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AS AMANTES DE STÁLIN, PHILIP E KHADDAFI

Memórias



Anna, Marion e Susan mostram que nem só de amor à pátria se faz um estadista


Por OSVALDO PAGANI

Como os galãs ou os ídolos da música pop, os poderosos da Terra também têm suas fãs extremadas, suas groupies. Acreditando nisso, o jornalista italiano Osvaldo Pagani descobriu e entrevistou as amantes do príncipe Philip da Inglaterra, do ditador russo Joseph Stálin e do líder líbio Muammar Khaddafi. Elas contaram tudo talvez até algo demais sobre os homens de suas vidas e mostraram que a luz dos flashes pode ocultar aspectos só revelados na penumbra de um quarto.


Anna de Stálin


Sem dúvida seria um golpe para o mais radical de todos os líderes comunistas: a amante de Stálin, a última mulher com quem ele esteve na cama, mora em Vaduz, capital de Liechtenstein, e é funcionária de uma das muitas firmas que operam naquela cidade que é uma das capitais do capitalismo.


Essa mulher é Anna Kalachova, uma senhora de meia-idade, alta, um pouco além do peso, cabelos grisalhos. Fala com melancolia distante do seu caso com Joseph Stálin, o homem que dominou a Rússia por mais de um quarto de século.


"Nasci em Moscou a 30 de junho de 1928. Até setembro de 1952, quando conheci Stálin, minha vida era como a de qualquer outra moça. Eu tinha 24 anos quando conheci o homem de minha vida; ele tinha quase meio século a mais que eu. Tudo aconteceu de modo simples: fui servida a ele, como numa bandeja. Disseram-me exatamente o que esperavam de mim, não houve mentiras nem pressões especiais. Aceitei sem reservas, ainda mais porque Stálin era o ídolo incontestável de todos os russos. Servi-lo, ser sua, era uma coisa normal.


"Também havia o orgulho, a vaidade de ter sido escolhida entre uma infinidade de mulheres. E, enfim, a curiosidade; parecia-me extraordinário que um homem tão cheio de deveres e responsabilidades, já com 72 anos, desejasse ainda se envolver com mulheres.


"Com relação a isso, fui instruída por uma pessoa muito próxima de Stálin. Disse-me que, à medida que ficava mais velho, acentuava-se sua erotomania. Quando jovem, mergulhado na luta revolucionária, sua vida sentimental nada mais fora que um amontoado de repressões.


"Soube então que, em seu terceiro casamento, com Rosa Kaganovitch, é que Joseph fora se transformando num amante refinado, instruído pela mulher, profunda conhecedora de todos os segredos do erotismo. Como Rosa já não era muito jovem, foi abandonada por seu marido que, depois, colecionou uma bela quantidade de mulheres. Até que eu apareci, em setembro de 1952.


"Eu tinha 22 anos quando fui morar sozinha e tinha uma grande vontade de me divertir. Tinha amigos, inclusive alguns bem mais velhos que eu. Devo dizer aliás que sempre preferi estes aos jovens. Assim, meu caso com Stálin não foi uma experiência tão diferente para mim, nesse plano.


"No verão de 1951 fui morar com Pavel Zaikin, um jovem funcionário do Cremlin, que conheci numa festa. Nunca soube ao certo o que ele fazia, mas eu estava apaixonada e ele tinha um apartamento para seu uso e vivia bem. Fiquei grávida, mas abortei. Era março de 1952. Certo dia Pavel disse-me que estava tentando colocar-me num posto administrativo da sede do governo, o que melhoraria muito minha situação econômica. Talvez até pudéssemos casar. Mas o tempo passava e nada acontecia. Em maio, Pavel sumiu. Nunca mais o vi.


"Certa noite, um velho bateu à porta do apartamento (eu continuei morando nele). Disse-me que Pavel fizera um requerimento sobre meu emprego no Cremlin e ele estava ali para me entrevistar. Nem pensei que, normalmente, eu teria sido chamada ao seu escritório. Respondi suas perguntas, mostrei meus documentos. No fim de tudo, disse que voltaria outra noite.


"Em meados de agosto, lá estava ele. Fez muitos rodeios, mas em resumo a oferta era essa: queriam me dar o posto de secretária particular de alguém 'muito importante', ao qual eu deveria tratar de modo 'muito gentil'. Se eu aceitasse, teria um bom ordenado e prêmios periódicos. Entendi perfeitamente, só que estava curiosa em saber por que fora escolhida. Foi Pavel quem me 'recomendou', dando provas dos meus 'talentos'. Perguntei quem era esse alguém importante que seria meu chefe. Não consegui resposta. Pedi duas semanas para responder.


"O funcionário foi pontual. Disse-lhe que aceitava, ele me deu uma série de instruções. Deveria me comportar como trabalhadora exemplar e demonstrar seriedade. Nada de roupas vistosas, pintura excessiva ou iniciativas precipitadas. Deveria fazer com que o homem achasse que eu estava me apaixonando por ele. Mas quem era afinal? Eu saberia na hora adequada: deveria estar pronta às 9 em ponto de 7 de novembro.


"Na manhã combinada, veio um carro para me levar. Saímos da cidade e, a alguns quilômetros de Moscou, a estrada entrava por um bosque. 'Falta pouco', disse o motorista. Finalmente chegamos a uma grande casa, em cujo pátio paramos. A porta se abriu e apareceu o velho funcionário que me havia, digamos, alistado.


"Entramos numa sala grande, com móveis pesados, tapetes e uma escrivaninha perto da janela. Atrás dela, Joseph Stálin. Não havia possibilidade de me enganar. Fiquei espantada. O marechal Stálin é que precisava de uma mulher. Fui apresentada: 'Esta é a nova secretária, camarada'. Foi-me indicada uma cadeira diante da escrivaninha. Stálin só me dera uma rápida olhada. O velho pegou um monte de pastas que estava numa mesa e foi embora.


"Stálin começou a ler. De vez em quando interrompia a leitura e dizia: 'Tome nota, camarada', passando a ditar com voz calma. Pouco depois do meio-dia, ele dobrou um jornal e se despediu. Saí e encontrei o velho funcionário que me levou à minha mesa. Ali deveria bater à máquina os apontamentos ditados por Stálin. À tarde, não vi meu chefe: informaram-me que só trabalharia com ele de manhã.


"As coisas continuaram nesse pé por uma semana. Certa manhã, Stálin não quis trabalhar. Disse que se sentia 'esquisito'. Falou de si, da Geórgia — a região da Rússia onde nasceu — e finalmente convidou-me a morar ali, pois eu 'deveria achar cansativas as idas e vindas a Moscou'. No dia seguinte, foi-me destinado um quarto no último andar. Pensei que Stálin fosse partir para o ataque imediatamente. Mas não: começou a me fazer a corte. Nem mais nem menos, sempre de modo tímido e discreto. Mas o desejo que brilhava nos seus olhos era revelador.


"Isso durou uns cinco dias. Certa noite, o secretário me disse que eu deveria levar a Stálin os apontamentos da manhã e a correspondência. Compreendi que chegara a hora. Vesti-me com cuidado, mas me pintei pouco. Ao entrar, Stálin me cumprimentou, dizendo: 'Você é meu raio de sol nesta sala'. Sorri, realmente emocionada. Coloquei a pasta sobre a escrivaninha e fiquei ao seu lado. No silêncio absoluto, pegou a caneta e começou a assinar uns papéis. De repente, sua mão esquerda entrou por baixo da minha saia e começou a acariciar ternamente minhas pernas. Depois, ao terminar as assinaturas, despediu-se de mim, dizendo: 'Você tem uma pele maravilhosa'.


"No dia seguinte não aconteceu nada, mas me comunicaram que deveria jantar com Stálin. O jantar foi simples, quase frugal. O rádio tocava músicas da Geórgia. Joseph disse que quando era jovem, dançava até cair. Respondi que eu também poderia dançar assim. 'Então dance, querida', gritou-me. Levantei-me e comecei a dançar, obviamente colocando um pouco de pimenta em meus passos. De repente, ele gritou, fora de si: 'Tire a roupa, querida, tire a roupa enquanto dança'. Foi o que fiz. Joseph não perdeu tempo: levou-me para o quarto contíguo.


Era um amante violento, com mania de beliscar-me. Mas sabia ser carinhoso

"Era um amante um pouco violento, com mania de beliscar todas as partes do corpo, mas capaz de extremas ternuras. E um temperamento insaciável, apesar da idade. Tinha uma grande coleção de livros, estampas e fotos excitantes. Às vezes queria que eu também olhasse as fotos.


"Era um homem com uma imensa carga de erotismo e eu não bastava para ele. Certa vez, pelo buraco da fechadura, cheguei a ver Joseph nu, deitado com a governanta da casa, também nua, numa posição que não deixava dúvidas. Mas admiti aquilo como uma necessidade física de alguém tão ardente. Nossa relação durou, sem problemas, até um dos últimos dias de janeiro de 1953. Certa manhã, após termos feito o amor, ele disse que estava com uma pontada no coração. Pediu-me que eu lhe desse um remédio que guardava no criado-mudo. Tomou-o e ficou bem, passada uma meia hora.


"Uns dez dias depois, estávamos no seu escritório e ele me mostrava fotos que o excitavam, pedindo-me então que as repetisse no divã. Aproximou-se, muito excitado, começou a me beliscar. De repente, caiu no chão. Estava de olhos fechados, nem parecia respirar. Levantei-me, coloquei um roupão e chamei o secretário aos gritos. Uma hora depois, Joseph estava na cama, cercado de médicos. Fui levada para meu apartamento em Moscou. Revi Joseph uma semana depois, passamos duas horas deliciosas em seu quarto.


"Nunca mais estive com ele, pois dali a alguns dias, ouvi pelo rádio a notícia da sua morte. E senti como se eu tivesse morrido. Pouco depois, decidi sair da Rússia e, um ano depois, fui morar na Alemanha. Passei para a Suíça e, afinal, para o Liechtenstein. Mas guardo para sempre a lembrança do homem que amei, do homem para quem eu era um raio de sol."


Marion de Philip


"Murgatroyd certamente ficará irritado, mas após 26 anos de silêncio, contarei tudo." Quem fala é a senhora Marion Rowe e "Murgatroyd" é nada menos que o príncipe Philip, marido de Elizabeth, rainha da Inglaterra.


Na época ele tinha 28 anos, divertia-se bastante, os amigos chamavam-no de Murgatroyd; o rei — seu sogro — nomeara-o duque de Edimburgo, conde de Merioneth, barão de Greenwich, cavaleiro da Jarreteira. Tinha a patente de capitão, mas era mais importante que o almirante da esquadra. Segundo a etiqueta da Corte, deveria adotar todo o comportamento do personagem real", mas ele não ligava para isso.


O navio de Philip tinha sua base em Malta. E obviamente a curiosidade popular impedia que desse, por exemplo, um passeio por Valetta, ou comprasse uma gravata sem ser seguido por dúzias de turistas. E conta Marion Rowe que, certa vez, num antiquário fora da principal área de comércio de Valetta, viu Philip conversando com o dono da loja: "Mas o senhor está sozinho aqui, numa loja tão grande? Deveria se casar". O homem respondeu ao príncipe: "Já sou casado, mas minha mulher é professora, não fica aqui, é mais importante que eu". "Murgatroyd" aproveitou a deixa e, dando um tapinha nas costas do lojista, disse: "Compreendo, tenho o mesmo problema em casa".


Philip era casado há dois anos com Elizabeth e fora nomeado comandante da fragata Magpie que, por boas razões, tinha o apelido de "iate particular de Philip". Começaram a circular boatos de que o casamento real estava perigando e, em seguida, soube-se que Philip tinha um caso, em Malta, com uma mulher "misteriosa". O caso durou sete meses e Elizabeth agüentou o quanto pôde, mas acabou pedindo ao rei que transferisse o marido infiel. Philip foi chamado para Londres e nunca mais pôs os pés em Malta.


Marion Rowe não é mais "misteriosa" e nos revela o que foi sua ligação com o príncipe. É uma mulher alta, magra, de cabelos negros onde há poucos fios prateados, olhos claros e sorriso aberto; mora numa aldeiazinha da ilha de Gozo, junto a Malta.


"Conheci-o em setembro de 1949. Eu tinha 24 anos e vivia separada do meu marido. Era um momento doloroso na minha vida e eu não via nem os amigos. Preferia ficar sc.:, dar longos passeios e ir à praia mais deserta de todas, a Baía Dorata.


"Certa manhã, o silêncio foi quebrado por alguns turistas que, mergulhando de uma lancha, nadavam ruidosamente. De repente, um deles gritou: 'Venha, junte-se a nós'. Como eu era a única pessoa na praia, o convite foi feito a mim, é claro. Não foi possível vê-lo distintamente: só percebi que era louro. Logo depois, voltaram à lancha e partiram.


"Algumas semanas mais tarde, uma amiga, Daisy Schembri, quis levar-me a todo custo para uma festa a bordo de um navio inglês. Para me convencer disse que ali estaria o príncipe Philip e até cantou uma música da moda que dizia 'All nice girls love a sallor' (Todas as boas garotas amam um marinheiro).


"Mas não foi a presença do príncipe, nem a canção que me levaram à festa. Ao ouvir Daisy, percebi que estava errada ao me isolar tanto da vida. Assim, dois dias depois, estava no Magpie. Num grande salão, havia uns vinte oficiais e pelo menos uma dúzia de garotas das melhores famílias de Malta e de Gozo. O príncipe conversava num grupo delas. Ao ver que entrávamos, virou-se, sorrindo.


"Daisy me recomendara que não fizesse qualquer mesura especial nem o chamasse de alteza. Então, estendi a mão, apenas, e ele se inclinou para me beijar os dedos. Conversamos um pouco e, quando o baile começou, convidou-me para dançar. Eu o chamava de 'capitão'. Então, enquanto dançávamos, ouvi que o chamavam de Murgatroyd. Um oficial bateu no seu ombro, para dançar comigo, dizendo: 'Com sua permissão, Murgatroyd'. Ele cedeu-me ao oficial, dizendo: 'Realmente a contra-gosto'.


"Dancei ainda umas três vezes com Philip. Numa delas, confessou-me que fazia parte do grupo que eu vira na Baía Dorata, tendo gritado para que eu me unisse a eles. Quando o baile chegou ao fim, ele me disse: 'Voltaremos a nos ver, se desejar'.


"Três ou quatro dias depois, por intermédio de Daisy e seu amigo oficial, veio o convite: encontro na manhã seguinte na praia da Baía Dorata.


"Ele, então, veio pelo mar, pilotando uma grande lancha. Naturalmente, não estava de uniforme. Usava calças azuis de linho e uma camiseta, como um veranista qualquer, mas tinha na cabeça um boné com a aba baixa. Ninguém o notou. Eu, de maiô, com o vestido e as sandálias numa bolsa de palha, fui correndo até ele. Partimos a toda velocidade. 'Aonde vamos?", perguntei. Mostrou o mar aberto: 'Para Gozo. Lá ninguém me conhece'. Pouco depois, chegamos à ilha e vi que estávamos diante da gruta de Calipso. Ele gentilmente me disse: 'Me contaram que aqui a ninfa Calipso e o marinheiro Ulisses foram muito felizes. Bem, vejamos se a historia se repete .


"Antes que pudesse fazer um gesto, abraçou-me e começou a me beijar. Na boca, no pescoço, nos ombros. Com carinho e paixão. Fomos interrompidos pelo ruído de um barco. Perto dali, havia uma outra enseada, onde nadamos e, de vez em quando, nos beijávamos. Quando terminamos o banho e voltamos para a lancha, ele me ofereceu seu roupão e uma tolha, dizendo: 'Tire o maiô e se enxugue". Acrescentou: 'Oh! Eu fico de costas'.


"Almoçamos numa pequena baía, onde havia uma praiazinha com apenas uma casa. Murgatroyd explicou-me que aquela casa era seu 'refúgio'. Abriu, entramos. Mobília comum, tudo muito limpo. Na cozinha, caixas de comida; na mesa, um cesto cheio de frutas. 'Lá em cima há um quarto, pode trocar de roupa'. Mas, ao passar por ele, não pude resistir e o beijei. Subi, tranquei a porta e tirei o roupão.


"Ouvi passos na escada e um barulho na porta. E sua voz: 'Querida, abra a porta, por favor, abra a porta'. Um instante depois, estávamos abraçados na cama. Beijava-me loucamente, entre terno e violento, enquanto suas mãos percorriam-me o corpo. Senti-me desfalecer. Era sua.


Íamos para um canto escuro, deixando os convidados. Ele achava isso excitante

"Voltamos várias vezes ali, mas também costumávamos nos amar no Magpie, a bordo da lancha, em praias isoladas... No navio, acontecia de ele deixar os convidados no salão e me levar para uma saleta próxima. Ficávamos num canto escuro. Ele gostava muito de me acariciar e o fazia em qualquer momento que sentisse vontade. O risco de sermos surpreendidos por alguém era um fator a mais de excitação. Mas é óbvio que ninguém nunca aparecia na saleta.


"Até que tudo chegou ao fim. Fomos vistos algumas vezes juntos, os boatos começaram a correr e chegaram até Londres. Certa ocasião, fomos vistos numa rua próxima ao porto, quando nossa atitude não deixava qualquer dúvida. Em outra vez, fomos até as Grutas Azuis, de canoa. Percorremos os estreitos canais entre os imensos penhascos até escolhermos um lugar que lhe pareceu apropriado. Então, Murgatroyd parou a canoa, fez com que eu me apoiasse na parede rochosa e me abraçava. Também fomos descobertos ali por olhares indiscretos. A mesma coisa aconteceu novamente numa praia que nos parecia tranqüila.


"Pouco depois, veio a ordem de Londres: Philip nunca mais pisaria em Malta, a minha ilha."


Susan de Khaddafí


Susan Bonnier tem 28 anos, e ainda sonha com seu príncipe encantado, que cada vez mais tem o aspecto do homem que ela amou aos 19. Muammar Khaddafí. Filha de um lojista de Nyon, aldeia próxima de Genebra, Susan conheceu-o em 1967.


Khaddafi estava fazendo um estágio em Londres e, com seu uniforme e rosto tipicamente árabe, freqüentava para os devidos fins associações de estudantes como a que havia no bairro de Kensington. Eis que certo dia, lá estava Susan, a jovem suíça que estudava na capital inglesa e morava num apartamento próximo. E os olhos do filho do deserto não perderam tempo.


Geraldine Faivre, que já conhecia Khaddafi há tempos e não agüentava seu hábito de ficar falando o tempo todo sem parar, interveio e apresentou-o a Susan, de quem era companheira de apartamento.


Susan é quem conta: "Consegui ficar escutando. Gostava. E quando me convidou para sair com ele, o pensamento que me veio foi o de que simpatizara comigo por eu ser uma ouvinte tão submissa. Encontramo-nos dois dias mais tarde, no cais de Westminster, junto ao Tâmisa. Convidou-me para um passeio de barco. Fomos até Kew e voltamos. As quatro horas de navegação foram quatro horas de monólogo sobre o assunto favorito de Khaddafi: ele mesmo. Nada interessante, mas gostei de ficar escutando.


"Muammar partiu para o ataque: víamo-nos todos os dias e fazíamos longos passeios. Ele falava, falava. Assim nasceu o amor. Quando voltávamos para casa, ele me apertava a mão, batia continência e embora.


"Certa noite, enquanto atravessávamos Hyde Park, vimos um casal entretido num beijo cinematográfico. Não agüentei e, num impulso, abracei Muammar; fiquei na ponta dos pés e o beijei na boca. Ele recuou, como que assustado. Mas um instante depois, pegou-me nos seus braços, até me sufocar. E me beijou.


"Fomos até minha casa. Muammar entrou, fechou a porta, abraçou-me e começou a beijar-me. Sentamo-nos num sofá. Beijava-me com ímpeto, abraçando-me com força. Logo depois, suas mãos começaram a me acariciar com todo o carinho. Agora eu era sua, continuava a me beijar e acariciar, mas — para minha surpresa — começou a recitar partes do Corão. Do palavreado todo, consegui entender apenas que o Corão proibia que um homem e uma mulher solteiros fizessem o amor. Portanto, ele tinha que fugir à tentação."


Para enfrentar a proibição do livro sagrado dos muçulmanos, Susan decidiu fazer tudo, transformando-se inicialmente no tipo acabado de mulher fatal. Khaddafi apareceu às sete em ponto, com duas garrafas de vinho espumante.


"Beijei-o. Esperei que fizesse alguma coisa, mas só me empurrou. Com uma expressão de louco, olhos quase esbugalhados, começou a gritar, meio em árabe, meio em inglês.


"O que eu poderia fazer? Achei que tudo estava acabado. Mas consegui impedir que ele fosse embora; depois de alguns momentos, ele se acalmou. Disse: 'Mude de roupa'. Quando voltei à sala, Muammar já abrira uma garrafa e servira o vinho nos copos. Brindamos e ele disse: 'Não faça mais bobagens como essa'. Bebemos um pouco mais e logo estávamos abraçados no sofá. Então ele notou que eu não usava nada sob a saia. Protestou novamente, mas com um tom bem diferente. Vi que desta vez ele não escaparia. E fui para o quarto. Ele veio logo atrás e caímos na cama. Poucos minutos depois estávamos nus, abraçados.


Quando pensei que ia partir para a ação, ele gritou: "Não! Não devemos pecar!"

"Ele me beijava freneticamente, suas mãos acariciavam todo meu corpo, mas gritava: 'Não podemos, senão estaremos em perdição...' Beijava-me com ímpeto, mas voltava a falar: 'Não se deve pecar, não, não...'


"Eu era jovem, não tinha muita experiência e procurava, por todas as maneiras, despertar sua vitalidade. Mas foi tudo inútil. Ele foi embora antes da meia-noite: suava e tremia todo. Só fui vê-lo três dias mais tarde. Jantamos com Geraldine e, quando ela saiu, Muammar quis que fôssemos direto para a cama. Estava fora de controle. Mas não aconteceu nada. Suava frio, ficava arrepiado, balbuciava. Repetia: 'Não sei, não sei o que está acontecendo, é terrível '


"Esses fatos se repetiram também na terceira noite que passamos juntos na cama. Eu sofri muito. Comecei a pensar que não lhe agradava ou que qualquer coisa em mim lhe provocava uma repulsa inconsciente. Falei com ele. Jurou-me que estava tudo bem comigo, mas que era sempre assim no começo das suas relações. Depois me perguntou se nunca me acontecera um caso semelhante. Respondi que não e ele me pediu para que eu contasse minhas experiências anteriores.


"De repente, excitado, Muammar pegou minhas mãos e me puxou para ele. Poucos minutos depois, era sua."


O caso de Susan com o jovem oficial líbio durou uns três meses.


"E, então, veio o fim. Comecei a procurá-lo, não o via há alguns dias e na associação me disseram que voltara a Trípoli. Sofri mas eu era jovem... Em 1969, houve a revolução na Líbia e nos jornais vi a foto do líder revolucionário, o meu Muammar Khaddafi.


"Esperei cinco anos e, antes do Natal de 1974, mandei-lhe uma carta. A resposta, em papel oficial, veio curta e seca: 'Sua carta foi entregue ao destinatário'. Mandei uma nova carta dando meu telefone e dizendo que aqui, em Genebra, todas as noites de quarta e sexta estaria ao lado do telefone, esperando por ele como antes."


ILUSTRAÇÃO MAURO IVAN



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