário e quando é pego com o moleque preto, favelado e desempregado? Também não acho justo que se legalize e a Souza Cruz seja a companhia oficial do cigarro de maconha. Será que alguém concordaria em descriminalizar e só o morro vender maconha?


PLAYBOY Você já pensou em desistir?


MV BILL É mais fácil comprar uma birosca e beber cachaça. Já quis que meu cérebro fosse deletado, para ser um alienado qualquer. Mas não consigo.


PLAYBOY Você tem pesadelos?


MV BILL P(*) que pariu! Até hoje as vozes dos moleques invadem a minha cabeça. Às vezes sonho que virei político.


PLAYBOY Está se candidatando?


MV BILL Nada. Na politica, com o sistema que tem no Brasil, não existe espaço para gente bem-intencionada Não se consegue mudar porra nenhuma. Se alguém muda uma coisinha, mexe com os interesses de uma porrada de gente.


PLAYBOY Em 2002 você fundou o PPPomar, partido só de negros. Cientistas políticos dizem que grupos não formam partidos. O PPPomar não era excludente?


MV BILL Ele era legítimo pela falta de representatividade que o negro tem na sociedade. Mas não era para eu me candidatar. Nos outros partidos, a maioria é de brancos. E dá certo. Nenhum deles diz que é restrito aos brancos, mas mostram isso na prática. Ser um partido dos pretos não quer dizer que o branco não possa entrar. Mas ele entra na posição de contribuinte, não como dono.


PLAYBOY Você se considera um pessimista ou um otimista?


MV BILL Preciso ser otimista, embora o pessimismo fique rondando. Quando penso na política, me dá uma desesperança do ca(*)lho, porque, embora o PT tenha feito algumas coisas legais, nunca esperei que fosse estar envolvido nesse mar de corrupção.


PLAYBOY Então você é um pessimista no diagnóstico e otimista na ação, como dizia o italiano Antonio Gramsci?


MV BILL O cara resumiu a porra toda. A ação denuncia o meu sentimento. Acredito nos movimentos que surgem a partir das próprias comunidades. Se a periferia não participa, não acredito. Vejo uma porrada de gente que poderia fazer muito mais que eu e não faz nada, inclusive gente que foi eleita pelo povo. Isso é pessimismo. Mas, quando chego aqui na Cufa e vejo uma porrada de pretinho passando seu primeiro e-mail, é uma felicidade do ca(*)lho. Mesmo sabendo que não estou salvando o mundo.


PLAYBOY Vou citar trechos de algumas músicas suas para você comentar: "Não sei se é pior virar bandido / Ou se matar por um salário mínimo".


MV BILL A gente estava entrevistando um moleque na favela e ele ainda não era do crime. Depois de um tempo voltamos e ele já estava no crime. "Porra, você não pode, é um moleque bom!", disse, e ele respondeu: "Se eu sair, o que você vai me dar?" O cara vai se matar por emprego ou ficar no crime e se f(*) também?


PLAYBOY "PPPomar, MST, CUT, UNE. Cufa, PCC / O povo se organiza, cada um à sua maneira". Por que o PCC está aqui?


MV BILL O crime acaba sendo uma forma de organização. Não estou dizendo que a forma de eles lutarem é correta ou incorreta. Se eles parassem de guerrear entre si, talvez conseguissem identificar inimigos comuns. Isso já seria um avanço do ca(*)lho.


PLAYBOY Quem são os inimigos comuns?


MV BILL É só parar e raciocinar: quem nos coloca nessa situação? Quem quer que a gente fique assim? Quem ganha dinheiro com a nossa morte ou quando a gente está com armas traficando drogas? Esses são os verdadeiros inimigos. Não um favelado matando outro.


PLAYBOY São inimigos de luta?


MV BILL Não posso dizer isso, porque daqui a pouco vão falar que o Bill está incitando. Quando as facções começaram a ser criadas, havia o propósito de criar um poder paralelo. Hoje não tem poder paralelo, tem o crime. A partir do momento que nego pára de se matar, cria-se um espaço para pensar em outras coisas. Você vê nas campanhas de solidariedade. São os pobres que doam para outros pobres. O crime, embora não seja correto, embora não esteja com suas armas apontadas para um objetivo, é uma forma de organização.


PLAYBOY Outra música: "Tarado na favela perde a mão, perde o pau".


MV BILL Tarado é uma figura repudiada nas favelas. Tinha um maluco que agarrava mulher, criança e o ca(*)lho. Os caras descobriram, cortaram o peru dele e fizeram ele dar um rolê de calcinha. Depois mataram. Deram umas porradas também. Até trabalhador que não teve porra nenhuma a ver com isso pegou uns pedaços de madeira e deu umas pauladas.


"O maluco agarrava mulher e criança. Ajudei a dar umas pauladas no tarado. Não me arrependo"

PLAYBOY O que você acha desse tipo de "justiça" interna?


MV BILL Tem muita coisa que é injusta, tá ligado? Mas para tarado, meu irmão, estuprados... Porra, talvez seja mais um crime pelo qual eu seja investigado, mas ajudei a dar umas pauladas também. Não me arrependo não.


PLAYBOY Por causa do filme, você entregou seu livro para policiais, para o prefeito do Rio, para os presidentes da Câmara e do Senado e para o presidente Lula. Quais as suas expectativas?


MV BILL Dissemos: se estão fazendo muita coisa, o documentário mostra que é preciso mais; se estão fazendo pouco, precisam fazer ainda mais; se não estão fazendo nada, eu e todo mundo queremos saber por que essas porras não estão sendo feitas. Mas o que ouvi não me fez pensar: "Porra, alguma coisa vai acontecer". Politicamente falando, infelizmente, não tenho esperança.


PLAYBOY Pelo jeito o bordão da esperança venceu o medo...


MV BILL O medo venceu a esperança.


PLAYBOY E do que você tem medo?


MV BILL Do meu futuro, do futuro dos meus filhos. Medo do futuro das discussões, do futuro do Brasil.


POR FERNANDO BARROS DE MELLO

FOTOS DARYAN DORNELLES


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