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NÍVEA STELMANN | SETEMBRO, 1999



A sensual atriz de Suave Veneno fala de TV, fama, fãs

e de seu bumbum dourado


POR RAQUEL MARÇAL

FOTOS NANA MORAES


Nívea Stelmann chega em casa agitada e sorridente, puxando um carrinho de supermercado. Lá dentro, no lugar de compras, estão a sacola com a roupa de ginástica, usada três vezes por semana nas aulas de musculação, cremes, traje e sapatos de noite — pequeno kit que fica sempre no banco de trás de seu Volkswagen Golf 1999 verde. "Deixo tudo no carro porque nunca sei quando vai pintar um compromisso", diz Nívea com a voz rouca e o marcante sotaque carioca enquanto tenta ajeitar o carrinho dentro do elevador do prédio onde mora, no Recreio dos Bandeirantes, Zona Oeste do Rio. A atriz é tão requisitada que a qualquer momento a mãe — e secretária —, Janice Stelmann, pode ligar comunicando um novo convite. Naquele dia, Nívea estava livre, pelo menos em princípio, e só tinha de chegar ao Projac (o complexo de estúdios e cidades cenográficas da Rede Globo em Jacarepaguá) às 6 horas da tarde, para encarnar Eliete, a empregada doméstica apimentada de Suave Veneno. Para euforia dos fãs, Nívea teve de despir suas formas perfeitas em cenas entusiasmantes com o ator Heitor Martinez e ainda requebrar seus 92 centímetros de quadris para a personagem merecer o desejado troféu de Garota Bumbum Dourado.


Aos 25 anos, no auge da carreira, Nívea Stelmann Leôncio se lembra, orgulhosa, dos tempos em que atazanava a mãe para deixar Paraíba do Sul, cidade onde nasceu, na serra fluminense, e ir morar sozinha no Rio. Era 1991 e a carreira de modelo precisava deslanchar. Instalada na cidade, conseguiu alguns trabalhos e decidiu estudar teatro — curiosamente, não para tornar-se atriz e sim melhorar postura e voz. Com1,66 metro de altura, formas arredondadas, coxa de 52 centímetros, ficava difícil competir com as esguias coleguinhas do mundo da moda.


Foi por acaso que ela acabou indo parar na televisão. Em 1992, circulando pelos corredores da extinta Rede Manchete durante uma sessão de fotos, Nívea recebeu uma proposta para integrar o elenco do seriado Família Brasil. Saiu-se tão bem que desistiu da faculdade de Comunicação Social e foi estudar Artes Cênicas na univesidade privada Uni-Rio. Seu pouso na Rede Globo aconteceu em 1995, para uma participação no quadro Estrela por um Dia, do Domingão do Faustão. Hoje ela tem quatro novelas no currículo: Malhação (1996), A Indomada (1997), Era uma Vez (1998) e Suave Veneno (1999).


Nívea recebeu a repórter Raquel Marçal, de PLAYBOY, no apartamento de três quartos onde mora sozinha, cercada de presentes de fãs e fotos do namorado, o piloto de rali Guilherme Spinelli. Antes de começar a conversa, a atriz também ligou seu gravador, precaução adotada desde que teve problemas com declarações que, segundo diz, a imprensa atribuiu a ela.





1. Seu bumbum ganharia qualquer concurso? Não estou com essa bola toda, não [ri, modesta]. Gosto do meu bumbum, acho bonito, não tenho celulite, mas nunca fico naquela preocupação com a forma. Jamais deixaria de ser mãe por causa das mudanças no corpo. Plástica eu não faria porque tenho medo, mas, se ficasse muito horrorosa, aí não sei se meu medo superaria [a vontade de ficar bonita].

2. Você e o Heitor Martinez, que interpreta o empregado de bar Claudionor, fizeram cenas quentes em Suave Veneno. Foi preciso ficar totalmente nua em algumas delas? Completamente nua, não. Usei um adesivo que se coloca no peito. É como se fosse um sutiã da cor da pele que tapa até mais do que biquíni. Usei também um tapa-sexo que esconde a frente e deixa o bumbum de fora. Então [na novela] fiquei super à vontade — [emenda rapidamente] dentro dos limites em que se pode ficar à vontade fazendo cena de sexo [risos]. Fiquei um pouco tensa e preocupada com o lugar onde estaria a câmera. O Ricardo Waddington, que dirigiu as cenas mais ousadas, teve um cuidado maravilhoso. Me deu liberdade para cortar o que não gostasse. Mas foi tão bem-feito que falei: "Está tudo liberado!"

3. Você costuma pedir para gravar de novo? Se eu sinto que ficou horrível, peço na hora para refazer. Mas se depois de tudo pronto eu quiser repetir, o diretor me mata. As câmeras são levadas para outro cenário e dá o maior trabalho voltar. Quando tenho uma cena em que preciso chorar, prefiro fazer de primeira. Sempre sai melhor.

4. No início da trama de Suave Veneno, sua personagem, a Eliete, quase só aparecia na cama do namorado. Isso não incomodava você? Não. Ela era uma doméstica tarada, diferente de tudo o que eu já tinha feito. Saí das personagens meninas para fazer uma mulher. Conheci o Heitor num dia e no outro já estávamos fazendo cena de amor. Por mais que ele seja amigo, um profissional maravilhoso, é difícil pra caramba [risos]. Mas só ouvi elogio. Disseram que a gente tinha uma química legal, que fizemos um casal fogoso.


5. Houve uma cena polêmica em que a Eliete e o Claudionor insultavam o Edilberto, personagem gay de Luis Carlos Tourinho. Os grupos gays ficaram revoltados... A Eliete implicou com o Edilberto porque odiava ele e o Uálber [o sensitivo interpretado por Diogo Vilela], e não porque são gays. Acho que foi polêmica desnecessária. Mas eles [os grupos gays] reclamaram dizendo que não existem homossexuais afetados e afeminados como os personagens da novela. Claro que existem! Dentro da Globo tem 20.000 [hiperbólica] e são pessoas que a gente ama. Os cabeleireiros com quem eu lido, os camareiros e maquiadores são assim. O Aguinaldo Silva está retratando um personagem que existe. Pode ser que o Luiz Mott [antropólogo, presidente do Grupo Gay da Bahia, que apresentou queixa-crime na Promotoria Pública e na Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça, alegando que a cena seria um "incentivo à violência anti-homossexual"] não seja assim. Ele tem o direito de ser uma pessoa contida.

6. Qual seria sua reação se um homem cantasse seu namorado? Se só desse em cima, normal. Mas se eu visse meu namorado interessado, aí seria outra coisa. Homossexualismo existe e não dá para tratar como se fosse uma coisa longe da gente. Mas sou possessiva e quero a pessoa só para mim. Se ficou a fim de outro homem ou de uma mulher, não interessa.

7. E você, como reagiria se fosse cantada por uma mulher? Nunca fui, pelo menos explicitamente. Pode ser que alguma tenha me achado bonita, mas não me falou que queria ficar comigo. Acho que reagiria na maior tranqüilidade. Diria que não é a minha praia. Mas preferiria que os homens me cantassem [risos].

8. A Eliete era capaz de qualquer loucura para ficar rica e famosa. Você já fez alguma maluquice para conseguir ser atriz? Dormi com minha mãe na fila da [escola de teatro] Tablado para poder me matricular. Queria entrar de qualquer maneira e passei a noite lá para conseguir vaga. Acho que não é vergonha para ninguém. Correr atrás, pedir um papel, fazer um Estrela por um Dia, teste ao vivo, acho legal.


9. Como você se prepara para construir um personagem? Em minha primeira participação na Globo, fui uma professora de tênis em Malhação Férias. Tive aulas durante uma semana, 10 horas por dia. Nunca tinha pegado numa raquete e deixei meu professor louco! A cena ia durar segundos e podia ser feita com jogo de câmera, mas quis aprender. Fiquei com a mão roxa e estouraram vasos aqui [mostra o antebraço]. Para fazer a Carolaine [sua personagem em A Indomada], tive duas aulas de prosódia. Gravei a aula e fiquei repetindo até conseguir falar com sotaque nordestino [como exigido pelo papel]. A Babi [personagem de Era uma Vez...] era tímida, então fiz um diário inteiro como se fosse ela. Quando soube que ia fazer uma empregada pagodeira [a Eliete de Suave Veneno], entrei numa aula para aprender a dançar juntinho. No meio da novela soube que ela ia participar do Concurso do Bumbum Dourado e tinha de dançar como as meninas do pagode. Fui fazer lambaeróbica. Fiquei rebolando o dia inteiro [dá uma reboladinha]. Foi bem mais fácil do que aprender tênis [risos].

10. Você faria qualquer sacrifício para interpretar um personagem? Só se ele me desse muito prazer. Não deixaria a criação atingir minha vaidade. Se tiver de engordar, engordo, se tiver de emagrecer, emagreço, mas desde que não me agrida. Jamais faria algo que me deprimisse.


11. Você consegue fazer programas simples, como caminhar na praia, sem ser assediada? Consigo, sem problema. Um ou outro fala: "Oi, bumbum dourado!" Agora é isso o que eu mais escuto. Encaro o assédio de maneira natural. Nunca me incomodou se falam: "Ô gostosa! Ô princesa!" Estou na Rede Globo, exposta, então as pessoas vão mexer comigo. Ótimo! Sinal de que estão me vendo. Acho absurdo alguns atores quererem se enclausurar, viver numa redoma. Sou atriz porque gosto de interpretar. Poderia ter sido médica.

Estou na Rede Globo, exposta, então as pessoas vão mexer comigo. Ótimo!

12. Quando é bom e quando é ruim ser famosa? O bom é receber presentes, carinho e convites. Faz bem para o ego. O lado ruim é a deturpação do que você fala [nas entrevistas]. É por isso que estou sempre com o meu gravador, ninguém pode dizer aquilo que eu não disse [falando para o seu gravador]. Falo demais [continua, sem tomar fôlego], sou supertransparente, impulsiva, franca e, quando vejo, já saiu. Então tenho meu gravador para provar. Acho um absurdo as coisas que inventam. Claro que nossa vida particular interessa, mas inventar acho demais. Tem gente talentosíssima que desistiu da carreira por causa disso. O que fizeram com a Glória Pires foi muita sacanagem! [No ano passado espalhou-se o boato de que a atriz teria tentado suicídio depois de surpreender o marido com sua filha do primeiro casamento.]

13. Até onde você permite que as pessoas saibam de sua vida privada? Se querem saber se estou namorando, eu falo. Quer saber se gosto de comer mamão? Tudo bem. Agora, quer fotografar a minha casa? Não, porque isso é invadir minha intimidade. Também não faço foto com meu namorado. Se saio na rua com ele, podem fotografar à vontade, é flagra e não tenho nada para esconder. Acho ridículo fazer matéria do tipo: "Ele me chama de fofa, eu o chamo de fofo". Até já fiz, mas não faria mais.


14. Você perdeu alguma amizade depois que ficou famosa? Por ter ficado famosa, não, mas já perdi amizade por causa de fofoca de jornal. Falaram que eu disse, de uma ex-professora, uma coisa que jamais diria. Ela acreditou no jornal e perdi uma pessoa que amava.

15. Você namorou, e namora, homens considerados bastante bonitos. Beleza masculina é fundamental? É verdade. Namorei caras muito bonitos. Mas não é uma condição. Eles eram seres humanos legais e que correspondiam ao que quero. Para mim, homem tem de respeitar minha carreira, ser presente, estar do meu lado em todos os momentos, ser atencioso e apaixonado. E inteligente, pelo amor de Deus! Não namorei o [modelo] Carlos Casagrande, por exemplo, só porque ele era bonito. A pessoa tem de ser especial para mim.

16. Quando aconteceu a primeira transa? Eu já era uma mulher. Tinha 20 anos. Nem gosto muito de falar, porque as pessoas tentam colocar como exemplo, levantar bandeira de uma coisa que é natural. Poderia dizer a você, agora, que sou virgem. Ia ser um absurdo na cabeça de muita gente, mas, para mim, não.


17. Qual foi a maior delicadeza que você recebeu de um fã? Uma vez, numa boate, uma menina me deu o cordão de ouro dela. Vi que ela não tinha grana e provavelmente a correntinha tinha sido comprada com muito sacrifício. Pedi que não fizesse aquilo. Ela respondeu: "Por favor, eu quero te dar!" Uso direto o cordãozinho e já saí em várias revistas com ele.

18. Você já fez algum trabalho pensando como ia gastar o dinheiro? Sempre foi assim. Uma coisa que tinha muita vontade de fazer e que já realizei foi entrar numa loja de cremes e comprar tudo! Tenho uma dermatologista e uso os cremes certos para minha pele. Meus primos me chamam de Maria Cremilda e me zoam dizendo que tenho um creme para o antebraço direito, outro para a perna, outro para a coxa... Também tinha vontade de viajar para a Europa e já fui duas vezes. É gostoso trabalhar sabendo que você vai poder viajar no fim do ano.


Me perguntam se sou ninfomaníaca, obcecada por sexo como ela [a Eliete]

19. Você é ciumenta, fogosa e franca como era a Eliete? Sempre me perguntam se sou ninfomaníaca, obcecada por sexo como ela. Sou uma pessoa normal, gosto igual a todo mundo, e não como ela, que só pensava nisso. A Eliete era muito parecida comigo na sinceridade, no jeito de falar tudo o que pensa. Mas era maluca, histérica, fazia escândalo, e eu sei segurar a onda.

20. Você aceitaria um convite para posar nua? Não tenho nenhum medo de mostrar meu corpo, gosto dele. Mas agora não é o momento. Se algum dia fizer, quero ter orgulho do trabalho, dar autógrafo nas minhas fotos e que seja lindo.


PRODUÇÃO BEBEL MORAES E CRISTINA FRANÇA

CABELO E MAQUIAGEM BETO CARRAMANHOS


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