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ANA PAULA MACIEL | ABRIL, 2014


Mãe natureza

A ativista Ana Paula Maciel desequilibrou a fauna, a flora, a alienação e os nossos corações...


FOTOS ANDRÉ SANSEVERINO


Em abril de 2014 a PLAYBOY Brasil ganhou destaque internacional ao trazer na capa a ativista do Greenpeace, Ana Paula Maciel. A gaúcha foi uma das 30 pessoas que ficaram presas durante 100 dias acusadas de vandalismo por tentarem escalar uma plataforma petrolífera no mar de Pécora, na costa nordeste da Rússia. Em 19 de setembro de 2013 o grupo, baseado no Artic Sunrise, um navio do Greenpeace, tentou estender uma faixa contra a exploração de petróleo no Oceano Ártico pelo consórcio russo Gazprom quando foram detidos pelas autoridades russas.


Durante o período em que ficou encarcerada, Ana Paula estampou manchetes de vários jornais, fez a presidente Dilma Rousseff pedir urgência ao Itamaraty na intercessão por sua soltura e espalhou seu grito sobre o ecossistema ameaçado no extremo norte do planeta. Foi criada uma campanha global pela liberdade dos “30 do Ártico”, como ficou conhecido o grupo, que recebeu a adesão de mais de 1,7 milhão de pessoas, que enviaram mensagens para embaixadas russas ao redor do planeta.


Em dezembro do mesmo ano, ao retornar ao Brasil, Ana Paula descobriu que não era mais uma anônima. Bastante assediada pela imprensa, a bióloga agora alçada à fama, percebeu a dimensão da repercussão da sua prisão e passou a considerar a possibilidade de posar nua com o objetivo de usar o dinheiro do cachê para dar início à criação de um santuário de animais silvestres vítimas de tráfico ilegal no Brasil. O primeiro passo foi dado em março de 2014, quando apareceu na seção Insiders, clicada pelo fotógrafo André Sanseverino, responsável também por fazer o primeiro contato com a gaúcha, ainda na Rússia e apresentá-la à PLAYBOY:


“Sou fotógrafo de moda, viajo muito para fora do Brasil e também sou scouter [olheiro]. Já revelei várias top models. Como fotografo para várias revistas da Editora Abril, sempre estou indicando modelos. Quando soube da prisão dela, conversamos na Rússia e fiz a proposta”.


André Sanseverino tem uma história de longa data com a PLAYBOY. Arquiteto, jornalista e fotógrafo, já trabalhou com estrelas do calibre de Gisele Bündchen, Isabeli Fontana e Ana Hickman. Seus cliques estamparam publicações renomadas como Elle, Vogue, Capricho, Cláudia. Em dezembro de 2006 participou do concurso de Novos Talentos da Editora Abril sendo escolhido, entre três mil candidatos, como um dos cinco mais promissores fotógrafos da PLAYBOY. Desde então produziu matérias para a revista até finalmente assinar a sua primeira capa, um trabalho que foi produzido com esmero, profissionalismo e que, sobretudo, nasceu com um propósito definido e anseios em comum entre fotógrafo e modelo.


“Antes de aceitar posar nua, a Ana pesquisou sobre a minha vida e viu que, como ela, dentro daquilo que acredito e posso, também tento contribuir para um mundo melhor. Eu apoio uma ONG chamada Amjus, Associação de Meio Ambiente, Cultura e Justiça Social, em São Miguel do Gostoso (RN) que cuida da preservação de tartarugas marinha e dos jovens da comunidade. Ela fez questão de ir até lá para conhecer o trabalho e ajudar a divulgar, inclusive no editorial da revista, onde ela fala sobre a Amjus. É uma cidadã do mundo com muitos e belos valores. Seria muito bacana se as pessoas se preocupassem com a natureza como ela se preocupa”.



Assim, com esse clima de total entrosamento de ideais, foram feitos os primeiros cliques, publicados na edição de março, na tradicional sessão Insiders: Ana Paula apareceu pela primeira vez na PLAYBOY posando em um zoológico desativado, em Maringá (PR), com ar de felina, maquiagem marcante, usando um colar e biquíni prateado, mostrando uma faceta diferente da imagem frágil e acuada atrás das grades que estampou o noticiário meses antes.


Com a repercussão dessa aparição na revista, logo as especulações de uma possível capa com a ativista gaúcha começaram a surgir: Foi uma pressão muito grande para que ela saísse na revista. Todo mundo entendeu que a causa era nobre. Toda a história saiu em vários sites do Brasil e fora do país também, além da gente ter ido a todos os programas da TV. Ela nunca tinha pensado em posar nua, nem é uma garota vaidosa, muito pelo contrário! Por ser uma militante do Greenpeace ela é super prática. Acho que foi a mulher com a menor mala com quem eu já viajei [risos]. Ela tem histórias incríveis sobre sua vida de ativista. Parece coisa de filme, isso faz dela uma garota diferente, com um charme especial, além de ter olhos lindos. Na verdade ela posou pela causa em que acredita”. Em meio ao rebuliço provocado pelas especulações sobre o provável ensaio, Ana Paula Maciel tomou a sua decisão e assinou o contrato ainda em março, e suas fotos seriam publicadas já na edição que chegaria às bancas em abril.


A capa da edição apresentou um diferencial que vai além de destacar que aquela se tratava de uma edição alternativa. Em abril estava previsto para ser lançado o ensaio com a modelo Gaby Fontenelle, assistente de palco do dominical Melhor do Brasil, da Record. Tendo Ana Paula assinado o contrato e já com o ensaio produzido, a redação da PLAYBOY decidiu que a gaúcha tinha um gancho suficientemente forte para ganhar sua própria capa. Assim, naquele mês, a revista chegou às bancas com duas capas, sendo a versão estrelada por Ana Paula considerada uma edição limitada. Nessa capa, uma bela foto em preto e branco, com o nome da revista na cor verde, uma clara referência ao Greenpeace.



Outro detalhe é o destaque dado à chamada “Por um Mundo Melhor", que dessa vez era maior que o nome da estrela e servia para chamar a atenção à causa que levou Ana Paula a desnudar-se na PLAYBOY. Pela primeira vez, estrela, fotógrafo e a revista estavam juntos em prol de algo além da nudez, simplesmente. Cada detalhe foi pensado com um propósito definido, de forma a chamar a atenção para as causas ambientais. “Mérito do pessoal da revista. Tudo foi muito diferente, uma sugestão deles. Por isso a revista é tida como uma edição especial. Ela é considerada uma edição especial dentro da PLAYBOY”.


O ensaio foi clicado em uma floresta, em Caucaia do Alto, Cotia, Microrregião de Itapecerica da Serra, município do estado de São Paulo. Sem nenhuma infraestrutura, as fotos foram produzidas em único dia, tendo os trabalhos sido iniciados de madrugada e concluídos no final da tarde. Ana Paula estrela um ensaio simples, curto (por questões contratuais, apenas oito páginas foram publicadas), com nudez discreta, quase conceitual.“Ela estava posando por uma causa, então não cabia caras e bocas no ensaio. Quisemos fazer uma beleza natural, como ela é. Na seção Insiders fizemos uma coisa ligando ela à prisão. Ali rolou uma produção, as fotos foram numa jaula de tigre de verdade, diferente do ensaio, que tinha essa coisa nua e crua”.


Na abertura do ensaio a inscrição: 'Salve as Sereias', certamente uma brincadeira com o 'Salve as Baleias', campanha que acarretou na prisão de Ana Paula, na Rússia. Nos cliques, Ana desbrava a floresta, passeia suave, interage com as árvores, repousa entre os galhos e troncos recobertos de musgos e cipós, deita sobre o solo rochoso na beira do riacho, banha-se nas águas do lago repleto de plantas aquáticas. Com poses cuidadosamente elaboradas e quase sem encarar o leitor, o ensaio apresenta uma naturalidade indiscutível, como se suas fotos fossem delicadas pinturas ou registros de um sortudo desbravador da mata, observando uma ninfa nua descortinando a imensidão da floresta.


Na primeira missão da bióloga Ana Paula Maciel, em um protesto contra um porto ilegal que explorava o desmatamento da Amazônia, ela desceu do navio do Greenpeace com uma faixa na mão e foi recepcionada com fogos de artifício, mas os rojões não tinham nada de festivo. Passada toda a violência e emoção, os ativistas saíram vitoriosos (as empresas se comprometeram em não produzir mais a soja na região) e Ana Paula se apaixonou pelo trabalho. Desde então virou marinheira profissional e se divide em três meses no mar, três meses em terra. Lutou pela preservação de baleias, pelo fim dos testes nucleares e, no fim do ano 2013, protestou contra a exploração de petróleo no Ártico quando foi presa pelo governo russo.



Tamanha persistência e personalidade ajudaram a ativista a tomar uma decisão inusitada em sua vida e marcar de vez a história de PLAYBOY. Por essa razão e por toda a sua beleza é que desejamos um mundo com muito mais mulheres como Ana Paula Maciel.


REALIZAÇÃO FABIANA MORITZ CABELO E MAQUIAGEM PATRICK GUISSO

ASSISTENTE DE PRODUÇÃO EXECUTIVA BRUNA FERNANDES ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA JACKSON YONEGURA ASSISTENTE DE BEELZA GUSTAVO ROCHA TRATAMENTO DE IMAGEM ALDO TEIXEIRA E CRISTINA NEGREIROS

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