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VAMPETA | JUNHO, 2003

Playboy Entrevista



Ele já rolou bêbado no Planalto, posou para revista gay, comprou bares e cinema. O volante do Corinthians fala de tudo isso e mais sexo, drogas e até futebol


Faltavam alguns dias para a grande decisão do torneio Rio-São Paulo de 2002, Corinthians x São Paulo. O craque bom moço Kaká curtia uma inocente sorveteria da zona oeste paulistana com o colega Júlio Baptista. Um certo torcedor do Corinthians havia terminado de jogar o seu tradicional dominó com os amigos ali perto, quando passou em cliente do local dirigindo um BMW. Sabe como é torcedor fanático... Ainda mais "com uns vinhos na cabeça", como conta. "Abaixei o vidro e dei aquele grito lá da rua, de dentro do carro: 'Tomando sorvetinho, é? Assim que vocês querem ganhar da gente? Vão levar ferro domingo.'" Os são-paulinos, surpresos, ainda tiveram tempo de identificar o provocador e saíram xingando: "Vai tomar no c..., Vampeta".


Marcos André Batista dos Santos, garoto humilde de Nazaré das Farinhas, interior da Bahia, tinha 13 anos quando viu o anúncio do Vitória na TV: "Procuram-se garotos para fazer testes". Pegou a chuteira e foi tentar a sorte. No alojamento do clube baiano, onde passou a morar, era chamado de Vampirinho e Capetinha. Bem feio, não tinha os dentes da frente... Adorou quando os colegas fundiram seu nome em um só: Vampeta. Estavam batizando a maior figura do futebol brasileiro. Um cara que já posou nu em revista gay, rolou bêbado na rampa do Palácio do Planalto, é dono de casas noturnas repletas de mulheres e baladeiro de carteirinha. Com as provocações que adora fazer antes das decisões, já conseguiu exasperar os jogadores são-paulinos de tal maneira que, com menos de cinco minutos de jogo, já havia um quebra-pau generalizado na final do Campeonato Paulista de 2003, vencida por seu Corinthians. Malandro, ele sempre se desvia das porradas. "Os caras falam que não são mais meus amigos na hora, mas depois vai todo mundo beber no meu bar."


Ah, e embora isso acabe aparecendo menos, Vampeta também joga muita bola!


Esta língua solta rendeu mais um troféu a Vampeta: o de maior figura do futebol brasileiro

Tem uma bacia de títulos que inclui dois Campeonatos Brasileiros, um Mundial de Clubes, o pentacampeonato e uma Copa América pela seleção brasileira. Mas não é com isso que Vampeta se preocupa. Está no futebol é para se divertir, como faz questão de deixar claro nesta entrevista ao editor especial André Rizek. Foram três hilariantes encontros em churrascarias bem simples, que ele mesmo escolheu. Não dava para conter as gargalhadas com as respostas que o gravador captava. É quase impossível jogá-lo contra a parede. Ele não se importa em falar sobre absolutamente nada: balada, drogas, mulheres... Um ET no universo do futebol que se diz bem-comportado e que faz o discurso de "o grupo está unido, o professor orientou bem a equipe".


Antes do Corinthians, passou por Vitória, Fluminense, PSV (Holanda), Inter de Milão, Paris Saint-Germain, Flamengo. Nem sempre fez sucesso. Mas é um cara que, aos 29 anos, acha graça até de seus fracassos. A segunda sessão de entrevista aconteceu bem no dia em que ele iria ser internado para operar o joelho, uma grave lesão de ligamentos que só permitirá o seu retorno em 2004. Fazia tantas piadas que parecia estar indo para uma festa. O futebol, para Vampeta, é uma grande balada. A vida também.


PLAYBOY — Faz tempo que temos uma curiosidade... Você estava sóbrio quando rolou na rampa do Planalto, na comemoração do penta?


VAMPETA — Estava mamado [gargalhadas]. Porra, só podia estar bêbado, irmão. Como é que vou dar cambalhota na rampa do presidente? Eu vim bêbado, ó, desde o Japão... Terminou a final da Copa, Brasil campeão, já abrimos o champanhe no vestiário. Fomos para o hotel jantar e foi bebida para cá, bebida para lá. O vôo era só no outro dia à noite. Imagine a festa? Virou o dia e eu bebendo. Pegamos o vôo e eu bebendo, da Ásia até o Brasil. Não é papo, não, todo mundo viu, pode perguntar. Fui o único cara que não dormiu no vôo. Tomava vinho, fazia cambão. Chegou em Brasília, eu estava grogue. Essa história eu nunca contei. A primeira vez é para vocês da PLAYBOY.


PLAYBOY — Então conta mais... O que aconteceu chegando em Brasília?


VAMPETA — Quando o avião pousou, fizemos alfândega, esse negócio todo. A delegação esperava um ônibus num lugar reservado, para levar a gente até o trio elétrico que iria desfilar pela cidade. Eu queria era ir para minha casa na Bahia! Saí pelo canto sem ninguém me ver e peguei um táxi até o balcão da Varig, que ficava a uns 3 quilômetros. Fui comprar passagem para Salvador. Não queria saber de desfile. Já tinha sido campeão mesmo. Foda-se esse negócio de apresentação com o presidente. Tava louco para pegar o feijão de minha mãe, ver minha filha. A gente chegou 10, 11 horas da manhã. Mas só tinha vôo para a Bahia às 18h30. Me fodeu. E todo mundo no aeroporto me olhando assim: "Vampeta, campeão, parabéns, me dá um autógrafo". Estava ali sozinho, perdido. Como só ia dar para eu fugir às 18h30, comprei a passagem e botei no bolso. Mas e para voltar para junto da seleção? Os caras já estavam desfilando no trio elétrico. Peguei um táxi e mandei ir atrás da seleção. Tinha um grupo de batedores da polícia que não deixava o carro chegar perto. Vi um policial de moto e pedi: "Olha, me leva até o trio, que eu tenho uma camisa do Brasil na sacola e dou para você". E o policial: "Mentira". E eu: "E sério". O cara me botou na garupa. Quando eu fui chegando de moto, o pessoal da seleção não entendia nada, nem sabia onde eu estava.


PLAYBOY — E como você foi aparecer com camisa do Corinthians na cerimônia com o Fernando Henrique?


VAMPETA — Aí eu subi no trio, Ivete Sangalo cantando e tal. A Ivete me anunciou: "Vampeta, meu conterrâneo, chega aqui". E eu fui falar com ela. "Pô, prazerzão, Ivete, estar conhecendo você aqui e agora, pessoalmente. Sempre fui a fim de você." Eu cantando a Ivete Sangalo, bêbado! Ela até pegou o microfone e anunciou que não ia dar para continuar o show comigo ali, tentando cantá-la. E comecei a beber para cá, beber para lá, um sol do caralho, gente pra porra na rua. E eu bebendo. Tome latinha. Eu, Ronaldo e Marcos. Na rua, via um cara com camisa do Corinthians, ele beijava o escudo, acenava para mim. Eu acenava de volta. Eu falei: "Quer trocar? Joga a camisa aqui". Eu joguei a da seleção que a gente estava para a cerimônia com o presidente... O Marcos [goleiro do Palmeiras] estava do meu lado e disse: "Olha aí, fica com palhaçada com essa história de Corinthians, vai ter a foto oficial com o presidente e só você está diferente". Estava travado, mas ao mesmo tempo pensando: "Porra, o Marcos tá certo". Aí, quando ele vacilou, peguei e joguei a camisa dele também, porque um torcedor do Palmeiras tinha jogado a do Palmeiras no trio. Ele ficou todo puto comigo. Eu ficava falando: "Se eu tô fodido, agora estamos nós dois. Tome uma latinha aqui, Marcos, se acalma que não vai dar em nada".


"Falei pra Ivete Sangalo: Prazerzão, sempre fui a fim de você. Ela disse que não dava para continuar o show comigo ali"

PLAYBOY — A idéia de dar aquelas cambalhotas saiu na hora?


VAMPETA — Chegamos lá no Planalto, Olodum tocando, sobe todo mundo para ficar com o presidente. Quando tocou o hino nacional, eu estava beliscando o Felipão, cutucando outro. E começaram a chamar, nome por nome, para receber a medalha do presidente. Eu falava assim: "Quando chegar a minha vez, vou dar uma cambalhota". Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho ficavam dizendo: "Eu duvido". Tanto que saiu na imprensa uma história que eu tinha apostado 10 mil dólares com eles que iria fazer aquilo. Mentira, não rolou nada disso. Minha inspiração foi o Louco, que era um torcedor que nos acompanhava no Japão e, aonde ele chegava, dava uma cambalhota. Um careca, bem figura. O Felipão falava: "Rapaz, vê lá o que você vai fazer..." E eu respondia: "Oh, você mandava lá no Japão. Aqui no Brasil meu treinador é Parreira [então, no Corinthians], ninguém da CBF manda mais em mim". Quando me chamaram, eu dei a primeira cambalhota e tentei me levantar, mas não consegui ficar em pé de jeito nenhum. Você bebe?


PLAYBOY— [Pausa.] Não bebo.


VAMPETA — Então beba e tente dar uma cambalhota. Eu dei e as pernas não agüentaram. Aí eu me joguei e fiquei no chão, rolando. Por isso que eu rolei na rampa. Não conseguia ficar em pé. [Gargalhadas.]


PLAYBOY — E depois você finalmente fugiu para a Bahia enquanto a seleção foi desfilar no Rio e em São Paulo?


VAMPETA — Era 2 de julho, independência da Bahia. Fomos para o aeroporto porque a delegação iria desfilar no Rio, mas havia um jato que o senador Antônio Carlos Magalhães mandou para me buscar e também o Edilson. Júnior e Dida, os baianos da seleção. Jatinho esperando? Era tudo o que eu queria. Já tinha até perdido aquela passagem que tinha comprado para Salvador às 18h30. Na dança do. Olodum deve ter caído. Perdi também a medalha que o presidente nos deu, rapaz, vê se pode, devem ter roubado. Desfilamos em mais um trio em Salvador e aí fui para a casa da minha mãe, em Nazaré das Farinhas, finalmente.


PLAYBOY — O que você pensou depois, sóbrio, vendo as imagens das suas cambalhotas na rampa?


VAMPETA — São, quando eu vi aquilo, uns dez dias depois, eu só pensei: "Mas, rapaz, se eu bato a cabeça ali? Começa a sangrar, ia ser vergonha nacional". Fiquei pensando que eu podia ter caído no espelho d'água que tem ali debaixo... Pô, são é que eu não ia fazer uma coisa daquelas.


PLAYBOY — Você não sentiu vergonha?


VAMPETA — Eu não! Todo mundo, aonde eu vou, lembra disso e comenta comigo. Passou até na retrospectiva de final do ano da Globo. O presidente gostou, não fiz mal a ninguém... Teve depois um programa do Milton Neves, ao vivo, eu tinha tomado duas caipirinhas. Ele pediu para eu dar as cambalhotas na frente das câmeras. Eu fui dar e não consegui ficar em pé de novo... É verdade: o cara bebe, não consegue mesmo. Falo para os caras na minha cidade: "Tem que tomar duas caipirinhas e dar duas cambalhotas, vale 10 reais". E ninguém consegue.


Foto: Alaor Filho / AE
"Como eu fui dar cambalhota na rampa? Eu estava bêbado desde o Japão"

PLAYBOY — As baladas nunca atrapalharam sua carreira?


VAMPETA — É... eu sempre brinco com o pessoal da imprensa: sou um atleta, um jogador profissional. Jogo as partidas do meu clube, cumpro com meu horário, tenho um belo carro, ganho bem em relação às outras pessoas do país. Só faltava eu não poder sair na minha folga! Ter que ir para a guerra, me alistar para combater no Iraque ou Afeganistão. Não deixo de cumprir nenhuma regra do clube. E, quando estou folgando, gosto de sair para ver mulher. Isso é uma coisa natural, mas tem gente que vê pelo outro lado: jogador de futebol não pode sair, não sei o quê... Se eu tiver de ficar travado e tomar todas na minha folga, pode ser o treinador, pode ser quem for: na minha folga, mando eu.


PLAYBOY — Mas como um baladeiro como você consegue se dar tão bem com os treinadores? Muito marketing?


VAMPETA — Me dou tão bem com treinadores e preparadores físicos porque não abro a boca para fazer uma reclamação dentro do clube. É para concentrar cinco dias? Eu concentro. Mas, quando eu tiver minha folga, ninguém venha querer se meter na minha vida. Não sou o melhor em nenhum índice físico: não sou o mais rápido, não sou o mais forte. Mas, para todos os quesitos, eu tenho índice bom. Então, saiu do clube, danço o meu CD e me acompanha quem quiser. Tenho 25% de um bar em São Paulo, o Terra Brasil, desde 1998. E sou sócio majoritário de um bar sertanejo, que é o Baluarte, faz dois anos. Saio em todas as minhas noites de folga. Mas é engraçado: todo mundo me vê no clube no horário certo, treinando. Tirando essa lesão no joelho agora, nunca me viram machucado. O pessoal da imprensa nunca me viu na noite brigando ou envolvido em escândalo. Os técnicos sempre me consideraram um exemplo dentro do clube. Agora, onde eu passo minhas noites, não é da conta deles.


PLAYBOY — Quantos dias por semana você vai para a noite?


VAMPETA — É sempre depois dos jogos que dou minhas esticadinhas. Porque tem a concentração, né? No Corinthians, começa sempre dois dias antes dos jogos. Se joga na quarta, na segunda à noite eu tenho que estar no hotel. Se joga domingo, na sexta à noite eu tenho que estar no hotel. Então eu saio toda quarta e domingo. Quando o Timão ganha... A única coisa chata da torcida do Corinthians é ter muito corintiano [risos]. Quando você perde, não pode ir a lugar nenhum. Para sair em São Paulo é duro... Até para descer do prédio tenho de encarar o zelador.


PLAYBOY — Aonde você vai curtir suas esticadinhas?


VAMPETA — Nos meus bares mesmo, sempre no Terra Brasil e no Baluarte. Sou um cara rotineiro. Há quatro anos em São Paulo, tem muito lugar de balada na cidade que eu nem conheço. E também porque no Terra tem mulher gostosa pra caramba, é o que não falta lá. Dos lugares que eu fui em São Paulo, é o que vi mais mulher. De domingo, parece até piada. Já foi lá?


PLAYBOY — Fiz uma reportagem lá e fiquei impressionado como é fácil se dar bem... Como vocês fazem para atrair tanta mulher?


VAMPETA — Não faço nada. Vou para lá e arrepio geral. Quando eu chego, as mulheres já estão todas lá. Devem ser as atrações, muitos shows. O Belo está sempre na casa e leva público, o Sensação também. Tem muita mulher lá de quinta e domingo, são os melhores dias.


PLAYBOY — Você abriu o bar por negócio ou por diversão?


VAMPETA — No começo, foi só por farra mesmo, para dar uma zoada. Um amigo estava enforcado e me vendeu 10% do Terra. Eu fui gostando, começou a entrar um dinheirinho e acabou virando negócio. Hoje, tenho 27%. O Baluarte eu já abri para ganhar dinheiro mesmo. Os dois dão lucro.


PLAYBOY — Tem ser humano no Brasil que come mais mulher que jogador?


VAMPETA — Deixe eu pensar... Ator da Globo acho que não... Bom, os caras que cantam música sertaneja são os que comem mais. Depois os pagodeiros, que estão bem. Se tiver um pódio, o boieiro sobe entre os três e briga ali com eles. Só os jogadores que chegam junto, né? Porque o homem público que tem uma boa conversa e é famoso pega geral. O Boris Casoy perguntou uma vez para o Kaká sobre sexo antes dos jogos. Mas tem que perguntar para mim, que entendo mais do assunto [gargalhadas]. Isso aí não é para perguntar para o menino, que é cristão...


PLAYBOY — Os jogadores das outras equipes que você tanto provoca sempre dão entrevistas descontentes com o que você faz antes dos jogos. Você tem muitos inimigos?


VAMPETA — Que nada. Tenho um bom relacionamento com todos. Com essa lesão, fiquei feliz ao saber que tenho grandes amigos no São Paulo, no Palmeiras, no Cruzeiro, no Flamengo. Teve jogador da maioria dos clubes grandes brasileiros me ligando para desejar força. Agora mesmo, acabando de vir para esta entrevista, recebi um telefonema do pessoal do Santos, me ligando para saber quando eu ia ficar bom. Sou um integrador no mundo do futebol.


PLAYBOY — Já houve duas decisões contra o São Paulo em que você agitou tanto durante a semana, que saiu até porrada entre os jogadores em campo... Você não se sentiu culpado?


VAMPETA — É... [dando risada], um pouco. Na final do Campeonato Paulista deste ano, eu fui para o estádio imaginando como seria uma briga entre os jogadores do São Paulo, onde tenho amigos, e os do Corinthians, minha família. E com menos de cinco minutos deu aquela confusão toda... Kléber saindo no braço com Reinaldo, todo mundo se xingando. Durante a semana, os jogadores do São Paulo falaram que não eram mais meus amigos [gargalhadas] porque tinha chamado os caras de bâmbi, de fregueses... Mas pode ver que eu mesmo nunca tô no pau, nunca briguei com ninguém num jogo. É aquela coisa de ser esperto. Vou ficar entrando na porrada? Gosto é de provocar. Fora do campo a gente agita mesmo. Quero levar público ao espetáculo, mexer com o torcedor. Porra, os caras do São Paulo ficam mordidos com essa história de bâmbi [gargalhada]. Vou continuar chamando, claro.


PLAYBOY — Você não tem medo de cruzar com um torcedor são-paulino na rua de noite e o cara falar: "Agora vamos ver quem é o bâmbi aqui"?


VAMPETA — Já passei por uma situação de os torcedores me ligarem: "Vamos te pegar". Mas nunca fiquei com medo. Não ando com segurança, não tomo nenhum cuidado, qualquer pessoa pode chegar em mim. No domingo, depois da final do Paulista [vencida pelo Corinthians] , fui ao Gugu e saindo de lá fui a um pagode na Vila Olímpia com mais cinco amigos. Estava tomando uma cerveja, sentado, e veio um cara encostar no meu ouvido: "Aí, Vampeta, eu poderia estar com uma faca aqui e te espetar. Sou são-paulino e você tira o maior barato da gente com essa história de bâmbi, de freguês". Eu respondi: "Irmão, você pode até me matar, mas você vai comigo". E ele respondeu: "O que é isso, estava brincando" [risos].


PLAYBOY — Você fala como um torcedor de arquibancada... Isso é marketing ou paixão pelo Corinthians?


VAMPETA — Mas também não sou como certos jogadores aí, tipo o Marcelinho, que fica fazendo o lobby dele com a torcida, fazendo sinalzinho de eu te amo, beijando o escudo. O que eu faço é me divertir. Porque sou jogador, mas torço pelo Corinthians também. Não me vejo vestindo a camisa de um Palmeiras, aquela camisa verde no meu corpo, aquela camisa do São Paulo, vermelha e... Sei lá que cor é a aquele negócio. Se estiverem essas duas equipes jogando, estou sempre secando. Tanto que eu podia olhar meu lado profissional e, de repente, amanhã ou depois, estar jogando nesses dois clubes. Não iria de jeito nenhum. Nunca me chamaram. E já falo para não me chamarem mesmo, se algum dia passar pela cabeça deles. Às vezes eu ligo para o Marcos [goleiro do Palmeiras] e aviso: "Vou assistir ao jogo e vou secar vocês, hein".


PLAYBOY — Você gasta tempo bolando as provocações antes dos jogos?


VAMPETA — A única coisa que realmente foi bolada foram as embaixadinhas do Edilson, na final do Campeonato Paulista de 1999. A gente tinha sido eliminado pelo Palmeiras na Libertadores daquele ano e o Paulo Nunes, sempre que fazia gol no Corinthians, comemorava com lencinho da Feiticeira, com a máscara da Tiazinha. E o Edilson disse para a gente que se estivesse ganhando o jogo, faria umas embaixadinhas só para tirar um barato dos caras do Palmeiras. Aquilo foi tudo combinado, não foi nada espontâneo. Pode ver que foi do lado do nosso banco de reservas. Alguém gritou para o Edílson: "Agora, pode fazer [gargalhadas]: pode fazer que só faltam sete minutos para terminar o jogo". Ele pegou a bola e mandou ver. E tinha muito mais. Dinei levou o lenço da Feiticeira, a máscara da Tiazinha. Porque nós tínhamos uma vantagem muito grande. Ganhamos o primeiro jogo por três gols de diferença e estávamos empatando o segundo por 2 a 2... Mas rolou a confusão e não deu para a gente usar tudo, uma pena.


PLAYBOY — Esse foi um dos maiores quebra-paus da história... Vocês se divertiram, é?


VAMPETA — No vestiário, foi só risada. Afinal de contas, ninguém do nosso time apanhou mesmo, apanhar de verdade. Eu dou muita risada daquilo. Só fiquei triste porque no dia seguinte eu iria com o Edílson para a seleção brasileira, disputar a Copa América, e o Luxemburgo cortou o Edilson exatamente por esse motivo...


PLAYBOY — Quem são os jogadores que você mais admira?


VAMPETA — Zidane é o cara que desequilibra. Na minha passagem pela Inter de Milão, fiquei no banco contra a Juventus, onde ele jogava. Eu pensava: "Bom, agora deixe eu ver se esse cara é isso tudo o que falam". E eu concluí que ele é tudo isso e mais um pouco. Parece que tem chiclete no pé. A bola gruda. Por outro lado, o que dá mais espetáculo é o Ronaldo Fenômeno. O Ronaldinho Gaúcho completa a trinca. Mas o grande ídolo da minha vida nem é tão famoso. Não sei se você conhece o Arthurzinho, que jogou no Vitória quando eu estava começando. Com aquele tamanhinho, nunca vi nada igual no futebol.


PLAYBOY — O que aconteceu na Itália, para ter ficado tão pouco tempo na Inter de Milão, menos de dez jogos?


VAMPETA — É que não gosto muito de moda, sabe? Digo isso porque me levaram para Milão e depois para Paris, onde eu também não gostei. Mas, falando sério, saí do Corinthians em 2000 no meu melhor momento, estava na seleção, tinha feito gols pelas eliminatórias. Queria ir para a Inter, afinal de contas meu amigo Ronaldo estava lá, operado. Mas foi a maior m...


PLAYBOY — Consta que você não teve paciência para esperar uma chance...


VAMPETA — O Marcelo Lippi, que hoje é treinador da Juventus, treinava a Inter e mandou me contratar. Trabalhei com ele duas semanas e o mandaram embora. Entrou o Tardelli, que era técnico da seleção olímpica da Itália. Chegou lá e disse que não sabia quem eu era, que tinha de esperar um tempo para me conhecer. E eu vivendo meu melhor momento? Disse para ele: "Porra, mandaram me comprar por 15 milhões de dólares. Quinze milhões! Não sou jogador para fazer teste, sou titular da seleção brasileira". Chutei o balde. Só que eu não falava italiano e o Seedorf [jogador holandês que era seu colega] traduzia tudo para o Tardelli. Eu conhecia o Seedorf da Holanda, ele é casado com uma brasileira. Mandei o Seedorf dizer ao técnico que eu dava cinco jogos para eu começar a ser escalado. Caso contrário, eu iria embora. Fiquei no banco uns seis jogos. Vim de férias em dezembro para o Brasil... Só voltei para falar ao presidente que não queria ficar mais.


PLAYBOY — E o que o presidente que havia gastado os 15 milhões em você dizia?


VAMPETA — O Moratti [presidente da Inter] sabe tudo de petróleo, mas não entende nada de bola. Me colocou frente a frente com o técnico e falava: "Marcos, piano, piano [tranqüilo em italiano] ". Eu respondo que "piano, piano coisa nenhuma". Se eu ficasse no banco, ficaria de fora da seleção brasileira, ninguém entenderia no Brasil. Eu pensava muito mais em jogar a Copa do que na Inter. Só que o Paris Saint-Germain já queria me contratar antes mesmo dos italianos terem me levado. E ainda tinham interesse. Em janeiro, estava indo para Paris. Tive de reduzir muito o meu salário. Ganhava 120 mil dólares e fui ganhar 50 mil na França.


PLAYBOY — E, na França, o que aconteceu para ter ficado apenas três meses?


VAMPETA — Cheguei no final de janeiro e o campeonato já estava rolando. Só que eu tinha de viajar direto para disputar as eliminatórias. Passava mais tempo no Brasil do que lá, e o presidente do clube não queria me liberar mais para eu vir treinar com a seleção. Dizia que eu teria de me enquadrar. Só que eu não sabia falar francês... E o Christian, centroavante que jogava lá havia mais tempo, traduzia para o presidente. Eu dizia: "Fale para ele, Christian, que, se não me liberar, vou armar a maior confusão, vou pegar meu avião a qualquer hora". O presidente dizia: "Não, não e não". Aí eu perdi a calma. "Então manda ele tomar no cu, Christian, que assim ele vai entender" [gargalhadas]. O Christian ficava com o olho arregalado: "Mas eu não posso mandar ele tomar no cu..." Aí eu mandei o Christian e o presidente tomarem no c... , saí da sala, peguei meu avião e fui jogar pela seleção. Depois eu voltei e fiz pressão para eles me mandarem embora. Houve interesse do Flamengo. Me ofereceram 150 mil reais de salário. Na hora! Disse que não ficava lá nem mais um dia e acabei vindo para o Flamengo.


PLAYBOY — Deu para entender sua frustração esportiva em Milão e Paris. Mas você tinha um belo salário. Não deu para curtir a vida nessas cidades?


VAMPETA — Nada, nada mesmo. Morar em Milão? Só tem loja e chuva todo dia. Paris... [voz de desdém]. É uma das cidades mais bonitas do mundo, para ir passar uma semana. Para quem mora lá todo dia, ver aquela torre, aqueles museus e aquela Champs-Elysées? Eu não vejo nada demais... Prefiro ir para a Bahia ver praia. Depois da Bahia, o que mais gosto é São Paulo. Para quem sabe viver, não tem lugar melhor do mundo. Depois da Bahia...


"Não vi nada demais em Paris... Ver aquela torre, aqueles museus todos os dias? Prefiro ir para a Bahia ou São Paulo"

PLAYBOY — No Flamengo, você disse uma frase clássica: "Eles fingiram que me pagaram e eu fingi que joguei". Como é fingir que joga?


VAMPETA — Quando pintou a chance de jogar lá, eu fiquei todo feliz, pensava: "Flamengo, uau"! Depois caí na realidade do clube. Posso te garantir que só tem camisa e torcida. Tudo lá dentro é uma bagunça. Fiquei três meses. O time quase foi rebaixado. Carregava o peso de ter que salvar a equipe. Mas não fiz mais que dez jogos. Ninguém viu essas coisas para me criticar e eu também não fazia questão que vissem, porque nem recebia salário e estava louco para sair de lá. Olhe como são as coisas. Depois que eu saí, já ganhei quatro títulos. E o Flamengo continua encalhado. Todo jogador fica com o pé atrás para ir jogar naquele time. No tempo em que fiquei lá, só ganhei 1.500 reais, de um álbum de figurinha. Do clube mesmo, nenhum tostão. O Corinthians que quitou a dívida quando me trouxe de volta.


PLAYBOY — Você foi o primeiro jogador brasileiro a posar nu, e para uma revista gay. Não teve receio de ver sua carreira indo por água abaixo?


VAMPETA — Posei durante as finais do Brasileiro de 1998. Não sabia que o Corinthians ia ser campeão e poderia ter pegado muito mal... Agradeço muito por todas as coisas na minha vida, até as polêmicas, serem sempre levadas pelo lado positivo. Começou assim. Tenho muita amizade com o pessoal do grupo Art Popular e eles jogam uma pelada toda segunda-feira. Eu sempre vou dar uma olhada, participar. Tenho um conterrâneo chamado Alex que dança no Kebradeira. Ele tinha posado para a G e estava lá também. A gente conversava e ele dizia para mim que jogador de futebol não tem coragem de posar nu. Eu disse: "Se me derem o dinheiro, eu poso". No meio de um monte de cantor, tinha um empresário ligado à G. Na hora, pegou o telefone, ligou pra não sei quem da revista e marcou de eu ir na redação no dia seguinte, quando fechamos a proposta.


PLAYBOY — Como é a equipe da G que fez as fotos?


VAMPETA — Só veado... Tudo gente boa pra caramba. Mas só veado, né... Eu pensava: vai ser foda essa porra... Fomos fazer as fotos num sítio em Jaguaritina, num dia que eu iria ter folga. Falavam para mim: "Passa esse óleo no corpo, você vai ter que fazer essa posição assim, temos a tarde inteira para fazer isso, a manhã seguinte também, está tudo tranqüilo". Mas eu dizia: "Não vou dormir aqui na chácara com a equipe, não, hein?" [gargalhadas]. A equipe me botava nas posições para as fotos e as PLAYBOY me ajudaram pra caramba ali na hora... Ficava olhando as revistas e quando eu ficava excitado, estava pronto para as fotos.


PLAYBOY — Estava no contrato que você tinha de aparecer excitado?


VAMPETA — Lógico! E eu também não ia sair de pau mole na revista, né? Tem aquela foto minha no gol [com o pênis ereto atravessando a rede...], que ficou famosa. Nessa hora, os caras da equipe, tudo veado, comentavam: "Vamos jogar uma pelada, todo mundo nu. Bater escanteio e o Vampeta vai marcar a gente". Eu dava risada pra caramba. A equipe muito boa, profissional, não teve aquela porra de confundir. Tinha uma namorada lá comigo e ela me achava louco de fazer aquilo... E eu: "Nada, vai entrar um dinheiro aí e vou restaurar meu cinema sem gastar um tostão do meu bolso". Sabia que ia dar um comentário, mas não esperava aquele bochicho todo. Comecei a ir no Jô, Gugu e esses programas dos quais normalmente o jogador de futebol não participa. Hoje, vou a muitos programas, não só mesas-redondas. Xuxa me chamou para o divã dela, Chico Anysio... Tudo começou com a revista G. Depois teve a restauração do meu cinema, que foi divulgada para todo o país... Fiquei conhecido não só como o jogador de futebol. Eu pegava um avião e me perguntavam: "Você não é o cara que restaurou o cinema, não é o cara que posou nu para a revista?" Em vez de perguntarem se eu não era o cara que jogava no Corinthians. Hoje é: "Você não é o menino que deu a cambalhota [gargalhadas]?"


PLAYBOY — Você teve de encarar muita gozação dentro do futebol?


VAMPETA — O Corinthians estava ganhando tudo em 1999 e nem teve espaço para isso. Só uma vez, na verdade. Eu estava no trânsito e dois torcedores da Portuguesa começaram a falar que eu era veado. Desci do carro e saí no pau, com os dois caras. Fui para a concentração à noite e no hotel chegou uma intimação para eu ir à delegacia, mas não pegou nada sério. Tenho umas 15 revistas guardadas em casa ainda, de recordação. Minha família achou o maior barato.


PLAYBOY — Ajudou com a mulherada?


VAMPETA — Pior que ajudou. Ajudou geral. Na carreira, com a mulherada, com os veados... Pô, recebo carta de veado até hoje! Tinha uma carta que eu até rasguei. Fui lendo e o cara elogiava a minha coragem de posar nu e tal. De repente, estava escrito: "Sou apaixonado por você, quero morar com você, faço qualquer coisa..." O que é isso? Minha parada é outra.


PLAYBOY — Quanto foi o cachê?


VAMPETA — Foi 80 mil, mas acabei dando uma porcentagem para aquele empresário e fiquei com 50, 40 mil reais. Eu não tinha o salário que tenho hoje [120 mil reais], estava chegando da Holanda e recebia 25 mil por mês.


PLAYBOY — Quantas mulheres você já conseguiu arrastar para a cama de uma só vez?


VAMPETA — Ah, aí eu também não gosto. Por incrível que pareça. Meu negócio é um contra um. Não participo de orgias ou surubas. Já participei assim, de repente sair nós três aqui [o repórter, Vampeta e seu assessor], cada um pega uma menina, leva para o meu apartamento e um fica na sala, outro fica no quarto, mas suruba não. Nas paradas que eu vou, quem eu pego está comigo.


PLAYBOY — Como surgiu a idéia de você gastar dinheiro na restauração de um cinema histórico, de 1923?


VAMPETA — Eu jogava na Holanda em 1997, e o campeonato lá parou por uns dez dias. Pedi ao professor para ele me liberar para viajar ao Brasil. Professor, não, lá fora é mister. O mister liberou e vim para Nazaré. Nazaré é uma cidade pequena, 25 mil habitantes. Sempre fico na pracinha, onde tem um barzinho. Estava tomando uma cerveja com os amigos. Passa um rapaz chamado seu Uriei, cara muito conceituado na cidade, e me pede uma ajuda de 20 reais porque o telhado do cinema da cidade estava caindo. Lembro que eu tinha ido uma vez só nesse cinema, quando era bem criança.


PLAYBOY — Ele pediu 20 reais e você comprou o cinema?


VAMPETA — Me deu um estalo e eu disse: "Vamos lá vero cinema, seu Uriel, vamos ver esse telhado". O cinema estava todo fodido mesmo. Aí eu falei: "Olhe, eu não vou dar 20 reais, não. Pergunte ao dono se ele não me vende o cinema todo". Do nada. O dono era um vereador lá da cidade. Fizemos a reunião, ele me deu o valor, falou que a Igreja Universal queria comprar para fazer um templo, mas que o problema era que ele e a família eram muito católicos, esse pessoal do interior é muito apegado a religião. Ele não queria vender para a Universal e eu comprei. Ofereci 80 mil reais. Garanti que ia virar o cinema da cidade mesmo, não ia usar para nada pessoal, e que ia restaurá-lo inteirinho. Ninguém nem sabia que era eu quem estava comprando. Ficaram sabendo porque teve um concurso da TV Bahia, a Globo de lá, para que mandassem reportagens. Uma mulher da cidade escreveu que um jogador de futebol estava comprando um dos cinemas mais velhos do mundo em atividade. Bem nessa época, apareceu o interesse do Corinthians em mim. Casou uma coisa com a outra. Tô lá restaurando algo voltado para a comunidade e de repente apareço em tudo que é lugar da imprensa, até no exterior... Não imaginava que ia dar essa repercussão.


PLAYBOY — E você curte cinema?


VAMPETA — Eu não sou fã. Moro em São Paulo há quatro anos e nunca entrei numa sala. Mas uma coisa que eu acho legal no meu cineteatro é que tudo ficou igual ao que era em 1923. Cadeira de madeira, tudo bem original. Não é como essas coisas grandes de shopping, com almofada, ar-condicionado... Lá é ventilador mesmo. A inauguração, todo mundo diz, foi a maior festa da história de Nazaré. Tive a oportunidade de levar o Ronaldo Fenômeno comigo. E levei também o senador Antônio Carlos Magalhães, a quem tenho como meu padrinho político. Vampeta conseguiu reunir o maior jogador do mundo e o senador! ACM disse que tinha de botar um busto meu. Está vendo? Tenho dois bustos meus para serem inaugurados. No Corinthians e em Nazaré. Porque o Alberto Dualib, presidente do Corinthians, prometeu que ia colocar um meu no clube e já aproveito para fazer a cobrança aqui. Fui o jogador vendido mais caro da história do Corinthians quando fui para a Inter em 2000! E também coloquei três das quatro estrelas que tem na nossa camisa... O Corinthians era um time ruim da porra antigamente, antes da minha geração, não ganhava nada. [O assessor de Dualib informa que a idéia do busto é séria.]


PLAYBOY — Voltando ao cinema, você ganha algum dinheiro com ele?


VAMPETA — O cinema não tem fins lucrativos. Nunca vai ter lucro. Pago os funcionários com o meu salário do Corinthians. Na inauguração, como foi muito político, me fizeram abrir uma fundação... Deram a sugestão e eu aceitei, rapaz. Fundação Marcos André. Que eu saiba, quando você abre uma fundação, sempre tem os empresários que bancam tudo para você. Lá, eu banco tudo. Tem 80 crianças do favelão, das encostas mesmo, que a gente bota para fazer teatro e oficina de arte. Coloco 7 mil reais por mês.


PLAYBOY — Como o ACM foi virar seu padrinho político?


VAMPETA — Gosto de cara que é líder. Meu contato com ele começou no programa De Frente com Gabi. Ela me perguntou de política e eu respondi que de política eu só gosto de Antônio Carlos Magalhães. No outro dia recebi um fax dele, agradecendo a admiração. Depois o conheci pessoalmente porque o convidei para inaugurar o cinema e ele respondeu que iria lá comigo. A última vez que falei com o senador tem dois meses. Liguei para saber como ele estava. Para falar com ACM, passa por mais de dez pessoas. Passa uma secretária, por outra, até confirmar que era eu mesmo. Ele já me deu duas medalhas, uma de honra ao mérito da Bahia e outra de Comendador da Bahia.


PLAYBOY — Está se desenhando uma carreira política para o Vampeta?


VAMPETA — Não descarto virar um deputado pela Bahia, penso nisso. Gosto de política, mas sem fanatismo. Falo para todo mundo: sou PFL na Bahia, porque Antônio Carlos é PFL, e em São Paulo eu sou PT doente. Não vou muito na onda de partido. Acho que eu daria um bom político.


"ACM, a quem tenho como meu padrinho, diz que tinha de botar um busto meu em Nazaré das Farinhas. Penso em virar um deputado"

PLAYBOY — Qual é a parte mais chata do futebol?


VAMPETA — Sou um cara preguiçoso... Não agüento mais as viagens do futebol. Esperar em aeroporto, fuso horário, altitude... Campeonato Brasileiro, tem que jogar em Belém! É uma encheção de saco. Se pudesse jogar bola e rasgar meu passaporte, eu rasgava. A pior de todas foi essa viagem para o Japão e para a Coréia na Copa. Graças a Deus que já participei da Copa, fui campeão, mas nunca mais! Eliminatórias, se me chamarem, só dentro do Brasil. Ainda vou fazer um contrato assim, botar um monte de cláusulas: não posso viajar mais que duas horas. Jogar, só à noite. E 20h30, nada de 21h40. Jogos, só aos sábados. Será que eu acho um contrato desses?


PLAYBOY — Você não curtiu Paris, mas fala superbem de Eindhoven, onde defendeu o PSV. O que o atraiu lá?


VAMPETA — A Holanda é meu segundo país. Morei lá três anos. Até falo bem holandês, fluentemente. Sei ler e tudo. Sempre que dava folga na Itália e na França eu pegava o avião e ia curtir a Holanda. Um país liberado geral: mulher, droga, bebida, a porra toda. Ninguém esquenta com a vida de ninguém. Lá, eu ficava bem à vontade. Por exemplo. Se eu paro num bar aqui no Brasil e fico tomando uma cerveja, todo mundo pára e fica comentando: "Olha lá um atleta bebendo cerveja". Lá, os caras bebem cerveja no ônibus depois dos jogos. A gente almoça e janta com vinho na mesa. Qual o problema? Os jogadores todos fumam e bebem.


PLAYBOY — Você visitou muito a zona vermelha em Amsterdã [tradicional e turístico reduto da prostituição em que elas se exibem em vitrines] e os coffee shops [onde se vende maconha, haxixe, skank e outras iguarias legalmente]?


VAMPETA — Lógico. Ir a Amsterdã e não visitar as vitrines e as cabines? Fui em tudo. Em coffee shops também, lógico. Entrei, vi os cardápios de fumo. Só não provei [pausa]. Ainda [gargalhadas].


"Entrei nos coffee shops em Amsterdã, vi os cardápios de fumo. Vivia no meio do pessoal e sentia a fumaça. Só não provei... Ainda"

PLAYBOY — Você já provou alguma droga?


VAMPETA — Já. Já fumei um baseado, quando era menino... Assim. Não, não. Na Holanda, vivia no meio do pessoal e sentia a fumaça. Mas nunca botei na boca. A única droga que eu experimento é a bebida, que é uma droga pior que a maconha.


PLAYBOY — Nunca atrapalhou seu rendimento?


VAMPETA — Besteira... Cigarro eu já não gosto. Isso eu sei que prejudica mesmo. Mas tomar uma cervejinha com os amigos depois do treino, qual o problema? Era bom quando estavam Rincón e Dinei no Corinthians e a gente saía para tomar uma depois dos treinos. Faz parte até do trabalho. Os executivos não saem do escritório e vão para a happy hour? A imprensa brasileira é muito careta. Brinco com os jornalistas lá no Corinthians. Falo: "Olha, vocês falam aí de jogador na noite e tal. E se eu falar que eu vejo todos vocês na noite? Posso dar o nome de quem eu vejo direto na noite e é casado". Ainda bem que não são malucos de pegarem no meu pé. Porque se pegarem eu entrego um por um. Sei de todos os que vão para a boate quando a gente viaja com a seleção, o que cada um deles faz. Pô, os caras da imprensa vão no meu bar, ficam lá até 4, 5 horas bebendo. No outro dia eu não chego no treino falando: "Porra, tava foda ontem, hein? Saiu de lá tal horas, bebendo". O importante é ele estar no horário no dia seguinte no trabalho dele e eu no meu.


PLAYBOY — Você quer jogar mais quantos anos?


VAMPETA — Ah, eu tenho tudo planejado. Não quero passar dos 33 jogando bola. Não penso como outros jogadores: "Ainda quer brilhar em Minas, no Rio". Quero fechar meu ciclo no Corinthians, fazer um contrato de mais um, dois anos depois que eu me recuperar [o atual vence em dezembro]. Voltar para o meu Vitória e deu. Encerrar a carreira lá na Bahia. Aparece muita proposta para ir ganhar dinheiro no México, na Arábia, no Japão. Isso nem passa pela minha cabeça. Eu não quero todo o dinheiro do mundo. Quero meu carro, minha casa e que não falte comida lá dentro. Não quero ter 100 apartamentos. É o que eu sempre brinco com meus amigos mais estrelas, como Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos. Sempre rola papo de dinheiro quando a gente está na seleção. Qual a diferença do cara que tem 20 milhões de dólares para o cara que tem um? O cara que tem 1 milhão vai sair para comer e beber e vai pagar a mesma conta do cara que tem 20. Não quero fazer fortuna para os outros, ser um caxias de juntar um monte de dinheiro. Acontece muito de os pais se dedicarem a vida toda, morrerem, os filhos irem lá e acabarem com toda a grana.


PLAYBOY — Você já está perto do 1 milhão?


VAMPETA — Vai depender do Corinthians, mais um aninho de contrato eu chego ali, falta o que, uns 200 paus... Mas não em dólar, né, em real. Eu que administro meu dinheiro. Aplicar em banco é fácil. O gerente fala o que tá rendendo mais e você vai lá, não tem complicação. O único tropeço que eu tive foi quando perdi 140 mil reais naquela história da falência da Boi Gordo, onde eu tinha investimento. Então, agora, só aplicação em banco mesmo.


PLAYBOY — Você entrou num supletivo neste ano. Como foi voltar a estudar?


VAMPETA — Queria muito voltar, mas é difícil... Se joga na quarta, tem que estar na segunda-feira na concentração, já perco três dias de aula na semana. Tudo bem deixar de freqüentar uma aula de história, de geografia, mas o resto... Física, química e matemática, se não acompanhar toda aula, você fica à toa. O dia dessas aulas é quando eu fico concentrado. Não sei nada dessas matérias. Biologia, história e geografia eu consigo pegar tudo lendo as coisas depois, fazendo o dever. Mas em exatas eu estou morto. Uma pena. Achava que dava para conciliar. Na Bahia, fiz até o primeiro ano de colegial. Fiz uma prova de requalificação aqui e me colocou no terceiro colegial. Motivado, levei o Rogério e o Fabrício comigo. Mas só estou conseguindo ir uma vez ou outra. Penso até numa faculdade quando encerrar a carreira, mas ainda nem sei que curso eu faria.


PLAYBOY — Tratam você como ídolo ou como colega de classe?


VAMPETA — Mais como um colega normal mesmo. Fui muito bem recebido. Tinha muito torcedor do Corinthians na sala! É bom demais ver esse filme de novo, todo mundo sentado esperando o professor, fazendo piada, zoando. Quando dá o recreio, a gente fica conversando na cantina sobre bola com os são-paulinos, fazendo provocação. É uma convivência normal de escola. O que o professor dá no quadro é para todo mundo.


PLAYBOY — Qual é o sonho da sua vida?


VAMPETA — Curtir minha casa em Nazaré das Farinhas, ter a rotina de uma pessoa normal depois de encerrar a carreira. Não tenho essas ambições de ter uma cobertura do caralho. Quero morar em Nazaré mesmo, receber meus amigos e não faltar comida e bebida. Com 1 milhão, vou poder comprar bastante comida... Quando parar, vou curtir muito mais a vida.


PLAYBOY — Sua segunda filha, Geovana, nasceu em maio, da mesma mulher. Podemos chamá-la de esposa?


VAMPETA — Não, não bota essa parada aí. Só fala que eu não sou casado. Solteiro com duas filhas, pronto. A Gabriella já tem 2 anos e mora com a mãe em São Paulo, no meu apartamento que fica na zona leste, no Tatuapé. E tenho minha outra casa em Perdizes, zona oeste. Tenho duas casas em São Paulo. Sabe como é...


POR ANDRÉ RIZEK

FOTOS CAIO GUATELLI



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